Memórias de Alice Moore escrita por Suh


Capítulo 19
Surpresas


Notas iniciais do capítulo

Queridíssimos leitores, este é um especial capítulo um pouco maior que o habitual.
A minha ideia era fazer um capítulo grande para eu poder viajar em paz. Mas acho que farei outro capítulo de lá para cá.
Estou ansiosa para saber o que acharam desse capítulo, não esqueçam de deixar reviews, fico muito feliz *___*

Alice:

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SIM! Meu scanner voltou!
beijos



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            Era uma manhã de sábado.

Eu estava deitada na minha cama. Fui direto para casa depois que a professora me dispensou.

Minha casa é bem silenciosa de manhã. E eu sempre adorei o silêncio.

 

Mas isso não quer dizer que eu gostava de ficar sozinha. Na verdade, ainda não gosto.

 

Me sentia bem, apesar de ter vomitado na sala de aula. Comi alguma coisa, caminhei pela casa. O tempo passava devagar...

No dia anterior, Eliza havia me ligado e dito que estava voltando.

 

Deitei novamente.

 

O meu quarto estava mais claro que o normal e a cortina fina voava com o sopro leve do vento que passava pela minha janela. Apesar da claridade, o céu estava branco. Completamente branco, sem sol, sem azul...

Vi a menininha que havia morrido no meu pesadelo. Ela estava no canto do quarto e olhava para mim.

 

            A minha filha da casa azul.

 

- Se pudesse ser verdade, pequenina, eu teria uma linda filha. – Sorri. Eu estava falando sozinha.

 

Acordei dos meus devaneios quando Sophia entrou no quarto. Ela tinha acabado de chegar do colégio.

 

- Que aconteceu, Alice?

 

- Eu passei mal na aula. A professora me dispensou.

 

- Hm... Ta melhor?

 

- Sim... não se preocupe.

 

 

 

            Algumas horas depois, estava andando pela rua, sem rumo, sem ter o que fazer. Estava sendo orgulhosa pela primeira vez na vida: me recusava a ir na casa dele e a ligar para ele. Se ele me quisesse de volta, ele que teria de fazer isso.

            Eliza também não havia entrado em contato, fiquei um pouco preocupada, mas eu não iria lá... e sabia que se continuasse em casa, seria tentada a fazê-lo.

 

Continuei caminhando, cheguei na praça Fantasma, fui até a ponte. Enquanto observava o lago senti uma brisa afagar meus cabelos e rosto. Fechei os olhos pensando que quando não sei para onde ir, sempre acabo ali. E também me perguntando o porque disso.

 

- Quem é você?

 

            Abri os olhos e rapidamente me virei em direção da voz. Vi uma menina me encarando, com um rosto transbordando ceticismo. Ela tinha mais ou menos a minha altura, cabelos lisos e curtos, castanhos. Uma aparência jovem, olhos levemente puxados – descendente de japonês.

 

- Meu nome é Alice.

 

- Você é real?

 

Eu ri. Não muito alto para não constrangê-la.

 

- Sim, eu sou real.

 

            Ela se aproximou e tocou o meu rosto com os dedos frios, como se ainda não acreditasse em minhas palavras. Como se quisesse tirar a prova sua própria sanidade mental.

 

- Você é linda, Alice...

 

            Senti meu rosto esquentar enquanto corava, fazendo seu toque parecer mais frio. Que comentário repentino.

 

- O-obrigada...

 

- O que está fazendo aqui? Não sabe do incidente?

 

- Sei, mas... não sei porque, algo me atrai nesta praça – assim como ele sempre me atraiu, pensei. – De vez em quando venho aqui, já vim com minhas amigas também.

 

- Estranho... pensei que mais ninguém vinha aqui...

 

- E você?

 

- Passo por aqui todos os dias.

 

            Não entendi muito bem aquilo tudo. Me parecia só uma garota estranha.

Passou-se alguns segundos silenciosos. Ela foi a primeira a falar:

 

- Alice... há tempos não tenho companhia. Há tempos não falo com ninguém além de uma criança com leucemia na cama de hospital. Sofri muito todos esses anos, mas você me fez sentir diferente hoje.

 

- Não estou te entendendo...

 

- A minha mãe foi assassinada nesta praça.

 

            Neste momento, me arrepiei.

- Eu sinto muito...

 

- Ela foi assassinada no lugar que ela mais amava em vida. Por isso não posso deixar de vir aqui. Se importa em ouvir minha triste história?

 

            Hoje eu entendo. A pobre moça sofria e não tinha com quem compartilhar todos os seus sentimentos. Exatamente como me senti até que te encontrei, querido leitor. Não sei se tudo isso pode parecer-lhe familiar, não podemos subestimar nossos sofrimentos – nem sempre os aguentamos sozinhos.

            O momento em que encontrei esta doce jovem não faz parte da minha história. Mas faz parte da minha vida, por isso lhe contarei. Desculpe-me deixá-lo curioso sobre Alex, mas acho que a única razão para ser atraída para aquela praça é ouvir os lamentos da filha daquela mulher.

