Nove Meses escrita por Teddie


Capítulo 8
Afundando


Notas iniciais do capítulo

Oláaaaaaa, demorei um pouquinho mais do que o esperado, mas não tanto quanto das outras vezes. Tive um bloqueio sério e do nada eu passei a ter uma vida social. É SUPER ESTRANHO GALERA.

Anyway, eu queria dedicar esse capítulo à Maria Karolina (não sei o nome dela de exibição no Nyah), que foi uma ótima leitora cobrando a autora irresponsável de vocês. Espero que goste.

Vou deixar minhas redes sociais lá nas notas finais!

Aproveitem!



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Você sabia que o ano não tem trezentos e sessenta cinco dias? Acho que a maioria das pessoas sabe disso. O ano, na verdade, tem trezentos e sessenta e cinco dias e seis horas. Então a cada quatro anos, juntam essas seis horas em um dia e bum! Temos o ano bissexto.

Isso pode não parecer nada demais, e não é mesmo. Eu uso o ano bissexto como uma metáfora. Eles acham que podem ficar tirando essas horas das nossas vidas e depois simplesmente acrescentar um dia a cada quatro anos para tentar compensar o feito.

Quem sabe o que poderia ter acontecido nas seis últimas horas de cada um desses últimos dois mil anos? Casais poderiam ter sido formados, crianças nascido, pessoas morrido, viagens de última hora ocorrido. Nunca de fato saberemos.

E vamos combinar, vinte e nove de fevereiro é um dia bem inútil. Não se pode simplesmente colocar um dia a mais no calendário esperando que tudo fique bem, porque não vai.

A essa altura do campeonato você deve ter entendido que o ano bissexto é Penny. Ela não podia decidir voltar depois de anos longe e esperar que isso compense toda a eternidade que se passou quando ela foi.

O que me intrigava mais era o fato de ela ter conseguido entrar em contato comigo. Só havia uma pessoa que poderia ter o feito.

Levantei da minha cama em um salto e saí do meu quarto, atravessando o corredor em passos apressados. Quando me dei conta, não estava batendo na porta do meu pai. Estava a esmurrando, gritando coisas que nem eu mesma sabia o que era.

Meu pai abriu a porta, a cara indicando que estava começando a cair no sono.

— Ally, o que houve? É algo com o bebê?

— Você tem falado com Penny? — fui direto ao ponto, finalmente notando o quão irritada eu estava.

Ele arregalou os olhos levemente, perdendo a cara de bobo por um momento. Ele se denunciou com esse gesto.

— Tenho. Falo com Penny regularmente há uns anos.

Recuo um passo, colocando a mão sobre o peito, me sentindo mais traída que tudo. Todos esses anos eu vim escondendo uma simples ligação para não ferir os sentimentos dele e esse tempo todo ele estava falando com ela.

Ele não poderia esconder algo tão grave assim de mim, não quando eu fui a mais afetada com essa história toda.

— Você não acha que eu deveria saber de algo assim?

Ele franziu o cenho, confuso com o que eu dissera.

— Não vejo o porquê. Ela ligou para Sonic Boom anos atrás dizendo que você foi rude com ela ao telefone, mas que era compreensível.

Eu fui rude? — a sentença fica rodando na minha cabeça com tanta força que eu quase fico tonta — Ela foi embora e queria que eu fizesse o que? Compreendesse?

— Ally, sua mãe não tinha escolha.

Quero bater em meu pai, de verdade. E para não fazê-lo, puxo meus cabelos em exasperação.

Não entendia Lester, de verdade. Ele era um marido maravilhoso, mesmo que fosse meio bobo. Ele sempre tratou Penny como se ela fosse algum tipo de rainha mitológica. Como Kanye West trata Kim Kardashian.

Por mais que fosse uma ferida não cicatrizada, o fato de minha mãe ter nos deixado me deixava muito mais triste pelo que ela fizera com meu pai. Lester afundara no trabalho, passando dias e dias na loja muitas vezes sem comer ou tomar banho. Nunca mais conseguiu se relacionar com ninguém. E sinceramente acho que ele ficou ainda mais bobo depois que ela foi embora.

