– Quero saber tudo! Tudo! Cada mínimo detalhe!

Era Emily quem falava de forma tão animada. Mas muito bem poderia ter sido Renée, caso Bella não tivesse conseguido escapar da mãe enquanto ela tomava chá com uma tia. A mulher falara a manhã inteira sobre o assunto e já se preparava para montar o enxoval. Fato que estava deixando Isabella quase louca.

Mas, não esperava ter que passar pelo mesmo interrogatório com Emily, até porque não sabia como responder ao fato de não estar tão feliz assim por ter ficado alguns minutos com Edward. E tentando desconversar sentou-se ao lado da amiga, que antes de sua chegada lia um livro no jardim, e explicou sem qualquer entusiasmo:

– Nada demais. Ele foi gentil em dançar comigo.

– Vocês ficam tão bonitos juntos Bells... você não sabe como me senti feliz! Foi uma noite mágica, perfeita e ver minha grande amiga e Edward juntos apenas completou minha felicidade.

Bella não pretendia magoar a amiga, mas achava mesmo que a outra estava exagerando, quase tanto quanto Renée, e desconversou:

– Nós conversamos um pouco sobre a intensidade das atividades sociais desta época do ano. Falamos sobre o piquenique na casa do Visconde e logo depois Edward se retirou.

– Ah! O piquenique. Nós iremos juntas!

A estratégia alcançou o alvo. Emily ainda estava sob o efeito da noite anterior, desejando novos eventos onde pudesse encontrar com Emmett. Porém, a vitória de Isabella foi muito rápida, logo a outra insistiu, pois não estava nem um pouco satisfeita com a parca explicação da amiga.

– Vamos Bells... me conte! Ele mencionou alguma coisa sobre casamento... Mamãe estava falando sobre isso hoje no café. Ela espera que Edward se case ainda este ano.

Bella se remexeu na cadeira ajeitando o vestido.

– Já lhe disse Emily, não falamos nada de importante. Apenas amenidades...

– Mas ele ficou bastante tempo com você. Isso quer dizer alguma coisa não acha? – a garota não se dava por vencida.

– Não quero criar ilusões... – Bella falou por fim enquanto encarava os olhos da amiga de frente.

Esse argumento pareceu atingir o ponto certo. A outra se calou sobre o assunto. Ela compreendia o medo da amiga. Estar apaixonada por um rapaz não significava que ele também estivesse apaixonado por si. Nem que um dia a pediria em casamento.

– Conte tudo você. Era sua apresentação... como se sente depois dessa noite? Está feliz?

– Muito!

O sorriso contagiante, os olhos brilhando só poderiam significar que o baile atingira seu objetivo. Emily conseguira dançar com Emmett.

– Você viu? Ele pediu duas danças...

– Duas danças?

Bella se surpreendeu e ao mesmo tempo confirmou o pensamento de que em breve a amiga ouviria um pedido de casamento.

– Fico tão feliz por você!

Disse enquanto abraçava generosamente a amiga.

– Você merece toda a felicidade do mundo! – como seria bom se todas as pessoas que mereciam a felicidade conseguissem atingi-la. E algumas vezes Bella se sentia mal por imaginar Emily a mercê da mãe por mais tempo.

– Senhorita, sua mãe está chamando... – era a voz de Bernard, o mordomo, que se aproximava de onde elas estavam.

–Me chamando? – Emily questionou irritada pela interrupção.

– Há uma visita para a senhorita.

As duas se olharam. Uma visita? Quem? A pergunta quase saiu pelos lábios de Bella. Mas, foi Emily quem a pronunciou.

– O senhor Eric De Yorkie, a espera na sala principal senhorita.

O sorriso diminuiu. Não era Eric quem Emily esperava. Mesmo assim deveria receber o rapaz. Sarah ficaria furiosa caso ela se demorasse mais do que o tempo permitido pela etiqueta. Bella garantiu que a esperaria ali e a amiga se foi. E enquanto observava a jovem se retirar seguindo o mordomo, se sentiu estranhamente solitária. Se a outra casasse antes dela, a solidão que a acompanhava antes de se tornarem amigas voltaria, pois uma mulher casada já não tem a mesma disponibilidade de tempo que uma solteira. E ela não podia dizer que tinha muitas amigas, não como Emily, em quem poderia confiar cegamente.

Ficou em pé e passou a caminhar pelo jardim. Olhando as flores que Sarah cuidava com extremo carinho e dedicação. A tarde já ia pela metade, em breve teria que voltar para casa.

– Parece que vamos nos encontrar muito... – a voz vinha do outro lado do jardim, de uma porta que dava para o escritório de Ephraim.

Antes mesmo de se virar Bella soube quem era. O coração saltou acelerando, e desta vez foi com certa dificuldade que ela tomou posse da segurança que a acompanhara em seus outros encontros antes de dirigir um boa tarde à pessoa que sem cerimônia ingressava no jardim naquele momento.

– Como está senhor Black?

Ele fez uma expressão engraçada retorcendo os lábios.

– Senhor Black... – ele repetiu baixo - Pode dispensar as formalidades e me chamar de Jacob – sugeriu se aproximando com mais alguns passos. – Como falei, parece que vamos nos ver bastante.

O que será que ele tinha em mente com o, “se ver bastante”? Ela se perguntou, mas logo outra coisa tomou seus pensamentos e a pergunta ficou sem resposta. A iluminação do dia concedia um tom trigueiro à pele perfeita, os olhos negros pareciam menores. Os lábios mais rosados. Os cabelos brilhantes e sedosos. Muito parecidos com os de Emily.

