Let Us Burn escrita por Primadonna


Capítulo 6
V: Oscu


Notas iniciais do capítulo

O NYAH ME ODEIA E ESTÁ COMENDO MINHAS NOTAS INICIAIS ;-; VEJO VOCÊS NAS FINAIS!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/607116/chapter/6

— Prontos? — Eddard perguntou baixo para os três elfos que mantinham os arcos firmes nas mãos. O silêncio fora o suficiente para responder e o homem apenas fez um sinal para o anão do outro lado da clareira.

— Agora! — A voz de Gimli se estrondou juntamente com o gesto que havia feito para espantar as dezenas de pássaros selvagens que estavam em sua árvore.

A mesclagem de penas subiu ao céu nublado em uma velocidade praticamente invisível, mas as flechas ainda refletiram o brilho do fraco sol que atravessava a neblina. O zumbido das armas era cessado quando atingiam um corpo, e assim, seguiam-se mais flechas. O anão do outro lado ajeitava o capacete desajeitadamente para evitar que os animais atingidos caíssem em sua cabeça. O bater de asas parou e a visão fixa dos elfos se viraram para Gimli, que tentava recolher os pássaros. Eddard já havia corrido até ele para ajudá-lo a separar por armas.

— Erhir, três — o homem anunciou alto.

Stercore¹. Lancei quatro flechas — o elfo foi até onde os abates estavam sendo contados, mau humorado. Wren e Legolas o seguiram, ansiosos para saberem quem era o vencedor da competição.

— Acho que não há um campeão — Eddard falou, fingindo tristeza. — Vocês dois acertaram quatro cada um... E meio — levantou uma ave que estava com as duas diferentes flechas cravadas no peito. — Pobre criatura.

— Onde essa flecha foi parar? — Ethir chamou a atenção, procurando pelo objeto em algum lugar do mato.

— Eu não a vi parar — Gimli assegurou, fazendo com que a expressão do elfo se contorcesse mais.

— Eu matei aquele cervo... Não podemos usar no desempate? — Legolas indagou, voltando ao assunto.

— Não! Aquele cervo era meu e você roubou-o — Wren virou-se para Legolas, balançando os cabelos escuros.

— Isso é verdade — Eddard deu de ombros, recolhendo as flechas e devolvendo-as.

— Você não iria abatê-lo. Ele estava fugindo — o loiro defendeu-se.

— Isso também é — o rapaz continuou incentivando a disputa.

— Se você não quiser ser o desempate, é melhor ficar quieto — Wren esbravejou contra Eddard.

— Agradável como uma faca na perna — Ethir guardou as próprias flechas enquanto provocava a irmã.

Isso sim é uma verdade — Eddard disse mais uma vez.

— Cale a boca — Wren e Legolas disseram juntos, arrancando risos do anão e do outro Tenebrae.

— Como vamos resolver? — Wren cruzou os braços em cima das flechas que Eddard havia entregado à ela, o instinto competitivo falando mais alto do que deveria.

— O primeiro que acertar Ed vence — Gimli sugeriu irônico, enroscando as aves pelos pés.

— Os alces — a ideia brilhou acima da cabeça de Legolas.

— Alces?

— Vamos — ele puxou a última flecha da mão de Eddard e começou a correr.

— O que… Espera! — Wren correu atrás.

Os dois conseguiram ouvir Eddard gritar alguma coisa seguido por Ethir e Gimli, mas estavam ocupados demais desviando de árvores. Wren tentava não perder Legolas de vista, uma vez que ele era mais rápido que ela. Ele saltou em uma clareira e ela deu um impulso para ir atrás. Sentiu as pernas vacilarem ao encarar as criaturas trotando entre si com tanta leveza. Wren nunca havia visto animais daquela forma. Sempre escondia-se, atacava ou preparava-se para fugir quando entrava em contato ocular com qualquer criatura que não soubesse falar. E aquilo não aconteceu daquela vez.

