Red Johns Case escrita por SorahKetsu


Capítulo 3
Em trinta e cinco pedaços




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Quinze minutos depois da ligação, o telefone tocou novamente. Jane atendeu antes que o primeiro toque acabasse. Era Rigsby do outro lado da linha.

- Jane? Lisbon não está na casa dela.

É claro que não estava.

- Rigsby… eu liguei pra ela. E quem atendeu foi Red John.

Alguns segundos de silêncio. Então Jane ouviu o som de um botão sendo apertado no celular de Rigsby. Ele havia posto em viva voz.

- Estão todos aí?

Então ele ouviu um sonoro “sim”, com as vozes dos três da equipe.

- Tem mais alguém além de vocês?

- Não. Só eu, Val Pelt e Cho. – respondeu Rigsby. – Diga a eles o que me disse.

- Hoje, quando cheguei, comecei a verificar as novas pistas do caso Red John. Havia uma carta no meio delas. Tenho fortes razões pra acreditar que ele a deixou para que eu lesse. Estava na mão da última mulher morta.

- O que diz a carta? – era a voz de Van Pelt.

- Foi como uma ameaça pessoal. Ele sabia que eu seria transferido depois que o caso passasse pra outro estado. Queria chamar atenção. Pra me afastar da Califórnia… e seqüestrar Lisbon. – depois de algum silêncio, ele continuou – Depois de pedir que fossem até aí, liguei pra ela. Quem atendeu foi Red John. Ele disse que ela está viva. E me desafiou a encontrá-la.

-  Alguma dica?

- Disse que ela estava em casa.

- Não encontramos nada aqui. – era a voz de Cho – Sem sinal de arrombamento, porta fechada do lado de fora. Nada. Nem pistas nem Lisbon. Jane, ela não está aqui, acredite.

- Eu acredito. Não seria Red John se fosse fácil. Estarei aí em algumas horas.

Jane desligou o telefone e finalmente se lembrou que estava em compania de outras quatro pessoas. Eles o encaravam como se pedissem uma explicação para tudo que havia se passado.

- Eu preciso voltar pra Califórnia.

Muller se aproximou e tocou-lhe o ombro.

- Sinto muito, Jane. Deixe-me ajudá-lo.

Ele olhou nos olhos dela. Nos profundos olhos castanhos dela. Então baixou a cabeça.

- Não quero colocar mais ninguém em perigo. – respondeu, baixo, antes de sair da sala.

 

Jane estava uns trinta ou quarenta quilômetros por hora acima da velocidade permitida na auto-estrada. Só o que se ouvia era o som do motor, sendo posto à prova. Com as duas mãos no volante, punhos fechados com força. Seus lábios tremiam. A estrada parecia interminável. Havia posto Lisbon em risco. Esse era o preço de sua vingança? Deixar outras pessoas serem mortas? Tal preço, Jane não estava certo de que queria ou deveria pagar. Estava disposto a morrer por sua vingança, mas não a deixar que outros o fizessem.

Ele ainda se sentia perdido. Não sabia quanto tempo tinha até que Red John matasse Lisbon. Quando ele perderia a cabeça e faria o mesmo que fez com sua esposa e filha.

Havia ainda outro pensamento na cabeça de Jane, mas por enquanto ele mantinha sanidade mental o suficiente para mantê-lo distante.

Não havia, contudo, sinal de lágrimas em seu rosto. Isso porque ele achava que chorando, admitiria uma derrota. E isso era inadmissível agora. Ia encontrar Lisbon, custe o que custar.

Quatro horas de estrada depois, Jane finalmente chegou à Califórnia, no prédio da CBI.

O clima era tão tenso quanto podia ser.

Guardas uniformizados caminhavam pra lá e pra cá falando em seus comunicadores. Van Pelt digitava no computador com os olhos vidrados, fazendo sua pesquisa. Cho falava ao telefone. Rigsby não estava no local, mas logo foi informado de que ele interrogava um suspeito. Jane não se interessou pelo assunto, pois estava plenamente certo de que Red John não deixaria suspeitos.

Jane aproximou-se de Van Pelt. Ela o encarou com aquele ar de pena. Seus olhos estavam vermelhos. Certamente chorara há algum tempo. Mas o encarava como se ele fosse uma criança que perdeu a mãe.

Talvez fosse exatamente isso.

- Não encontramos nada, senhor Jane.

Ele fez que sim com a cabeça, sem foco no olhar. Ele sabia que não encontrariam. Ele tinha que encontrar. E sentia que se ficasse ali, parado, não chegaria a lugar nenhum.

- Jane… - Van Pelt continuou – Lisbon estava agindo estranho essa semana.

Jane então focou os olhos em Grace, esperando por alguma informação importante. Havia esperança em seu olhar. Qualquer pequena dica ajudaria.

- Estranho?

- Estava mais nervosa do que de costume. Quase surtou quando não conseguimos extrair a confissão de um suspeito.

Jane não conseguia tirar nada de tal coisa, a não ser a frustração de Lisbon em ter de admitir que seus métodos eram muito mais eficientes que os dela, apesar de serem contra a lei.

- Senhor Jane… - Van Pelt se levantou e ruborizou ao dizer aquilo – Ela gostava muito do senhor. Por favor, a salve. Não deixe sua vingança vir acima dela, porque… Lisbon já lhe colocou acima da própria carreira, da própria vida.

Era verdade. Lisbon já concordara em se demitir há algum tempo atrás, quando Minelli lhe proibira terminantemente de ajudá-lo com o caso Red John.

