Tudo É Possível escrita por Nena Lorac


Capítulo 1
1 - O Primeiro Contato


Notas iniciais do capítulo

"As amizades surgem dos lugares mais inusitados possíveis... com os mais diferentes tipos de pessoas."



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Aquela voz parecia muito calorosa, mesmo num temporal daqueles. O garoto mais novo, sentado sobre grandes placas de papelão, com alguns trapos enormes cobrindo suas pernas, soltou um sorriso enquanto me oferecia um de seus panos, horrivelmente castigado com o tempo, para eu me aquecer.

– Você está com frio? – o ouvi um pouco mais atentamente.

– Não muito...

Aqueles olhos de cor brilhante e diferente não paravam de segui-lo. Ele não consegui entender ao certo o que ele planejava. Um garoto sujo que morava no beco. Era a última coisa que ele sonhava em ter naquele dia. Já estava com problemas maiores, e um sem-teto era para fechar com chave de ouro aquele tempo chuvoso e sombrio.

O garoto continuava sentado, e depois de um tempo, abaixou a sua mão pois tinha percebido que o garoto maior não estava interessado. Então ele voltou a olhar para baixo, segurar os trapos que cobriam as suas pernas e ria uma hora ou outra.

Francis começou a esfregar suas mãos com o intuito de aquece-las. O frio agora era inevitável, mas ele não queria demonstrar fraqueza perto do outro garoto. Ele só desejava que a chuva cessasse logo e que ele pudesse fugir por mais algum tempo.

– Bem... – o jovem sem-teto tentava puxar assunto – o que aconteceu para você pegar essa chuva?

– Não sei.

– Entendo... E o que você vai fazer depois que ela passar.

– Não sei.

– O meu nome é Matthew. Qual é o seu?

– Não sei.

O garoto tirou o sorriso do rosto e abaixou novamente a cabeça. Acho que ele ficou um pouco magoado e percebeu como estava sendo um pouco irritante. E mesmo que a culpa não fosse dele pelo outro estar irritado, ele começou a lacrimejar, mas escondia esse fato do menino mais velho.

Já tinha se passado mais de meia hora e aquela forte chuva não acabava, e por não se aguentar mais em pé, Francis sentou no chão. Matthew tentava ser agradável e ofereceu mais uma vez o seu pano para que o mais velho pudesse se aquecer.

– Pegue... Eu sei que ele não está tão bom assim... mas pelo menos vai se aquecer.

– Você é muito insistente... e chato. – ele pega o pano velho – O que faz aqui? Não deveria estar com a sua mãe que é melhor?

– Sim... é melhor. – Matthew tentava manter um sorriso no rosto.

O clima da conversa tinha mudado de repente. Será que Francis tinha dito alguma coisa errada? Pois o garoto demonstrou sua tristeza ao evitar que algumas lágrimas caíssem de se rosto. Acho que ele acabou sendo um pouco insensível demais também. Ele ficou por mais algum tempo ao lado daquela criatura esperando a chuva passar, e quando percebeu que já tinha passado mais de duas horas, ele começou a entrar em desespero.

Talvez fugir de casa, depois do ocorrido, tivesse sido uma péssima ideia. Francis começou a chorar. Ele não queria ficar mais sozinho. Não suportava ficar mais sozinho daquele jeito. Ele abraçava seus joelhos e murmurava algumas palavras que Matthew não conseguia ouvir. Ele ficou preocupado.

– O que aconteceu? Por que você está chorando?

– É que... – ele precisava dividir isso com alguém - ... eu soube que o meu pai morreu!

Matthew tentava pronunciar alguma coisa, mas ficou calado. Ele sabia que o garoto mais velho precisava falar. Pelo visto, ele precisava falar muito!

– Ele foi embora... e não prometeu o que combinamos! – Matthew ouvia atentamente – Ele disse que ficaria para sempre comigo! Ele mentiu para mim! Que eu era a pessoa que ele mais se importava no mundo... que ele sempre me amaria e nunca me deixaria sozinho!

Francis percebeu o que ele tinha acabado de falar, e foi logo pedindo desculpas a Matthew por ficar ouvindo ele falando essas coisas que não o interessavam. Matthew apenas disse que ele não se incomodava de ouvir. Ele ficava até feliz por alguém dividir algo assim com ele.

– Não se preocupe. Você não está sozinho nisso. – Francis encarava o rosto de Matthew e percebia que ele finalmente deixava escorrer as lágrimas.

Será que aquele menino tinha sofrido tanto quanto Francis? Mas ele era apenas um garoto. O que mais ele poderia ter passado na vida além de ser uma pessoa sem-teto?

Mas Francis tentava ignorar os pensamentos precipitados que ele estava fazendo de Matthew. Ele deixou de lado um pouco o seu orgulho de criança que ainda restava e tentava esquecer o sofrimento que tinha descoberto ao chegar em casa, mas antes, ele começou a contar toda a história que se passava naquele dia.

Contara que seu pai era um bravo militar, e que alguns meses atrás, tivera sido convocado para um serviço especial no Iraque. E que antes de ir, tinha feito uma promessa para ele que retornaria da batalha e que nunca mais iria se separar dele. Ele mencionou que quando chegou na casa de sua tia, ela estava aos prantos, e que não sabia como dar a notícia. Então ele pegou o papel que ela tinha deixado em cima da mesa e começou a ler a carta das condolências destinado a sua família.

Ele não tinha suportado saber daquilo e fugiu.

– Você queria fugir para onde?

– Não sei... talvez para um lugar mais próximo do céu.

– Por que?

– Para tentar falar com ele.

Os dois começaram a conversar muito depois disso. Francis até disse seu nome para ele e a sua idade. Matthew até se surpreendeu que o garoto era apenas dois anos mais velho que ele. Ele parecia ser mais velho do que ele pensava. Talvez fosse o cabelo comprido. Mas ele gostava de falar com ele.

Francis conseguiu soltar alguns sorrisos depois de falar o que estava acontecendo com ele. Talvez ele só precisasse de alguém para ouvi-lo. E depois de alguns minutos, a chuva cessou e Francis decidiu voltar para casa. Sua tia deveria estar muito preocupada.

– Melhor você aproveitar e voltar logo.

– Melhor você voltar para seus pais também.

– Sim... voltarei logo.

– Bem... até outro dia.

– Você vai voltar aqui?

– Sim.

Matthew soltou um sorriso. Ele finalmente tinha arranjado um amigo depois de tudo. E enquanto Francis acenava o braço para se despedir, Matthew se mantinha no mesmo lugar, sentado, e se despedia acenando o braço também.

Depois de 4 meses, ele voltou a sorrir.


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Notas finais do capítulo

Fim do primeiro capítulo!
Eu espero que tenham gostado~



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