Acho que vai nevar. escrita por Lolla


Capítulo 8
Solidificação.


Notas iniciais do capítulo

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Antes que eu pudesse usar de toda a minha sanidade e coragem repentina e me declarar claramente a ele, já estávamos dentro de um táxi indo para minha casa, resolvi que apenas iria, calada e aceitar que com exceção da Mel, ninguém jamais iria me querer por perto, de longe sou uma problema, pra vida de qualquer um. Naquele longa trajeto constrangedor e quieto, tive tempo para pensar na minha vida, e em mim, e em como eu deixei tudo isso acontecer, bebedeiras, frustrações, amores que eu nunca tive, e cheguei a conclusão de que a Mel é quem tem razão, manter distância quer dizer manter a saúde mental. A partir daquele instante eu seria a Mel, com toda aquela coragem e força que ela tem, e com toda aquela vontade que brilha nos seus olhos.

– Pare o carro. - Eu nunca falei nada tão direto e decidido quanto aquilo.

– O que foi ? Está tudo bem ?

– Não, quer dizer, sim, está tudo ótimo, nunca estive tão bem na minha vida. Eu desço aqui, preciso ficar sozinha.

Sem ao menos esperar por qualquer reação, com o carro ainda em um movimento bem lento quase parando, desci do carro, fechei meu casaco e resolvi que iria para casa sozinha, em pé, e sóbria, pelo primeira vez em anos. Logo após o barulho da porta fechando, que eu fiz, ouvi uma segunda batida.

– O que você está fazendo?

Era ele vindo até mim, em passos apressados.

– Olha, eu vou falar claramente e você como engenheiro que é, vai entender..

Eu olhei e seus olhos, com uma mistura de soberba,coragem e decepção.

– Nós, não temos, nem tivemos nada, eu tentei e você, assim como todos os outros homens que entraram na minha vida, me rejeitaram. Por anos implorei pelo amor de qualquer um, até que hoje não me sobrou nada além do frio e da humilhação. Então, você vai tomar o seu rumo, me deixar em paz e esquecer que nos conhecemos.

Dei as costas para ele,esperando por um abraço, um beijo, um puxão, qualquer coisa, que , infelizmente ele não deu. Engoli seco mais um dos meus devaneios frustrados, e andei firme e decidida até a minha casa. Já estava claro quando cheguei, Mel estava descendo as escadas quando me viu entrar. Ficou surpresa ao me ver sóbria e sem ser carregada para dentro.

Mas ninguém conseguia me ler tão bem quanto ela. e desse modo, ela percebeu que eu estava irritada e que precisava ficar sozinha. Subi as escadas e sem falar nada, entrei no meu quarto. Arranquei todas as fotos das baladas,festas e tudo mais que eu tinha na parede, joguei todas elas em um latão de alumínio e as queimei no quintal de casa. Todos os presentes de caras escrotos que ja me apaixonei foram direto para o fogo, junto com as cartas, poesias que eu nunca entreguei. Tirei do meu quarto tudo que me fazia lembrar do que eu era antes e do que permitia que fizessem comigo. Joguei tudo fora, inclusive minha alma.

Fechei a janela do quarto, com a cortina, abracei um travesseiro e chorei. Chorei como uma criança de dois anos ao perder a sua chupeta, chorei coisas que eu deveria ter chorado na infância, na adolescência e até mesmo as feridas que eu sabia que jamais se fechariam. Chorei por duas horas, a fio, só eu, minha cama, e um travesseiro. Eu podia sentir que um peso que eu nunca achei que estava carregando saindo de mim, das minhas costas e até do meu peito, eu podia até mesmo ouvir que meu choro era algo além do resultado de uma ou duas frustrações,meu choro era uma um desabafo que eu jamais tive coragem de fazer.

Quando sai do quarto, com meu rosto já não mais inchado e meus olhos secos e normais, Mel ja havia saído de casa. Desci as escadas e fui até a cozinha, onde havia um bilhete da Mel, como sempre, escrito com canete rosa com aroma de morango.

" Não se esqueça que o resultado das notas saem hoje logo após as 13:00".

Perfeita, ela sabia até mesmo o meu cronograma acadêmico. Eu não precisava de mais ninguém, se não dela,


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