The last love escrita por Ingrid Lins


Capítulo 12
Capítulo 11: pedido aceito


Notas iniciais do capítulo

Esse é um capítulo bem longo na minha opinião, e espero que vcs gostem :)



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Elena Gilbert

Semanas depois...

Nas semanas que se seguiram ao enterro da namorada de Damon, o clima pesou sobre nós. Era como se o cheiro da morte nos cercasse de todos os lados, até mesmo Jeremy sentiu o peso no ar. Era como um recado até onde podemos ir por um amor que não é correspondido; eu não estava bem por ela, por ele, por nós. Minha mente meio que me culpava.

—Jeremy, você não pode se atrasar pra escola, menino! — gritei na porta do banheiro.

—Eu já tô indo mãe.

Fui para a cozinha para preparar o lanche de Jeremy. Eu não confiava muito nas besteiras que ele comia na escola, e se eu não mandasse um lanche saudável pelo menos um dia na semana, provavelmente meu filho já teria algum tipo de problema de alimentação.

Eu assumo que sou uma mãe coruja!

Estava passando pasta de amendoim no pão de forma, quando a campainha tocou. Devia ser Caroline, ou Alex. Ambos tinham mania de fazer visitas matinas. Ou seja, tinham acabado de chegar de uma festa, e passavam no meu apartamento para tomar banho e fazer o desjejum.

Corri em cima de meus saltos altos até a porta. Quando olhei pelo olho mágico, tomei um susto.

—Damon? — disse abrindo a porta.

—Oi! Posso entrar?

—Er... eu já tô saindo e eu mesma posso levar o Jer pra escola.

—Eu não vou te atrasar.

Damon disse entrando, e se aproximando. Automaticamente, dei um passo para trás.

—O que quer afinal? — cruzei os braços na altura do peito e percebi que minha respiração estava ofegante. Era minha forma de me defender de mim mesma. Cruzando os braços e me segurando. Sim, eu estava na defensiva. Eu estava sendo agressiva. Eu não queria ter nenhum tipo de relação com ele.

Ele riu e cruzou os braços também.

—Tudo isso é bom-humor matinal? — brincou.

—Eu não tô aqui pra brincadeira, tá? Tô atrasada pro trabalho e...

—E está nervosa porque eu estou aqui. — ele deu um passo para frente, e em reflexo dei um para trás encostando-me na parede.

—Porque não espera lá fora pelo seu filho? — tentei fugir.

Eu queria que ele fosse embora! Queria-o longe de mim; queria que ele voltasse para qualquer outro lugar que ele tivesse saído. Definitivamente não o queria perto de mim.

—Pensei que estivéssemos um pouco mais calmos — deu mais um passo para frente.

—Pode se afastar um pouco? — minha voz esganiçou no fim.

Eu queria gritar para que ele saísse de perto de mim. Eu precisava gritar, mas não conseguia nem raciocinar direito.

—Pode tentar ser um pouco mais amável? – Damon debochou.

—Preciso ir trabalhar, sabia disso? Ao contrário de você, não sou dona de nenhuma empresa, muito menos nasci com uma aposentadoria milionária garantida.

Minha vida era confortável por esforço meu porque se dependesse dos meus pais, eu estaria morando na rua. “A vida é sua, o esforço para melhorá-la também tem que ser.” Era essa a filosofia do meu pai.

—Uau! Quanta hostilidade. – ele passou o braço direito firmemente pela minha cintura, me mantendo bem perto dele — Só queria saber se você está disposta a jantar comigo.

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—Claro que não! — gritei.

—Claro que sim! — a loira gritou de volta assim que contei da história do jantar.

—Caroline?! Não, não, não.

—Elena?! Sim, sim, sim.

—Claro que não Caroline! Eu não quero estar em lugar nenhum com aquele grosso!

Ela revirou os olhos.

—Um simples jantar não vai te matar Elena. E fora que “aquele grosso” é o pai do seu filho.

—Não é da sua conta como eu trato o pai do meu filho! — contrariei.

—Você vai e ponto final.

Damon Salvatore

Eu estava perdido em pensamentos quando Alaric invadiu meu escritório.

—Trabalha mais não, vagabundo? — ele brincou.

