Dois dias haviam se passado desde a discussão entre Diana e Meg. O dia estava ensolarado e seco e Jennifer brincava com Brown, agora bastante maior do que antes, enquanto pensava no motivo de Eleanor está demorando tanto para voltar.

Nossa Brown, será que o povo do reino de gelo prendeu ela e não deixou ela retornar? — Perguntou Jennifer para o pequeno cachorro que olhava e admirava o seu belo e encantador rosto.

Não seja tola! Eles não podem fazer isso com ela. — Falou Diana ao se aproximar sorrateiramente por trás da garota azarada.

Duquesa... — Murmurou Jennifer surpresa com a presença repentina de Diana.

Ela é a princesa e regente do reino de gelo do norte! A palavra dela é lei. — Completou Diana ao se sentar ao lado da garota azarada e o cachorro que brincava com a grama e o capim do chão.

E se aconteceu alguma coisa com ela? — Perguntou Jennifer preocupada.

Então eu estarei literalmente F*. — Falou Diana antes de dar uma risada sarcástica.

Jennifer não entendeu nada, mas em uma tentativa de mudar de assunto, perguntou — Onde está a baronesa Margaret?

Diana respirou profundamente e após retirar alguns fios de cabelos rubros que estavam formando uma pequena franja na frente de seus olhos, a duquesa ruiva falou — Ela está nos campos, plantando sementes de flor dourada por aí, acompanhada por seus cavaleiros galantes e bonitos.

Jennifer sorriu levemente ao sentir uma ponta de ciúme na voz da duquesa, mas foi o suficiente para Diana perceber e perguntar — Está rindo de que?

De nada! Hihihi... Você gosta muito da baronesa, não é? — Respondeu e perguntou Jennifer despreocupada e sem medo nenhum de represália.

Gosto. Bastante, mas não gosto que as pessoas saibam ou falem sobre isso. Hunf! — Respondeu Diana bastante emburrada.

Entendo... — Confirmou Jennifer meio chateada devido a resposta grossa e dura da duquesa.

E você? Gosta muito da Wendy? — Perguntou Diana tentando parecer um pouco mais simpática.

Sim! Eu a amo muito. — Respondeu Jennifer feliz e contente.

Diana sorriu com a inocência e a beleza da pequena garota, e enquanto começava a brincar com Brown, ela questionou — Mas você sabe que as pessoas não apoiam ou aceitam isso né?

Isso o quê? — Perguntou Jennifer confusa.

Esse tipo de relacionamento entre mulheres e meninas. Muitos são contra e outros só aceitam quando é para fazer certas brincadeiras, como aquelas que eu ensinei para você enquanto você estava acompanhada por Luzia. — Explicou Diana enquanto olhava fixamente nos olhos verdes da pequena garota loirinha.

Ah... E por que eles não aceitam? — Perguntou Jennifer curiosa sobre o assunto.

Porque eles são um bando de hipócritas que não sabem nada sobre metade das coisas do mundo e já se acham os mais sábios dos homens. — Explicou Diana revoltada ao quebrar um graveto e jogá-lo ao longe para Brown pegar.

Ah...  Entendi. — Concordou Jennifer com um pouco de incerteza.

Diana suspirou profundamente para controlar a raiva e ao tentar mudar de assunto, perguntou — Você já havia se apaixonado por outra garota antes?

Não sei... Como você sabe eu não me lembro de muita coisa sobre o meu passado... Mas de uma coisa eu tenho certeza! A Wendy é a pessoa que eu mais amo. — Exclamou Jennifer feliz ao levantar os braços para o alto como se tentasse agarrar o céu acima.

Hahaha...  Você é muito fofa e inocente Jennifer. Estás até começando a me fazer sentir mal por ter abusado de você antes. Hêhehe... Mas eu não posso ou consigo me controlar... Você é tão cativante... Seu rosto é tão lindo... Seus lábios tem gosto de mel e seus olhos me encantam... Verdes! Verdes como a grama que está sobre o solo em que estamos sentados encima agora. — Sussurrou Diana ao acariciar levemente o rosto belo e macio de Jennifer.

Pare! Por favor... — Pediu Jennifer ao segurar a mão direita da duquesa com as suas. — Eu já tenho alguém, como já lhe disse.

Diana ficou surpresa com o ato de Jennifer e ao recolher a mão, tossiu um pouco e falou — Hêhehe...  Você está certa. Me desculpe. Acho que foi culpa dos seus cabelos loiros! Hihihi... Como eu falei eles me fascinam.

