The Faberry Mission escrita por Jubileep


Capítulo 46
Capítulo 46 - Endgame?


Notas iniciais do capítulo

HEEEEEEEEY PESSOAL. CHEGOU. O. DIA.
O FINAL DE UMA FUCKING ERA.
SADFGHJ RUFEM OS TAMBORES.
Quem me seguiu no tt (@jubileep21), respondam esse menino tweet: https://twitter.com/jubileep21/status/748624166845358080 THANKS

Espero que gostem, xuxus


tt: jubileep21



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 Quinn navegou pelos olhos de Rachel por mais tempo do que talvez devesse, apertando a carta presa em seus dedos, com medo de abri-la, temendo que não tivesse a mesma coragem que a baixinha tivera em ler a sua.

Alguns minutos atrás ela acolhia Kaitlin em seus braços em um momento bem dramático, agora ela lidava com seu amor, na porta de sua casa, lhe olhando e suplicando por ouvir um “me desculpa” escapar pelos seus lábios, num momento que prometia ter ainda mais carga emocional.

Suspirou.

Rachel fechou os olhos e apertou a mão de Brittany, ainda entrelaçada na sua. A loirinha de olhos azuis cujo coração pertencia à Santana controlou-se para não gemer de dor quando a menor pressionou seus dedos, mordendo o lábio inferior de modo agoniado.

— Eu... Eu vou para o carro. Acho que ouvi Kurt me chamar. – Disse, soltando Rachel, que mostrou certa relutância em lhe largar. Os olhos da cantora se arregalaram, deixando claro o quão atônita se encontrava por ser abandonada por Brittany.

— Kurt não te chamou. – Quinn disse, sem pensar.

— Finn chamou. – A maior sorriu amarelo, dando passos cada vez mais largos em direção ao carro de Hummel, sem olhar para trás.

A ex-capitã das Cheerios engoliu em seco e mexeu a perna com certo desconforto, olhou por cima do topo da cabeça de Berry e espiou o quarterback no banco de passageiro do carro de Kurt Hummel.

— Finn te ajudou com a carta? – Indagou, arqueando as sobrancelhas como uma digna Fabray.

— Sim. Mais ou menos. Não é como se ele ajudasse muito. – Respondeu, morrendo internamento de ansiedade. A ex-namorada ia realmente apelar para rodeios e demorar séculos pra ler as palavras que escrevera?

— Eu não imaginei que ele fosse... Ajudar. Digo, que ele conseguiria...

Rachel estremeceu, sem saber se suas pernas aguentariam o papo furado de Quinn. Ela poderia desabar a qualquer momento, seus membros tremiam; logo ela estaria no chão tendo uma convulsão.

E Lucy Quinn Fabray seria a culpada. Leia a maldita carta!

— Então... Você vai pedir desculpas?

— Rachel... Eu... – Suspirou, pela décima vez dentro de cinco minutos. – Só um minuto. Eu preciso fazer algo... Eu preciso fazer algo antes.

 Quinn sentiu os olhos se encharcarem de lágrimas, sentiu a mente gritar sobre o quão estúpida ela fora por acreditar em Finn Hudson. Ela vira Rachel, centímetros sob ela, com o olhar mais honesto que suas íris podiam expressar.

Ela viu a garota, a única pessoa no mundo que pôde lhe fazer se sentir remotamente bem por ser Quinn Fabray, de mãos atadas, cedendo ao plano de Sue, com uma bandeira branca, querendo desculpas, tendo razão.

E isso fez seu coração quebrar em milhões de pedacinhos, por mais otimistas que suas palavras tenham sido. Algo ainda soava inacabado, algo ainda soava errado.

Ela não queria isso! Ela não queria precisar escrever uma carta, ela não queria precisar ver o olhar piedoso de Rachel Berry. Ela queria estar em sua cama, com a baixinha em seus braços, um filme no DVD e um imenso pote de pipoca apoiado em suas coxas.

Aquela merda toda tinha um culpado... E ele estava ali, comendo jujubas e tomando refrigerante como se o mundo estivesse indo bem, como se aquilo tudo não tivesse sido causado por sua imbecilidade.

A única coisa que conseguira se fixar em sua mente fora o pensamento de que aquilo não podia ficar assim.

Desviou da baixinha desnorteada em sua frente, que lhe seguiu com o olhar que sucumbia ao desespero. Queria parar pra pensar o quão confusa Rachel deveria estar, mas não o fez.

Sua mente estava mais preocupada em ir em direção ao carro de Kurt Hummel, estacionado ao lado da calçada de sua casa. Seus pés afundavam na grama úmida, seu punho estava cerrado, e seu olhar parecia estampar toda a fúria que o mundo podia reunir.

