12 de Julho de 2014

Era aniversário da Rafaela, nós havíamos almoçado mais cedo.

Ela, Fernanda e eu.

Tinha sido legal.

É...

Eu nunca fui o melhor amigo do mundo para Rafaela, tenho que admitir, e ela sempre foi a melhor que pode pra mim, sempre me ouvindo, sempre me ajudando quando podia, e eu era idiota, falava coisas estúpidas sem pensar as vezes.

Nós também discordávamos de muitas coisas, esse era o maior motivo para nossas discussões, e eu achava Rafaela um pouco dramática, como se ela não aguentasse nada, como se eu pudesse julgar, não era ela que estava cheia de cortes...

Mas no dia 12 de Julho, em pleno aniversário, eu dei o pior presente do mundo para ela.

Como eu já tinha dito, houve aquele infeliz incidente com o namorado dela, que agora já era ex, que contribuiu para ser o pior dia da minha vida, mas enfim, ele me pediu desculpas e admitiu que tinha sido idiota, e diferente de mim, aprendeu com os erros, e então não se preocupou mais que fossem sentir vergonha de mim, mas desde que as férias de verão começaram e ele e Rafaela terminaram eu não vi mais ele.

E no aniversário de Rafaela eu saí numa festa com ele, era a primeira vez que a gente se via em meses e poucos dias atrás eu e Rafaela tivemos uma discussão na qual ela jogou na minha cara que Luiz só era meu amigo porque ela namorava com ele e eu era amigo dela.

Não pude deixar de pensar que aquilo fosse verdade, talvez fosse...

Mas tudo mudou quando Luiz me convidou para essa festa.

Eu bebi demais nessa festa e mandei gravações de voz nossas lá para Rafaela, no dia seguinte eu nem lembrava o que continha nelas.

Eu só queria mostrar pra ela que o que ela disse era mentira.

Queria mostrar que o Luiz não era meu amigo só por causa dela.

Estúpido.

Ouvi as gravações no dia seguinte e a maioria era gritaria e nada demais.

Porém, numa delas eu dizia que Luiz estava ficando com todo mundo, que já tinha pegado a Eduarda e outras garotas, o que era verdade, mas só tinha um problema...

Rafaela ainda era apaixonada por Luiz.

Parecia que era impossível eu ficar bem depois do que tinha acontecido, eu tentava com todas as minhas forças manter minha decisão, mas tudo dentro de mim parecia gritar ferozmente para ficar com Vinicius. Tudo que eu queria era ele, e eu quase fui feliz, mas isso escapou das minhas mãos, e eu tinha o poder de tê-lo, ter o garoto mais perfeito do mundo para mim, mas eu queria ser altruísta, pelo menos uma vez na vida queria pensar em alguém que não fosse eu mesmo.

As mensagens de Vinicius começavam a se acumular no meu celular, eu não havia aparecido na escola no dia seguinte e tinha ido embora logo depois que Amanda saiu para procurar ele.

Vinicius: Onde você foi?

Vinicius: Eu fiz alguma coisa?

Vinicius: Por favor, me responde.

Vinicius: Se eu fiz algo me perdoa, não sei o que está acontecendo.

Vinicius: Fala comigo...

Essas mensagens eram como uma tortura para mim, e pior que a Amanda tinha me dito também por mensagem que não conseguiu ter coragem de falar para Vinicius que gostava dele, o que era pior, porque eu tinha esperanças de que se ela falasse, ele cuidaria disso, ele faria ela entender, ele... Sei lá, eu só queria que alguém ou qualquer coisa me ajudasse a superar o que eu estava passando.

Eu queria sumir, queria pressionar minhas costas tão forte na parede que me fizesse sumir.

Mas de quem estávamos falando? De mim, é claro. Como eu pude ser tolo de pensar que alguma coisa daria certo pra mim? O que eu tinha achado? Que Vinicius ia me amar e iríamos ser felizes para sempre?

Teria que voltar à escola, esse era o pior, teria que encarar Vinicius, o que falaria? Se Amanda não tinha contado que gostava dele, eu não contaria, não contaria o segredo dos outros de novo, tampouco poderia ficar com Vinicius, eu não podia ser um mal amigo de novo, não sei quantas pessoas eu aguentaria perder, e não queria perder Amanda e muito menos fazê-la sofrer, ela não merecia isso.

