Por um momento senti meus pés presos ao chão. De todas as situações em que eu pudesse escolher para encará-los, essa definitivamente era a pior, mas infelizmente era a única por hora. Fui caminhando lentamente por aquele corredor imenso, com cheiro de desinfetante, passando porta por porta e imaginando que tipo de infortúnio elas estariam escondendo.

180, 181, 182..

Aquele lugar me remeteu a uma lembrança, a única que eu tinha daquele lugar: foi da última noite em que vi meu pai. Só lembro-me de vê-lo de longe, sendo algemado pela polícia. A lembrança seguinte era de minha mãe, em algum leito desse mesmo hospital, sendo atendida após ser agredida por aquele que há muito lhe prometera amor eterno, e que estaria preso até hoje, pagando por essa e pelas outras vezes em que a agredira sem um motivo aparente, se ela própria não tivesse retirado a queixa.

Sacudi a cabeça na intenção de mandar todas aquelas lembranças para longe, quando então notei onde já me encontrava: Quarto 205, dizia a pintura na porta bem a frente de meus olhos. Me preparei para bater, quando ouvi um barulho na fechadura e ela se abrira bem a minha frente. Aquele que saía distraído do mesmo levara um susto imenso ao me ver, e não podia ser diferente... era Gerard.

Enquanto ele apenas me fitava com os olhos que expressavam um imenso cansaço arregalados, eu procurava pela palavra certa a dizer, mas a única coisa que consegui foi prolongar ainda mais aquele terrível e agoniante silêncio que nos rodeava.