Kurt engoliu em seco, temendo os próximos acontecimentos, embora ansioso para o barraco iminente. Brittany não parecia compreender bem o que estava acontecendo, compartilhando do mesmo olhar desconcertado de Berry.

— Sai do carro! – Gritou Quinn, assustando Hudson que, no mesmo segundo, cuspiu a guloseima da boca, pousou o refrigerante ao lado do banco e lhe fitou espantado. – Eu disse pra sair do carro!

O corpo gigantesco do rapaz se moveu de modo incômodo, mostrando claramente que ele era grande demais para o local onde se encontrava sentado. Hesitante, abriu a porta do carro e saiu com certa lentidão.

— Q-Quinn... – Ele corou, e sentiu seu corpo se arrepiar. Deveria estar com medo, provavelmente, mas tudo que conseguia pensar era se seria uma boa ideia pedir desculpas a ela.

 – Hey, Finn-becil. – Fabray sorriu, como se não estivesse guardando um imenso rancor dentro de seu peito.

— Eu sei que é idiota, mas... Você ainda está zangada? – Indagou, mordendo o lábio inferior enquanto o medo começava a se instalar em seus pensamentos.

— Vejamos...

E o que aconteceu a seguir poderia ser mais bem contado pelo punho de Quinn Fabray, que doía pra caramba e formigava, mas estava contente o suficiente – afinal, Finn sentia a mesma dor em seu maxilar.

Rachel abriu a boca, irritada e surpresa, quando ouviu o baque do atrito entre a mão e o rosto dos dois ex’s. Quando seus olhos e sua mente começaram a trabalhar juntos e processar o momento em si sua perna também começou a funcionar, correndo em direção a uma Quinn disposta a depositar mais socos contra Finn.

Os braços finos da morena envolveram o corpo da outra, dificultando seus movimentos. Não era exatamente assim que ela esperava abraçar Quinn.

— Me solta, Rachel! – Ordenou, com autoridade. Era quase como se ela tivesse esquecido, por alguns segundos, com quem ela estava falando.

— Pare de ser assim! – Retrucou, as lágrimas começando a encharcar seus olhos e rolarem por seu rosto. – Pare de ser tão burra!

Quinn engoliu em seco, seus dedos travaram e seu corpo como um todo se acalmou, sem se inclinar mais em direção ao quarterback de forma violenta. No que seus dedos travaram e, posteriormente, tremeram a carta entre eles caiu na poça de lama ao lado de seus pés.

Umedeceu-se rapidamente, transformando o branco da folha num marrom repulsivo.

— Droga. – Praguejou, tentando recuperar o papel e falhando de forma miserável. – Rachel, eu... Eu não queria que fosse assim.

— Mas foi. Muito obrigada por arruinar tudo. Como sempre. — Revirou os olhos, enquanto seu dedo sucumbia ao ímpeto de limpar as lágrimas que caiam em abundância. – Sério, você deveria tratar essa sua mania de destruição. Pode acabar machucando mais otárias como eu.

Finn e Rachel entraram no carro, Kurt e Brittany boquiabertos, o quarterback com a mão acariciando o próprio rosto e a cantora cedendo mais uma vez ao choro. Quinn engoliu em seco, sentindo seu peito apertar e o arrependimento lhe envolver.

— Rachel! Espera... Eu preciso ler a carta. Espera! – A Cheerio gritava, segurando o papel que pingava gotinhas imundas de lama e vendo Kurt no volante sendo pressionado por Berry.

Não demorou muito para que Quinn perdesse-os de vista, assim como perdesse a oportunidade de fazer as coisas darem certo.

 

 

[...]

 

 

Em meio à confusão que as coisas andavam e aos gritos ininterruptos de Santana sobre o quão idiota Quinn Fabray conseguia ser, a garota que costumava ter uma vida impecável recebeu a notícia de que era uma das finalistas que concorreriam à coroa de rainha do baile.

E em meio a bagunça que estava sua vida e os xingamentos em espanhol fixados em sua mente ela permitiu-se sorrir, por alguns segundos. O sorriso, contudo, se desfez tão rápido quanto aparecera em seu rosto assim que se lembrara de Becky Jackson anunciando as outras candidatas.

Rachel Berry estava entre elas, para sua surpresa e infortúnio.

Não que quisesse a derrota da garota que ainda amava, mas também não queria precisar competir com ela. Não queria ganhar e ter que dançar com qualquer outro rapaz estúpido, embora não quisesse que Rachel ganhasse e dançasse com Finn Hudson – ou qualquer outro rapaz igualmente estúpido.