—Eu sou o meu chefe, posso trabalhar meia hora por dia se eu quiser! — exclamei rindo. — E você? Tem mais processos pra defender, não?

—Me dei uma folga. — sentou-se — Mas fala aí. Estava perdido onde?

—Convidei Elena pra jantar. — disparei.

—E ela?

—Ficou nervosa, vermelha, e depois me expulsou de seu apartamento. Exatamente como eu esperava que ela fizesse.

—Esperava que ela dissesse não?

Eu ri.

—Ela não disse não, ela ficou tentada, deu pra perceber. — coloquei os pés em cima da mesa. — Eu sei que ela vai aceitar.

—Às vezes você parece masoquista, Damon!

—Você nunca vai me entender.

Ele riu.

—Claro. Loucura a gente não entende, só atura! — exclamou divertido.

—Descobri isso no dia que te conheci.

—Palhaço!

Rimos até que o clima pesou sobre nós. O enterro de Bonnie tinha sido há três semanas, mas eu ainda não tinha devolvido todas as coisas dela a minha ex sogra, não tinha coragem. Me livrar assim como se tudo que houvéssemos vivido não fosse nada, como se eu não respeitasse sua morte. Às vezes, quando eu chegava em casa e abria a porta, tinha a sensação de que ela apareceria com o costumeiro sorriso pra tentar me agradar. Era o peso do meu remorso caindo sobre mim; que quando eu tive a chance não a amei como devia, e quando ela partira não permitia que se desprendesse de mim. Um egoísmo sem medidas.

—Você tá bem? — Alaric perguntou sério.

—Sim, tô bem melhor. Tão bem que vou jantar com a mãe do meu filho.

Ele revirou os olhos.

—Você não acha que isso é precipitado?

—Não. Eu esperei tempo demais pra ter Elena de volta.

—Bonnie se matou por sua causa.

—Eu e minha consciência sabemos disso, não precisamos que você fique repetindo.

Elena Gilbert

—Chegamos! — Alex e Jeremy disseram juntos.

Fui até a sala, e quando cheguei ambos já tinham colocado as mochilas no chão. Alex já estava jogado no meu sofá branco — branco! E ele estava sujo — e Jeremy já vinha na direção da cozinha.

—Mãe, tem comida? — ele perguntou sumindo na esquina da cozinha.

—LONGE DO FOGÃO, JEREMY! — gritei.

Alex levantou-se sentando, e me avaliando. Passou minutos seguidos em silêncio, e então, perguntou:

—Tá preocupada com o que?

—Nada. — menti.

Ele continuou me encarando, e eu sabia que ele sabia que tinha acontecido alguma coisa. Éramos gêmeos, e meu irmão tinha um dom para decifrar as pessoas, e ainda mais para saber quando eu estava passando por algo difícil.

Suspirei derrotada.

—Damon me chamou pra jantar.

—E você vai?

Parei para pensar. Eu não disse nem que não, muito menos disse que sim. Eu não queria ir, mas uma parte de mim queria saber o que ele tinha a dizer. Era um conflito que eu não conseguia me desfazer, uma briga eterna de sim e não relacionados a Damon com o qual não queria e nem podia brigar contra.

—Eu não sei.

—Devia ir. Ele tem algo pra dizer, e você no fundo quer saber o que é.

Jer estava na sala com a madrinha, enquanto eu estava no meu quarto analisando alguns papéis. Minha cama estava um caos. Notebook ligado do meu lado direito, I-phone e rádio Nextel do lado esquerdo, uma caneta na mão, a outra presa no meu cabelo — que estava embolado num coque mal feito — folhas soltas para todo lado, e um I-ped perdido em algum lugar na minha cama.

Estava tão concentrada no meu trabalho que nem escutei passo algum.

—Oi. — ouvi a voz rouca dentro do meu quarto.

—O que faz aqui dentro?! — perguntei com a voz mais alta. Meu susto se dizia ao fato de Damon Salvatore nunca ter passado da sala, e ainda mais quando eu estava vestida apenas com uma blusa super apertada acima do umbigo, e um short bem curto — curtérrimo para ser específica — de dormir.

—Er... Eu só queria ter uma conversa bem rápida com você.

Soltei um suspiro pesado.