Abaixou o arco ao lado do corpo enquanto os olhos escuros rodeavam a clareira decorada com grama alta e pequenas flores. Engoliu em seco, sabendo que não conseguiria acertar nenhum dos animais ali. Por um momento, havia esquecido-se que o seu adversário também estava ali e virou-se. Ele a encarava com certa curiosidade, o sol fraco fazendo seus cabelos dourados brilharem mais que o normal.

— Você está bem? — A voz de Legolas cortou o silêncio entre eles. Não obteve resposta. — Seu irmão ficou assim também.

— Ficou? — Um sussurro escapou por entre os lábios de Wren.

Talvez agora Legolas entendesse a fama ruim dos Tenebrae. O fato de que eles foram hostilizados assim como todo o seu território os deixava com a aparência e gênio pesado. A forma que eles encaram aquela outra parte do mundo parecia tão inédita que era difícil acreditar que eles eram chamados de elfos da escuridão, quando o sentido literal fosse o fato de que eles viviam nela.

— Você não precisa matar. Podemos resolver o empate pela manhã — Legolas assegurou.

Wren deixou a voz dele para trás, indo para o meio dos animais. Eles recuavam com receio, assim como ela os observava. O elfo silvestre não sabia se deveria mandá-la se afastar ou se apenas deixaria com que algo acontecesse e ficou ali, imóvel, gravando os detalhes do contato que Wren tinha com os animais. Eles pareceram não encará-la como ameaça, pois haviam voltado a mastigar a grama e aninhar-se.

Legolas encostou-se em uma árvore atrás de si, enroscando o arco ao redor do corpo e não conseguindo esconder um pequeno sorriso. Assistiu todos os movimentos da elfa oposta, desde os curtos passos até a hora em que ela estendeu a mão para um pequeno alce que havia lhe cedido o prazer de acariciar o topo da cabeça. Não conseguia decidir se o mais belo era o animal se rendendo ao toque ou se era Wren simplesmente sendo Wren. Ele decidiu que seria melhor voltar quando ela, após um longo tempo, encarara o céu que começava a ficar cada vez mais escuro.

Voltaram à clareira em que estavam estabilizados em um completo silêncio. Ethir, Gimli e Eddard estavam tentando acender a fogueira de forma desajeitada enquanto brigavam. Wren foi breve anunciando que ainda não havia um desempate e os três pouparam quaisquer detalhes.

O tempo correu assim como as ações, e quando já estavam todos com carne assada na boca, Gimli expôs algumas garrafas de tamanho médio cheias de cerveja. Os amigos aplaudiram e agradeceram a bebida.

— Meus caros — se colocou de pé, entregando uma para cada um. — Devo dizer que essa expedição foi uma das mais produtivas — apontou para a bolsa com as aves. — Estava guardando essas belezinhas caso eu quisesse esquecer algum dia — suspirou, dando um gole na própria garrafa. —, mas não vi motivo para que nada além de comemorações acontecesse… Acho que não sou o único que se cansou de dormir em cima de minhocas, certo?

— Mais que certo! — Ed se manifestou, coçando a lateral do corpo. — Tenho a sensação de que estão em meu corpo o tempo todo.

— Amanhã será a nossa última manhã de caçada, e então, partiremos. Foi um prazer enorme desfrutar esse tempo com vocês — o anão continuou, levantando a garrafa. — Aos alces.

— Aos alces — os outros quatro levantaram a garrafa em um brinde e levaram-nas à boca.

E a noite seguiu-se. Consideravelmente embriagados, os viajantes contaram histórias que haviam deixado-os com a barriga doendo de tantas risadas soltas. Além dos abates que levariam para casa, cada um ali contaria com um novo laço fraternal. Não houve apenas a resolução do problema entre as duas raças élficas, como também firmaram-se lembranças únicas.

O primeiro que fraquejou diante das bebidas fora Eddard, que roncava alto. Em seguida, Legolas e Gimli acabaram adormecendo também. Os dois irmãos Tenebrae conversaram em seu próprio idioma por mais algum tempo antes que o mais velho caísse em exaustão. Wren, por sua vez, não conseguia fechar os olhos. Nunca havia bebido mais que um copo antes e julgava as garrafas tomadas naquela noite as culpadas da sua insônia.

