Tudo aconteceu muito rápido. Em um momento, estavam todos assistindo ao treino entre as Caçadoras Aurora e Mirella, mas bastou um golpe para um segredo ser revelado. A maioria das pessoas viu a flor de lótus tatuada nas costelas de Aurora e aqueles que não viram, acabaram ouvindo através dos cochichos entre as pessoas.

Shaka olhou incrédulo para aquela flor, ele viu Aurora cobri-la com as mãos e sair correndo, sendo seguida por Mirella. Ele queria ir atrás dela, mas sabia que não era o melhor momento. Principalmente por que praticamente todos os olhares presentes, voltaram -se para ele em busca de respostas.

(Shaka pensando)– O que devo fazer? Se contar a eles toda a verdade, estarei arruinando a vida de Aurora como Caçadora.

Foi nesse momento que Shaka achou que Buda estava lhe ajudando. Pois da tenda, onde as Caçadoras machucadas estavam se recuperando, ouviram-se vozes. Isso causou uma distração nas pessoas, principalmente em Ártemis e Saori, estas saíram correndo para ver o que estava acontecendo na tenda.

Nesse momento de distração das pessoas, Shaka correu rumo a casa de Virgem. Precisava ir a um local calmo e tranquilo para poder pensar com clareza. Ao chegar em sua casa, estava atordoado e agitado. Caminhava de um lado para o outro conversando em voz alta. Claramente não parecia ser o calmo cavaleiro que guardava a sexta casa.

(Shaka)– Então eu estava certo, era realmente através da flor que Aurora conseguiu se comunicar comigo. Eu achava impossível a probabilidade de ela ter mantido essa tatuagem durante esses anos em que nos afastamos. Em muitos momentos em que eu estive em combate, conseguia sentir o calor do cosmo dela me guiando, mas sempre descartava a hipótese de que seria por lá que ela estava se comunicando.

Shaka se calou ao sentir que alguém se aproximava de sua casa. Quando viu que era Mu, respirou aliviado. As últimas pessoas que queriam no momento eram Milo, Shura, Seya e Ártemis. Mas mesmo Mu não sendo nenhuma dessas pessoas, o que Shaka mais queria era ficar sozinho.

(Shaka)– Mu o que faz aqui? Por favor vá embora, eu quero ficar sozinho.

(Mu)– Não. Isso já foi longe demais Shaka. Desde o primeiro dia em que encontramos Aurora no Canadá, eu já senti que vocês se conheciam, mas não quis insistir no assunto no momento. Mas agora basta, ela tem um flor de lótus tatuada em seu corpo e você mais do que eu sabe muito bem de quem essa flor simboliza. Trate de me contar o que há entre vocês dois.

(Shaka irritado)– Não ouse me acusar de ter algum envolvimento com ela. Sabe muito bem que Aurora é uma Caçadora...

(Mu cortando-o)– Não estou insinuando nada, apenas quero entender de onde vocês se conhecem. É melhor contar a mim primeiro que sou seu amigo, do que encarar as pessoas curiosas lá fora.

Shaka sabia que Mu estava certo. O Cavaleiro de Virgem não queria admitir, mas estava cansado de carregar esse segredo consigo a tanto tempo. Ele por fim decidiu.

(Shaka)– Te aconselho a se sentar. A conversa vai demorar.

(Mu sentando-se)– Demore o quanto precisar.

Shaka se calou por um momento, tentado se decidir por onde começar.

(Shaka)– Vou começar contando como eu conheci o mundo das Caçadoras de Ártemis. Bem, eu tinha aproximadamente 17 anos quando voltei da Índia com a armadura de ouro de Virgem. Quando cheguei a Grécia, recebi várias funções e missões de cavaleiro. Em uma dessas missões, eu acabei me perdendo nas montanhas.

(Shaka)– Fiquei vagando sem rumo por alguns dias, meu cosmo me mantinha aquecido, mas a desidratação logo se mostrou um problema. Quando já não me restava energias no corpo eu acabei perdendo a consciência.

Flashback on

Quando acordei, percebi que estava em uma cama de hospital. O local era bastante arejado e iluminado. Conseguia sentir o perfume de flores e o doce cheiro de árvores frutíferos. Um lugar lindo de fato.