—Agora? Se não percebeu, tô trabalhando. É algo muito importante e...

—Hoje, às oito e meia, no Madison. E não aceito de jeito algum “não” como resposta! — ele disparou sem nem mesmo respirar.

Mastiguei a proposta. Eu não queria ir. Não deveria ir. Não iria levar a lugar nenhum ficar tendo jantares constrangedores ao lado dele — nunca levaria a ponto nenhum. O ponto não era o jantar, nem mesmo a companhia, era o assunto; o que finalmente teríamos coragem para dizer. O que poderíamos acabar falando e enrolando ainda mais o que já estava bem ruim.

Será que se eu for ele pára de me atormentar? — pensei.

—Tá. Eu vou pra esse jantar com você.

Ele vibrou, e me lançou um sorriso que ainda fazia meu coração pular e querer saltar pela boca.

O sonso saiu do meu quarto, me deixando sozinha. Meu corpo só parou de tremer quando ouvi a porta do apartamento bater. Ainda fiquei sentada na cama por minutos esperando aquela sensação passar. A sensação de ainda ter o olhar dele em mim. Quando finalmente me senti capaz de andar, fui até a sala que era onde madrinha e afilhado estavam inocentemente — tenho certeza que os dois estavam no corredor escutando nossa conversa! — assistindo um desenho qualquer.

Puxei Caroline pelo braço até a cozinha.

—E aí? O que aconteceu?! — ela perguntou agitada como sempre.

—Por que o deixou entrar?

—Ora, é pai do seu filho. Ele nunca entrou aqui? — agora ela estava indignada.

—ELE NUNCA PASSOU DA SALA! — a Barbie deu um pulo com meu grito.

—Porque tudo isso?

—Porque não o quero perambulando pela minha casa, sabendo tudo que acontece aqui e tudo que se passa na minha vida como se ainda fizesse parte dela. Ele faz parte da vida do Jeremy, não da minha. — assentiu assustada.

Dei uma pausa para que Caroline baixasse realmente sua euforia.

—E pretendo deixar isso bem claro hoje à noite — vi na mesma hora a alegria da minha amiga voltar. Seus olhinhos brilhavam como se estivesse diante da nova coleção da Dior.

—ACEITOU!

—Não vou comemorar isso — lembrei, emburrando a cara.

—Mas, então, como foi a conversa?

—Não conversei!

—Ótimo Elena. Assim não tem santo que te junte com esse homem! — vi seus lábios sibilarem silenciosamente.

Era realmente horrível saber que meu corpo ainda reagia a ele. Eu estava tremendo da cabeça aos pés! Meu Deus, quem era essa que estava acabando com minha sanidade e vida estruturada? Eu havia passado do tempo de ter esse tipo de reação por um amor infantil devidamente enterrado.

—Ele não vem te buscar?

—NÃO! — gritei.

—Hã?! — a Barbie se indignou.

—Não quero nada com ele, Car. Nada!

—Entendi! Tem medo de não resistir. Te entendo, é mesmo um pedaço de mal caminho. — ela falou e saiu andando.

—Caroline?! — chamei sua atenção.

—Não se preocupe, eu separo um vestido pra você. Economizar seu tempo para quando chegar do trabalho, sabe?

—Vou deixar uma coisinha bem clara para você. Eu não tenho medo de não resist...

—Volte pro quarto e vá trabalhar, Elena! Você é “A Poderosa” daquela empresa; tem que dar o exemplo. — ela gritou, já pegando a bolsa e se preparando para sair.

—Argh! Te odeio, Forbes!

—Mas não sabe viver sem mim! — logo depois ouvi a porta batendo.

Consegui terminar toda minha papelada, e dar o jantar do meu pequeno antes da Barbie chegar. Ela chegou com quatro sacolas em cada mão. Aquela realmente tem um dom para gastar! Deixei meu filho em seu quarto jogando videogame, e fui com Caroline para o meu quarto. Entrei no banheiro da suíte, e tomei um longo banho quente, tentando relaxar meu corpo.

É só um jantar, Elena. Apenas um jantar — eu ecoava para mim mesma.

Me enrolei na toalha preta, e fui para onde Caroline estava. Tinha um vestido curto estendido na cama, e um par de sandálias de saltos altos Channel.