No meio da noite, Legolas havia acordado com o som de algum ruído estranho. A dor no fundo da cabeça era quase mínima, mas não pôde deixar de sentir-se incomodado com a mesma — mais do que com o vento frio que fazia um bonito barulho natural.

Olhando para o lado superior, viu Gimli e Eddard dormirem como pedras. Virando-se para o lado, através da fogueira que apenas ardia em pequenas brasas, viu uma Wren totalmente desperta enquanto Ethir roncava baixo atrá dela. O guincho repetiu-se, atraindo o olhar de Wren para o céu. Legolas fez o mesmo mas nada viu além da Lua Cheia que iluminava o espaço.

— Todas as noites eles se repetem, desde o primeiro dia em que cheguei com Ethir — ela sussurrou. — Me pergunto todas as noites o que são.

Mesmo que ela estivesse esperando que ele dissesse algo, Legolas apenas concordou com a cabeça. Nunca ouvira nada parecido e provavelmente erraria no chute. O guincho se repetiu mais uma vez ao longe, mais forte que antes.

— O que acha de desempatarmos agora? — Wren deu um meio sorriso enquanto se virava para Legolas. Em resposta, ele se apoiou e ficou de pé em um salto, indo até seu arco. Satisfeita, a elfa se levantou e também recolheu a própria arma.

Levando o dedo indicador aos lábios e apontando com o queixo para os adormecidos, Wren saiu pela floresta passando pelas primeiras árvores. Legolas a seguia em perfeita sincronia e silêncio. Nada viram senão uma única coruja durante a curta caminhada.

Após alguns minutos, pararam. Os ruídos haviam cessado, confundindo os elfos. Entreolharam-se, desviando a visão para as árvores que possuíam os topos iluminados pela luz prateada. Um barulho que quase fez com que os dois dessem um pulo para trás se manifestou, sendo o mais alto e perturbante guincho escutado até o momento. Sem pensar antes de correr, os dois foram na mesma direção, avistando entre os troncos escuros um enorme campo com um brilho diferenciado. Era ali que caçariam, pois era dali que o barulho vinha.

Com os arcos em mãos, o que aconteceu não foi nada parecido com caçada. Wren, que ia na frente, parou de supetão quando seus olhos se encontraram com a paisagem que agora via. Mais atrás, Legolas ficou sem entender e diminui a velocidade.

— O que foi? — Parou ao seu lado e perguntou, mas Wren mantinha o olhar fixo. Ele virou o rosto para enxergar o mesmo e o que sentiu parecia-se com um raio, eletrizando todo seu corpo. O braço que segurava o arco vacilou e piscou várias vezes imaginando que talvez Gimli tivesse colocado algo que prolongava o efeito do álcool, mas aquilo era real. À partir daquele momento, Legolas e Wren possuíam uma definição da coisa mais bela que já viram em suas vidas.

Em cada galho da enorme árvore rodeada por várias outras estavam pequenas flores, parecidas com as selvagens. Elas decoravam quase que inteiramente a planta, mas o que chamava a atenção era o brilho prateado refletido da Lua que ardia em suas pétalas. Vagalumes e outros animais noturnos pousavam ali com tanta leveza que pareciam fazer parte do sistema. O reflexo iluminava toda a grama alta ao redor e agora todo o resto da floresta parecia ser inteiramente negro.

O que Wren e Legolas não sabiam era que aquela árvore e seus ramos possuíam um nome que causava um efeito imediato: Sinos do Encanto. Fazia com que qualquer sentimento se aflorasse e que a visão do mundo à partir da hora em que ela fosse descoberta mudaria. Havia também o porém… Nunca mais seria vista naquele lugar.

A elfa andou para mais perto e Legolas repetiu o ato logo em seguida. Pequenos lagartos e vagalumes desviavam de seus pés e corpos como se fossem qualquer outra coisa. O vento fazia com que os galhos se movessem, trazendo mais graciosidade à figura. O reflexo da luz das flores já estava no olhar dos elfos.