Enquanto guardava seu material desleixadamente no armário viu, ao longe, uma Rachel cabisbaixa evitar contato visual com a loira, ainda que certamente soubesse de sua presença no corredor.

Era algo audacioso e inconveniente de se fazer, mas, sabendo sua condição já suficientemente desagradável, Quinn permitiu-se rumar em direção à Berry – na esperança mínima de tentar consertar as coisas num corredor lotado e com orelhas sedentas por fofoca ao redor.

— Rachel. Podemos conversar? – Perguntou, sem dar importância se soava extremamente tola ou não. Ela era tola, de qualquer forma.

— Não.

— Por favor.

— Não. Eu tentei conversar... Eu me humilhei, cedi ao plano de duas loucas varridas, eu tentei! Esse relacionamento não pode se mover conforme o que você quer, conforme a hora que você quer conversar. – Decretou, apertando os livros e o fichário rosa contra seu busto.

— Sim, eu sou uma burra. Eu já entendi. Eu estraguei as coisas, mas... Eu estou tentando, okay? – Suplicou, se aproximando cada vez mais de Berry e fazendo a baixinha dar um passo para trás.

— Você sempre estraga as coisas. Não importa o quanto você tente, Quinn. – Deu de ombros, evitando encarar aqueles olhos pelos quais era louca. – Você nunca será minha, e eu nunca serei sua. Talvez a carta caindo na poça tenha sido um sinal do Universo, dizendo que não é pra ser. Talvez nunca tenha sido.

— Isso não é verdade. Se tentássemos mais uma vez... Se você me ouvisse só mais uma vez.

— Não ponha a responsabilidade em mim, Quinn. Não ponha a culpa de não dar certo em mim por não querer te ouvir. Ontem eu te escutaria. Aliás, ontem eu queria desesperadamente te ouvir, e ouvir cada palavrinha que estava naquela carta... Hoje eu não quero mais.

— Por favor. – Seu tom de voz se abaixara bruscamente, quase inaudível.

— Eu estou exausta, Fabray. Se você me quer de volta precisa provar que está pronta pra falar o que sente, precisa provar que está pronta pra que todos saibam sobre... “Faberry”, se é que isso é algo ainda. – Rachel pigarreou, colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha e suspirou. – Eu tenho muitos solos pra treinar, então se me der licença...

 

 

[...]

 

 

— Okay, então basicamente ela te deu a solução pra tê-la de volta e você cagou e andou pra isso, porque preferiu vir choramingar ao invés de pensar em algo. – Santana concluiu, lixando a unha ao mesmo tempo, após ouvir a amiga narrar o ocorrido de mais cedo. – Você me surpreende, Quinn.

— E você é ridiculamente maldosa. – A maior revirou os olhos, resmungando algo inaudível logo em seguida. – O que posso fazer se sou burra, se destruo tudo, se sou a pessoa mais covarde da face da Terra?

— Você tenta provar o contrário. – Lopez deu de ombros. – Eu já estou ficando exausta desse drama Faberry, todos estão; inclusive vocês. Até mesmo Sue deve estar, e ela quem causou tudo isso. Se vocês apenas aprendessem a falar o que sentem e acabar logo com isso... – Bufou.

— Bom, a culpa é minha nessa parte, sou eu quem não sei falar o que sinto. – Quinn lembrou, chateada ao constatar que tudo seria mais fácil se, ontem, ao invés de socar o rosto de Finn Hudson ela tivesse lido a carta.

Não que não tenha adorado socar o rosto do quarterback, mas talvez devesse ter pensado que podia fazer aquilo outra hora e, de preferência, não na frente de Rachel. Por que não leu a maldita carta e tentou esquecer a presença do rapaz?

— Mas não é como se você pudesse me julgar, Santie. – Fabray alfinetou.

— Como assim? Eu não estou mais a fim de Brittany. Aquilo foi só uma coisinha boba que me passou pela cabeça, mas pronto, já foi. Ela é minha melhor amiga.

Quinn não queria acabar com a marca dos cinco dedos de Santana em seu rosto angelical, mas não conseguiu evitar que continuasse com seu discurso motivacional em prol de Brittana.

— Isso não deveria ser o básico pra se namorar? Digo, seu namorado tem que ser seu amigo, mas com beijos e outras coisas.

— Cala boca. Você não tem moral pra falar de namoro. – Revirou os olhos.

— Tenho mais do que você. Rachel se tornou minha melhor amiga e nós namoramos, e estaria tudo bem até agora se não fosse por Finnbecil e sua imensa estupidez. – Argumentou, levantando a sobrancelha. – E então eu, Quinndiota, e minha imensa estupidez. – Suspirou.