—Tem que outro! — exclamei assim que constatei que o vestido batia no meio de minhas coxas.

—Você não gostou? Por quê?! — ela disse indignada como se eu tivesse dito que a nova coleção da Prada era um horror. — Ele é tão lindo.

—Eu não quero vestir isso, só Deus sabe o que Damon vai pensar de mim se eu o encontrar embrulhada nesse vestido embalado a vácuo.

A loira riu. Ela e todo mundo sabia que eu não tinha problema nenhum — pelo contrário! — com roupas curtas. Mas isso não se aplicava quando eu ia a um jantar com o Damon.

—E quem te garante que ele quer alguma coisa contigo? Ele só quer conversar, Elena. Nem vai ficar reparando se você está vestindo isso... — apontou para a peça — Ou se está nua. E fora que você mesma disse que não quer nada com ele, portanto não importa o que ele pensa ou deixa de pensar de você.

—Você não vai me vencer pelo cansaço, peste.

Enquanto eu seguia para dentro do closet — que não se comparava ao que dividia espaço na casa de Caroline — vi a loira chata em frente do espelho examinando se seu cabelo, que agora estava num corte médio, valorizando seus cachos largos.

Procurei, mas foi em vão. Todos os meus vestidos eram do exato tamanho que o vestido que ainda repousava perfeitamente na minha cama.

—Vou me vestir. — rosnei de dentro do closet.

Voltei ao cômodo, e me enfurnei no banheiro com o vestido verde-bandeira baloné de seda que Caroline tinha comprado para mim. Voltei já vestida e com uma cara nada satisfeita. Por mim, iria de calça jeans e moletom, mas o Madison não era assim.

—Ah, você tá tão linda! — ela exclamou realmente orgulhosa.

Ao invés de responder, calcei as sandálias, e fui até minha cômoda onde minhas maquiagens estavam repousavam perfeitamente arrumadas — obra de Caroline quando não tinha nada melhor pra fazer.

—Você vai pelo menos passar um blush, né?! Tá tão pálida quanto uma vampira. — comentou enquanto examinava minha coleção de bolsas.

—Deixa eu te lembrar que a cara é minha! — cantarolei.

—Deixa eu te lembrar que a noite também é. — retrucou.

Terminei minha maquiagem, arrumei minha carteira da Prada, e deixei as instruções para minha melhor amiga.

“O Jeremy tem que estar na cama até as nove. Não o deixe comer qualquer coisa antes de dormir, muito menos ir pra cama sem escovar os dentes. Qualquer coisa, me liga, estarei com o celular e o rádio ligados.” eu dizia para quem fosse ficar responsável pelo meu filho.

Dirigi meu Audi com tranquilidade o caminho todo. Ao fundo, a música “Someone like you” quebrava o silêncio. Meia hora depois, parei o carro na porta do restaurante, e dei minha chave para o manobrista.

Respirei fundo, antes de adentrar no ambiente. Não demorei muito para encontrar a figura do homem que me esperava.

Damon Salvatore

Elena estava linda como sempre. Usava um vestido verde-bandeira. Já disse que ela fica perfeita de verde?

Seus olhos castanhos estavam marcados com uma maquiagem escura, os lábios cheios e carnudos estavam reluzindo com um gloss — acho que é esse o nome desse negócio — pêssego e as bochechas um pouco rosadas. O cabelo bem escuro estava preso numa trança embutida meio bagunçado.

Puxei a cadeira para que ela se sentasse, e ela sorriu para mim. O sorriso mais lindo do mundo. Ela se sentou de pernas cruzadas jogando o cabelo pra trás.

Tentei quebrar aquele clima horrível, mas até que o garçom saiu da mesa com nossos pedidos, ela não mudava as feições.

—Você tá linda.

—Obrigada.

Ficamos em silêncio por um momento. Eu apenas a observava. Sempre gostei de fazer isso, e como sempre, ela enrubesceu da cabeça aos pés quando percebeu o que eu estava fazendo.

Levando em consideração de que eu havia chamado-a para jantar, devia ser minha função começar a falar. Eu acho.

—Hum... Eu sei que você tem se controlado muito pra me aguentar por perto, e eu agradeço isso; mas eu sei que você fica desconfortável com isso.