Não tinha escolha? Aquela mulher não ficou nem pra se despedir de mim e você fica defendendo como se ela fosse a vítima dessa história toda.

Lester fica vermelho, sinal de que está começando a perder a paciência comigo. Azar o dele; eu já perdi a minha há muito tempo.

— Sua mãe teve os motivos dela para ir embora — a voz estava forçadamente calma, o que deixava meus nervos ainda mais irritados.

Eu odiava quando ele fazia isso, era a tentativa mais inútil de tentar acalmar alguém.

— Suponho que sim — uso a mesma falsa calma que ele usou — A vontade dela de nos deixar.

Ele passou a mão pelos cabelos ralos, bufando a contragosto.

— Podemos deixar essa conversa para amanhã? Já está tarde e você não pode se estressar por conta do bebê.

Uma dica: nunca digam para uma mulher grávida semi irritada que ela não pode se estressar. É como um fósforo sendo jogado na poça de gasolina.

Eu explodi.

— Estressada? Eu não estou estressada. Estressada eu vou ficar se essa mulher resolver voltar. Vou ficar estressada se você insistir em defendê-la — fungo, sentindo as lágrimas furiosas saírem — Ela fez a merda saindo de casa, ela destruiu toda a minha vontade de formar uma família algum dia. Ela destruiu o seu coração. Mal nos suportava e na primeira oportunidade ela faz o favor de ir embora. Sabe quanto tempo demorou para ela se lembrar que tinha uma vida antes? Três meses! Eu fiquei esperando esse tempo todo que ela se lembrasse e voltasse, mas tudo que ela fez foi dar um telefonema vazio. Ela fez o senhor de gato e sapato todos os anos em que foram casados e pelo visto continua fazendo. Agora depois de dez anos ela quer voltar achando que tem algum direito sobre mim ou sobre a minha criança? Ela não tem, ela...

Engulo meu discurso com a sacudida que meu pai me dá. Ele me segura pelos ombros e não o vejo direito porque meus cabelos tampam minha visão.

Ele parece arrasado, cansado, triste, mas eu não consigo sentir pena dele em nenhum momento. Passei a vida sentindo pena do meu pai para no fim ver que era algo vazio, já que ele mesmo ainda estava afundado nas lembranças dela, se alimentando com meia dúzia de palavras que ela se dignava a dar por telefone às vezes.

Não consigo sentir pena de quem cava a própria solidão e ilusões.

— Ally, você está desequilibrada. Eu sei que a notícia de que Penny voltará te deixou exaltada, mas...

— Me solta — olho no fundo de seus olhos, castanhos como os meus, o interrompendo — Me solta agora.

Talvez minha voz frágil tenha o tocado e ele me soltou; corri para dentro do meu quarto e busquei minha bolsa, saindo novamente e passando por ele, que ainda estava parado no corredor, me olhando com sua cara de bobo.

— Ally, onde vai? Ally!

Já na porta, me virei para olhá-lo. Ele parou no pé da escada, parecendo triste.

— Vou dar uma volta para respirar, antes que eu perca o pouco do respeito que ainda tenho por você.

E bati a porta.

(...)

Minha primeira válvula de escape sempre foi Trish. Tanto que assim que descobri sobre minha gravidez, a casa dela foi meu refúgio, onde eu pude chorar e desabafar sem nenhum tipo de julgamento.

Teria sido para lá que eu iria também hoje, mas, por alguma razão, parecia errado incomodar Trish à noite por um motivo tão pessoal e que não tinha nada a ver com ela.

De alguma maneira, acabei de frente para a casa de Austin. Eu sabia onde ele morava porque não era muito longe do shopping onde nossos pais trabalhavam, nem longe da Marino.

Bufei, irritada com a quantidade de vezes que Austin acabou sendo necessário de algum modo para mim.

Bati na porta, torcendo para que quem atendesse fosse Austin, afinal já era quase meia noite e eu poderia estar incomodando Sr. e Sra. Moon. Não recebi nenhuma resposta e bati de novo, já considerando a hipótese de não ter ninguém em casa.