— Eu não estou apaixonada por Brittany, pelo amor de Deus. — A latina exclamou, sentindo as bochechas ruborizarem conforme as palavras “eu” “estou” “apaixonada” “por” e “Brittany” saíam de sua boca.

— É uma pena, ela claramente está apaixonada por você.

— O quê?! – Santana, por pouco, não engasgou e morreu ali mesmo 

— Desculpa, Santie... Tenho que ir agora, vou escolher meu vestido para o baile! – Acenou e saiu do quarto da garota, deixando uma Santana estupefata e várias borboletas recém-despertadas voando por seu estômago.

 

 

[...]

 

 

Noite do baile

 

  Quinn saíra de casa da forma mais depressiva de se ir ao baile. Sem acompanhante, sem bracelete de flor, sem namorada e contando apenas com vários elogios exagerados de sua mãe – que por ser sua mãe, logo, era suspeita. Além de tudo isso, fora de táxi e não numa limusine chique como sempre sonhara.

Talvez estivesse pagando pelas crueldades da época em que era uma líder de torcida maldosa, talvez estivesse pagando pelos quase dezessete anos de pecado. Ela só não esperava que fossem tantos pecados.

Sua única esperança de que as coisas poderiam melhorar estava num pedaço de papel guardado cuidadosamente em sua bolsa azul turquesa que combinava perfeitamente com seu vestido, de mesma cor.

Aquela noite ela finalmente falaria para Rachel Berry o que sentia. Sem barraco e, esperava, sem loucuras de última hora. Seu plano era puxá-la para o banheiro enquanto Santana Lopez vigiaria a porta do mesmo, e então desembuchar seus sentimentos mais reais para a baixinha.

Temia que isso não fosse suficiente. Mas temia perde-la para sempre se não desabafasse logo. Não era como se estivesse em posição de escolher o que fazer com opções tão limitadas.

Aproveitou cada minuto de silêncio que tivera durante o trajeto, enquanto todo o seu corpo começava a reagir conforme sua mente processava o fato de que o tempo estava passando, e a hora de tentar consertar as coisas – consequentemente – chegando, e então, logo, não haveria mais silêncio.

Haveria centenas de adolescentes dançando, com roupas de galas, sorrisinhos no rosto e um copo de ponche nas mãos. Haveria um relacionamento para ser arrumado. 

Seu pulmão perdera o ritmo, suas bochechas oscilavam entre um vermelho tão vivo quanto um tomate e um pálido tão branco quanto as suas folhas de caderno. O coração estava acelerado e, ainda que não fizesse um frio extremo, seus dedos tremulavam como se estivesse no Alasca.

Saíra do táxi tentando focar em dar passos decentes com o salto, tentando focar em pelo menos chegar viva na entrada do ginásio. E chegara viva lá, por incrível que pareça, chegara respirando, chegara com uma frequência cardíaca não tão desesperadora.

Mas morrera internamente logo em seguida.

Lá estava ela, tagarelando ao lado de Tina Cohen-Chang e Noah Puckerman e, posteriormente, se abaixando para abraçar Artie Abrams. Lá estava ela, com o cabelo escuro preso num penteado que mesclava um coque com um rabo de cavalo, os fios ondulados caindo próximos ao seu rosto e tocando parte de sua nuca nua.

Lá estava ela, com um vestido rosa bebê que caía perfeitamente em todo seu corpo, que marcava sua cintura e que a deixava mais encantadora do que o usual – se é que aquilo era possível. Lá estava ela, com o gloss rosa e uma maquiagem discreta.

Rachel Berry estava lá, acordando as borboletas no estômago de Quinn Fabray sem nem precisar tentar. Fazendo com que seu mundo caísse, e se levantasse, e caísse de novo. Misturando todos os sentimentos bons e confusos em sua mente, como se estivesse jogando todas as emoções da Cheerio num liquidificador em máxima potência.

A irmã caçula de Kaitlin Fabray respirou fundo, tentando criar uma reserva de oxigênio dentro de seu pulmão em casos de urgência.

— Podemos colocar o plano em ação? – Santana Lopez brotou ao seu lado de supetão, fazendo Quinn quase dar um pulinho de susto. A maior ponderou, engoliu em seco e fez um gesto com a cabeça.

— Sim.

A latina sorriu, animada com aquilo tudo.

— Está pronta? – Inquiriu.

— Não.

— Ótimo!

 

 

[...]

 

 

 

— Não, Santie! Não! Como isso pôde acontecer? Eu... Eu nunca mais vou conseguir! – Quinn desesperou-se. – Essa era a hora de falar com ela, eu não posso suportar o que virá a seguir.

