Sete Dias escrita por magalud


Capítulo 1
Dia 1




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Dia 1

Mais um pouco, Diana, só mais um pouco.

Com esse mantra, Diana Adrian passava praticamente todos os dias de seu sétimo ano de Hogwarts. Dedicada aluna, a corvinal não era exatamente uma pessoa popular. Ao contrário, alvo constante das brincadeiras dos demais colegas, Diana mostrava-se distante e arredia. Tinha aprendido que quanto mais invisível fosse, menos eles mexeriam com ela. E quase todos os dias ela se lembrava de que em breve ela sairia de Hogwarts, que tinha sido um local de poucas alegrias, mas de grandes descobertas.

Uma dessas poucas alegrias tinha sido a amizade com Rúbeo Hagrid, de quem ela sempre se lembraria com carinho. Hagrid lhe ajudara a atravessar os anos de tortura sempre com uma xícara de chá quente e um sorriso nos lábios. Fora ele quem lhe ajudara a conhecer um pouco da Floresta. Diana agora sabia que havia perigos específicos a evitar, como um cão de três cabeças chamado Fofo e até mesmo um objeto trouxa chamado carro, que tinha se tornado selvagem e vagava pelas árvores.

Os dois passeavam juntos entre as altas árvores da Floresta Proibida, e Hagrid lhe mostrava as plantas, ensinando-a a distinguir quais eram nocivas e quais eram boas para o uso em poções e ungüentos. Diana queria ser médica-bruxa, e suas notas eram boas o suficiente para que ela pudesse ser aceita em St. Mungo's se passasse nos NIEMs - o que ela não deveria ter dificuldades em fazer. Ela também era sempre se apresentava como voluntária para ajudar Madame Pomfrey na enfermaria.

Naquele entardecer, Diana estava pesquisando plantas na Floresta, sempre a uma distância segura da cabana de Hagrid. Ela podia ficar horas desenterrando raízes, verificando caules, cheirando folhas, até sorrindo para as aranhas. Ela sabia que nenhuma daquelas criaturas iria ridicularizá-la pelos seus cabelos longos e castanhos, seus olhos muito azuis e pequenos, ou seu corpo bem magro e franzino, com ossos que pareciam querer furar a pele.

Foi então que ela viu uma coisa que a deixou de cabelo em pé. Estava no chão, imóvel. Mas não podia ser.

Uma jovem mandrágora. Morta.

Diana aproximou-se e observou que a jovem mandrágora, ao contrário do que se podia imaginar, não tinha morrido por estar fora da terra e, portanto, seca. Ao contrário. Ela estava inchada e em suas raízes havia pequenas feridas, da qual uma seiva esverdeada e brilhante saía em profusão.

Ela havia sido envenenada.

A corvinal ficou a imaginar quem e o que teria sido capaz de envenenar uma mandrágora, dando-se conta do perigo que uma pessoa sem proteção teria corrido ao ouvir os gritos de agonia da pequena mandrágora. Os gritos de uma mandrágora adulta podiam matar, mas os de um filhote podiam atordoar. Contudo, se o filhote estivesse urrando de dor por causa do veneno, que efeito isso teria num ser humano?

Diana não precisou especular mais. Adiante, no meio das raízes das imensas árvores da Floresta, jazia um corpo imóvel, aparentemente embrulhado em trapos pretos. A moça aproximou-se com cuidado, temendo o que poderia ver.

Prof. Snape.

Era pior do que Diana temia. O homem era uma verdadeira peste para ela, com seus comentários maldosos e injustos. Afinal, Diana conhecia suas poções e ervas, e não era má aluna. Claro, não era uma Hermione Granger, do sexto ano, mas tinha notas altas. Snape poderia ter um pouco mais de consideração. Mas, em se tratando de Snape, provavelmente isso era pedir demais.

Na sua atual condição, porém, Snape não podia fazer muito. Agachando-se, Diana observou com cuidado, recuperando-se do choque para deixar o instinto tomar conta. Ela afastou um pouco dos mantos dele e passou sua varinha acima do corpo estatelado. Ele estava sujo de terra e outros líquidos, as roupas estavam rasgadas como se ele tivesse andado por entre galhos. Não bastasse isso, Snape tinha fraturas nos braços, inflamação na perna esquerda, deslocamento de omoplata no ombro direito, um galo horrível na nuca, uma grande ferida na têmpora direita que sangrava profusamente, hematomas no rosto e mais feridas nos ouvidos, de onde mais sangue jorrava.

