Veni Vidi Vici escrita por MB Sousa


Capítulo 9
Never Let Me Go


Notas iniciais do capítulo

Dia 04 e como prometido, mais um capítulo, estou postando algumas horas depois o habitual porque estava morto a tarde inteira hahahah Espero que curtam, não se esqueçam de comentar, não sou movido à comentários, mas é sempre bom ♥

Música do capítulo: https://www.youtube.com/watch?v=zMBTvuUlm98



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Eu sentia muito.

Eu sentia mais do que muito.

Fernanda descobrira tudo.

Estupidamente, esse dia nunca tinha passado pela minha cabeça, eu fui tão burro que nunca parei pra pensar em como ela reagiria, em como eu acabaria, e ela descobriu mais do que meu segredo com seu namorado, descobriu também que eu falei segredos dela para o mesmo.

Eu nunca tive a intenção que ninguém se machucasse, nós estávamos simplesmente conversando sobre ela, e eu falei algo que ela tinha me contado, achando que Gabriel era confiável.

Assim como foi um erro Fernanda ter confiado em mim, foi um erro pior ainda ter confiado em Gabriel.

A verdade é que a maioria das coisas na minha vida foram erros.

Meus relacionamentos amorosos, os dois que tive eu me arrependo de praticamente tudo que fiz neles, mas lá eu posso usar a desculpa de que era novo demais, inocente demais, não sabia o que estava fazendo, a partir de 2013 eu já não era mais nenhuma criança para não saber o que estava fazendo, eu sabia, só não pensava sobre isso.

Eu tentei falar com a Fernanda, tentei pedir desculpa, perdão, dizer que eu ia mudar, algo que nem mesmo eu acreditava, mas não adiantou.

Não posso julgar a Fernanda, algumas coisas não podem ser esquecidas, algumas feridas não são curadas tão facilmente, as que eu deixei nela talvez nunca fossem curadas de verdade.

Eu não consigo nem te olhar sem sentir raiva. – foram suas últimas palavras dirigidas à mim.

Fazia dias que Vinicius me evitava, tanto na escola quanto nas redes sociais, Amanda porém parecia estar confusa e dividida com quem ficava, apesar de que na minha frente ela dizia ficar do meu lado, tenho quase certeza que quando estava com Vinicius a história era diferente, eu não podia reclamar, ela já era amiga dele antes de mim, eu acho... Nunca perguntei há quanto tempo eles se conhecem, nem como se conheceram e tudo mais, acho que simplesmente o assunto nunca chegou.

Tentei falar com ele na escola, ignorando a vergonha de chama-lo enquanto ele estava cercado de outros amigos.

— Vinicius, eu posso falar com você? – perguntei tímido, imediatamente todas as cabeças do grupinho se viraram em minha direção, fazendo com que eu corasse.

— Não. – ele respondeu seco, sem demonstrar nenhuma emoção.

Sem raiva.

Sem tristeza.

Não sei se isso era um bom sinal, talvez apenas um sinal de que Vinicius mascarava as emoções tão bem quanto eu.

Encarei-o por um instante que pareceu uma eternidade suplicando para que ele me desse uma chance, mas Vinicius manteve o olhar, então dei meia volta, amaldiçoando pela milésima vez as palavras que tinha usado contra ele.

Pelo menos alguém estava feliz.

Cris parecia mais do que radiante sempre que eu o via com Vinicius, o que acontecia mais frequentemente que antes. Parecia que ele estava se certificando de que eu não voltaria. E a perspectiva de que eu perdesse Vinicius crescia cada vez mais, cada dia que se passava eu me desesperava, eu tinha que fazer alguma coisa para consertar as coisas, mas ficava difícil fazer qualquer coisa sendo que ele não aceitava nem falar comigo.

Chorei em casa.

Mais uma amizade que eu perdia.

Eu sabia que não tinha muito tempo e que nós nem tínhamos intimidade, mas sei lá, tinha algo dentro de mim que queria estar com Vinicius, brincar com ele, sorrir com ele, simplesmente estar junto, e era uma tortura lancinante não poder nem ao menos falar com ele.

No final de um dia longo quando fui escovar os dentes olhei meu reflexo no espelho, eu não estava acabado, apesar do meu olhar cansado, com olheiras como sempre e o cabelo bagunçado, a única coisa diferente era uma barba irregular que eu não tinha o mínimo ânimo de tirar.

Fitei o reflexo e comecei a falar com o garoto no espelho.

— Você não me parece tão bem, meu caro. – comecei baixinho. – Você estragou tudo de novo. Você sempre perde, não é? Eu vejo em seus olhos que há duas coisas, a perseverança de seguir em frente e a fraqueza de pegar uma lâmina, a qual você quase treme as mãos para fazer. – observei-me por um longo momento em silêncio. – Acho que você não deve seguir nenhuma dessas alternativas. – conclui. – Você vai consertar isso, esse erro pode ser consertado e é isso que você vai fazer.

