O vestido para a festa de noivado estava pronto, passado e esticado no cabide ao lado do espelho. Sentada na cama Bella escovava os cabelos enquanto Hanna cuidava dos sapatos. Há dias que ela se sentia preguiçosa e sonolenta, talvez fosse porque a agitação dos preparativos para a festa estivessem tomando a maior parte do seu tempo e pensamentos. Ou talvez fosse porque passava horas acordada organizando mentalmente o que ainda faltava.

– Estão prontos senhora – Hanna avisou largando os sapatos ao lado do vestido. – Quer que separe as joias também?

Ficando em pé Isabella a observou por alguns segundos, a jovem parecia falar de longe, como se estivesse dentro de uma caixa ou em outra peça.

– Não, obrigada... eu faço isso. – respondeu finalmente – Você pode arrumar o meu cabelo agora.

Com passos lentos se aproximou da penteadeira, sentou na pequena banqueta e esperou pelas mãos delicadas de Hanna a deslizar por seus cabelos. Estava acostumada à maneira como a jovem era metodicamente calma para executar esse trabalho.

Jacob ainda não chegara. Estava atrasado, ela pensou sentindo a outra terminar de enrolar o cabelo sobre a cabeça, produzindo um penteado delicado ornado por um arco de pérolas que formavam um tipo de coroa ao redor dos fios marrons.

Quando finalmente colocou os pés dentro de casa, o marquês não parecia feliz. Estava com o rosto fechado, mas assim que viu Isabella sorriu; Hanna percebendo o patrão se achegar da esposa, separou-se da cena e foi em direção a porta. Sabia que quando eles se aproximavam daquela forma, geralmente demoravam a se afastar.

– Avise Tomás para arrumar o banho do marquês... – Bella pediu antes que a jovem tocasse a maçaneta.

– Sim senhora.

Assim que aporta se fechou, Jacob ajoelhou-se ao lado da banqueta acariciou a face feminina com muito carinho, depois passou as mãos pela camisola de Isabella erguendo-a até a cintura. As mesmas mãos quentes se apoderaram das coxas da esposa, enterrando os dedos na pele macia dela. A mulher soltou um suspiro pesado diante da sensação inebriante do olhar e do toque dele.

– Onde você esteve? – ela perguntou acariciando os cabelos do marido.

– Resolvendo problemas... – problemas com a mãe por causa da festa que ele pretendia dar. Mesmo com a desculpa já pronta, Jake não pode escapar de ouvir recriminações da marquesa quanto à época certa para fazer esse tipo de festa.

– Conseguiu resolver?

Ela insistiu enquanto ele apoiava o queixo em seu peito, erguendo o rosto para um beijo.

– Sim... tudo resolvido adequadamente... – depois de vários minutos de discussão séria, sim, tudo ficara resolvido. A matriarca teria que aprender a ceder diante do novo marquês. Seu tempo como dona da verdade chegara ao fim.

Seus lábios se tocaram gentilmente no principio, com mais intensidade depois, porém, quando as mãos dele passaram das coxas roliças para os seios, Bella tentou afastar o marido. Os olhos magoados de Jacob se fixaram no rosto da esposa. Definitivamente ele não estava satisfeito com a interrupção.

– Você está atrasado... – ela falou baixinho escondendo um sorriso provocador diante da decepção estampada no rosto dele.

– Que droga! Eu sei! – a voz rouca confirmou entre dentes, mas ele não se afastou, continuou agarrado a cintura dela como se nada tivesse sido dito em contrário aquele toque.

– Jacob!

Bella chamou quando os lábios dele tocaram a pele nua do peito onde a camisola estava aberta.

– O que é?

A pergunta saiu sem que ele tivesse se voltado para olhá-la.

– Hoje é o noivado do seu irmão! Não podemos nos atrasar... você não pode se atrasar.

Irmão, irmão, irmão. Droga de vida! Como ela podia pensar mais em Edward do que nele naquele momento?

Ficou em pé e se afastou pisando duro.

– Onde você vai?

Bella perguntou encarando as costas amplas que rapidamente se afastava.

– Fazer o que você pediu...me arrumar para essa bendita festa de noivado.