Uma mulher de cabelos esverdeados e com olhos amarelos entrou no quarto e se apresentou com sendo a deusa Ártemis.

(Ártemis) - Como está se sentindo jovem cavaleiro?

(Eu)– Como sabe que sou um cavaleiro?

(Ártemis)– Quando eu te encontrei, estava usando sua armadura de ouro. E por ela suponho que seja o cavaleiro de Virgem. Estou certa?

(Eu)– Está. Onde eu estou?

(Ártemis)– Está em meu Santuário, não costumo receber homens e muito menos cavaleiros de minha irmã. Mas não pude deixar você morrer nas montanhas. Se lembra de algo?

(Eu)– Sei que me perdi, não conseguia mais encontrar o caminho que me designaram. Eu fui ficando fraco e depois disso não me lembro de mais nada.

(Ártemis sorrindo)– Os caminhos das montanhas são bem difíceis quando não se tem prática, até mesmo para um cavaleiro. Qual o seu nome?

(Eu)– Shaka.

Ártemis cuidou de mim até eu me recuperar por completo. Ela me ajudou a encontrar o caminho até a minha missão e antes que eu partisse ela me ofereceu um convite.

(Ártemis)– Shaka, eu não costumo fazer convites assim. Mas gostei muito de você. Quero saber se aceita acompanhar o treinamento das garotas que querem se tornar Caçadoras.

(Eu)– Sinto muito deusa Ártemis. Sou grato por tudo que fez por mim, mas sou muito leal a deusa Atena. Creio que não posso fazer isso.

(Ártemis)– Eu entendo. Mas caso queira, já sabe o caminho, os treinos começam em duas semanas.

E foi com esse convite em aberto que eu parti até a minha missão. Nesse período de duas semanas, eu fiquei pensando naquela proposto. Havia um lado meu que sabia que era errado ajudar uma outra deusa, mas por outro lado, também havia uma parte minha que tinha a sensação que eu deveria ir.

Na véspera de completar duas semanas, eu resolvi aceitar o convite de Ártemis e voltar para seu Santuário, pedi a Shion para ir a uma jornada, só para ter uma desculpa para ir até o encontro da Deusa da Lua. Foi a partir desse momento que eu comecei a assistir aos treinos e auxiliar neles. Dentre várias garotas que estavam lá, uma delas me chamava a atenção.

Uma jovem de cabelos cacheados azuis piscina, pele bem clara, mas o que me chamou atenção nela, não foi o fato de ela ser excelente nos treinos. Muito pelo contrário, era ela uma das piores entre as demais. Mas ela tinha perseverança, era esperta, calculista, possuía bons reflexos e isso a levou longe, porém nunca foi notada ou elogiada. Acredito que ela nunca tinha me reparado até o desafio final.

Foi nesse último teste para decidir quem treinaria com a deusa Ártemis que eu percebi que ela me olhava e involuntariamente eu acabei abrindo meus olhos e encontrando aqueles belos olhos verdes. Eu vi que ela estava muito machucada, mas ao mesmo tempo sabia que ela não iria desistir. E em certo momento percebi que ela fechou seu olhos.

Ela, diferentemente das demais garotas, sabia como queimar o cosmo e me arrisco a dizer que ela já estava começando a dominar o sétimo sentido. O cosmo dela era diferente de tudo o que eu já tinha visto antes. Eram auroras boreais, lindas, magnificas. Quando vi a última garota cair no penhasco, sabia que ela havia conseguido.

Eu rapidamente tirei ela daquela tabua e levei-a até o quarto onde estava hospedado. Ártemis foi quem limpou o corpo dela, já que eu era um homem, mas depois foi eu que cuidei dela. Quando ela acordou, nós conversamos um pouco que seu nome era Aurora e percebi o quanto ela era bonita.

Seu nome não poderia ser diferente, bela como as auroras boreais que também a nomeava. A partir desse dia nos tornamos amigos. Ela passou a treinar exclusivamente com a deusa Ártemis. Atena me perdoe pelo que direi agora mas aqueles treinos eram os mais difíceis que já vi na vida, chegavam a ser cruéis. Ela era amarrada com correntes, recebia vários golpes diretos da deusa sem proteção alguma, mas com o tempo eu fui percebendo que ela dava conta.