Com a varinha, ela primeiro fechou as feridas. Usando um feitiço escorificatório, ela limpou-o dos resíduos que poderiam ameaçar as feridas e usou um outro para tentar debelar a inflamação na perna e os hematomas e inchaços no rosto. Não conseguiu. Ela nem se atreveu a mexer nas fraturas, e sabia que tinha que levar o professor para Madame Pomfrey o quanto antes.

Diana arrumou os mantos e foi quando viu dois olhos escuros a observando. Ela quase caiu de susto.

- Quem é você? - A voz dele, sempre tão envolvente e macia, estava áspera e rascante.

- Sou sua aluna, professor. Diana Adrian. O senhor está bem?

Que pergunta mais idiota, Diana, disse a moça para si mesma. Mas ela não sabia o que mais perguntar.

Snape ergueu a cabeça e olhou para si mesmo:

- O que aconteceu?

- O senhor não sabe? Eu o encontrei assim.

- Eu... não me lembro... - Ele parecia a ponto de perder a consciência de novo.

- Professor! Não, professor, fique comigo! Pode se levantar? Quem sabe o senhor tenta se sentar?

- Sim... Sim, isso seria bom.

- Eu ajudo. Com calma, tá bom?

Com extremo cuidado, ela conseguiu fazê-lo se sentar, e ele não escondeu a dor que isso lhe causava. Ela perguntou:

- Tudo bem aí, professor? Acha que pode se levantar?

Snape olhou para os olhos azuis de Diana. Pela primeira vez, a garota encarou os olhos pretos, profundos e penetrantes, e dentro deles, ela também viu uma coisa que nunca tinha visto antes.

Medo.

- Me ajude.

E Snape caiu desmaiado. Diana se desesperou.

Ela se levantou, apontou a varinha e pronunciou:

- Wingardium Leviosa!

O corpo de Snape levitou suavemente do chão da Floresta e ficou parado em pleno ar, as capas caindo desajeitadamente. Com a varinha em riste, Diana "tangeu" o corpo desacordado de seu professor de Poções rumo à pessoa mais próxima. Ou melhor, à cabana mais próxima.

- Hagrid! Hagrid!

Ele saiu para frente de sua cabana, Canino atrás, decididamente mal-humorado:

- Mas quem está interrompendo meu - Ele se interrompeu quando viu a moça. - Diana?

Ela tremia, nervosa, a ponto de explodir em choro:

- Hagrid, me ajude!

- O que aconteceu? Prof. Snape!

Diana pousou Snape no chão e disse, lágrimas fugindo de seus olhos sem que ela conseguisse evitar:

- Eu o encontrei assim! Ele está muito ferido!

- Pelos deuses, menina. Onde você o encontrou?

- Eu fui à Floresta pesquisar umas plantas. Ele estava caído, todo ensangüentado. Ele precisa ir agora para Madame Pomfrey.

- Deixe que eu o levo - disse Hagrid - Aí você me conta tudo.

*

Papoula Pomfrey era uma médica-bruxa de renomada qualidade, mas ela tinha um grande defeito: era extremamente impressionável. A cena de Hagrid trazendo nos braços em professor desfalecido, seguido por uma aluna em prantos, provou ser um pouco demais para seu coração palpitante.

- Oh, por Merlim, Hagrid, Srta. Adrian! - Ela os guiou até uma cama - Aqui, ponham-no aqui! Por todos os elementais curadores! - Ela imediatamente começou a examiná-lo. - O que aconteceu com ele?

- Não sabemos - disse Hagrid - Diana encontrou o Prof. Snape e nós o trouxemos para cá assim que pudermos.

- Mas alguém tratou de suas feridas - disse Madame Pomfrey. - Elas estão fechadas.

- Fui eu - disse Diana, enrubescendo. - Ele sangrava muito, desculpe.

- Não, menina, não se desculpe. Você pode ter salvado a vida de Severo. Ele parece... Oh, meus deuses!

Hagrid indagou:

- O que foi?

- Por favor, Hagrid, diga o que aconteceu ao Prof. Dumbledore. Peça a ele que venha falar comigo assim que puder.

