60 dias apaixonado escrita por Mayara de Souza
(...)
Eu tenho quase certeza... Na verdade, eu tenho certeza que a Isabella errou o caminho. Estamos á mais de uma hora dentro desse carro e não chega nunca em porra de lugar algum. Maldito trânsito.
Eu me ofereci para dirigir, mas quem disse que a bonita deixou... E ainda começou a falar um monte de coisa sobre eu ser machista e caralho à quatro. Só parou de falar agora de pouco. Foi aí que eu consegui perceber que o rádio estava ligado esse tempo todo.
Sério isso? Sertanejo? Deus do céu!
– Que porra de música é essa? – pergunto tentando ficar com a cabeça entre o banco das duas garotas, já que além de tudo eu fui obrigado a vir no banco de trás.
– Sertanejo! – Marina se deu ao trabalho de responder, o que eu nem desconfiava.
– Jura? – me jogo para trás com força encontrando o banco de couro.
– A Isa nasceu em Barretos. – ela se vira para mim e sorri. – Ela ama sertanejo.
– Não é porque eu nasci em Barretos que eu amo sertanejo... – ela aumenta o volume do rádio... “É quando nosso olhos se caçam em meio a multidão. Quando a gente se esbarra andando em qualquer direção.” – Eu amo sertanejo porque... porque sempre que eu escuto eu me lembro do meu avô. E dele dizendo que o sertanejo é a voz da verdade. – ela sorri.
– Que grande mentira. – digo e ela me fuzila com os olhos pelo retrovisor, com aqueles malditos olhos azuis. Em seguida voltando sua atenção para o trânsito paulista.
Não gosto de sertanejo. Nunca gostei. É música de interior, cidade pequena. Não tem nada haver comigo.
“E fica pro coração, a missão de avisar... E o meu tá dando sinal que tá querendo te amar.”
Balanço a cabeça repetidas vezes tentando tirar essa música infernal da minha mente. Impossível. Sabe não é tão ruim assim... mas continua sendo um pouco ruim. Talvez o avô dela esteja certo, mas não no meu caso. Claro.
– Quem é que canta isso aí? – pergunto.
– Jorge e Mateus... Se quiser depois eu te empresto o CD deles. – ela diz e eu posso ouvir o sorriso na sua voz, me faz sorrir também.
– Valeu Isabella. Não faz muito o meu estilo. – digo fechando os olhos e respirando fundo, ainda jogado de encontro ao banco.
– Você quem sabe.
– Finalmente. – Marina murmura.
– Chegamos? – pergunto me inclinando para frente novamente entre as duas.
– Chegamos! – Isabella aponta para um barzinho de esquina. Não era exatamente o que eu estava esperando. Mas já é alguma coisa.
Ela só conseguiu uma vaga para estacionar três quadras longe do bar. Para a minha felicidade ficar completa. Que maravilha!
Caminhei as três malditas quadras com a Marina e a Isabella reclamando incessantemente de dor nos pés. Acho que por causa dos saltos. E como se ainda fosse pouco, a Marina teve a brilhante ideia de se escorar em mim para não cair. Como eu já disse, uma brilhante ideia!
Chegamos em frente ao barzinho e um cara loiro, mais ou menos da minha idade, sorridente demais se levanta e faz um sinal com a mão, chamando a nossa atenção. Isabella sorri e acena de volta para ele, indo em seguida em direção a mesa aonde ele se encontra com mais algumas pessoas. Marina e eu estamos logo atrás.
Percebo os olhares de vários homens sobre as pernas e outras partes do corpo de Isabella e percebo também quando o mesmo loiro sorridente, os fuzila com o olhar, olhos verdes por sinal. Provavelmente, o merda do “namoradinho” dela.
Chego até a nossa mesa. Depois de desviar de mesas, cadeira e várias pessoas, chegamos até a nossa mesa. Tem três caras sentados, um deles é o loiro com sorriso. Isabella está em pé ao lado dele com uma mão sobre o ombro do cara e a outra na sua própria cintura, olhando ao redor, provavelmente avaliando o lugar ou procurando por alguém. Marina está sentada ao lado de um outro garoto, esse tem cabelos escuros, quase pretos. E olhos azuis. Será que todo mundo aqui tem olho claro?