Aurora foi se tornando mais bonita a cada dia que se passava e uma guerreira excepcional, nem parecia aquela jovem que eu vi nos primeiros treinos. Sempre que eu podia íamos caminhar na floresta, ela gostava de correr e se aventura pela mata. Em uma dessas corridas, ela acabou se machucando o que gerou aquela cicatriz em sua clavícula.

Os anos foram se passando, a nossa amizade foi ficando cada vez mais forte e quando me dei conta ela já estava com 17 anos e eu com 20. A última vez que eu a vi, Aurora estava muito sorridente.

(Eu)– O que houve? Por que está tão alegre?

(Aurora sorridente)– Acabou. Eu consegui, me tornei uma Caçadora de Ártemis.

Eu fiquei muito feliz por ela, lembro de tê-la abraçado e dizer vários parabéns. Nós aproveitamos a noite entre conversas. Mas foi então que ela disse que a parte ruim era que ela provavelmente precisaria se mudar. Eu não queria ficar longe de Aurora foi então que eu dei aquela tatuagem.

Através dela ela poderia sentir o meu cosmo. Porém ela me perguntou o por que de uma flor de lótus. Se eu contasse a ela o verdadeiro significado, ela saberia que eu era um cavaleiro de Atena e eu não queria que ela soubesse. Eu tinha receio de que Aurora reagisse mal, ou se afastasse de mim por eu ser um defensor de Atena. Então disse algo que na verdade só mascarava o sentido real da flor, pois as palavras eram reais.

Aquela noite terminou com ela cantando aquela canção que eu escutei em sua casa no Canadá. Nunca passou pela minha cabeça que essa seria o meu último momento com ela. No dia seguinte fui até o Santuário, mas só encontrei Ártemis.

(Eu)– Onde está Aurora?

(Ártemis)– Ela partiu para a missão dela no Canadá.

(Eu)– Como? Mas assim de uma hora pra outra? Ela nem se despediu de mim.

(Ártemis)– Lamento Shaka, mas no fundo foi melhor assim.

(Eu)– O que quer dizer com isso?

(Ártemis)– Apenas que agora poderá se focar mais em sua função de cavaleiro. E a sua amizade com ela estava começando a passar dos limites.

Quando ouvi ela pronunciar aquelas palavras, não pude responder, afinal ela era uma deusa. Mas algo me dizia que ela fez aquilo intencionalmente para me separar de Aurora.

Passaram-se então dois anos e nesse tempo, em momentos em que eu estava lutando, sentia a presença dela. Era como se eu virasse, veria ela, sorrindo para mim depois de um treino. Sentia como se ela estivesse me orientando, me guiando e em certos momentos orando por mim. Eu desconfiei que era através da tatuagem que ela fazia isso. Mas não podia descartar a chance de ela tê-la tirado de seu corpo, com medo que Ártemis descobrisse.

Quando eu a reencontrei naquele dia no Canadá fiquei em choque. Ela estava tão linda, se tornou Tenente, estava tão poderosa, mas ao mesmo tempo mantinha o mesmo sorriso e escutar ela cantar depois de tantos anos... foi como voltar no tempo e ver eu e ela sentados embaixo de uma árvore.

Flashback Off

(Mu concluindo) - E você resolveu não contar nada para evitar que ela tivesse problemas com Ártemis.

(Shaka)– Exato, mas agora não tem mais como fugir das revelações. Terei de contar sobre a tatuagem.

(Mu)– Talvez não. Eu vou até a sala do mestre, provavelmente estão todos lá. Se eles começarem a perturbar muito, darei um jeito. Fique tranquilo.

(Shaka)– Obrigado Mu. No final das contas, foi bom ter desabafado.

(Mu se levantando)– Por nada, se precisar estarei na primeira casa como sempre. Vou indo, boa noite. E fique tranquilo, darei um jeito na confusão.

Assim que Mu saiu, Shaka resolveu fazer o mesmo. Ele saiu caminhado adentro dos bosques e foi até a cachoeira em que esteve com Aurora na noite em que fizeram a '' caminhada''. Shaka olhava para a água, mas a voz sua e um tanto sedutora de Aurora tirou sua atenção das águas.

(Aurora)– Sabia que poderia te encontrar aqui. Chegou a nossa vez de conversar. Somente eu e você.