Um sorriso encantador se desenhou nos lábios femininos e logo foi retribuído pelo marido. Mesmo que quisesse, não conseguia manter, ou fingir zanga por muito tempo. Estava definitivamente perdido e acabaria sendo controlado por ela como uma marionete. Segundos depois, tentando de certa forma mostrar que ainda possuía algum poder sobre si mesmo o marquês voltou, a ergueu da banqueta e colou os lábios nos da esposa novamente.

O corpo feminino foi impulsionado para trás enquanto ele a beijava intensamente. A estrutura de Isabella estremeceu, estava suspensa no ar enquanto ele fazia com ela o que tinha vontade. Imediatamente a necessidade de manda-lo embora foi embora e suas mãos instintivamente pressionaram o corpo masculino contra o seu.

Foi nesse momento que Jacob a largou, em pé sobre o tapete. O corpo pequeno balançou diante dele enquanto a garota o olhava confusa, aturdida, faiscando paixão por cada poro. Desta vez ele sorriu abertamente, e mesmo que por dentro estivesse amargando um desejo reprimido, saiu do quarto como se fosse o grande vencedor de um difícil duelo.

Ah, amava aquele mulher, muito, tanto quanto nunca pensou ser capaz de amar alguém.

*

O correr de árvores que conduzia à casa do visconde, bem como a imagem do labirinto ao longe, trouxeram a Isabella a lembrança do beijo vivido há meses atrás. Incrivelmente seu coração ainda sentia a emoção desesperadora que se apoderara dela no momento em que percebera quem a beijava.

Jacob era agora muito mais do que um sonho distante, era seu marido, seu amante, um companheiro gentil e carinhoso. Aquelas constatações preencheram seu coração de uma alegria renovada. Todos os dias ela agradecia por aquele mal entendido, por ter descoberto o que era o amor, o que era amar, o que era estar com alguém amado.

Ele se moveu ao seu lado, estava agitado. Mesmo que Jake nada dissesse a respeito, Bella podia sentir a agitação do marido no modo de agir e falar. Alguma coisa o incomodava todas as vezes em que o noivado do irmão era mencionado, e apesar de ter tentado sutilmente descobrir o que era, suas tentativas não a levaram numa direção concreta.

Aquela era a noite, ele estava se preparando para ela há dias, estava se preparando para os futuros encontros, estava se preparando para às reuniões de família, para os jantares em comemoração ao Natal, a páscoa, aniversários... seriam tantos momentos em que encontrariam Edward. Ele não poderia ficar assim todas as vezes em que esses encontros ocorressem, ou acabaria ficando louco. Precisava confiar em Isabella, em sua sinceridade, em sua honradez.

Mas, saber que não seria traído efetivamente não era um consolo. Pois, o que Jacob esperava da esposa era muito mais do que sentimentos de carinho e amizade. Por isso se dividia entre a esperança de um dia ser amado e a incerteza dos atuais sentimentos de Isabella.

Quando ingressaram no salão, constaram imediatamente o bom gosto da viscondessa, bem como a organização geral de tudo. O ambiente estava lindamente ornado, o ar repleto de um saboroso aroma de frutas, e de melodiosas sintonias vindas dos músicos.

Segurando o braço do marido, Isabella voltou a se sentir estranha, como se estivesse dentro de um túnel e todos a volta se perdessem em sons confusos. Instintivamente apertou a manga da casaca de Jacob tentando manter o foco e o equilíbrio, enquanto sorria diante da proximidade de Emily e seu incomparável bom humor.

– Olá queridos! – a moça cumprimentou assim que esteve próxima o suficiente - Vocês estão ótimos! São, sem duvida alguma, o casal mais bonito deste lugar!

– Não seja exagerada! – Isabella retrucou imediatamente.

– Que nada! Você já deu uma olhada nos casais presentes? Só temos velhos, velhos, e velhos...

Emily retrucou baixinho para logo depois ver um olhar reprovador no rosto da cunhada e amiga.

– Edward já chegou? – Bella perguntou de repente tentando desviar Emily do tema.

Assim que a pergunta escapou pelos lábios da esposa, Jacob liberou o braço que trazia junto a si e com uma desculpa rápida se afastou das duas.

– O que ele tem? – Emily perguntou observando o irmão se afastar.

Bella soltou um suspiro baixo antes de explicar:

– Ele está descontente com alguma coisa... há dias que parece incomodado... a principio acreditei que fosse algo relacionado com Leah, talvez ele não considerasse a escolha de Edward boa. Mas acho que é com o noivado em si...