A porta se abriu e Sr. Moon, de roupão e cara sonolenta, arregalou os olhos ao me ver. Acho que era justo ele soar assustado. Eu não parecia muito apropriada mesmo. Minha blusa rosa de alças estava apertada e deixava minha barriga protuberante. Minha calça xadrez era do pijama, minhas pantufas de coelho estavam sujas pela caminhada e meu cabelo estava um ninho.

— Ally, querida, aconteceu alguma coisa? — Sr. Moon perguntou genuinamente preocupado.

— Ah, não exatamente, Sr. Moon — funguei e tremi devido a uma brisa fria que passou no momento. — Austin está? — desviei meu olhar dele e foquei na rua vazia.

— Não, querida. Austin saiu com uma menina. — olhou o relógio. —Na verdade, ele já deve está chegando.

— Uma menina? — franzo o cenho — Ele e Kira voltaram?

— Não, ele... — um farol alto nos fez desviar os olhos. Era o carro de Austin — Olha ele ai. Eu vou entrar, Ally, a porta está aberta para vocês.

Sr. Moon saiu do meu campo de visão. O carro parou de frente para casa e Austin saiu do carro acompanhado de uma menina loira que eu desconhecia. Os braços dele rodeavam os ombros dela, e os dela envolviam a cintura dele. Pareciam felizes.

Senti-me culpada por estar ali, errada.

Austin colocou os olhos em mim e soltou a loira em um pulo, correndo em minha direção. Ele colocou meu rosto entre as mãos, me avaliando toda e por fim me abraçou. Por mais errada que eu me sentisse agora, aceitei o abraço afundando meu rosto em seu peitoral.

Sinto-me reconfortada, amada, protegida. Sinto-me em casa.

Ele me soltou e eu quase soltei um gemido triste. Ele foi até a menina, que estava com a cara fechada e falou algo em seu ouvido. Ela assentiu e foi embora, seguindo pela rua vazia. Preocupei-me com ela andando sozinha essa hora.

Austin voltou até mim correndo e me puxou para dentro de casa, fechando a porta.

Nunca tinha visto o interior da casa dos Moon. A sala era em um tom de salmão com dois sofás azuis marinho posicionados estrategicamente de frente para a lareira e para a televisão pendurada na parede. Em cima da lareira havia várias fotos de Austin quando pequeno.

Sentei-me no tapete, apoiando as costas no sofá maior e abraçando meus joelhos. Austin se sentou do meu lado, passando o braço pelos meus ombros. Apoiei minha cabeça na curvatura do seu pescoço, chegando mais próxima dele.

— Quer alguma coisa? — ele perguntou baixinho. — Uma água, um suco?

— Só quero que você não saia do meu lado — digo e me surpreendo com o quão verdadeiras são minhas palavras.

— Eu nunca vou sair do seu lado.

Não aguento mais e começo a chorar, sentindo toda a frustração e arrependimento pela briga com meu pai chegarem. Sentindo a raiva de Penny se esvair e a raia de mim mesma começar a transparecer, porque deixei aquela mulher mexer comigo novamente.

Austin não fala nada, só me aperta forte todas as vezes que meus soluços começam a ficar altos e meu corpo começa a tremer.

Quando me acalmo, consigo contar tudo a Austin, que apenas assente e vez ou outra opina.

— Não deixe Penny se intrometer, Ally. Ela perdeu esse direito. Fora que você está para ter seu próprio filho. Isso anula qualquer tentativa dela de se achar responsável ainda por você.

Ele sorri para mim e eu me sinto realmente culpada por não contar a ele sobre Angie e a adoção do bebê. Austin confia cegamente em mim e me apoia em tudo, e eu retribuo escondendo dele a decisão mais importante da minha vida.

— Então... — começo, tentando mudar de assunto e ele solta uma risada, entendendo onde eu queria chegar — Porque você estava com aquela garota? Quem é aquela garota, afinal? E Kira?