- Eu jamais faria isso, Van Pelt. Não se preocupe, Lisbon é minha prioridade agora.

Jane ficou um pouco confuso com a própria frase. Pensou nela alguns segundos e então esqueceu o assunto.

Sentia que só estava perdendo tempo na CBI. Então pediu licença e saiu. Foi direto para a casa de Lisbon.

Havia guardas fazendo ronda o tempo todo, então antes de destrancar a porta com um clipe de papel, mostrou sua identidade aos policiais locais.

A casa estava em ordem. Jane vagou por ela, sentindo o cheiro de Lisbon por todo canto. Quase podia vê-la ali. Sua casa era um tanto diferente do que ela aparentava no trabalho. Não estava bagunçada, mas não era muito decorada, quase desleixada, sem o senso perfeccionista que Lisbon sempre aparentou. Talvez porque ela passava muito mais tempo no trabalho.

Jane observou as fotos sobre uma escrivaninha. Ela e os irmãos, ela e os sobrinhos, sempre sorridente. Uma das fotos era dela com os outros membros da equipe, incluindo ele mesmo. Teve que parar pra pensar um tempo até se lembrar quando havia tirado aquela foto. Então se lembrou do dia em que Minelli veio lhes dizer que eram a unidade número um do país, e pra comemorar, tiraram a tal foto. Nela, Lisbon sorria, como realizando um sonho.

Jane não ia permitir que Red John tirasse isso dela.

Ele procurou por toda casa qualquer indício de que Red John havia estado ali, mas nada encontrou.

Desistente, Jane dirigiu de volta para a antiga casa. Não a havia vendido, pois realmente achava que voltaria em breve. Não estava errado. Porém não havia muitos móveis.

Jane então se sentou no chão da sala, completamente acabado. Colocou o terno de lado e pôs-se a pensar.

Então, olhando para a parente branca à sua frente, ele viu um ponto vermelho do outro lado do cômodo.

Forçou a vista para enxergar, mas nada viu.

Levantou-se e foi até ele.

Era uma marca de sangue, na quina da parede.

Seu coração deu um salto, e ele correu para o andar de cima, seu quarto, onde anos atrás encontrara mulher e filha mortas.

Na porta, um bilhete.

Um dejavu cruzou sua mente como um flash. Ele sentiu vontade de chorar, sentiu algo subindo em sua garganta, mas já não sabia se era devido á Lisbon ou à sua mulher e filhas. A situação era incrivelmente a mesma. Uma brincadeira macabra por parte de Red John.

Entretanto, havia algo de diferente: o bilhete era escrito a mão. Jane reconhecer a letra rapidamente, era de Lisbon, extremamente tremida e hesitante.

“Jane, por que me abandonou? Por que foi embora? Red John significa mais pra você do que eu? Estou sofrendo agora, Jane, e ele disse que vai fazer coisas ruins comigo se você não me encontrar. Mas você não vai, certo? Você não se importa.”

Um tanto quanto ridícula a dramaticidade da carta. Era óbvio que Red John a ameaçara pra que escrevesse exatamente o que pedia. Mas até onde aquilo não representava os verdadeiros sentimentos de Lisbon?

Então Jane abriu a porta, com receio. Um cheiro horroroso invadiu suas narinas, e ele voltou a fechar a porta. Havia um saco preto lá dentro, cheio de varejeiras, de forma que até o zumbido que faziam era insuportável.

Jane tapou o nariz com a camisa e entrou. Retirou o saco preto e sentiu o coração gelar.

Há algum tempo, no aniversário de Lisbon, Jane a presenteara com um simpático pônei. Ainda podia se lembrar da expressão radiante dela ao ver o animal.

Animal esse que agora estava estendido no chão do quarto de Jane, com a barriga aberta e em estado de decomposição.

Sobre o corpo, outra carta. Ele a pegou e se esforçou para ler, pois estava suja com o sangue e volta e meia uma mosca pousava nela.

“Você quer a chance de me pegar, Jane? Desista de Lisbon e eu me entregarei à policia na segunda-feira. Estarei na porta do CBI com o corpo dela cortado em trinta e cinco pedaços como prova. Mas se não quiser desistir dela, é só aguardar, que eu farei contato em breve. Amanhã você terá uma escolha pra fazer. Três coisas podem acontecer, você terá a chance de evitar uma delas. Quando todas as suas opções são erradas, você não é um homem mau. É como destino.”

Jane se sentia preso aos atos de Red John.

Destino.

Jane parou pra pensar em como seria se desistisse de Lisbon. Parou pra pensar em como seria olhar pela janela do prédio da CBI e ver um homem carregando um saco com pedaços de uma mulher. O homem que matara sua esposa e filha.

E tinha de admitir, essa visão lhe pareceu tentadora.

Mas então pensou no fato de que a mulher no saco seria Lisbon.

E tal visão lhe sumiu completamente da mente.

 

Jane estava preso às ordens de Red John. Estava em sua armadilha, em seu jogo, e não via formas de sair.

Deveria dormir, mas já ficara sem dormir por muito menos. Então sequer tentou. Naquele dia, Jane aguardou a noite toda, no antigo quarto de sua filha, imóvel, como uma gárgula.


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Notas finais do capítulo

Prévia do Capítulo 4:

E lá, sob gritos e pedidos por clemência, Jane matou o policial com tamanha surra que seu rosto virou uma geléia disforme.