Let Us Burn escrita por Primadonna


Capítulo 5
IV: Version Duo


Notas iniciais do capítulo

Olá, paixões



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— Ele caiu antes mesmo de eu terminar o copo — Legolas deu uma fraca risada, arrancando o impulso dos outros também. Estava contando sobre a vez em que ele e Gimli fizeram um jogo da bebida. — Isso porque foi a primeira vez que eu bebi cerveja na vida.

— Você colocou algo nos meus copos, tenho certeza! — Gimli se defendeu rabugento.

Os cinco estavam sentados em outra clareira, completamente exaustos e sujos. Haviam acabado de fazer mais uma pausa para se alimentarem, comendo o resto do cervo que haviam caçado noutro dia. Algumas preocupações começavam a surgir, como o fato de que a água que tinham estava começando a acabar e ficava mais difícil seguir sem o elemento, já que a floresta ficava cada vez mais abafada durante o dia.

— Pessoal… — Eddard cortou o silêncio que se manifestou após as risadas. — Nós só temos mais uma… Eu não sei o que é esse passarinho, mas é a única coisa que temos — ele segurou a ave pelos pés, mostrando para os outros.

— O cervo já acabou? — A voz arrastada de Ethir pronunciou e o mesmo franziu a testa, confuso.

— Carne de cervo é fina — Legolas respondeu, suspirando. — Achei que acabaria ontem.

— Nós precisamos de um alce. O nome dessa floresta não pode ser Floresta dos Alces sendo que ainda não vimos um sequer! — Gimli protestou, decidido. — Preparem as suas armas, sinto que teremos sorte.

— Hã, tem mais uma coisa… — Ed sorriu amarelo. — A água também está acabando. Eu sei que a de vocês também está, porque o meu recipiente é maior e já está quase no fim.

— Podemos nos dividir em grupos. O solo está úmido pra lá — Legolas dizia e apontava com a cabeça para o lado oposto de Wren.

— Certo, com certeza tem alguma fonte perto. E por ali… — foi a vez de Wren falar, e a mesma se colocou de pé. Ela olhou para o lado esquerdo e fez careta. — Bom, se vocês não defecaram ultimamente, tenho certeza que o que tem por ali pertence a algum animal.

— Ótimo! Eu vou com Wren atrás de água e vocês vão caçar — Eddard disse animado.

— O quê? Não! — Wren se aproximou dos outros olhando para o rapaz furiosamente.

— Eu não tenho força para caçar, só sei usar a inteligência e você é uma dama. Acho que não temos muita opção.

— E só por que eu sou uma dama — ela cuspiu. — quer dizer que eu não saiba caçar ou não tenha força?

— Não queremos que você se machuque… A não ser que algum dos rapazes queira me acompanhar — Eddard olhou para os outros três, que negaram com a cabeça repetidamente.

A verdade era que Eddard sabia melhor que todos que a sua presença era, mesmo que divertida, completamente irritante. E, explicitamente, ele tinha uma queda por Wren, embora no fundo soubesse que nunca chegaria a lugar algum com ela. Ele apenas ligou os pontos e sabia que os rapazes detestariam a sua companhia a sós, então seriam eles contra Wren.

— Está bem. Encontramo-nos antes do pôr do sol aqui — ela disse e bateu o pé, indo na direção do terreno úmido, e Eddard foi saltitante atrás.

— Faz um tempo que a gente não se vê… — O garoto começou.

— Se você abrir a boca mais uma vez eu não vou pensar antes de cravar uma flecha na sua cabeça — aborreceu-se Wren, enquanto Gimli, Legolas e Ethir, que ouviam atentamente a discussão, mesmo quando os outros dois já estavam dentro da mata, soltaram risadas grossas.

— Vamos lá, rapazes — Gimli chamou, ainda entre os risos.

(...)

— Será que eles conseguiram? — Ethir perguntou, limpando o suor frio da testa. Estavam andando há muito tempo e ainda não haviam encontrado nem mesmo um esquilo.

— Eu espero que estejam melhor que nós — Gimli tombou a cabeça com o machado abaixado, representando o desânimo. Olhou para cima, vendo Legolas em uma árvore. — Encontrou algo? — Indagou.

O elfo silvestre ouviu-o e, lá de cima, suspirou. Escorregou pelos galhos e caiu perfeitamente em pé diante do mesmo, negando com a cabeça.

Legolas e Ethir estavam com olhos e ouvidos atentos a todos os cantos, mas nada parecia fluir. Nenhum deles tocava no assunto de que talvez eles devessem voltar para casa ou morreriam de fome; eles queriam um maldito alce e estavam decididos a saírem daquela expedição com o desejo realizado.

Quase como um milagre, Legolas e Ethir viraram as cabeças para frente. Ouviram um pequeno ruído ao longe que liberou adrenalina para seus corpos instantaneamente.

— O que foi? O que ouviram? — Gimli percebeu e perguntou.

— Tem alguma coisa ali — Ethir respondendo com um sorriso, sem desviar o olhar.