Sim. — Concordou Jennifer ao olhar para baixo e avistar a perna bandada da duquesa.

Desculpa. — Repetiu Diana mais uma vez em voz baixa.

Tudo bem. — Assentiu Jennifer com um balançar de cabeça rápido.

Então o silencio se instalou entre as duas garotas por um bom tempo, até Jennifer perguntar — Quem te machucou na perna?

Diana gelou por um momento, mas ao acompanhar o olhar de Jennifer, que fitava atentamente a bandagem em sua perna, a duquesa percebeu a origem da pergunta e respondeu — Um homem muito mal. E ele... Bom, eu não gosto de falar muito sobre isso. — Tentou se evadir Diana ao abraçar o próprio corpo.

Nossa, que malvado! E ficou cicatriz? — Perguntou Jennifer curiosa e inocente.

Sim. Ficou... — Falou Diana ao pensar que a maior cicatriz ficara em seu peito, no “coração”.

Hum...  Posso ver? — Pediu Jennifer doce e gentilmente.

Você quer realmente ver? — Perguntou a duquesa com um olha sádico e pervertido voltando a brilhar no rosto.

Quero sim. Até porque mesmo quando eu e você tomamos banho juntas você não me mostrou ou retirou ela daí. — Confirmou Jennifer com a voz e o olhar.

Diana sorriu e pensou um pouco antes de olhar para os lados e dizer — Bom, eu posso te mostrar, mas isso vai ter um pequeno preço... 

E qual seria? — Perguntou Jennifer já acostumada com as trocas e as barganhas da duquesa vermelha.

Ué, depois de todo esse tempo sobre o meu comando, você ainda não sabe qual é? — Ironizou Diana com aquele seu olhar sarcástico e provocador.

Jennifer pensou um pouco e após perceber o obvio, perguntou — Um beijo? É isso o que você quer?

Diana apenas concordou com a cabeça e esperou Jennifer responder.

Bom, já dei tantos beijos em vocês mesmo que um a mais ou um a menos não vai fazer diferença. Hihihi...  Mas tem uma condição.

 Qual? — Perguntou a duquesa confusa e curiosa.

Você é quem vai me beijar! Eu não quero mais ter que te beijar por vontade contraria por toda a minha vida. — Explicou Jennifer sincera.

Entendo. Nem mesmo se você quiser? — Ironizou a duquesa com aquele seu olhar atraente e malicioso que só ela possui.

Bom, aí já é outra situação... Hihihi... Mas agora eu só aceito se for assim. Tudo bem? — Perguntou Jennifer para confirmar novamente.

Hum... —  Diana pensou um pouco e inconformada, Perguntou — Você não me acha bonita ou atraente?

Acho. — Respondeu Jennifer. — Acho sim. Na verdade você talvez deva ser a mulher ou garota mais bonita que eu já vi em toda a minha vida. Mas mesmo assim eu não te quero desse jeito... — Explicou Jennifer meio chateada.

Certo. Já que você não me ama, não gosta e nem me acha tão atraente assim, então eu aceito a sua condição de beijo. — Falou Diana antes de se aproximar e beijar os lábios doces e pequenos da pequena princesa azarada.

O beijo foi curto, mas foi o suficiente para acender o desejo e a chama pervertida no corpo de Diana, que após o beijo falou — Parte do trato comprida, pode tirar o pano se quiser...

Jennifer então aproximou a mão calma e lentamente, e após retirar a linha de fixação, a garota começou a retira o pano de maneira leve e bem devagar.

Então, ao ver a palavra que Jennifer não sabia o significado, a garota azarada perguntou — Como ele fez isso?

Diana riu com a ingenuidade e a inocência da pobre garota azarada, e após reatar o curativo, respondeu — Com laminas de ferro quente em formato de letras e palavras.

Como assim? Mas por quê?  — Perguntou Jennifer ainda confusa, mas agora também inconformada.

Porque todas as garotas deles precisavam ser marcadas. Eu até tive sorte, outros compradores não se preocupavam em perguntar onde a garota queria ou gostaria de ser marcada. Vários simplesmente colocavam brincos ou correntes nas orelhas ou narizes delas, já outros apenas marcavam o peito com uma marca especifica de cada dono, enquanto outros também escolhiam palavras, mas não se preocupavam com o bem-estar da garota ou a opinião dela de onde ela queria ou não ser marcada. — Explicou Diana com uma sinceridade nunca vista antes.

Então foi você que escolheu esse lugar? — Perguntou Jennifer espantada.