Tem outro cara na mesa. Ele está ocupado mexendo no celular e nem tenho o trabalho de reparar nele, já que todos os outros na mesa estão com o olhar sobre mim.
– Que foi? – pergunto olhando um por um.
– Quem é ele? – o loiro sorridente pergunta, provavelmente para a Isabella, enquanto me analisa dos pés a cabeça. Ela se senta ao lado dele e vejo que as mãos dos dois estão entrelaçadas sobre a mesa.
– Eu posso responder por mim mesm... – digo.
– Enzo! O nome dele é Enzo. – Marina me interrompe.
Eu já disse como eu odeio que as pessoas me interrompam? Bom... Eu odeio!
– Ele vai ficar um tempinho na casa da Ana. – Isabella completou.
– Eu sou o Gabriel. – ele acena com a cabeça e o maldito sorriso retorna aos seus lábios.
– Matheus. – se apresenta o que está sentado ao lado de Marina, levantando a mão para chamar a atenção para ele.
– Hugo. – finalmente alguém nessa porra de mesa que não tenha olho claro. – Senta aí cara. – ele disse apontado com a cabeça para a cadeira vazia de madeira á sua frente.
– Você é de onde? – pergunta o loiro. Gabriel.
E que comece o interrogatório...
– Nasci em São Paulo. Me mudei para Londres há alguns anos. – respondo enquanto tento chamar a atenção do garçom em meio a multidão.
– Vai ficar quanto tempo? – foi à vez do provável namorado da Marina.
– Alguns meses. – respondo e suspiro aliviado por o cara finalmente ter me visto
– Bom... Temos que aproveitar enquanto você está por aqui. – gostei desse cara. Hugo, eu acho.
– Aproveitar? Como? – ele me encara e sorri maliciosamente.
– MU-LHE-RES – diz pausadamente. – Mulheres, meu caro. – ele apoia os cotovelos sobre a mesa e se debruça, se aproxima de mim o máximo que consegue. – As brasileirinhas são as melhores. – dito isso ele olha para os amigos esperando uma confirmação, Gabriel e Matheus concordam com a cabeça, mas não dizem nada. Hugo volta de encontro a sua cadeira com um sorriso vitorioso.
– Vocês são ridículos! – Marina os repreende.
– Que foi? – ele pergunta e eu solto uma gargalhada da falsa indignação em seu rosto. – Os garotões aqui precisam se divertir... Vocês duas podem proporcionar a diversão desses dois manés aí. – diz apontando para o Matheus e Gabriel. – Mas nós. Eu e ele. – aponta para ele e em seguida para mim. – Deixa isso comigo! – eu realmente gostei desse cara. Ele se levanta e só agora eu percebo o garçom parado atrás de mim. – Uma rodada de tequila porra! – ele gritou chamando a atenção do garçom e do restante do bar e se sentou em seguida como se nada tivesse acontecido.
– É disso que eu tô falando. – sorrio e mordo o lábio inferior.
– Enzo! – Marina me repreende e eu reviro os olhos.
– Calma Mari. – digo me virando para ela.
– É... Calma Mari. – Hugo diz e solta uma gargalhada.
– Isso não tá certo Enzo. – o garçom chegou com seis doses de tequila e deixou sobre a mesa.
Peguei uma das doses e engoli jogando minha cabeça para trás. E como sempre desce queimando.
– Que seja... – bati com o copo na mesa.
– PORRA! – Hugo aponta na minha direção e sorri. – Agora sim você tá falando a minha língua cara.
– ENZO! – Marina me repreende e eu ignoro novamente.
– Vem! – Hugo se levanta e caminha em minha direção. – Vem comigo! – me levanto.
– Com licença. – Marina olha em minha direção como se implorasse para que eu me sentasse novamente, quando se deu conta que era em vão ela revirou os olhos e Isabella sorriu.
– Não exagera Enzo. Você acabou de chegar. – bufo e balanço a cabeça ainda um pouco atordoado devido á tequila.
– E logo eu vou embora Mari. – sorrio. – Não vou fazer nada de que eu me arrependa depois.
– O problema é justamente esse. Você não se arrepende de nada. – ela choraminga.
– Esperta! – meu sorriso aumenta e dou uma piscadela para ela me afastando da mesa e indo em direção ao balcão de bebidas. Logo atrás de Hugo.
Eu realmente gostei desse cara.
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