— O que estamos esperando? — O anão perguntou, apressando os passos na direção em que os outros dois se voltavam.

Os elfos logo seguiram o anão, percebendo o barulho cada vez mais alto. Mal notaram o quão longe estavam indo, hipnotizados pelo caminho que seguiam. Sentiram um baque quando pararam diante de uma manada de alces, que trotavam horizontalmente ao ver dos caçadores em cima de um campo de grama escura e árvores quase negras ao redor.

By Ardae saeculum expletus… — Ethir murmurou a tradução de “Pelo centenário de Arda” na língua de seu reino. — Eu nunca havia visto-os tão belos assim.

— Podem escolher — Gimli murmurava boquiaberto.

Mesmo que o grupo precisasse caçar, a graciosidade dos animais era algo inevitável de ser admirado. Eram espíritos livres, únicos. Andavam calmamente, os machos exibindo os largos chifres enquanto pareciam sorrir. Alguns disputavam as fêmeas batendo os chifres e fazendo barulhos estranhos. Legolas virou o rosto na direção em que uma disputa estava quase se dando por encerrada e cutucou Ethir e Gimli, evitando a voz com receio de que espantasse os animais.

— O da direita provavelmente irá perder a disputa e será rejeitado pelo grupo, está machucado demais na cabeça e não conseguirá acompanhar — a voz aveludada do elfo silvestre quase não saiu. — Quando ele cair, nós o pegamos.

E aconteceu exatamente da forma que Legolas disse. O alce, que era fisicamente mais fraco, perdeu a disputa. Ele acabou caindo no chão, exausto, enquanto o resto do bando se afastava ao longo do terreno em que se dividiam. Quando estavam longe o suficiente, com o animal ainda agonizando no chão, caminharam até o mesmo completamente cautelosos. Legolas puxou uma flecha da sua aljava e fincou-a no pescoço do animal, dando um fim à sua dor. Seria pior vê-lo daquele jeito até morrer, além do fato de que não poderiam chegar muito tarde.

— Excelente, rapazes. Esperava um pouco mais de ação, mas agora sabemos onde encontrar mais desses aí — Gimli falou, jogando o machado no ombro. — Escolham onde querem segurar, temos muito caminho para andar de volta.

E assim, Legolas segurou o animal nas patas dianteiras e Ethir nas opostas. Os três revezavam entre si o carregamento para evitar mais cansaço. Estava quase escurecendo quando retornaram ao lugar que deveriam, dando de cara com uma Wren carrancuda é um Eddard molhado.

— Acho que hoje foi o nosso dia de sorte — Wren disse.

— Encontramos uma nascente que caía em um lago há uns cem passos daqui — Ed completou.

— Creio que não precisemos falar o que encontramos — Ethir brincou, soltando os cascos do animal. Gimli fez o mesmo, uma vez que era a sua vez de carregar com o outro.

— Eddard, por quê você está molhado? — Legolas perguntou, franzindo a testa.

— Eu realmente queria um banho... Não me lembrava mais de como era. Tentei convencer Wren, — apontou para a elfa com a cabeça. — mas acho que nunca recebi tantos insultos.

— Mas é claro! Honestamente, eu aguentaria dez desses — Wren reclamou irritada, apontando para Legolas enquanto a sua face esbranquiçada ficava vermelha de raiva. — no lugar desse stultus¹.

Legolas franziu a testa em reprovação. Eddard havia aberto a boca para responder algo, mas desistiu quando viu a ira de Wren, enquanto Gimli e Ethir riam, sem disfarçar, atrás deles.

(...)

Depois que todos foram até o tal lago e encheram os recipientes de água na nascente limpa — que o formava lentamente e cada vez mais fundo —, os viajantes acenderam uma fogueira para assar a caça do dia. Aquele alce era cem vezes melhor que o cervo. Contaram histórias enquanto comiam e o sono não demorou a chegar. Eddard foi o primeiro a dormir, seguido de Gimli.

Os outros três elfos permaneceram acordados, na maior parte do tempo, em silêncio.

— Como você sabia aquilo? Sabe, sobre os alces — Ethir cortou o silêncio, indagando a Legolas uma curiosidade que estava dominando-o desde a hora em que conseguiram pegar o animal.

— Você não sabia? — Os olhos azuis se estreitaram durante a resposta. Ethir deu de ombros, esperando ouvir mais. — Depois de muito tempo observando, você acaba aprendendo.

— Gostaria de poder ter animais para observar em casa — Wren murmurou, jogando um osso que estava ao seu lado no fogo.

— Nunca havia visto um alce antes? — Legolas perguntou confuso.

— É claro que sim — a voz do irmão respondeu no lugar. — Mas depois de um tempo, os animais se tornam selvagens demais para sobreviver.

— Assim como nós — Wren completou, fitando o nada.

— Assim como nós.