- Sim, Madame.

O meio-gigante se virou e deixou a enfermaria, e Diana ia relutantemente fazer o mesmo. Ela gostaria de ficar na enfermaria e ver como Madame Pomfrey trataria de Snape. Afinal, ele tinha sido seu primeiro "paciente", por assim dizer. Mas ela não deu dois passos quando ouviu:

- Onde a senhorita pensa que está indo, Srta. Adrian?

- Eu... eu pensei...

- Se é que quer mesmo garantir que o Prof. Snape seja salvo, eu vou precisar de sua ajuda.

Diana ainda teve cinco segundos para ficar surpresa e orgulhosa de que Madame Pomfrey pedisse sua ajuda. Mas não durou mais do que isso, porque o paciente de ambas precisava de ajuda.

Terrivelmente.

Durante horas as duas trabalharam, e Snape estava mesmo desmaiado, pois não acordou nem quando elas o despiram da cintura para cima, para consertar seus ossos. Diana ficou impressionada com a agilidade e conhecimento da enfermeira da escola. Ela estava aprendendo muito - e com quem realmente entendia do assunto.

- Agora é melhor passar um pano morno nesses hematomas do rosto.

- Mas eu lancei o feitiço para limpá-lo.

- Essa é uma solução que vai desinfetá-lo completamente. Lembre-se: até os trouxas conhecem os benefícios de uma assepsia detalhada. Tome - ela trouxe uma bacia - Use isso e não enxugue.

- Sim, Madame Pomfrey - E ela pôs-se a trabalhar.

- Deixe-me dar uma outra olhada nesse ombro - mas ela não olhou o ombro, porque a cabeça do professor começou a se mexer. - Ah, Prof. Snape? Bem-vindo.

Com dificuldade, ele abriu os olhos, e eles pareciam ter dificuldades em focalizar o rosto de Madame Pomfrey. Quando ele conseguiu vê-la, contudo, a reação foi imediata.

Snape pareceu apavorado, e mexeu-se na cama, tentando imprimir o máximo de distância possível entre ele e Madame Pomfrey:

- Quem é você? Onde estou? Que aconteceu?

Ela não se abalou:

- Calma, professor, tudo está bem. O senhor está na enfermaria.

Snape olhou para Diana, e pareceu ter um pouco de alívio:

- Você... Eu conheço você!... Me ajude, por favor.

O homem parecia apavorado, e Diana olhou para Madame Pomfrey, depois para ele, e disse:

- Professor, está tudo bem. O senhor vai ficar bom.

- Eu... não me lembro... - ele parecia totalmente confuso e pegou uma mão de Diana. - Por favor, me ajude.

Madame Pomfrey trouxe um cálice da mesa atrás de si e disse:

- Aqui, Professor. Tome isso, vai fazê-lo sentir-se melhor.

Snape olhou para o copo, depois para Diana, consultando-a, os olhos negros cheios de uma profunda aflição. Ela deu um meio sorriso:

- Não se preocupe. O senhor vai ficar bom.

Ele pegou o copo e tomou o líquido borbulhante.

- Agora descanse, Severo - disse Madame Pomfrey, fazendo que ele se deitasse. - Vai acordar bem melhor.

Diana deu um passo para trás, mas sentiu seu braço seguro.

- Não, por favor, não vá! - O olhar implorava mais que as palavras. - Por favor, não vá embora.

Ela tentou acalmá-lo, segurando sua mão:

- Não estou indo embora. Pode ficar tranqüilo.

- Obrigado.

Ele sorriu e fechou os olhos, a poção de Madame Pomfrey fazendo efeito. Em minutos, a respiração dele era profunda e ritmada: ele estava dormindo.

Diana pousou a mão de longos dedos finos na coberta e disse:

- Ele dormiu.

- Graças à senhorita - sorriu Madame Pomfrey. - Parece que ele a elegeu como sua curadora particular.

- Ele mostrou que confia em você, Diana. - disse uma voz atrás das duas.

- Prof. Dumbledore! - Diana se levantou. - Eu não vi o senhor aí.

- Está tudo bem - disse o velho professor. - Hagrid me contou o que aconteceu. inclusive seu encontro com a mandrágora. Mas suspeito que eu ainda não saiba de tudo - ele olhou para a enfermeira da escola. - Certo, Papoula?