— Calma, Quinn. Credo. – Lopez se aproximou da amiga que só não desatava a chorar por causa do rímel em seus cílios. Fabray nunca soou tão desconcertada quanto naquela hora; perdida, poderia se dizer.

O plano quase dera certo, se não fosse por ter sido abortado de última hora.

Em meio aos adolescentes com hormônios a flor da pele dançando por todo o ginásio e fofocando sobre os trajes alheios Quinn conseguira atravessar o local e, então, falar com Rachel.

Após certa — diga-se de passagem, muita – relutância a Cheerio conseguira convencer a baixinha a lhe ouvir, conseguira fazer com que a baixinha se agarrasse à última faísca de otimismo acesa dentro de seu peito.

Elas seguiam juntas, e em silêncio, até o banheiro. Quinn morrendo de ansiedade, Rachel idem.

A cantora havia se apoiado na pia de mármore, com os olhos fitando o piso branco do banheiro feminino, esperando a voz da ex-namorada sair. Mas então, os planos mudaram.

— Desculpa, Mr. Shuester, mas Rachel está ocupada agora. – Santana disse assim que o professor de espanhol adentrara em seu campo de visão, clamando para falar com a estrela principal do clube glee.

A latina conseguira segurar o “cabeça de miojo” por um tempo relativamente longo. Ainda assim, o homem conseguira ser irritante o suficiente a ponto de ultrapassar a barreira de Lopez e gritar pelo nome de Berry.

— Espera! – Rachel interrompeu friamente antes que Quinn tivesse a oportunidade de começar. A líder de torcida respirou fundo mais uma vez, sentindo as unhas quase perfurarem a palma de sua mão quando o punho fechou. – Mr. Shue?!

Encaminhou-se até a porta, a abriu, e viu o treinador do coral a sua procura e uma Santana Lopez vermelha de raiva.

— Rachel, você terá que cantar dois solos porque Mercedes passou mal com um burrito e... Enfim, você estará por conta própria. Vamos, temos que passar o som pra seu mais novo solo. – Ele avisou e, antes que Quinn ao menos tivesse a oportunidade de processar, Rachel sumira do local.

 Então agora, neste exato momento, tudo que Fabray conseguia fazer era chorar sem lágrimas, limitando-se a soluços ininterruptos e falas não compreensíveis.

— Daqui cinco minutos anunciarão quem será a rainha do baile. Se ela ganhar, dançará com Finn e... Doerá demais. E se eu ganhar eu dançarei com alguém que não é ela e... Doerá tanto quanto. – Choramingou. – Não vou ter estômago pra falar com ela depois, Santana. Você não entende. Essa era a hora... Essa era a hora de falar e de colocar um ponto final em Faberry ou então começar um novo parágrafo. Agora era como se fosse um livro que acabou de terminar no meio da frase...

Dios! Você é tão dramática que só não vomitei por amor ao meu traje. – Revirou os olhos. – Eu tenho um plano B.

— Um plano B? Você tem um plano B? Isso é tão não romântico... Eu deveria ter um plano B, eu que amo Rachel.

— A vida nem sempre é romântica, Fabgay. Ela só tem que dar certo, romantismo é pedir demais já. – Bufou, cruzando os braços enquanto a amiga começava a se acalmar. – Tenho que ir agora, sou eu quem conto os votos para rei e rainha do baile.

Quinn abriu a boca, confusa, enquanto seu cenho franzia-se e ela acompanhava o percurso de Santana Lopez até a porta.

— Santie! Qual é o plano B?

— Você realmente não escuta nada que eu falo. – E, novamente, revirou os olhos de modo irritante.

 

 

[...]

 

 

Quinn, ainda que fosse alta e estivesse com salto, custava para achar Rachel Berry no meio da multidão de adolescentes em sua frente. Mesmo que se esforçasse bastante, duvidava que fosse conseguir encontra-la no meio de tantas garotas histéricas e meninos irritantes.

Respirou ainda mais fundo ao ver o Diretor Figgins subir no palco e segurar o microfone com uma das mãos, a outra ocupada com dois envelopes onde certamente estavam os nomes de rei e rainha do baile de 2009.

O estômago de Quinn embrulhou e ela precisou suplicar ao seu corpo uma ou duas vezes para não vomitar ali mesmo, no meio das centenas de pessoas ao seu redor.

Após alguns minutos de falação desnecessária o homem pediu que os finalistas se dirigissem ao palco, que fizessem uma fila e se alinhassem de frente para a plateia.