— Como é lá? — O elfo silvestre perguntou um tanto curioso. Sabia que não poderia ir até lá devido à sua pequena maldição em relação ao oceano, então gostaria de apenas imaginar como seria a Hiberia.

— Os campos são desenhados com ruínas. A grama é mais escura e o sol é mais quente em uma época do ano… Ainda existem várias espadas jogadas por lugares que ninguém ousa ir. É como um único cemitério — Ethir contou, lembrando de seu país.

— Depois da invasão dos seus… amigos, — Wren engoliu em seco, olhando para Legolas agora. — cada vida se tornou rude e fechou-se para o mundo. Você provavelmente se sentiu horrível ao nos ver pela primeira vez, elfo. É um efeito instantâneo.

— O maior império élfico se viu destruído. Há apenas um único castelo protegido por ruínas de antigas construções.

— O que realmente aconteceu? — Legolas perguntou, por fim. Queria saber a versão dos atacados, e não dos atacantes. Um meio sorriso iluminou o rosto e Wren enquanto Ethir suspirava.

— Não queríamos uma guerra e nos negamos a lutar ao lado dos outros elfos. Na verdade, gostamos muito dos anões — Ethir começou. — Mas parece que fugindo da briga, ela veio até nós. Nos atacaram pelas costas, destruindo os lares, armas… Matando um por um. Tivemos vantagens, como o fato de que as nossas armas são apenas nossas. Nenhuma linhagem pode tocá-las sem morrer.

— Nosso pai não passava de um mísero soldado… Mas foi ele quem conseguiu afastar os seus antepassados. Ele reconstruiu a Hiberia da forma de pôde, e estamos crescendo cada vez mais. Vamos voltar para a nossa glória, vamos ter de volta tudo àquilo que é nosso — Wren falou, serena.

Ethir se virou para a irmã, trocando um olhar significativo. Ela balançou a cabeça uma vez e o mais velho foi até a bolsa que traziam.

A elfa se virou para Legolas, sentindo o vento que começava roçar o rosto ao mesmo tempo que apagava o fogo lentamente. Pela primeira vez, Legolas olhou-a verdadeiramente. Sem receios, sem medo de cair agonizando de dor. Os traços fortes e sombrios de Wren pareciam ficar mais leves a cada dia, contrastando com os cabelos negros. Seus olhos escuros pareciam tomar um brilho diferente também, a ameaça sumindo completamente. Ela arqueou uma sobrancelha, se perguntando por que ele a encarava intensamente. O mesmo, percebendo, virou o rosto para Ethir que voltava com uma pequena espada em mãos, não podendo ver o sorriso que ela reprimia diante do ato.

Legolas conhecia aquela espada. Era uma espada forjada por seu povo, com todos os detalhes possíveis.

— Essa foi uma das poucas que consegui em estado perfeito. É do seu reino, é sua — entregou-a para Legolas.

— Por que? — Legolas balançou a cabeça, confuso, enquanto se punha de pé e pegava a espada. Deveria ter milhares de anos e ainda assim era magnífica.

— Nós não queremos mais um banho de sangue. Estamos ressurgindo, mudando. Queremos ser mais uma vez aliados de toda a nossa espécie até o fim de nossos tempos. Considere essa espada a ordem de nossa palavra, leve-a para o seu rei — Ethir falou, sabendo que Legolas era o príncipe, assim como ele.

Legolas olhou para os dois elfos da escuridão, sentindo-se estranho. Aquilo era algo intenso e sério, mas uma oferta de paz seria melhor do que nada. Os três possuíam o sangue real de seus reinos, poderiam muito bem livrar o passado. Ele retirou da sua lateral uma pequena adaga com um único filamento de ouro que ele sabia que havia vindo da Hiberia. Olhou-a uma última vez e estendeu-a para Wren, que já possuía as mãos abertas.

Ethir e Wren levaram os dedos na altura do peito, abaixando a cabeça lentamente. Aquele cumprimento era mais que suficiente para que Legolas acreditasse em cada palavra dos dois à sua frente. Ele repetiu o gesto, e em seguida, pronunciou:

Almarë².

Os dois irmãos abriram um leve sorriso, e o elfo da escuridão pronunciou a tradução para o cumprimento na própria língua.

Benedicta³.


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Notas finais do capítulo

TRADUÇÕES:
¹: Idiota.
² e ³: Abençoado.
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SOOOOOOO, o que acharam? Espero que tenham gostado, adorei esse capítulo (não mais que o último).
Uma leitora linda pediu pra que eu postasse algumas fotos de como eu imagino os meus personagens, então aqui vão alguns links que podem ajudar (Legolas e Wren já estão na capa e Gimli vocês já conhecem, uahsusah):
Ethir: http://www.flicksandbits.com/wp-content/uploads/2010/04/robin-hood-russell-crowe-20101.jpg
Ed: http://38.media.tumblr.com/c65fcaa0ac6df7d44887e3b6dca8ba79/tumblr_mmyvkgfDgO1rohuy3o6_r1_250.gif

É isso, genten. Até o próximo!



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