- Sim, Professor - disse Madame Pomfrey gravemente - Já que a Srta. Adrian vai me ajudar na recuperação do Prof. Snape, é apenas justo que ela saiba; ele perdeu a memória.

- Ajudar? Mas...

Dumbledore a fez sentar-se numa cama vazia e explicou:

- Prof. Snape se sente perdido nesse momento, Diana. Não temos certeza de que ele sabe nem que seu próprio nome. Tudo é aterrorizante para ele nesse momento: todos esses rostos, esses lugares que ele não reconhece. Mas por algum motivo, ele reconheceu você e confia em você. Ele só vai aceitar o tratamento se você estiver envolvida. Por isso, eu estou lhe pedindo ajuda.

Madame Pomfrey disse suavemente:

- Eu vou ajudá-la, é claro. Você não terá a responsabilidade sozinha.

Diana não sabia o que dizer. Ela jamais poderia imaginar que fosse começar sua carreira de cuidar de pessoas doentes tão cedo, e justo com quem! Ela tinha muito medo de falhar, e mais medo ainda de ser bem-sucedida: o que o Prof. Snape a faria passar quando recuperasse a memória?

- Você não é obrigada a fazer isso, é claro - lembrou Dumbledore - Mas sua ajuda tornaria tudo muito mais fácil para Severo.

A corvinal respirou fundo e fez o que os membros de sua casa fazem de melhor: avaliou a situação de maneira racional. Ela se lembrou da expressão nos olhos negros, brilhantes como sempre, mas cheio de um terror que só a presença dela conseguiu controlar. Diana notou que, assim que Snape a viu, o medo em seus olhos foi substituído por uma profunda confiança.

Ela não podia trair essa confiança.

A moça virou-se para o Prof. Dumbledore e disse:

- Se Madame Pomfrey me orientar, eu estou disposta a ajudar.

- Eu considero isso um favor pessoal a mim, Diana - sorriu o Diretor - Sei que será uma carga a mais para você e darei a todo staff instruções para que a liberem sempre que Madame Pomfrey precisar. Se você sentir que isso estará prejudicando seus exames, venha me procurar e faremos arranjos.

- Prof. Dumbledore - quis saber Diana -, quanto tempo o senhor acha que vai demorar? Até o Prof. Snape voltar ao normal, quero dizer? Ele vai ficar bom, não vai?

- Ah, minha criança. Com sua ajuda, esperamos que isso seja muito, muito rápido. Mas isso, é claro, vai depender de Severo. Cabe a nós ajudá-lo a se recuperar. - Ele se ergueu e colocou a mão no ombro dela - Agora é melhor você jantar e dormir. Já viu que horas são?

Diana se virou para o relógio que ele apontava e se espantou: mais de meia-noite! Ela se levantou, assustada:

- Eu tenho aula amanhã cedo!

- Sim, sim - disse Dumbledore - Vá descansar, menina. Papoula vai chamá-la se precisar.

- Pode ficar tranqüila, Srta. Adrian. Severo vai dormir até a tarde, amanhã. Ele precisa de sono para se recuperar.

- Está bem - Diana assentiu e disse. - Boa noite, então.

Os dois ficaram observando a menina ir embora e depois se entreolharam. Madame Pomfrey suspirou pesadamente e disse:

- Percebi que você não queria falar na frente dela, professor, mas o senhor sabe o que realmente aconteceu com Severo.

- Sim. Ele obviamente foi atacado. Sua memória provavelmente foi retirada para que não reconhecesse seus atacantes.

- Não acha que a moça deveria saber? E se eles resolverem atacar Severo de novo?

- Isso é pouco provável, Papoula. Eles saberão que seu plano deu certo e que Severo não poderá identificá-los.

- Eu também não consegui reconhecer a maldição que puseram nele.

- Provavelmente foi obra da mandrágora.

- Então... eu não posso curá-lo! Não há antídoto para um ataque de mandrágora!

- Ah- fez Dumbledore, os pequenos olhos azuis brilhando - Mas há um poderoso elixir que tudo cura e faz tudo ser possível, Papoula. Até os trouxas o conhecem.

- E que panacéia é essa, por Merlin?

Ele se virou para ela e sorriu:

- Amor, Papoula. Sincero e incondicional amor.


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