Quinn seguiu todos os passos, controlando suas pernas que queriam tremer feito uma gelatina. Ao seu lado duas garotas das quais ela não recordava o nome colocavam a mão na cintura e sorriam como se tivessem acabado de ganhar um milhão de reais e dez meses de férias em Dubai.

Fabray não conseguia compartilhar da mesma animação, por mais próxima que estivesse da tão sonhada tiara. Alguns meses atrás ela ficaria surtando internamente para sentir o objeto encaixar-se em seus fios loiros e ficar perfeitamente posicionado em sua cabeça; naquele momento sua mente só conseguia se concentrar em uma coisa: onde diabo está Rachel Berry?

Seu olhar percorreu pelo público em sua frente, chegou até a lançar um olhar confuso para Finn Hudson – que tinha um lindo e novíssimo hematoma no rosto.

Não fora necessário, porém, nem mais um minuto até Quinn avistar uma figura pequena e apressada atravessar o mar de jovens até chegar ao palco. Rachel subiu no local com urgência, arfando com certo nervosismo; sem lançar um olhar sequer a certa líder de torcida loira.

— A Rainha do Baile do ano de 2009 é... – Figgins quis causar suspense, na intenção de animar os alunos; mas falhara miseravelmente ao notar suas expressões sem paciência. – Rachel Berry!

A menor sorriu de orelha a orelha, enquanto a ex-namorada não sabia exatamente se sorria ou ficava desapontada. Tudo estava tão confuso na cabeça de Quinn que a jovem optou esperar pela entrega da coroa ao rei, para que pudesse finalmente sumir dali.

Não apenas porque tinha perdido – o que ela já, querendo ou não, considerava um pouco humilhante –, mas porque não julgava ter um emocional forte o suficiente para ver Rachel dançando com alguém que não fosse ela.

— E o rei do baile de 2009 é... – Figgins arregalou os olhos, estupefato com o que lia no pedaço de papel preso entre seus dedos. – Isso só pode ser uma piada... Bom, tanto faz. Quinn Fabray!

O ginásio ficou num silêncio inacreditável. Se alguém soubesse que ali estavam centenas de adolescentes ficaria surpreso com a ausência de ruídos, fofocas, risos e idiotices.

A ex-capitã das Cheerios engoliu em seco, sem acreditar que ouvira seu nome ser proferido. Queria sorrir, mas queria desabar. “Sou eu quem conto os votos para rei e rainha do baile.” Dissera Lopez, momentos antes. Agora tudo estava claro.

Seus olhos não conseguiram evitar seguir a presença de Berry, que parecia tão desconcertada quanto ela. A menor engoliu em seco, tocou na tiara em sua cabeça com desânimo e desceu os degraus do palco.

E então, aí sim, Quinn quis desabar.

— Rachel, espera! – Interrompeu, tomando o microfone do diretor que não pareceu realmente incomodado... Ou pelo menos, não pareceu em posição de fazer algo contra o ato de Quinn. – Você precisa ouvir meu discurso! Você... Você precisa! – E de um bolso falso do vestido que trajava tirou um papel com palavrinhas miúdas no mesmo, o mesmo papel que antes estava na sua bolsa, sendo carregado como a única esperança de Fabray em consertar tudo. Várias palavrinhas, recheadas de vários sentimentos.

Os passos de Berry diminuíram de velocidade, hesitantes se deveriam ou não prosseguir em direção à saída. Queria correr, mas, sobretudo, queria ouvir a voz de Quinn desesperadamente.

— Querida Rachel... – a menina começou, sem se importar com a presença dos estudantes e dos seus olhares críticos.

 “...Nós começamos com o pé esquerdo, eu diria. Na verdade, nós começamos com tudo pra dar errado. Começamos sem a sorte a nosso favor. E, em parte, a culpa é minha. Nossa história não é muito romântica, e confesso que há muita coisa que precisamos aprimorar, se pudermos continuar o que temos.

Talvez seja legal poder contar para os outros que você encontrou sua alma gêmea a caminho do trabalho, da forma mais imprevisível possível. Ou então, que você esbarrou com ela e deixou seus livros caírem, de modo que a paixão fosse inevitável. Mas eu gosto do nosso não clichê. Eu... E-Eu...”

Quinn gaguejava, como se sua reserva de coragem e oxigênio estivessem começando a ficar escassa.

— Okay, dane-se esse papel. – Decretou, embora ainda mantivesse-o nas mãos. – Continuando, sem o papel... Hm... – Pigarreou. – Eu gosto da nossa história e eu quero que todo o McKinley possa saber dela. Não quero que as coisas a nosso respeito sejam construídas a partir de fofocas idiotas sem fundamento. Vamos lá... Respira Quinn. Como todos podem saber, eu costumava ser a pessoa mais babaca do mundo.

