Tudo É Possível escrita por Nena Lorac


Capítulo 2
2 - Objetivos Desafiados


Notas iniciais do capítulo

"Incapacidade é algo que está na mente, e não no corpo... mas o corpo pode influenciar até demais na nossa mente."



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Aquele dia estava mais brilhante e quente do que o anterior. Se desse para fazer uma comparação, aquele dia estaria sorrindo.

Matthew observava o céu azul e algumas gotas pingando na sua frente. Ele tirou os panos surrados da parte superior do seu corpo e deu uma espreguiçada. Ele estava preparado para mais um dia. Ele nota que o grupo de crianças mais novas que ele, passam em frente ao beco. Aquelas crianças já se tornaram familiares, mesmo que só para Matthew. Após quatro meses de convivência naquele lugar, há coisas que já ficaram rotineiras. As crianças eram uma dessas

Matthew apenas as observou por um tempo, elas estavam sorrindo. Coisa que ele já não fazia mais a tanto tempo. Mas gostava de ver os outros sorrindo, e isso lhe fazia bem de alguma forma. Logo em seguida, passam duas senhoras conversando. Elas também já eram familiares, afinal, elas que levavam comida para ele.

– Como você está hoje? – uma delas perguntou.

– Estou bem. Obrigado por se preocupar.

– Imagina. – a outra responde – Esperamos que você encontre um lar logo. – ela lhe entrega uma sacolinha plástica com alguns biscoitos, um sanduíche e um suco.

– Obrigado. E desculpe eu incomodar vocês duas.

– Não se preocupe com isso. Só queremos o seu bem. – elas fizeram um carinho na cabeça do garoto e seguiram o seu rumo.

Ele não queria ficar dependendo da ajuda dos outros, mas era o que dava para se fazer no momento. Ele só precisava de um plano. E cada dia ele tentava pensar em alguma maneira. Um dia após o outro com o mesmo objetivo. O único objetivo que ele tinha traçado desde que acabou por ficar naquele beco. O de sobreviver.

Matthew queria arranjar algum trabalho. Porém, ele era fraco e pequeno. Sem mencionar o fato de ser criança. Ninguém o contrataria por causa disso. Nem para trabalhos simples como entregar jornais, ser um assistente de alguma lojinha de conveniência ou alguma coisa parecida.

Ele encarava as suas pernas, ainda cobertas pelos panos surrados, e começava a sentir um mal-estar. Ele sabia o real motivo de não poder fazer nenhum desses trabalhos simples.

Nos seus poucos anos de vida, que não somavam nem dez anos direito, ele nunca pensou que se encontraria num estado tão ruim quanto ele realmente está. Mas ele só poderia aceitar e nada mais. A única coisa boa de tudo que aconteceu foi dele ter encontrado um lugar escondido e seguro dos hospitais. Era um dos poucos lugares que Matthew não sonhava mais em retornar.

– Eu me tornei tão inútil sem vocês... – ele apertava os panos que cobriam suas pernas – Tenho saudades.

Mesmo estando sentado, ele tentava se aproximar mais da entrada do beco esticando o seu tronco. Ele ouvia barulhos de corrida. Tinha alguém muito apressado. Será que era algum estudante do ensino médio que se atrasou para a aula?

– Você ainda está ai? – Francis perguntava, ofegante – Pensei que tivesse ido para algum outro lugar!

Matthew estava surpreso com aquela visita. Ele realmente pensara que Francis estava apenas brincando no dia anterior. Mas ele ficou extremamente feliz ao vê-lo indo em sua direção. Pensou que pudesse até ser um sonho, de tão improvável que aquilo estava sendo.

– Eu nunca saio daqui.

– Mas deveria. Aqui é escuro e assustador.

– Mas eu gosto daqui.

– Bem, é você quem sabe. – Francis senta ao seu lado e levanta uma sacola plástica com a mão direita – Eu acho que você deve estar com fome... – ele olha para a sacola que está ao lado de Matthew - ... ou não!

– Foram as senhoras que moram aqui perto que me trouxeram um pouco de comida.

– Elas veem aqui todo dia?

– Sim.

Francis parecia pensativo depois daquela resposta. Ele abriu a sacola que trouxe e puxou dois sanduíches, sendo que deu um para Matthew. Depois pegou uma pequena garrafa térmica e a balançou um pouco para ouvir o líquido que ali estava.

– Vamos tomar café da manhã! – Francis sorriu para ele.

– Obrigado.

E contra todas as possibilidades que ele tinha criado em quatro meses de convivência naquele local, ele conseguiu um amigo. Alguém que sorria para ele sem se importar com mais nada. Tudo era maravilhoso. Pelo menos, aqueles momentos ao lado de Francis eram maravilhosos. Esses momentos borravam as coisas do passado. Coisas que ele queria esquecer, mas eram difíceis.

As vindas e idas de Francis se tornaram mais frequentes depois de algum tempo. Já tinha se passado quase um mês, e ele ia todos os dias, de manhã cedo, para tomar café com ele, e todos os fins de tarde, levando alguma coisa para os dois jantarem. Eles nunca mudavam o local. Sempre era aquele beco escuro e sombrio. Mas era o local deles. E foi assim até Francis ficar curioso.

– Por que você nunca levanta?

– O que? – Matthew se assustou um pouco com a pergunta.

– Sabe, você vive sentado. Por que nunca levanta?

O jovem Matthew não queria falar a verdade para Francis, mesmo que ele já estivesse confiando nele como um grande amigo. A questão maior é que ele não queria lembrar das coisas que passou, e se contasse para Francis tudo viria à tona. Mas ele não poderia mentir.

– Porque eu não consigo mais fazer isso.


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Notas finais do capítulo

Agora entenderam a capa, né?



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