Eu queria ser um bom aluno de química e prestar atenção no professor que explicava qualquer coisa sobre a mudança de cor da substancia, mas Ele estava me impedindo. Com Ele eu quero dizer o parceiro de laboratório de Miles. Aquele catarrento estava muito próximo de Miles, rindo e conversando. Na verdade ele não era um catarrento, era um asiático que provavelmente praticava alguma arte marcial, pois ele tinha o bíceps mais definido que eu já vi ao vivo.

– Eu achei que o parceiro de laboratório do Miles era o Rato. – Murmurei para Liv que estava jogada sobre a mesa dupla, eu realmente detestava quando ela fazia isso. – Quem é aquele?

– Aluno novo. – Liv respondeu sonolenta. – Rato está doente.

Fiquei fuzilando o garoto pelo resto da aula, que pareceu uma eternidade. O professor ficou falando algo sobre a lei de alguém que eu não sabia quem era e nem queria saber. Isso acontecia enquanto Miles e seu novo amigo ficavam mais próximos. Não pude deixar de ficar feliz quando o professor anunciou que já havia dado o horário do intervalo. Minha felicidade desceu ralo abaixo quando vi Miles e o seu novo amigo vindo em nossa direção.

– Que cara é essa? – Miles perguntou sentando na mesa.

– Jura que você não sabe? – Coloquei a mão em sua perna, um pouco perto de onde não devia estar.

– Você odeia química? – Ele arriscou.

– É, Miles, eu odeio química. – Sorri sarcástico. – Quem é o seu novo amigo?

– Mike. – O garoto se adiantou.

– Sou Leonard.

– Liv.

Liv também acabou caindo na lábia asiática de Mike. Mas é claro que eu não deixaria ele roubar meus amigos. Hoje não, Satã, hoje não. Fiquei observando a conversa atento. Miles ria como um idiota, até mesmo Liv estava meio derretida.

– Ele não é divertido? – Miles perguntou dando um soquinho no braço de Mike.

Não. Não é. Não gosto dele, não gosto da risada dele e não gosto de como ele deixa vocês.

– Claro. – Respondi. – Preciso falar com a Savannah e Freya, provavelmente elas estão atrapalhando o meu casal favorito.

– Eu vou com você. – Liv disse ficando de pé.

– Não vai, não.

A garota voltou a se sentar como se soubesse que depois eu perguntaria tudo para ela. Liv era uma garota legal, talvez fosse uma boa espiã também. Ok, talvez eu estivesse exagerando, mas eu não queria perder Miles para outro novato. Querendo ou não Mike era bonito e gostosão, como se fosse desenhado para um mangá erótico e tirasse o ar das meninas japonesas.

Demorou um pouco para que eu achasse os outros, e como eu imaginei Freya e Savannah estavam atrapalhando Kyle e Simon. Os dois estavam sentados juntinhos no gramado enquanto as duas riam e falavam alto.

– Leo! – Freya disse animada. – Cadê a Liv e o Miles?

– Estão falando com o Naruto. – Respondi carrancudo.

– Que Naruto? Tipo o Naruto do desenho? – Kyle perguntou confuso.

– O novo amigo do Miles. – Respondi.

– O nome dele é Naruto? – Savannah perguntou. – Eu tenho o nome de um bioma, mas ele me superou.

– Não, o nome dele é Mike, mas ele é asiático.

– Isso foi bem xenofóbico. – Simon comentou.

Acabou que eu fiquei atrapalhando Kyle e Simon junto com as garotas. Querendo ou não eu estava frustrado com o Pikachu deixando o Miles todo derretido e coisa e tal. Eu não teria nada contra ele se não quisesse o Miles só para mim.

Voltei para a sala alguns minutos antes da aula começar. Pikachu ria enquanto Miles contava a história da lista de Kyle. Como era o Miles que estava contando, a história estava cheia de exageros e coisas que de fato não haviam acontecido.

– Mostre seus mamilos para o Mike? – Miles pediu.

– Não.

Miles revirou os olhos.

– Leo, eu posso falar com você? – Miles falou sério.

– Depois. – Respondi pegando o livro que eu devia ter lido para aquela aula de literatura. – O retrato de Dorian Gray não vai se ler sozinho.

xXx

Para o meu maldito azar a ultima aula, biologia, que era a única matéria que eu gostava na vida foi uma aula um pouco diferente. O professor decidiu dar um trabalho em duplas, e como o trabalho era sobre genética, que era uma coisa que meio que acontecia aleatoriamente as duplas foram aleatórias. Haviam outros trinta e quatro alunos na sala, mas como o destino me odeia eu acabei sendo sorteado, ou melhor, azarado, para fazer dupla com o Pikachu.

Mike tentava fazer algumas piadas ou puxar assunto, enquanto eu estava completamente focado em descobrir qual síndrome nosso Zé-palito sofria. Uma folha com vários pares de alelos fora entregue para cada dupla, tínhamos que recortar e colar os pequenos papéis em outra folha e depois descobrir qual era o defeito genético do individuo.

– Você conhece o Miles bem? – Mike perguntou tímido. – Eu queria chamar ele para sair, mas...

– Olha aqui, Pikachu. – Eu disse tentando fazer minha melhor voz de macho alfa. – Eu não gosto de você, eu não gosto do seu tipo. Está vendo aquelas marcas no pescoço dele? Então eu fiz enquanto lavava o gato.

– Por que me chamou de Pikachu?

– Eu não sei se existe algum Pokémon rouba namorados. – Eu rugi.

– Primeiro, isso foi xenofóbico. – Ele disse. – Segundo, ele não é seu namorado, não vi nenhuma aliança.

– Está vendo isso aqui? – Puxei o colar de baleia que estava no meu pescoço. – Ele tem um igual. Somos golfinhos, ele é o meu golfinho. Fique bem longe dele, ou sua katana nunca mais vai ser usada, se é que você me entende.

– Você é louco. Isso é uma baleia.

Terminei o trabalho em silêncio. Deixei o papel na mesa do professor e saí da sala. Fiquei caminhando pela escola até dar o horário de saída. Avistei o carro da minha mãe do outro lado da rua, tive que lutar contra a multidão de jovens que tentava passar ao mesmo tempo pelo minúsculo portão.

xXx

– Leonard? – A voz de Miles estava levemente distorcida na ligação.

– Sim? – Perguntei sonolento.

A noite já havia caído do lado de fora. Fiona estava sentada na janela miava tranquilamente enquanto perseguia os carros com o olhar.

– O Pikachu me contou o que você fez. – Miles disse, quase pude ver o sorriso dele. – Você foi um garoto mau.

– Fui?

– Não é certo ameaçar alguém. – Miles disse. – Mike é um cara legal, mas ele não é um golfinho. E sério que você usou os golfinhos como argumento?

– Golfinhos são mais legais do que bíceps definidos.

Miles riu do outro lado da linha.

– Você disse que não somos golfinhos.

– O Pikachu não sabe disso.

– Parede chamar ele de Pikachu.

– Por quê?

– Pikachu é mais legal do que golfinhos. – Miles gargalhou. – Mas, então, você foi um garoto malvado e vai pagar por isso.

Antes que eu pudesse responder Miles desligou o telefone.