— Quando é que você deixou de ser? – Alguém gritou no meio da multidão, mas fora linchada com “shhhs” que vinham de toda a parte.

— Eu... Eu costumava me importar só comigo mesma. – Continuou. – Quando o clube do coral apareceu, pessoal, eu tivesse muita raiva dessa garota chamada Rachel Berry. Ela ameaçou meu namoro, minha popularidade, tudo. Então a treinadora Sylvester propôs que eu a “seduzisse”... Eu sei! Isso é loucura. Mas eu era louca, galera! Eu só queria acabar logo com isso, queria quebrar o coração de Rachel Berry e ter tudo que era meu de volta. Minha intenção nunca foi que alguém descobrisse que eu havia me envolvido com ela... Na minha cabeça soava até não tão complicado: eu me envolvia romanticamente com ela, eu quebrava seu coração e pronto. Ninguém precisava saber, Rachel só precisava se machucar.

“Então... Um dia, enquanto eu tentava me aproximar dela, ela se mostrou a pessoa mais genuína que eu poderia conhecer. A garota que eu havia julgado horrores pela peculiar escolha de peças de roupas era a melhor amiga que um dia eu poderia ter. Ela me ouvia, e eu a ouvia. E nós fazíamos piadas juntas, nós nos divertíamos e... Eu comecei a me sentir mal.

Como eu deveria quebrar o coração de alguém que me entendia tão bem? Que me fazia se sentir minimamente feliz por ser... eu? Era horrível. Dormir à noite. Pensar que logo eu teria que me livrar de Rachel. Que no final ela terminaria me odiando, com o coração despedaçado.

Mas então tudo mudou de um jeito que eu não pensava que mudaria. Pessoal, esse é o plot twist da nossa história: a treinadora Sylvester sempre quis que ficássemos juntas. Faberry! Ou algo assim. E então, apesar dos infinitos dramas que preencheram nossa amizade, eu admiti pra mim mesma que gostava de meninas e que estava me apaixonando por Rachel Berry.

Rachel, minha rival, a garota que eu odiava, que eu quebraria o coração sem pensar duas vezes. E depois de um tempo, Rachel me amou também. E nós nos amamos, muito, juntas.

Nem todo mundo lida bem com isso. E esse foi meu receio desde o começo. Como vocês reagiriam? Eu me importava tanto com isso. Com vocês. Como se algum de vocês pudessem formar uma opinião sobre a forma que eu vivo.

Eu não queria sair do armário, de jeito nenhum! Eu queria nosso amor daquele jeito, entre quatro paredes, com um filme e cobertores, com piadas ruins e muito carinho. Soava o suficiente pra mim.

Não era. E antes que eu pudesse perceber que eu não queria me esconder Finnbecil espalhou que estávamos juntas. A culpa podia ser só minha, por ter esquecido o celular com uma foto nosso dando um selinho ou me importado com isso tudo. A culpa podia ser só de Sue, por ter armado essa história toda. A culpa podia ser só de Finn, por ter espalhado a foto. Mas sabe... Vocês se importaram com a foto. Vocês foram cruéis. Vocês alimentaram uma estupidez de Finn e transformaram sua imbecilidade em ódio e deboche. Muito obrigada por me fazerem ter que passar por esse inferno. Muito obrigada!  

No fim das contas, Rachel realmente acabou me odiando, e eu acabei quebrando o coração dela de qualquer forma. Mas... Mas anteontem ela me disse que  pra tê-la de volta eu precisaria finalmente me acostumar com a ideia de admitir Faberry em voz alta. E eu admito, sem medo, com orgulho: Faberry é o ship mais genial do mundo, principalmente fora do armário.

E para todos os jovens do William McKinley High que estão passando por uma situação semelhante: vocês não estão sozinho. Desculpe Rachel por ter tido tanto medo. Não garanto que eu não terei mais, porque provavelmente irei. Mas, prometo não correr. Se eu tiver você de volta, eu sei que não vou precisar mais fugir.  

E, só mais uma coisa... Rae, obrigada por me fazer tão bem, e me desculpa por tudo. Eu sei que escorreguei bastante e te fiz chorar. E... E... Você foi a melhor coisa que já aconteceu comigo. Talvez eu realmente não te mereça, talvez nossa história não seja a mais romântica do mundo, mas... Eu te amo, Rachel Barbra Berry.”

Os globos de luzes sobre as cabeças dos estudantes do McKinley eram chamativos, mas nada atraía mais atenção do que os passos lentos de Rachel Berry em direção à saída do ginásio.