Diana: — Sim! Outras escolheram outras partes mais macias ou menos doloridas, como o bumbum ou a barriga. Mas eu não tive muito direito de escolha. O meu mestre queria a marca, ou no caso palavra, em um lugar que não ficasse muito visível, pois senão “estragaria a minha beleza! ”, como ele costumava dizer. Então ele apenas me fez escolher este lugar; pois eu implorei para ele não me marcar, mas ele disse que se eu não escolhesse logo igual as outras garotas, ele iria me marcar na parte de trás da perna, onde todo mundo poderia ver o que eu realmente era.

Jennifer estava em choque com a história sobre o passado de Diana. Inúmeras perguntas borbulhavam em sua cabeça, mas para não atrapalhar o relato e nem interromper a sua amiga, Jennifer continuou calada.

Eu chorei bastante ao sentir a dor do ferro ardente na minha pele, mas no fundo eu estava muito feliz por ter sido em um lugar que quase ninguém iria ver. E... Bom, acho que isso é tudo o que eu posso te falar sobre isso. — Finalizou Diana ao olhar para o lado chateada e inconformada.

Jennifer ficou extremamente emocionada e sentindo muita empatia e pena pela princesa perseverante, Jennifer abraçou Diana de repente fazendo com que a garota ruiva se assustasse um pouco. Porém, ao perceber que era apenas um abraço quente e confortável de sua mais nova amiga, Diana fechou os olhos e retribuiu o abraço ao suspirar no pescoço da pobre garota azarada.

Jennifer abraçava Diana com força e ao sentir algumas lagrimas rolarem do seu rosto pelas suas bochechas fofas e macias, Jennifer beijou a testa da duquesa que retribuiu com um beijo no queixo.

Você está chorando? — Perguntou Diana com aquele sorriso bobo dela.

Jennifer apenas sorriu e limpou as lagrimas com as mãos antes de dizer — Não! Hihihi...  Isto foi a poeira da grama que bateu nos meus olhos. Hihihi...

Poeira da grama ou terra, garotinha? Você mente muito mal, sabia? — Zombou Diana com aquele seu sorriso pervertido típico.

Sua boba! — Falou Jennifer antes de concordar com Diana e rir junto também.

Vejam só. Pelo visto vocês estão se dando muito bem. — Falou Eleanor ao surgir de trás de uma arvore acompanhada por um jovem garoto magricela e o pássaro vermelho da felicidade no ombro.

Eleanor! — Gritou Jennifer em alegria ao se levantar e correr na direção de sua velha amiga afim de lhe dar um abraço bastante caloroso.

Olá, minha princesa. Ficou bem durante este tempo em que eu estive fora? — Perguntou Eleanor ao abraçar e acariciar o cabelo de Jennifer enquanto a garota azarada a abraçava, chorava e fungava bastante em seu pescoço.

Sim! — Respondeu Jennifer aos prantos. — Eu apenas senti muito a sua falta. — Assumiu Jennifer com sinceridade.

Eli! — Gritou Diana ao se levantar aliviada. — Você está bem...

Sim! Eu apenas demorei um pouco mais do que devia porque precisei passar no meu reino para resolver algumas coisas e para trazer este jovem moço comigo. — Falou Eleanor ao apontar para o menino magro.

E qual é o seu nome garoto? — Perguntou Diana ao se aproximar lenta e provocante.

É Thomas! Hêhehe... — Respondeu o garoto magro e sorridente.

Entendo... Bom Eli. Eu espero que você tenha um bom e belo motivo para trazer este garoto fedido e esfarrapado para nosso lar. — Indagou Diana fria e grosseira como sempre.

Tenho sim. Ao contrário de você, que não tem educação ou cortesia alguma com convidados, o Thomas irá nos ajudar e servir bastante bem. Na verdade, ele será muito mais útil do que você na jornada que teremos que cumprir. — Respondeu Eleanor com a sua frieza a altura do sarcasmo de Diana.

Ótimo. Então porque você não me explica agora como ele será útil? — Perguntou e indagou a duquesa com certa arrogância.

Eu adoraria, mas eu estou muito faminta, e meu convidado também. Então onde está a Meg para que ela possa nos receber e nos dar alguma comida e uma recepção boa ao nível correto de uma baronesa e “duquesa. ” — Alfinetou Eleanor com extrema sutileza.

Hêhehe... Meg foi plantar algumas florezinhas por aí, mas não se preocupe. Eu alimento você e o maltrapilho aí. Venham, logo, logo o jantar estará pronto. — Falou Diana ao se virar e chamar os convidados na direção do castelo mansão.