Wren estendeu a mão, tocando uma das flores mais próximas que desviou com o vento. Imediatamente, a coloração prateada de cada flor se tornou laranja, quase como vermelha. Antes refletia a Lua, agora refletia Wren — e ela havia entendido aquilo de primeira. Legolas olhou-a curioso, em seguida para a árvore. Como uma lembrança que se manifestava em sua mente, ele escutou a voz de Thranduil: “Os Tenebrae eram belos como fogo, explodindo-se em chamas internas que feririam qualquer um que se aproximasse.

Naquela hora tudo realmente fazia sentido, desde a história que ouvira quando criança até o encontro com os Tenebrae. Ele sentia o coração bater mais forte como se qualquer um pudesse ouvir. Ele entendia aquela ligação, ele sentia, não era algo que também se cruzava com Ethir. Talvez fosse influência da árvore, mas ele sabia que era apenas a verdade escondida. Durante o tempo todo Legolas fora a água, e por isso era amaldiçoado para navegar. Porque se navegasse, pararia em Hiberia. Em Hiberia, encontraria Wren. Wren era a chama que iria conter.

O reflexo da luz vermelha e brilhante refletia no rosto da Tenebrae e se não estivesse realmente ali, juraria que ela estava ardendo em chamas por dentro. Mal ele sabia que na maior parte do tempo era assim que ela se sentia. E sentia muito além disso.

Wren nunca se sentira incomodada por ninguém até a hora em que viu Legolas. Não era algo que ela fosse expressar, uma vez que ela era a melhor em camuflar o que for que sentisse. Apenas engolia em seco a estranha perturbação que Legolas lhe causava, o que manifestava a sua aura negativa e com toda certeza fazia com que ele se sentisse mais pesado, atacado. Era apenas algo do instinto dos elfos da escuridão, o próprio nome denunciava isso.

Ela não apenas escutava os barulhos noturnos como também observava-o dormir — é claro que desde o momento em que ele começou a dormir. Nunca havia escutado nada demais sobre os elfos silvestres além do que precisava e surpreendeu-se com o que vira. Sabia que o irmão havia sentido o mesmo e ele até tinha gostado mais da companhia do outro.

Apesar do pouco contato, ela também sentia. Sentia que um mito de seu povo élfico era real: os elfos se apaixonam apenas uma vez. Talvez ela não tivesse percebido, mas desde que apontara para o olhar azul de Legolas, algo havia acendido-se em si, como se o fogo que sempre possuíra ardesse mais. Algo que nunca havia sentido antes.

E foi por isso que ela virou o rosto para o elfo ao seu lado, que a encarava distintamente. Seus dedos finos já não estavam nas flores, mas as mesmas ainda carregavam seus sentimentos. Descompassadamente, Legolas se aproximou de Wren, passando os polegares por seus lábios rachados e vermelhos. O toque fora como um choque positivo. Lentamente, ela fechou os olhos, deixando que ele desenhasse agora o contorno de seu rosto.

O elfo silvestre passou os dedos pelas orelhas pontudas de Wren, descendo as duas mãos completamente para a sua nuca, se aproximando mais.

Legolas fechou os olhos aspirando praticamente o mesmo ar que Wren, os lábios entreabertos pronto para receber um encaixe. A árvore estava ardendo e agitada como se estivesse sendo consumida pelo calor, agora havia se tornado vermelha, quase da mesma cor que cereja. Assim como os centenas pares de olhos que observavam os elfos de cima das árvores.

Um último guinchado soou.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

¹: Merda
Olá, queridos e queridas. Como estão?
Esse capítulo já estava pronto e praticamente perfeito para a postagem, mas eu mudei todo o final aihsuashusahas não me batam ;-; Eu gostei do resultado improvisado e acho que posso alargar a fanfic em alguns capítulos, estou bem animada (e com medo) disso.
Mas, enfim, o que acharam? Espero que tenham gostado.
Gostaria de dizer que sim, estou muito chateada com o número de acompanhamentos vs número de reviews. É uma diferença muito grande (embora os reviews sejam maravilhosos!) e eu fico bem desanimada com isso, acho que há uma falta de aceitação por aqui.
Enfim, por hoje é só. Não se esqueçam de deixar um olá.
Beijos.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Let Us Burn" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.