Ela nunca fora popular; sempre que fora notada em seu curto espaço de tempo no WMHS era para ser premiada com slushies em seu rosto. Pela primeira vez, entretanto, ela conseguira saber como era ter uma multidão se abrindo para sua passagem como se fosse o Mar Vermelho.

Todos os olhares caíram sobre ela quando a voz de Quinn Fabray começou a falar no microfone, há cinco minutos. E os olhares continuavam sobre ela, ansiosos para o que ela faria a seguir.

Ela virou-se, lentamente. Seu olhar encontrando a cor avelã na íris de Quinn que tinha lágrimas fazendo seus olhos brilharem, o queixo trêmulo, o papel inutilizado entre o dedo do meio e o indicador, o desespero em seu rosto.

Como ela conseguiria dizer não a ela? Como ela conseguiria negar os fogos de artifício dentro de seu peito? Como ela conseguiria fingir que Quinn não dissera exatamente o que ela precisava ouvir?

— Vamos lá, Rach... Por favor. – Suplicou a loira, ainda no palco. – Pelo menos... Pelos menos dance comigo. É a dança entre o rei e a rainha do baile, não? Você me deve uma dança. E, no fim das contas, foi você quem me ensinou a dançar, lembra? Por favor.

O silêncio arrebatador agoniava Rachel, os olhares sobre ela também. Todos lhe encaravam como se ela fosse Carrie, A Estranha, coberta de sangue de porco. Foi só quando se aprofundou ainda mais nos olhos de Quinn que seu coração se acalmou.

E aquele sentimento de tranquilidade que ela tinha ao fitar a Cheerio era a certeza que ela precisava. Quinn Fabray era quem ela precisava.

Fabray, por sua vez, estudou cada traço do rosto de Berry, com mais dedicação do que já estudara para qualquer outra matéria da escola. Não pôde deixar de notar a curva que brotava vagarosamente nos lábios da menor e, então, ela soube. Ela soube que o sorrisinho era a certeza que ela precisava.

Uma olhava a outra de modo fixo. Elas se entendiam, ainda que vários passos de distância. Era quase como um tipo de telepatia. Naquele momento, elas sabiam.

A irmã caçula de Kaitlin desceu do palco sem hesitar em nenhum segundo, permitindo que o seu sorriso aumentasse de forma gradativa. Quando encontrou o corpo de Rachel Berry, estático no meio da pista de dança, suas mãos se encontraram e se posicionaram com maestria.

Nenhuma palavra foi dita. E nem precisou. 

A música começou a tocar, o mundo ao redor começou a sair do pause e da tensão dos últimos minutos, Sue Sylvester observava tudo ao longe – emocionada e com as duas mãos sobre a boca –, e enquanto isso, Faberry continuava sendo o centro das atenções.

Quinn conduzia Rachel do mesmo modo que ela lhe ensinara vários meses atrás, embora dessa vez seus pés não cometessem tantos deslizes. Os estudantes se afastaram e os casais ali presentes conseguiram captar o clima romântico que, de repente, se instalara no baile.

— Como eu poderia negar essa dança... – Murmurou a cantora, que lagrimejava. –... Quando tudo que você fala soa tão certo?

A cheerio sentiu os olhos também se encharcarem de lágrimas, querendo ficar presa naquele momento pelo resto dos seus dias.

Eu te amo. — Sussurrou; se aproximando do corpo da menor e preenchendo o espaço entre elas. – Eu te amo. Eu te amo. Por favor, não me deixa... Promete que não vai desistir de mim?

Rachel Berry ficou na ponta dos pés conforme seu corpo se movimentava de modo que o tamanho entre as duas garotas não tivesse grande diferença. Seus lábios, agora, encontravam-se alinhados na mesma altura.

As mãos da menor se posicionaram no pescoço da outra com leveza, enquanto ela sentia sua cintura ser envolvida pelos braços de Fabray. E então, finalmente, elas selaram um beijo.

Um beijo quente, urgente e, ainda assim, calmo. Frenético e tranquilo. Um misto de todas as coisas prazerosas da vida. A mescla de todos os sentimentos bons existentes. Um beijo que não se importava com a audiência ao seu redor.

E os lábios se separaram, ainda que clamassem por mais. A estrela do clube doral recuperou o fôlego e puxou a estrela do clube das líderes de torcida ainda mais para si.  

— Prometo.  

 

 

 

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Notas finais do capítulo

UPDATE (18/06/2017): Muito obrigada por essa jornada incrível, infelizmente não rolou segunda temporada, mas amei cada momento dessa fanfic AAAA. É o fim! Beijos, galere!