Minha voz sai indignada e eu me afasto um pouco dele para poder ver melhor seu rosto. Ele parece despreocupado, como se não se importasse com a garota, com Kira, muito menos com minha indignação.

Tento me convencer, aliás, que estou irritada por ele ter superado Kira tão rápido assim.

— É Piper, irmã da namorada de Dez. Como ela se chama mesmo? — ele franze a testa.

— Carrie — respondo e ele assente, sorrindo sem mostrar os dentes.

— Isso! Dez arrumou esse encontro às cegas. Piper é bem legal. Ela surfa na mesma praia que eu, curte umas músicas que eu curto, tem um senso de humor legal.

Traidor, minha mente acusa Dez. Não era para Dez apresentar garotas a Austin. Não comi... com Kira ainda no jogo.

— E Kira? — pergunto novamente.

— O que tem Kira? — cerro os olhos e ele parece entender, mas apenas dá de ombros — Ela mesma que não quer nada comigo.

Porque você é estranho e quer um filho que não é seu, me sinto tentada a dizer, entretanto apenas engulo minhas palavras. Não quero brigar com Austin também.

Então todas as conversas que eu tive até agora voltam a minha cabeça.

Você nem se dá conta de que Austin Moon está completamente de quatro por você, Kira dissera.

Você não gosta dele, já entendi. Só que isso não o impede de gostar de você. Minha melhor amiga falara.

Não quero mais conviver com a dúvida. Quero esclarecer as coisas com Austin.

— Austin — começo, ele inclina a cabeça, me incentivando a continuar — Deixa para lá — perco a coragem.

Não estou pronta para a resposta dele. E se eu tiver confundindo as coisas. Se as meninas tiverem me confundido. E se não, e se ele realmente tiver sentimentos por mim, como ficaria nossa amizade recém formada?

Eu me sentiria totalmente ridícula se achasse que ele nutrisse sentimentos por mim e esse tempo todo era tudo pelo bebê, como ele sempre demonstrou e como eu sempre achei.

— Ah, agora fiquei curioso.

— Você gosta de mim?

— Gosto. — ele disse apenas.

—Não, Austin. — sinto que estou explicando algo para uma criança. — Gostar mesmo, pra valer. Gostar no sentido de juntar as bocas e dar um beijão.

— Gosto — ele reafirmou, ele mesmo usando o tom que eu acabara de usar — Aliás, quem usa esses termos para definir qualquer coisa?

Ignoro o que ele disse. Ele gosta de mim.

Ele. Gosta. De. Mim.

Austin.

Gosta.

De.

Mim.

— Como?

— É, ninguém usa “juntar as bocas”, é um pouco rude até — ele nota minha expressão confusa — Ah sim, está falando sobre eu gostar de você. Lembra que eu tinha dito que tinha uma quedinha por você no nono ano? Eu superei mesmo, só te achava bonitinha. Ai você entrou na minha vida de novo, e por mais que fosse por Noah no começo, eu vi a mulher forte, gentil e que merece tudo de melhor no mundo, porque já sofreu bastante. Eu gosto de todos os aspectos de você: seus cabelos, seu sorriso, seu senso de humor duvidoso, seu filho — sorrio delicadamente e ele retribui — Gosto dos seus olhos grandes e o fato de um ser maior que o outro.

— Ei — bato em seu braço, mas não estou verdadeiramente irritada — Não tenho um olho maior que o outro.

— A questão é: eu gosto de você. Não sei o quanto, pode ser uma paixão devastadora ou só outra quedinha, mas eu gosto. E eu sei que você não sente o mesmo, é quase compreensível já que eu passei todo o ensino médio fazendo da sua vida um inferno. Mas isso não é realmente um problema.

Ele está certo. Eu não sinto o mesmo. No entanto, não me lembro mais de como é não gostar de Austin, de não tê-lo próximo a mim.

Eu ajo impulsivamente, não por pena, não porque convinha. Ajo puramente porque sinto que se eu não o fizer vou perder a maior oportunidade da minha vida.

Ajo porque gosto de Austin.

Eu junto nossas bocas, assustando-o.

Eu o beijo.


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Notas finais do capítulo

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