 

E eu não posso menosprezá-los.

 

 

- Eu escutarei com atenção, mas antes, me diga o seu nome.

 

- Meu nome é Jinsce. O nome da mulher tão importante, Midori.

 

- Jinsce...

 

- Minha mãe tinha apenas 13 anos quando ficou grávida de mim. Infelizmente eu não era desejada na época. Diferente do que você possa imaginar, minha mãe, aos 13 anos, foi estuprada por um homem desprezível que a viu em uma noite fria qualquer. Por sorte não foi morta, mas seu sofrimento naquela noite foi indescritível, percebia isso nos seus olhos.

            Meus avós queriam que ela me abortasse, queriam que ela não tivesse aquelas terríveis lembranças novamente. Mas minha mãe era incrível, me amou intensamente. Cuidou de mim, perdeu sua adolescência. Pensava que eu não devia pagar pelos pecados daquele homem...

            Não podia existir maior amor do que o nosso.

            Quando eu tinha 12 anos, ela se apaixonou pelo seu chefe e ele por ela. Tentou a felicidade e se casou. O nome dele, Kamui. O chamo de pai até hoje. Tiveram uma filhinha, Annie, minha querida irmãzinha.

            Nesta praça, na noite em que faziam 6 anos de casados, um assaltante os abordou. Meu pai reagiu, por isso minha mãe foi baleada. Eu tinha 18 anos na época.

 

            Estava completamente envolvida e comovida pela história de Jinsce. Mas, 18?! Quantos anos ela tinha? Pensei que era mais nova do que eu! Ela continuou:

 

- Meu pai se sentiu terrivelmente culpado e por isso passou a trabalhar intensamente, sem descanso. Não tem mais tempo para mim, nem para minha irmã. Isso foi há 2 anos.

            Neste meio tempo, chegou a doença. Aquela terrível maldição chamada leucemia. Annie, com apenas 8 anos de idade, está agora presa numa cama de hospital. Se eu te contasse o que sofremos nesses anos, não teríamos tempo.

            Meu nome foi criado pela minha mãe. Iniciais de pessoa importantes para ela. Ela sempre gostou do que era diferente. Esta praça e eu mesma, são minhas mais queridas lembranças. Sou exatamente igual a ela. Eu nunca vou esquecê-la. Vou amar só ela, para sempre.

 

 

 

            Eu não sabia o que dizer. Jinsce havia sofrido tanto. Como ela podia? Ela tinha 20 anos. Por quanto tempo mais teria que sofrer?

            Mas agora entendo um pouco de tudo. Depois de morta descobri. Meu amor sem fim era igual ao amor de Midori e Jinsce.

Por isso a conheci. Por isso fui atraída para a praça.

 

Por isso precisei ouvir o que Jinsce passou. Por isso a menininha disse que eu deveria ser forte no meu pesadelo.

 

Infelizmente nada disso adiantou. E até hoje choramos.

 

Não escutei e fui fraca.

 

 

Continuando... de volta para casa, recebi duas ligações. As duas estranhas.

Era quase 17:00h quando meu celular tocou, era Eliza.

Ela disse que precisávamos conversar, eu e Alex. Me preocupei, mesmo ela dizendo para eu não me preocupar.

 

A segunda ligação foi Edward. Como ele havia conseguido o meu número, até hoje é um mistério para mim. A gente só conversou muitas besteiras, tentei falar brevemente, só pensava no Alex. No que tínhamos que conversar.

 

Mas além disso, minha cabeça não saia da casa azul e da pequenina.

 

E então, como se eu tivesse acabado de levar um choque elétrico por todo corpo, tudo pareceu se encaixar.

Corri rua afora o mais rápido que pude até a farmácia mais próxima.

 

Mais tarde, quando saí do banheiro, eu tinha uma certeza e uma expectativa.

 

- Eu estou grávida. – sussurrei pra mim mesma.

 

EU ESTOU GRÁVIDA! – Gritei em meus pensamentos.

 

Senti algo que nunca tinha sentido. Sabe aquele famoso friozinho na barriga? Eu o senti pelo corpo inteiro, dez vezes mais forte. Achei que ia desmaiar ali mesmo e até perdi as forças nas pernas, caí de joelhos e lágrimas grossas saiam dos meus olhos em estado de choque.

 

Em seguida, o sorriso mais sincero e feliz da minha vida se misturou as lágrimas que não paravam de cair.

 

 

 

Eu estou grávida.

 


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Notas finais do capítulo

E então? Mereço meus reviews?

Mas não acabou! tem mais! siuhasiuhasiu por que vocês acham que o nome do capítulo é "Surpresas"? rsrsrs

Mais um desenho pra vocês [Ela é um fantasma, vamos fazer um desenho mais sombrio, huh?]:

http://i147.photobucket.com/albums/r284/SuhDouji/digitalizar0001.jpg

Obrigada pessoal, amo vcs