— Filha, você pegou tudo? — perguntou a mãe pela milésima vez, deixando a filha irritada.

— Mãe, eu já disse que peguei tudo! — respondeu Sophie, já impaciente — Dá pra ficar calma?

— Ah, querida! Me desculpe, só que eu tô tão ansiosa com esse emprego sabe..

— Mãe! — interrompeu a menina — Tudo bem, ok? Agora, será que eu posso me despedir da nossa casa antes de irmos?

— Tudo bem, querida. — suspirou a mãe — Vou te esperar aqui fora.

— Obrigada mãe. — respondeu, sorrindo de forma afetuosa.

Ela sabia o quanto seria difícil ter que se mudar da casa onde vivera toda infância; ter que abandonar o país e o clima ensolarado que ela tanto gostava; ter que abandonar a escola, a melhor amiga e o namorado.

Ah, o "namorado" (se ainda o podia chamar assim); não o via desde a última briga. A briga que causou o fim do namoro. Ela não sabia como encarar isso, e ainda por cima sem a sua melhor amiga do lado para ajuda-lá. Mas não havia outra opção, teria mesmo que ir com a mãe.

Ela estava tão imersa em seus pensamentos que não ouviu a amiga a chamando:

—... Sophie?! Olha pra trás, sua surda! — disse uma voz que ela logo reconheceu

— Julie?! O que você tá fazendo aqui? — respondeu com os olhos marejados e com a voz embargada

— Ué, eu vim me despedir da minha melhor amiga. — falou Julie, também com os olhos marejados

Ao ouvir a sua amiga falar isso, um nó se formou em seu peito e as duas caíram no choro, correndo uma para o abraço da outra. E realmente, o abraço é o melhor lugar do mundo. Ela não queria mas larga-lá.

— Ah meu Deus, como vou sentir sua falta, Sô. Mesmo você pedindo para eu não vir aqui me despedir, porquê seria difícil, eu não iria conseguir. — falou entre soluços — Eu não quero que você vá!

— Ju, também vou sentir muita falta sua, das suas loucuras e dos seus conselhos. Mas.. — disse, largando dos braços da amiga — por isso eu não queria que você viesse. Já tá sendo difícil pra mim e.. você só tá piorando as coisas pedindo para eu ficar.

— Você tem razão, em parte. Eu não deveria ter falado isso. — disse suspirando — Mas você não podia me impedir de me despedir.

— Tudo bem. — ela enxugou as lágrimas — Mas eu tenho que ir, já tá na hora do voo.

— Mas já? Agora?! — perguntou triste — Eu deveria ter vindo antes.

— Já. — suspirou — Mas enfim, vamos descer?

— Temos mesmo que ir?

— Julie!! — falou Sophie, a repreendendo com um sorrisinho como de costume.

Enquanto descia as escadas, lembrava de cada momento que viveu naquele lugar. Quantas vezes desceu aquelas escadas acompanhada da amiga. Mas agora era diferente; seria a última vez.

Ao chegarem na porta, a mãe já estava colocando as malas no táxi. Então, Sophie deu um último abraço antes de partir. Entrou no carro, olhando para a casa vazia e a amiga sozinha. Acenou pela última vez e partiu em direção ao aeroporto.