Eu estava pensando.

Pela primeira vez na minha vida eu estava sendo altruísta, não estava pensando somente no que era bom para mim.

Então porque eu não me sentia nem um pouco satisfeito?

* * *

Ver Vinicius na escola foi a tortura que eu imaginei que seria, talvez até pior.

Eu queria me jogar nos braços dele, queria beijá-lo, queria tanta coisa que não podia ter, mas acima de tudo, queria pedir perdão milhões de vezes por ser o causador do olhar triste que figurava em seu rosto. Vinicius também não merecia um pingo da tristeza que estava sentindo, e eu queria poder dar uma explicação plausível para ele, mas não podia, tudo que eu podia fazer era tentar evitar seus olhares e não despedaçar.

Ele me encarou firmemente quando me viu e veio ao meu encontro, temi que ele me abraçasse, duvido que eu conseguisse me conter se isso acontecesse, felizmente — ou infelizmente — ele não fez isso.

— O que aconteceu? – ele pergunta com as sobrancelhas juntas.

As minhas também estão, tento encará-lo firme sem vacilar mas não consigo, sinto que estou prestes a chorar, é tão difícil tomar decisões difíceis, eu sempre fui de escolher o caminho mais fácil, o caminho que me beneficiaria, mas eu queria mudar, como eu já disse há um tempo atrás, e eu finalmente vou parar de falar e agir, e agora era a hora, mas eu não sabia se estava pronto, não, eu definitivamente não estava pronto para dar adeus à Vinicius.

— Olha, isso vai soar muito clichê... – eu começo, numa tentativa falha de soar divertido. – Mas realmente não é você, sou eu.

Vinicius abre a boca incrédulo, ele me pega gentilmente pelo braço e me leva até um canto onde não tenha muita gente, desejo mais do que tudo novamente poder sumir.

— Cara, eu não tinha certeza que era gay, tudo bem que eu nunca me senti muito atraído por garotas e isso já me fazia suspeitar, mas desde que eu conheci você eu sei lá... Soube que tinha algo especial, eu queria estar com você o tempo todo, mas eu não tinha certeza do que esses sentimentos significavam então eu não falei nem fiz nada por um tempo, e talvez tenha sido por falta de coragem também, mas eu consegui, toquei aquela música pra você e eu sei que eu disse que não era muito bom com palavras e eu só estou te falando tudo isso porque eu ensaiei centenas de vezes... – ele faz uma pausa, meus olhos começam a ficar marejados. – Poxa, você fez eu me encontrar... Tudo que eu quero é ficar com você.

Não aguento, as lágrimas escorrem do meu rosto.

— Por favor, me conta o que tá acontecendo, você parecia tão feliz depois que nos beijamos. – Vinicius insiste com um olhar triste, enquanto leva uma das mãos ao meu rosto, secando minhas lágrimas.

— É... É com-complicado. – gaguejo.

— Eu descomplico, eu faço qualquer coisa. – Vinicius diz apertando meus ombros.

— Não é assim, Vinicius... – enxugo o restante das lágrimas, obrigando-me a me recompor.

— Você quer que eu me ajoelhe? – ele pergunta, com um sorriso triste.

— Vinicius, para! – exclamo não muito alto. Ele me encara sério. – Eu não posso, me desculpa, mas eu simplesmente não posso, eu queria poder... Mas não dá...

E dou as costas para ele, deixo-o fitando uma parede, e me odeio por isso, do que adianta eu poupar Amanda e fazer Vinicius sofrer? Ele gosta de mim, não vai ficar com ela, ele vai ficar infeliz, ela vai ficar infeliz, eu vou ficar infeliz, qual o sentido disso tudo?

Mas mesmo tendo isso em mente eu não acho certo ficar com Vinicius, não sei se seria capaz simplesmente ficar com ele e ignorar os sentimentos de Amanda por ele, as coisas realmente não são simples assim, eu me sentiria culpado, e a culpa é como feridas na sua alma, elas te destroem.