Eu não precisava falar – todo mundo já via – mas eu fazia questão:

- Estou tão feliz!

Falando sério (nunca tive costume de mentir e não é depois de morta que farei isso), eu realmente me sentia a garota mais feliz do mundo e parecia que eu podia explodir de tanta felicidade.

Eu pensava o tempo todo “como eu posso ser tão sortuda?”.

Eu pensava nessa época que meu coração poderia parar de felicidade, mas olha o que eu descobri: morrer de felicidade não é possível! Algum tempo depois descobri que ele podia parar de tristeza, mas ainda não chegamos aí.

Achei que felicidade era a única coisa que podemos ter em excesso. Tudo demais é ruim? Felicidade não! Quanto mais felicidade melhor!

O problema é que se tivermos só felicidade, não podemos crescer. Talvez eu nunca tenha crescido, porque quando a felicidade acabou, eu desisti de viver.

Depois daquela noite perfeita, passamos a nos encontrar com mais freqüência. Eu podia demonstrar todo o carinho que eu guardei durante esses anos e me sentia tão bem com isso. Ele me ligava todos os dias, fazendo meu coração disparar toda vez que via o nome dele no visor do celular. Atendia sorrindo.

Enquanto isso, na escola, continuava com Eliza, Sophia e a Mi, que ficava mais próxima a cada dia.

- Nem acredito que as férias começam amanhã!! – soltou Eliza, quase gritando de excitação, enquanto voltávamos todas juntas para casa.

- Nem eu! Tenho tantos planos pra essas férias! – Sophia falou.

- Eu só quero relaxar! Talvez pegar uma corzinha! – Disse a Mi.

Todas olharam para mim.

- O que foi? Eu não sei o que dizer! Vou sentir falta do colégio!

- Alice, você é anormal!

- É brincadeira! Eliza, Mi, Sophia... vamos fazer dessas as melhores férias!

- É assim que se fala!

Mais tarde, nesse dia, eu estava na casa de Eliza. Tínhamos feito um brigadeiro e estávamos assistindo filmes de terror antigos. Alex estava na faculdade e os seus pais trabalhando.

- Nossa, Alice! Nem acredito que você é minha cunhada!

- Não sou sua cunhada ainda... Alex não me pediu em namoro, estamos só ficando.

- De qualquer forma! Você é da família!

- Ahh!!! É mesmo, não é? Eu nem aguento ser tão feliz!!

- HAHAHA!

- Sabe o que ele me disse?

- Conta!

- Ontem, quando ele me ligou... ele disse que eu sempre fui alguém com quem ele pensou que poderia ter algo sério, como casamento!!

- Como assim?! O meu irmão disse isso?

- Sim! Ele disse que eu era muito bonita, legal, engraçada, bons pais...

- Nossa... não conhecia esse lado romântico dele!

- É! Eu sou tão sortuda, não sou?

- Sortuda por quê? – disse aquela voz maravilhosa, vindo da porta.

Ele tinha aquele meu meio sorriso lindo estampado no rosto, como se tivesse ouvido toda conversa e como se tivesse adorado isso. Parecia ter orgulho de si mesmo por ser tão perfeito. Corei, e Eliza falou:

- Já chegou da faculdade?!

- Professor largou cedo hoje!

- Ah, eu acho que vou ligar pra Sophia, já venho. – Eliza nos deixou a sós, de novo.

- Oi Alice – ele disse se aproximando, me deu um abraço e um beijo na testa. – Como você está, linda?

- Oi. Estou bem.

- Alice, você não tem um apelido?

- Ahn? Apelido?! Não... sempre me chamaram só de Alice.

- Eu vou inventar um pra você, então... – Falou enquanto deitava no meu colo. – O que vocês estão assistindo?

Eu não ouvi a última frase, olhava pro seu rosto... fazia carinho no seus cabelos – poderia me perder naquela escuridão dos seus fios lisos.  

E então, meu celular tocou.

- Alô?

- Oi, Alice?

- Oi, Mi! Ta tudo bem?

- Ta sim... liguei porque senti sua falta... Você ta fazendo o que?

- To na casa da Eliza.

- Não quer vir pra cá?

- Ahn... eu estou bem aqui... – olhei pro Alex e acariciei seus cabelos mais um vez - por que você não vem?

- O seu namorado ta ai?

- ...Sim...

- Vem pra cá, Alice! Eu já to com saudade!

- s-sério? Você sente saudade muito rápido! – soltei uma risadinha.

- ...

- Mi?

- Tchau.

- Ah – tu tu tu tu...

            Porque eu fui falar aquilo para a minha amiga? Quer dizer, eu também sentia falta dela... tudo bem que tínhamos nos visto de manhã, mas... me arrependi de ter falado aquilo sem pensar. Eu também sentia falta do Alex a cada segundo... e exatamente por isso, não podia deixá-lo ali e ir na casa da Mi.

- O que foi? – ele se levantou e me encarou.

- N-nada não.

- Li.

- Hã?!

- Li, o seu apelido. Não gostou?

- Ah, eu gostei, mas... por que Li?

- Pode ser Lili também! É que é uma parte do seu nome aLIce, e posso te fazer lembrar que você é LInda, quando quiser!

Não pude deixar de rir. – Que bonitinho!

- Sou idiota, né?

- Não, não, é fofo! – falei ainda sorrindo. “E eu te amo”. Eu não podia dizer isso ainda, era cedo demais, mas não deixava de pensar. Nunca.

Eliza chegou e voltamos a assistir o filme. Não deixamos ela “segurar vela” por isso só ficamos abraçados o tempo todo. O tempo passou mais rápido enquanto estávamos juntos. Ele me deixou em casa e me deu aquele beijo que me deixa sem a menor noção da realidade.

“Eu te amo, eu te amo” – droga, porque não conseguia dizer aquilo?

Eu sentia que podia fazer qualquer coisa por Alex Ford.