Ah, ele era lindamente perfeito.

– Mesmo que não seja apropriado quando estivermos diante de outras pessoas, neste momento estamos a sós, no jardim, na casa de meus pais, podemos escapar das convenções sociais. – ele explicou puxando-a para a realidade, e Bella repetiu mentalmente, a sós.

Sim, eles estavam sozinhos em um jardim imenso. Parados de frente. Sorrindo um para o outro. Ao menos não se poderia dizer que estavam a sós em uma peça fechada.

Sendo assim, aceitou a informalidade oferecida amigavelmente:

– Então... o correto seria que o... que você me chame de Isabella.

Jacob apertou os olhos franzindo levemente a testa, como se estivesse pensando.

– Acho que minha irmã usa alguma espécie de apelido toda vez que menciona você... mas me contento com Isabella, já que não somos tão íntimos quanto vocês duas o são.

Outra vez aquela sensação do coração saltando no peito. E quando percebeu estava dizendo:

– Bella... Emily me chama de Bella.

Ele ergueu a mão e fez um gesto em concordância, como se estivesse lembrando, antes de mudar de posição e ficar exatamente ao lado dela.

– E onde minha irmã está?

– Foi atender a um chamado de sua mãe. Havia um jovem para vê-la.

– Ah! – ele disse em tom aparentemente despreocupado – Espero que seja alguém que ela desejasse ver.

Isabella ficou calada. Não era certo revelar tão rapidamente os sentimentos de Emily, mesmo para um irmão tão atencioso e preocupado.

Jake insistiu:

– Devo imaginar, pelo seu silêncio, que estou certo.

Ele estava jogando com ela. Querendo saber mais do que Bella poderia dizer.

– Não posso afirmar nada, Emily me pareceu tranquila quando foi atender ao chamado.

Uma risada rápida e sonora ecoou pelo espaço do jardim.

–Se saiu muito bem Isabella... – ele comentou com aquele ar brincalhão que Bella imaginava pertencia apenas a Edward – Sua resposta garante a integridade de qualquer segredo que minha irmã possua.

Ela sorriu feliz, um raio de sol cruzou pelos cabelos castanhos dando-lhe uma tonalidade diferente e Jake desviou o olhar.

– Tento fazer o melhor que posso. - Bella justificou.

Naquele momento ele olhava detidamente para o chão, como se estivesse contando as pedras do calçamento. Mas não a deixou sem resposta.

– Sim, eu sei... e devo dizer que geralmente consegue.

Era tão fácil falar com Jacob. Muito mais fácil do que ela imaginou. Muito mais fácil do que sua mãe imaginava. Talvez fosse por isso que ele tinha a fama de ser um sedutor.

– Emily gosta muito de você... – o assunto mudou de direção abruptamente. Parecia que ele sentia prazer em fazer isso.

– E eu gosto muito dela... – Bella afirmou séria.

Jake se remexeu no ambiente como se estivesse distraído na observação de uma flor. Mas quando falou não mostrava qualquer distração:

– Tenho certeza que sim. É transparente como a água o carinho entre vocês.

De repente, mudou de posição, passou as mãos para trás, ficou ereto e sem mostrar aquele belo sorriso que Isabella tanto gostava se despediu:

– Se me der licença Isabella, vou me retirar. Ainda tenho muito trabalho a fazer... foi um prazer como sempre... boa tarde.

Seus olhos se encontraram, entretanto Jacob não se aproximou nem beijou sua mão. Apenas fez a reverência que os cavalheiros costumavam fazer quando estão diante de uma dama, e saiu pela mesma porta por onde havia entrado.

Um enigma era aquele homem. Algumas vezes gentil e até simpático. Em outras taciturno e arredio. Mesmo e apesar disso, algo nele atiçava sua curiosidade. Cada vez mais ela tinha desejo de saber mais sobre aquela pessoa.

*

A semana seguinte começou com uma surpresa não muito boa. Os eventos sociais previstos para aquela data foram atrapalhados por uma sequência de dias chuvosos que obrigaram as pessoas a se manterem dentro das casas. E o principal deles, o piquenique da viscondessa, foi o que mais sofreu alteração. Acabou transferido para dali a duas semanas.

Assim, tudo se modificou, e dias sem graça se seguiram. Para Bella foi muito ruim ficar algum tempo sem ver a amiga. Apenas um aspecto positivo parecia ter surgido dessa mudança climática, o fato de não ter tido mais a chance de ver Jacob. Essa ausência forçada devolveu a Isabella a presença de espírito que ela acreditava ter perdido desde a conversa deles no jardim. Ou seria desde a dança no baile de Emily? Ou ainda... do recital?

Apenas o baile na casa dos Littlesea estava ainda confirmado. E tanto Renée quanto Sarah, seguramente estariam lá. Levariam as filhas recém apresentadas, e os filhos, o que queria dizer que Jacob também estaria lá, mas até a aquela noite chegar, Bella garantia a si mesma que tornaria a ser a mesma de antes. Principalmente porque sua mãe agora via a possibilidade de casar Bella com Edward. E, como aliada havia a matriarca dos Black, pois aquele seria um plano vantajoso para as duas mães.

Sarah há muito que insistia com o filho do meio para que se casasse. Jacob, parecia ser caso perdido. Após anos de tentativa, ver o primogênito, que já contava a idade de vinte e oito anos, casado, era quase como antever um milagre. Principalmente porque sua fama não atraia boas moças. A maioria das mães, ou ainda, aquelas que prezam pela felicidade de suas filhas, preferiam jovens que não tivessem uma vida tão desregrada quanto a do futuro marquês.