—Eu não fico desconfortável! — ela reagiu rápido.

Deixei passar, pois sabia que ela nunca mentira bem, e não era a melhor pessoa do mundo em inventar desculpas.

De repente, Elena fechou os olhos como se esperasse uma emoção passar.

—Você tá bem? — perguntei preocupado.

—Quer que eu seja sincera? — ela retrucou agressiva.

—É o que eu desejo.

—Em primeiro lugar, você não devia ter insistido em me ter nesse jantar. Você não entende que eu não quero nenhum laço com você?

—Mas... Elena... — segurei um rosnado e tentei recomeçar a história toda — Eu quero saber sobre tudo que aconteceu desde que você foi embora. Quero saber sobre nosso filho, sobre você, às vezes me pego pensando nas coisas que você escreveu na carta quando...

—Esquece tudo que eu escrevi! — ela pediu, tentando fugir do assunto — Foi uma coisa rápida... Eu precisava ter algo pra te dizer. Eu não estava pensando direito quando escrevi aquilo.

—Fico pensando sobre uma frase em especial. Aliás, duas. Quando você disse que pensou besteiras que tinha vergonha de ter pensado e quando disse que tinha orgulho de tê-lo criado sozinha. Mas, Lena, será que não pensou que eu podia te ajudar de alguma forma?

—É só isso mesmo que você quer conversar, não é mesmo?

—Olha eu quero conversar sobre tantas coisas, mas sinto que se eu falar alguma coisa que não devo, você vai sair andando e me deixando sozinho. Não quero conversar se for deixar a insegurança falar por você.

—Só falta você me chamar de mimada. — resmungou, tomando um pouco da água na taça na minha frente.

Eu reagi de forma inesperada para ela. Apenas ri. Ela me olhou indignada.

—Desculpa. Mas era, exatamente, o que eu estava pensando. — tentei segurar o sorriso.

Seus olhos ficaram marejados e isso acabou comigo. Vê-la chorar era maldade com meu coração. Bem ao longe comecei a ouvir uma melodia. Um cantor jovem começava a se apresentar num pequeno palco, ao lado de um piano. A voz melodiosa me fez sorrir, enquanto os olhos dela ainda se umedeciam.

—Passamos do início de uma discussão, para uma risada. É um avanço? — perguntei.

Elena me lançou um olhar duro, e negou com a cabeça.

—É um retrocesso. – ela respondeu dura.

—Acho que vou desistir. — confessei num sussurro.

Suspirei realmente cansado e o silêncio que se seguiu foi bem incômodo. Fomos interrompidos um tempo depois pelo garçom com o prato de entrada. Eu estava, completamente, sem fome. E pelo visto ela também. Apenas desistimos de comer e nos encaramos.

—Pensei sim em te procurar. Uma vez. Quando Jeremy nasceu, mas desisti.

Seu rosto assumiu uma expressão preocupada.

—Porque desistiu? — perguntei, enrugando o cenho.

Um calafrio percorreu toda minha espinha, pelo nervosismo.

—Tinha medo de... você...

—Medo de que?

—De perder meu filho. – rosnou entre dentes.

Pensei por um minuto que se fosse mentira, ficaria óbvio em seu olhar. E não parecia de jeito nenhum que ela estivesse mentindo.

—Ainda tem medo que eu o tire de você?

—Sim. — ela disse numa voz fininha — Eu fiquei um tempo no hospital porque tinha indícios de perdê-lo...

—Perder? Tipo...

—É.

Eu resmunguei mais algumas perguntas, mas como sempre, ela hesitou e não me deu uma resposta. Ela nunca responderia nada pra mim, se abrir comigo era um longo caminho que teríamos que trilhar novamente, e levaria certo tempo. Só que agora tinha um ser a mais na nossa trilha, e com Jeremy não poderíamos admitir nenhum erro.

—Você não vai falar comigo?

—E pra isso meu psicológico precisa ir pro inferno? — rosnou, saindo do controle.

Nessa hora, o garçom parou ao lado da mesa e estranhou seu tom de voz, saindo em seguida com o rosto assustado. Ótimo, ela ainda assustou os funcionários.

—Acho que... — afastou a cadeira já se preparando pra sair — é melhor ir embora.