Confessou séria.

– Deixe o Jake pra lá... ele sempre foi assim. Esquisito! Se está tudo bem entre vocês é isso que realmente importa.

O sorriso de Isabella foi límpido e claro antes mesmo de dar a resposta para a cunhada, Emily já sabia o que a outra diria.

– Mas me fale sobre Eric, como está tudo?

Os olhos da amiga se reviraram numa expressão boba e derretida.

– Está tudo ótimo... – falou sorrateira para logo depois demonstrar um pouco de preocupação – Ele i falar com Jake esta semana, pedir minha mão, mas se meu irmão está tão azedo, é melhor esperar um pouco.

Bella segurou as mãos da cunhada na tentativa de atrair sua atenção.

– Não faça isso! Deixe que ele vá. Jacob gosta de Yorkie, tenho certeza que seu irmão não recusara o pedido...

– Você está certa disso Bells?

– Completamente certa! Você sabe que Jacob preza sua felicidade, e ele sabe que Eric é um bom rapaz, mas principalmente que a fará feliz.

Elas se olharam animadas ante a perspectiva de boas novidades.

*

A festa de noivado seguia seu rumo natural, Bella conversou com a mãe, com a noiva do irmão, e percebeu leves mudanças no comportamento da última bem como no de Jasper. Tanto um quanto outro pareciam mais amenos no modo como falavam com ela.

A que se devia essa mudança?

Bella não fazia qualquer ideia, mas era certo que algo acontecera para alterar o comportamento do casal de forma tão drástica. E independente do fosse ela ficava feliz com a mudança.

A sogra, simpática como sempre, não continha a felicidade em ver seu querido filho noivando. Leah a conquistara rapidamente, e apesar dos temperamentos fortes as duas pareciam ter decidido por uma trégua cordial em prol de uma convivência pacifica e ordenada. Afinal a mãe não pretendia ficar sem a presença do filho, pois ela sabia que se se indispusesse com a noiva, Edward acabaria tomando o partido da futura esposa.

Já Leah tinha conhecimento de que a relação entre mãe e filho era muito estreita e não pretendia estragar seu casamento com rixas que não a levariam em uma direção feliz. Desta forma, as coisas se organizaram sem que nenhum dos envolvidos tivesse realmente dito alguma coisa.

A festa seguia seu rumo, Bella terminava seu ponche junto à um grupo de mulheres casadas e via Emily dançar com Eric quando Jacob sorrateiramente se aproximou da esposa, e sem se incomodar com os possíveis comentários que sua atitude provocaria, sussurrou perto do ouvido dela:

– Me concede a próxima dança?

A mão do marido tocava suave e intimamente na sua, o rosto dele estava muito próximo, quase junto ao ouvido da mulher enquanto esperava pela resposta que obviamente seria afirmativa.

– Claro que sim...

Ele não tinha dúvidas de que seria aceito, mas mostrou sua necessidade abertamente para que qualquer um pudesse vê-los. Bella voltando-se para o rosto bronzeado sorriu sedutora enquanto Jacob a conduzia em direção ao centro do salão onde os outros casais estavam.

O som de violinos preencheu o ar, segundos depois o piano também ingressou; Jacob se inclinou numa reverência inicial para em seguida segurar as mãos da esposa enquanto giravam de frente. Os movimentos ordenados seguiam no ritmo melodioso e sereno dos instrumentos. Bella girou perto dele, roçando delicadamente o corpo no do marido, se alguém os estivesse observando com certeza consideraria aquele gesto como algo socialmente reprovável. Mas nenhum deles se importava com isso naquele momento.

Aqueles poucos minutos em que eles ficaram juntos dançando, desanuviaram completamente a mente de Jacob, mas principalmente, fora a observação discreta que o marquês fizera, desde o começo da festa, do comportamento da esposa e do irmão que tornaram sua conduta mais segura.

Enquanto Bella se apoiava em seu braço para retornar ao grupo feminino, Jacob dizia a si mesmo que deveria acabar de uma vez por todas com o medo e ser sincero. Contar sobre seus sentimentos era imprescindível para que pudessem continuar se entendendo.

*

Cerca de meia hora depois Bella estava junto a mesa de doces quando sentiu a mão de alguém em seu braço. Era Leah que a tocava. A prima com quem já falara naquela noite, estava linda num vestido verde musgo e carregava um contagiante sorriso iluminado nos lábios carnudos.

