Tudo É Possível escrita por Nena Lorac


Capítulo 6
6 - Ele Sempre Foi Normal


Notas iniciais do capítulo

"Seja livre! Liberdade não é um luxo, e sim, um direito."



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/605743/chapter/6

“Quando eu abri a porta, eu não esperava que a pessoa que Francis trouxera para casa, mudaria o meu estilo de vida. Eu sabia que toda vez ele se encontrava com um amigo nos inícios e fins dos dias, mas quando ele o trouxe, sendo que o garoto estava em seus braços, eu meio que entendi a situação.

Francis sempre tivera um bom coração, e depois da morte do pai, esse garoto, que até o momento, eu não tinha conhecido, veio para deixa-lo mais alegre. E quando eu vi que aquela criança se encontrava suja, chorando e com as pernas machucadas, eu não tive outra escolha.

– Coloque ele para dentro, Francis.”

3 ANOS DEPOIS

O sol dava sua graça mais uma vez. Os raios solares batiam nas janelas e a luz se expandia nos cômodos. E um desses raios, acertaram o rosto de Francis. Talvez, isso servisse para lembra-lo que teria que ir para o colégio. Então ele não enrolou muito para levantar. Ele sabia que sua tia odiava atrasos.

Quando saída do quarto, Francis passa pelo quarto ao lado do seu, cuja a porta estava um tanto aberta. Ele soltou um sorriso e saiu dali.

Ele saía correndo pelos corredores da casa e foi em direção à cozinha. Deu de cara com sua tia fazendo alguma coisa para ele comer. Logo sentiu um cheiro delicioso. Panquecas.

– Não acredito que a senhora está fazendo panquecas hoje. – Francis riu – Você sabe que elas não vão durar nem dois minutos aqui dentro, não é?

– Se eu soubesse que elas iriam sobrar, eu nem as faria. – ela foi se aproximando da mesa para deixar o prato que estava cheio da deliciosa massa – Você sabe se Matthew já acordou?

– Não. Continua deitado.

– Bem, eu tenho que acordá-lo logo. Ele tem novas coisas a aprender hoje.

– A senhora vai ensina-lo a fazer o que dessa vez? – Francis estava realmente curioso.

– Você sabe que eu preciso ensinar-lhe as matérias da escola já que ele nunca vai poder ir.

– Ele deveria ir. Assim ele conhece pessoas novas e a senhora não tem tanto trabalho.

– Você sabe por que ele não pode ir, não é?

Francis ficou quieto. Infelizmente, ele sabia o principal motivo de Matthew não frequentar uma escola como ele. Ele não arriscaria a segurança de Matthew e a reputação de sua tia o fazendo ir para uma escola. Eles não tinham como provar que sua tia era guardiã legal de Matthew. Ele mora com eles, basicamente, de favor.

Matthew não tem documentação. Não tem como provar que nem ele mesmo se chama Matthew. Imagina provar que ele pode ser um estudante sem nem uma certidão de nascimento! Até os últimos aniversários de Matthew foram comemorados em dias incertos.

O dia que Francis o trouxe até a sua casa. Esse era o dia do aniversário de Matthew.

– Bem, eu vou busca-lo.

– Tudo bem. Eu vou arrumar o prato dele.

Um pouco triste, por ter que admitir mais uma vez que Matthew nunca iria para o colégio com ele, Francis coloca as panquecas no prato. Depois que ele terminou de arrumar o prato do mais novo, ele deu uma boa olhada na quantidade de pedaços que tinha colocado. Era mais do que ele comia. Não conseguia entender como Matthew podia comer tanta panqueca. Parecia que era uma droga perto dele.

Ele ajeitou os cabelos compridos para trás e amarrou com um elástico que estava preso em seu pulso. Estava esperando sua tia retornar para que todos pudessem tomar café juntos.

– Bom dia, Francis! – Matthew parecia contente.

– Bom dia! Você dormiu bem?

– Sim. Tive um sonho muito legal.

– E o que você sonhou, querido? – a tia de Francis perguntou.

– Que eu podia andar novamente.

A tensão ficou grande na cozinha logo de manhã cedo. Os dois sabiam que esse tinha se tornado o grande sonho dele após esses três anos de convivência. Mas vendo os fatos, era impossível ele voltar a andar.

Com muita custa, eles conseguiram convencer Matthew a ir num hospital e fazer exames sobre a situação dele. E os resultados foram mais do que óbvios. Ele não tinha como voltar a andar. Mas eles nunca foram pessimistas com ele. Sempre falavam que os seus sonhos iriam se realizar. Bastava ele acreditar e lutar por isso.

– Que bom que gostou do seu sonho, querido. – ela comentava isso enquanto empurrava a cadeira de Matthew para próximo da mesa. – Agora vamos tomar café.

– Obrigada, senhora Bonnefoy.

– Matthew, a tia fez panquecas hoje! São as suas favoritas.

Ele ficou animado para comer. Talvez isso fizesse eles esquecerem o que ele comentou logo de manhã cedo, mas os comentários só estavam começando.

– Senhora Bonnefoy?

– O que foi, querido?

– Quando eu vou para o colégio com o Francis?

Ela soltou um suspiro. Sabia que Francis gostava de colocar essa ideia na cabeça de Matthew. Mas nunca esperou que o próprio fosse perguntar isso. Ela só se virou e tentou responder que não tinha como ele ir para o colégio com Francis.

– Então eu não posso deixar Francis no colégio?

– Como assim? – agora ela tinha ficado surpresa com aquela pergunta.

– Eu posso acompanhar Francis até o colégio e depois voltar.

– Ele pode, tia?? – Francis se animou com a ideia.

– Crianças! – ela elevou a voz – Matthew quase não sai de casa. Como ele vai te deixar no colégio e depois voltar sozinho?

Francis voltou a ficar um pouco triste. Ele sabia que devido ao fato de Matthew estar sempre em cima de uma cadeira de rodas, a vida nunca seria fácil para ele. Ele nunca poderia fazer coisas “normais” que crianças fazem. E mesmo ele não se importando muito com isso, ele sabia que isso afetariam Matthew alguma hora ou outra. Ele só queria o melhor para ele. Mas Matthew nunca pensou que ele fosse incapaz desde que começou a morar com Francis e sua tia.

– Eu volto sozinho. Só porque estou numa cadeira de rodas, não signifique eu seja bobo. Eu vou saber voltar para casa.

Quem sabe se aos poucos, forem dando mais liberdade para essa doce criatura, ele se torne uma pessoa mais normal. Talvez assim, a vida dele melhore mais. Ele só precisava de uma resposta para tentar mudar isso, e ela logo veio quando a senhora Bonnefoy cedeu.

– Se demorar demais para voltar, não faço mais as suas panquecas.

– Não se preocupe. Qualquer pessoa normal sabe o caminho de casa.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

A partir daqui. começa os desafios do Matthew em relação ao seu estado.

Pra quem não sabe, eu tenho muita gente na família que é "deficiente" (não gosto de usar essa palavra). Então eu sei bem como é a luta deles para conseguir um pouco de liberdade perante os familiares. As vezes, é um pouco difícil de acreditar que eles consigam fazer alguma coisa. Mas todos são pessoas normais. E como qualquer pessoa, eles querem viver a própria vida.