Ela tentou levantar da mesa, o mais discretamente possível, mas então eu levantei junto, passei um de seus braços pela sua cintura e a arrastei os tropeços por entre as mesas, até uma pista onde alguns casais dançavam. Não, ela não ia fugir de mim! Não nessa noite.

—Ainda não terminei! — sussurrei, quando me pus de frente para ela.

Nunca fui o melhor dançarino da face da Terra, mas eu sou bom, modéstia parte.

Uma música enjoada tocava ao fundo. Elena até tentou fugir de mim, me olhando com um misto de indignação e surpresa, mas ela já fizera isso muitas vezes antes; e dessa vez eu não ia permitir. Ela teria que me escutar, não importava o quanto isso fosse incômodo para ela.

—Você está louco? — rosnou com os olhos brilhando pela raiva, e as lágrimas que há pouco, os umedeciam.

—Acho que esse é o único jeito de te manter aqui e quieta.

Comecei a me movimentar de acordo com a melodia. Lentamente de um lado para o outro. Ela tentava fugir de mim, mas eu acabava abraçando-a com mais força. Aquilo estava começando a ficar engraçado.

—Babaca! — ela disse entre dentes.

Eu ri e fiz com que e fiz com que ela passasse um de seus braços em volta do seu pescoço. Tomei consciência do quão quente estávamos. Seu vestido deixava que todo seu calor passasse para meu rosto próximo de seu peito, me causando um calafrio.

—Seria bem fácil te estrangular agora. — ralhou de novo.

—Você não aguentaria o peso na consciência. — provoquei sorrindo.

Uma nova canção começou a tocar. Talvez ela não lembrasse, mas eu recordava bem daquela música na nossa vida. Eu havia encontrado um disco por acaso numa loja brasileira, e quando entendi a letra era perfeita e mostrei a ela. Elena também amou, e nos anos que se seguiram, ouvi aquela música repetidas vezes apenas lembrando de seu sorriso ao ouvir aquela linda canção.

—Te levo para casa assim que terminar essa dança se ainda quiser ir. — disse com prepotência.

—É claro! — debochou com certeza ainda com raiva de mim.

Aproximei meu rosto do seu lentamente. Engoli em seco ao sentir seu perfume, fazendo meu sangue correr mais depressa. Como eu podia ser tão idiota? Odiar e me fascinar tanto com essa mulher ao mesmo tempo?

—O que ainda quer? — a resistência de Elena caiu por terra. Dava para ver isso em seu olhar.

Não sei por que você se foi

Quantas saudades eu senti

E de tristezas vou viver

E aquele “adeus” não pude dar...

Toda a saudade que senti quando a vi de novo, se separou do rancor, na hora que colei sua testa com a minha. E eu não teria como fugir daqui por diante.

—Tantas coisas, Lena. Quero tantas coisas... Demoraria uma eternidade pra enumerá-las. Mas a minha prioridade é seu perdão.

E eu!

Gostava tanto de você

Gostava tanto de você...

—O que? — ela gaguejou. Sério que ela não acreditava em mim?

Suas orbes marrom expressavam confusão. Uma confusão que eu entendia muito bem.

—Eu sei que você esperava muito mais de mim...

—Eu não esperava nada de você! — exclamou nervosa me contrariando.

—Esperava que eu ficasse por você. Esperava que eu arriscasse o mínimo que fosse por nós, e eu simplesmente não correspondi suas expectativas. E eu sei que isso dói em você tanto quanto dói em mim.

Não quero ver pra não lembrar

Pensei até em me mudar

Lugar qualquer que não exista

O pensamento em você...

Os olhos dela ganharam vida tamanha sua surpresa.

—Damon... — as palavras pareciam presas em sua garganta. — Eu não sei se...

Meus olhos ardiam diante da indecisão e descrença dela. Abaixei meu rosto, encostando o nariz na bochecha dela, fechando os olhos na intenção de esconder as lágrimas que insistiam em atrapalhar minha visão.

—Entendo! — completei.

Eu queria desesperadamente o perdão dela. Queria que ela não tivesse raiva de mim. Porém talvez não fosse a hora. Logo as palavras de Alaric — em seu único momento de sabedoria — me encheram os ouvidos.

Ela não pode me ouvir por um segundo?