– Bells! Que bom encontrar você sozinha...

Aquela frase soou de forma enigmática para a marquesa. Por isso Isabella esperou pela continuidade do assunto.

– Há muitos dias que queria falar com você... – Leah olhou em volta, precisava ser rápida, antes que alguém as interrompesse - Primeiro vocês viajaram, depois, foi essa loucura do noivado que tomou todo o meu tempo...

– Pois é, sei que um noivado toma quase todo o nosso tempo.

Leah gesticulou concordando antes de fazer uma nova pergunta:

– Como foi sua estadia no campo?

– Maravilhosa!

Aquela resposta provocou um novo sorriso nos lábios da moça morena, um sorriso que parecia de tranquilidade, de satisfação.

– Fico tão feliz em saber que você está bem!

– Está tudo bem... – Bella falou enquanto apertava as mãos da prima que seguravam as suas.

– Depois daquela tarde quando vimos vocês se beijando no jardim, me senti tão culpada!

Aquela conversa estava novamente ficando enigmática.

– Culpada?

– Sim, afinal, se Edward e eu não tivéssemos aparecido você não precisaria se casar com... com o marquês... – ela revirou os olhos na direção em que Jacob se encontrava - E depois, quando soube do escândalo que o colar causou..

Então todos sabiam do colar? Bella se perguntou olhando em volta, imaginando as pessoas a falarem dela.

– Mas hoje, quando vi vocês juntos, conversando, dançando, tive esperanças de que você fosse feliz com ele. Para um bom observador, e eu me considero boa observadora, vocês são um casal feliz.

– Eu sou feliz! Acredito que Jacob também é feliz... – Bella concluiu imaginando a prima a se sentir culpada pela possível infelicidade dela.

Aquilo era tudo o que Leah queria ouvir, precisava tirar a culpa de uma possível infelicidade matrimonial da outra.

– É tão bom ouvir isso! – e se aproximando Leah cochichou tentando não ser ouvida pelas pessoas que passavam perto – E para que você fique ainda mais tranquila, preciso lhe contar uma coisa... não sei se já sabe, mas Vitória tem um novo amante fixo... é um lorde, membro do congresso, um tal de Sir Newton, ele vive em Londres e parece que vai leva-la para lá...

Vitória fora da região? Ninguém mencionava o nome daquela mulher há semanas, era estranho agora lembrar e ouvir falar dela para saber que se mudaria para longe. Mas, pensando bem, isso já não fazia a menor diferença. Não tinha qualquer importância.

Como Jacob bem dissera, Vitória era passado. E ela confiava nele.

– Eles não tinham mais nada Leah... – Bella informou sentindo o estômago estranhamente inflar.

– Sim, mas agora os falatórios acabarão de vez...

Ah, os falatórios. Bella pensou e novamente a sensação de estar dentro de um túnel voltou. Apertou as mãos da prima com força na tentativa de se manter firme no lugar.

– Você está bem? – Leah perguntou assustada pela súbita palidez da prima.

– Não... – foi tudo o que Bella conseguiu dizer de imediato – Podemos ir para algum lugar onde eu possa me sentar e não tenha tanta gente?

– Vamos para a sala de mamãe... – a outra falou rapidamente enquanto a conduzia na direção da saída mais próxima.

A sala íntima da viscondessa estava escura e fria, mas o ar limpo e o silêncio lhe fizeram bem. Ainda se sentia zonza como se a cabeça não conseguisse se localizar.

– Quer que lhe traga algo? Um suco? Um brande talvez? – a moça perguntou enquanto a ajudava a se sentar num sofá e logo emendou: - Vou chamar sua mãe!

Bella recusou de imediato.

– Chame Jacob! – se havia alguém em quem ela poderia se apoiar, com certeza era ele. – E não alerte mais ninguém... não quero perturbar sua festa de noivado.

– Não seja boba! – a outra retrucou com um leve tapinha nas mãos da prima.

– Me sentiria muito mal se isso acontecesse... por favor Leah, seja muito discreta...

– Farei como você me pede. – a jovem concordou afinal para deixar a prima mais tranquila e saiu rapidamente da peça em busca do marquês. Assim que a outra saiu Isabella se recostou nas almofadas, fechou os olhos na tentativa de respirar com calma enquanto se perguntava o que estava acontecendo com ela