Por onde você andou, Miles Foxx? escrita por Lord


Capítulo 18
Para onde ele foi.


Notas iniciais do capítulo

Oi, espero que gostem.



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Duas semanas haviam se passado desde que Miles Foxx deixou apenas uma família preocupada, amigos preocupados e um celular sem respostas e com tantos vírus que mesmo se existisse alguma informação a polícia não conseguiria achar. De certa forma quando Miles foi embora levou um pouco de cada um de nós, inclusive nossa amizade.

Enquanto Miles vivia sua vida egoísta, Kyle estava triste de mais para voltar para a escola ou falar com algum de nós, inclusive com Simon. Freya estava muito ocupada se mantendo longe das coisas que lembravam Miles, isso incluía os antigos amigos. De alguma forma todos resolveram usar essa técnica. Miles nos uniu e nos separou.

O mais óbvio é que por ser imprevisível, ele não havia deixado nenhuma dica, nem um sinal e como de costume nenhum adeus. Porém o garoto gostava de brincar e não deixaria aquilo assim.

Eu queria ficar longe de tudo que lembrasse Miles. Mas uma coisa me impedia, essa coisa se chamava “O retrato de Dorian Gray”. O maior trabalho de literatura no semestre inteiro era baseado nesse livro, então eu tive que ler algumas vezes o exemplar que Miles havia comprado para mim, mesmo eu tendo pedido para que ele não comprasse. E foi na terceira vez que eu percebi a mensagem subliminar que o garoto havia deixado. Algumas letras da primeira página, em meio a descrição da um belo local, foram circuladas com um lápis depois os círculos foram apagados, deixando uma pequena e quase invisível marca.

Peguei um lápis que estava no meio dos cadernos e anotações que estavam sobre a minha cama e segui as letras.

S, O, U, T, S, T, B, A, R, B, A.

Algumas pessoas leriam South St. Bárbara, eu li Casa, eu entendi Lar. South St. Bárbara era uma cidadezinha litorânea que se desenvolveu muito rápido graças às baleias que geraram um grande número de pesquisas, que acabou gerando a maior universidade de biologia marinha do país. Acho que isso aconteceu quando eu tinha uns seis ou sete anos, também acho que foi lá que o amor por baleias de Miles nasceu. Além disso por ser um belo lugar acabou ainda atraindo alguns artistas que acabaram movimentando muito mais a economia local.

xXx

– Miles e eu crescemos lá. – Falei para Kyle enquanto bebia café. – Ele detestava aquele lugar, não tem lógica ele ir para lá.

Tive a brilhante ideia de enfiar Rato, as garotas e Kyle no carro e seguir para minha cidade natal. Logo não era apenas um garoto desaparecido, eram seis garotos desaparecidos e cinco famílias e um namorado em desespero. Já passava da uma da manhã, eu estava muito cansado e cheio de raiva, mas continuei dirigindo para o outro lado do país com um pouco de dinheiro roubado da minha poupança da faculdade. Mas tirando tudo isso era uma aventura. O ar seco e o clima quente deram lugar ao vento que entrava pelas quatro janelas abertas, os cabelos coloridos de Freya não paravam no lugar, ela parecia estar mais do que amando isso.

Depois de algumas horas dirigindo fui obrigado a parar para abastecer o carro. Quatro horas da manhã, ninguém havia sentido a nossa falta, nem mesmo acordado ainda. Querendo ou não eu tive que deixar o volante nas mãos de Freya, péssima ideia já que a garota diria perigosamente.

– Precisamos parar em um hotel ou em algum posto de gasolina, eu preciso mijar. – Kyle resmungou assim que acordou.

– Acabamos de parar. – Freya rebateu.

– Por que você não me chamou? – Kyle perguntou irritado.

– Não sou sua empregada! – Freya gritou.

– Você é burra? – Ele gritou.

– Parem de gritar. – Eu gritei.

Em um movimento súbito Freya desviou da maior carreta que eu já vi na vida. Todos no carro gritaram, principalmente Liv e Rato acordaram com a luz do farol na cara. Então quando estávamos salvos do caminhão começamos a rir loucamente. Peguei uma lata azul de energético que Freya havia comprado na loja de conveniências do posto de gasolina, acabei bebendo a lata inteira em dois goles. Certamente um erro. Agora Kyle não era o único que precisava parar para se aliviar. Porém eu tinha muito medo de Freya para pedir para ela parar o carro. A garota continuou dirigindo na direção oposta do nascer do sol.

– Meus pais já devem estar malucos. – Rato disse verificando o relógio. – Eu deixei um bilhete dizendo que estava bem... Mas eu preciso ligar para eles, Freya, pare no próximo posto de gasolina.

– Para de me mandar fazer as coisas!

Mesmo em meio à gritaria entre os dois eu acabei pegando no sono. Nunca fui bom com viagens, o balançar do carro era como um calmante superforte para mim.

xXx

– Leo, acorde. – A voz de Miles invadiu a minha mente, mas logo percebi que era Freya.

O carro estava estacionado em um posto de gasolina entre dois caminhões, fui procurar o banheiro, mas acabei dando de cara com Rato que estava com os olhos inchados enquanto conversava no telefone. Kyle estava ao lado dele com a típica cara de tédio.

– Leonard, você tem certeza de que ele está lá? – Rato perguntou.

– Estamos falando do Miles, ele pode estar em qualquer lugar. – Eu disse sonolento. – Mas ele deixou uma dica no livro, vocês viram.

– Seu subconsciente pode ter feito as marcas. – Kyle disse sério.

– O caralho que fez.

Eu estava cansado, irritado, fedendo e apertado. Acabei indo no pior banheiro de todo país, paguei a mulher mais irritada do país com uma nota de vinte e ela me devolveu o troco com mais raiva ainda. Empurrei as duas moedas e peguei um pacote de chicletes que estava do lado do caixa.

– Ela tem ódio de Doritos e energético. – Liv disse.

– Talvez ela fosse mais feliz se não passasse o dia com pessoas irritadas e cansadas. – Murmurei. – Quem dirige agora?

xXx

Como se fosse mágica, o bioma árido se transformou em uma bela e densa floresta tropical, repleta de tons de verdes e inúmeros tipos diferente de árvore. O ar úmido que já começava a se tornar salgado era agradável. Aquilo significava que já estávamos no litoral, mas um tanto quanto longe de South St. Bárbara.

– Você lembra onde ele morava? – Rato perguntou, agora era o garoto que comandava o volante. – Quer dizer, se ele veio até aqui, provavelmente vai para a casa que um dia foi dele.

– Sete quadras depois da minha casa. – Respondi. – Mas já existem outras pessoas morando lá.

– Miles pode entrar em qualquer lugar, aquele sorriso bobo e olhos amarelos podem comprar o mundo. – Freya disse.

Concordei com a cabeça e fiquei observando a paisagem. Algumas lascas prateadas do oceano ficavam visíveis entre as casas que começavam a surgir. Eu havia crescido ali e ainda assim em admirava aquela paisagem.

– Já estamos chegando? – Freya perguntou.

– Mais uns quarenta minutos. – Respondi.

A sensação de nostalgia invadiu o meu corpo e se espalhava ainda mais por cada metro que o carro percorria. Miles Foxx havia voltado para casa, fazendo com que eu voltasse também.


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