Continuei encarando-o por vários minutos, era tranquilizador de uma forma estranha.

* * *

Eu tinha finalmente tido uma ideia, apesar de não ter certeza se era uma boa, era a melhor coisa que eu tinha em mente.

E óbvio que tudo que faltava era começar a chover...

Lá estava eu, às 15hrs na frente do prédio de Vinicius.

Apertei o botão 679 do interfone e esperei ele atender, eu sabia que sua mãe não estava em casa pois esse era o horário que ela trabalhava.

— Oi, quem é? – disse a voz com ruído do aparelho.

— Vinicius, sou eu, me deixa subir pelo amor de deus! – pedi.

Silêncio.

— Vai embora.

— Vou ficar aqui até você me deixar subir e conversar com você! Nem que pra isso eu tenha que dormir no portão e esperar você sair amanhã pra escola. – falei desafiadoramente. – E não ache que eu não faço isso.

Outro silêncio ensurdecedor. A chuva me deixava cada vez mais encharcado, mas eu não me importava tanto.

— Vou dizer pro porteiro mandar você subir. – ele sussurrou de mal gosto.

Logo, um senhor de meia idade com um grosso bigode abriu o portão pra mim, me olhando de cara feia por conta das minhas roupas molhadas que deixavam um rastro em seu piso cuidadosamente encerado.

Enquanto o elevador subia eu repassava pela centésima tudo que eu queria falar, mas agora, à segundos de ficar cara a cara com Vinicius, todos os ensaios mentais que tive, tudo que eu falaria e responderia pareciam se esvair da minha mente como areia entre os dedos.

Chegando lá, encarei a porta de madeira com o número “679” gravado em letras douradas, no momento parecia muito interessante de se observar, até que, finalmente tomando coragem, bati na porta do apartamento de Vinicius e alguns segundos depois ouvi a chave destrancar a fechadura, mas Vinicius não a abriu, então, empurrei-a lentamente e encontrei ele apoiado nas costas do sofá, me encarando cético.

— Olha Vinicius... – tento começar, mas travo. – Porra, eu ensaiei isso por dias e agora não sei o que dizer.

Ele apenas continua me encarando esperando que eu continue.

— Tá bom. – pigarreio. – Eu fui um idiota, tá? Não vou colocar a desculpa em nada nem ninguém, porque a culpa foi toda minha, como sempre... Me perdoa ter falado daquele jeito contigo, você tem sido ótimo pra mim e foi assim que eu te paguei, me desculpa mesmo, Vini. – atropelo as palavras várias vezes e gaguejo, mas acho que isso até deixa mais convincente meu arrependimento.

— Cara, não é só isso, é o que você falou pro Cris também, tipo, como se você quisesse tomar o lugar dele como meu melhor amigo. – ele finalmente fala.

— Tá bom, então tá, me desculpa por isso também, eu também fui um idiota falando isso pra ele, eu peço desculpas pra ele se você quiser. – acrescento, e ele fica pensativo, mas não fala nada. – Olha, você quer que eu me ajoelhe aqui? Porque sem problemas, Vini.

— Que? – Vinicius é pego de surpresa. – Nã...

Mas antes que ele continue eu já estou me pondo de joelhos à sua frente.

— Levan-Levanta daí. – ele diz envergonhado.

— Não, não até você me perdoar. Eu gosto muito de você Vinicius, posso sobreviver sem ter o título de Cris de seu melhor amigo, mas não quero ficar sem a sua amizade. – eu falo de forma um tanto engraçada, mas sincera.

Vinicius me encara de cima, sério e eu sorrindo, e então ele sorri também, fazendo com que um peso enorme saia dos meus ombros.

— Tudo bem, eu te perdoo. – ele diz, ainda sorrindo.

O alívio que aquelas palavras causam em mim é quase inacreditável, eu consegui.

E eu não espero, me levanto e o abraço forte.

— Você não precisava ter feito tudo isso. – diz ele, um pouco sufocado. – Eu ia te perdoar de qualquer jeito, só queria que você visse que foi idiota pra não fazer de novo.

Largo ele e o encaro incrédulo.

— Não acredito que você fez isso, seu idiota! – eu exclamo, estapeando-o, num misto de raiva e diversão.

— Ei, é eu que vou ter que me ajoelhar agora? – ele brinca, dando um soquinho no meu braço.

Finjo estar considerando a possibilidade e ele sorri.

— Não, só me abraça de novo.

E é o que ele faz, mais forte que eu.

Fico emocionado, mas controlo as lágrimas, é incrível que algo tenha dado certo para mim.

— Vini. – chamo, enquanto ainda estamos abraçados.

— O que?

— Nunca me deixe ir. – peço, apertando mais suas costas.

Ele fica um segundo em silêncio.

— Nunca.


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Notas finais do capítulo

Heeey de novo, espero muito que tenham gostado, se curtirem, comentem, favoritem, tudo é válido, e se não gostaram também, toda crítica é bem vinda, desde que bem intencionada. Até o próximo capítulo dia 8/5.