Já pensou que ela pode não estar pronta? ele perguntou parecendo inteligente uma vez na vida. Pelo que você fala, ela é meio difícil de lidar. Talvez ela não esteja pronta nem pra te ouvir, muito menos pra te perdoar.

Ela realmente podia não estar pronta para me ouvir. Mas eu queria, e muito, que ela estivesse pronta para me perdoar.

Senti que ela suspirou no meu ouvido, e uma lágrima escorreu pelo meu rosto — contra minha vontade.

—Te perdoo. — respondeu num fio de voz.

E eu!

Gostava tanto de você

Gostava tanto de você...

Levantei o olhar, pude ver o reflexo do meu sorriso expresso em seu mar chocolate. Ela apoiou uma das mãos em meu peito. Minha pulsação acelerou com aquele simples toque, e como minha camisa era fina, tenho certeza que ela pôde sentir também.

—Bem, Elena, eu acho que... — olhou de novo para minha boca — que... — tinha perdido o fim da meada.

Só conseguia fitar seus lábios a centímetros dos meus.

—Acha que...? — ela tentou fazer com que eu recomeçasse.

—Me esqueci! — respondi sincero, me aproximando.

Não sei se foi saudade ou o amor que eu sentia por aquela mulher que falou mais alto, mas quando percebi meus lábios já roçavam o seu com delicadeza. Foi como se a vida voltasse aos meus pulmões.

Primeiro a testei, pedindo permissão. Um toque leve e que ao mesmo tempo me fez dar conta do quanto eu sentia saudade daquilo. Afastou-se um pouco em seguida e tive certeza — apesar de estar com olhos fechados – que ela me avaliava. Deve ter encontrado algo que a encorajou, pois nos uniu mais uma vez e com mais vontade. Passei o meu outro braço, antes jogado ao lado do meu corpo, envolta de sua cintura, abraçando-a. Nossas bocas se moveram bem devagar, lembrando de cada pedaço uma da outra, até que seu hálito quente me atingiu e eu quase perdi o controle. Levando em consideração que Elena havia continuado o beijo, segurei-a mais firme, puxando-a de encontro ao meu peito.

—Subestimei o tempo. — confessei. — Sempre achei que nunca esqueceria como era isso, mas agora vejo que as lembranças não fazem jus ao poder que ainda tem sobre mim.

Vi uma lágrima querer escapar de suas duas bolas marrom, naquele momento mais intenso que nunca, mas ela a segurou firme. Achei que o tempo seria meu aliado me fazendo esquecê-la, porém apenas aumentou ainda mais minha vontade de tê-la. Eu estava feliz por tê-la completamente louca em meus braços e não me importava nem um pouco, se nos próximas horas ela quisesse me matar.

Como diria em outros tempos: “Estava no inferno e queria me queimar”. Então, sem pensar duas vezes, voltei a beijá-la. Seu gosto me inebriou, enquanto disputávamos por espaço na boca um do outro.

Nos afastamos quando o ar acabou. Colei sua testa na dela e fiquei sorrindo com os olhos fechados, voltando a nos balançar no ritmo da música. Olhei para um lado, por um instante, e vi outros casais dançando com sorrisos estampados no rosto e um ou outro se beijando.

Abri os olhos, e puxei seu rosto para cima. Seus olhos estavam assustados.

—O que houve meu amor? — perguntei, secando a lágrima que teimava em descer pelo rosto dela.

Não conseguia entender. Eu poderia concluir que eram lágrimas de felicidade, mas a testa franzida denunciava sua confusão. Por que ela não podia se deixar levar pelo sentimento que nutríamos um pelo outro?

—Elena, eu...

—Nosso tempo acabou. Será que ainda não se deu conta? — tirou minhas mãos de sua cintura, e voltou a andar na direção da saída como fazia antes de eu puxá-la para dançar.

—Elena?! — segurei seu braço — Mas o que...

—Me solta, por favor? — ela sussurrou para não chamar mais atenção — Essa idiotice toda nem deveria ter começado. Me submeti a tudo que queria. Já chega, não? Já tem o seu perdão. É o suficiente para dormir em paz à noite. — ela rosnou, puxando seu braço e saindo de vez.


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Notas finais do capítulo

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