As Divassas do Zodíaco escrita por Dija Darkdija


Capítulo 12
12- A bicha velha


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas que leem! Chegamos com mais um capítulo das divassas! Polêmico! Fechoso! Divasso! Espero que vocês gostem.

Boa leitura, gente! Depois conversamos!



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Sensei acordou em outro lugar. Sem roupas.

– Ah, não... Essa história de novo não...

– Finalmente acordou, né, querido... - disse uma voz desconhecida.

– RAITUN-DO! RAITUN-DO! UHUU!!! - Gritou Kane, pulando em cima de Sensei.

– Cala a boca... – disse, afastando a boneca com a mão. Kane desviou, pulando para o ombro de Kruba e caindo suavemente, como se nada tivesse acontecido.

– E não é que você sobreviveu? E depois dizem que o poder do protagonista é uma piada...

– Como se eu precisasse de alguma coisa dessas... Isso é coisa de sagitariano. Ou de gente fraca. Ou dos dois.

– Mas você tem uma luazinha em sagitário, segundo as nossas informações...

– Lua é lua, signo é signo. – respondeu Sensei, ainda de olhos fechados.

“Na verdade, signo é signo solar e lua é signo lunar, mas nem a pau que eu vou dar razão pra esse cão de guarda” pensou ele.

– Ah, sei lá né, eu já tava encomendando teu caixão, só por garantia... – disse Kruba no alto do seu sarcasmo.

– Vai se...

– Epa! – disse a voz desconhecida. – Olha a baixaria, a casa é da libratinagem, não da boca suja!

Sensei tentou levantar de súbito para saber finalmente quem era a dona daquela voz estranha, mas seu corpo inteiro doeu. Cada milímetro. Prendeu a respiração, e então tentou novamente, só que mais devagar. Depois de conseguir (com muito esforço), viu Kruba. E Kane, em seu ombro. E então, ao ver de repente a dona da voz sentada em uma cadeira à frente da cama lhe encarando, travou. Talvez pelo susto, talvez pela dor causada por outro movimento súbito casado pelo susto, ou simplesmente porque sim. E Sensei passou vários instantes tentando analisar e compreender a criatura que o encarava com cara de poucos amigos e muito tédio por estar ali.

De frente para ele, havia uma senhora com a cara tão enrugada que Sensei imaginou ser algum tipo estranho de anciã com uns 200 anos de idade que pintava o cabelo, pois apesar da cara, estes eram impecavelmente dourados. Além disso, a senhora possuía algo como um tiranossauro tatuado nas costas, mas isso Sensei só percebeu (e estranhou) quando a bicha virou-se para pegar um pano embebido com alguma coisa. Ela jogou o pano no peito de Sensei, que só pôde reagir com uma careta de dor, por medo de reclamar e apanhar daquela senhora estranha.

– Há muito tempo atrás – disse ela, olhando a careta e o estado do corpo do professor –, eu fui para uma batalha de Divas. Aquilo foi muito sangrento. Tinha pedaço de bicha pra todo lado. Mas você, meu filho, parece até que enfrentou o exército inimigo sozinho! – e terminou com uma risada seguida de uma tosse com pigarro. Se jogou na cadeira, divagou por alguns momentos e continuou: - Se bem que... Não deixa de ter sido mesmo... Você enfrentou guerreiras que valem por exércitos.

– E sobreviveu, sabe-se lá como, né... – emendou Kruba.

– RA-RAI-TUN-DO! O Sensei é o maior! RA-RAI-TUN-DO! O Sensei é... – cantava a boneca como uma torcedora fanática, parando bruscamente para desviar de um travesseiro.

– Então... Onde eu tô? Quem é a senhora?

– Epa, a senhora não, meu filho, cuidado com a língua pra não ficar sem ela!

E não sabendo se pelo tom da voz, pelo timbre de velha ou por algum outro motivo, Sensei teve a sensação de que a “senhora” possuía autoridade e poder esmagadores.

– Ok... você é...?

– Madohkona, a divassa que manda na sétima casa, meu lindo, a casa da Libratinagem. Nosso lema é: o que acontece aqui fica aqui, a não ser que a gente ache aquela amiga pra quem temos que contar nossos babados fortíssimos! Eu sou a mais antiga em atividade, e por isso as mais novas se enchem de recalque, que na minha época se dizia inveja, rancor, sabe... Infelizmente você deve me conhecer por outro nome...

– A bicha velha – disseram Sensei e Kruba juntos.

– Bingo. – disse ela, com a reprovação pelo termo estampada em suas rugas.

– Ok, mas... Como eu vim parar aqui?

– Ah, isso foi coisa do MST.

– MST? Pera, mas... Ah, é! Eu apaguei depois da casa da monja, aí acordei, vim andando e...

***

– Com licença... Você sabe se existe alguma casa noturna por aqui? Alguma em que a dona seja velha... Bem velha?

Foi o que Sensei perguntou. Se soubesse o que viria a seguir, ou se tivesse conseguido previr o que viria pelo que aconteceu antes... Mas “o que aconteceu antes” é o que vocês querem saber exatamente, não? Tudo bem, então eu lhes conto. Afinal, eu não sou nada mais do que aquilo que conta. E ele é o nosso protagonista.

Sensei, o nosso exótico professor entrou em uma aventura deveria passar por doze casas noturnas, derrotar as suas respectivas líderes e então encontrar a chefe de todas para obter uma informação específica que só ela possuía. Um detalhe, porém, é que não havia um caminho específico e único que levava de uma casa à outra. As casas estavam espalhadas pela cidade. E então você poderia se perguntar por qual motivo Sensei não procura de vez a casa da tal líder de todas e consegue a tal informação? Infelizmente, essa é uma pergunta que eu não posso responder. Talvez ele sentiu que não poderia chegar na líder sem passar pelas doze casas. Talvez, em prol do drama dessa história da qual ele virou protagonista de uma hora para outra. Ou talvez por algum motivo qualquer, desconhecido e tão besta que toda a nossa alegria em acompanhar sua trajetória iria pelo ralo caso o descobríssemos. Dizem as más línguas que esse é um dos muitos motivos de existirem informações confidenciais para todos os lados. Mas como eu sou apenas aquilo que conta, e não aquilo que pensa sobre informações confidenciais, vamos aos fatos. Sensei já havia passado por metade das doze casas. Na última, chamada Casa das Monjas Ten Bundistas, lutou contra Shakeella, uma das “divassas douradas”, como estas se autoproclamam. Shakeella era uma das mais poderosas do lugar, e quase matou (e/ou estuprou?) Sensei, como eu já contei. Mas, por algum motivo misterioso, ele sobreviveu. As mesmas más línguas de sempre dizem que ele sobreviveu apenas porque tinha que sobreviver, senão eu não teria o que contar. Outros dizem que foi por mérito, e alguns concordam comigo em simplesmente não podermos explicar no momento o real motivo, por ser uma informação confidencial. Ou seja, vocês só saberão em outro momento, ou talvez nem saibam. O importante é que, após ter quase morrido, Sensei conseguiu sair da sexta casa noturna. Após algum tempo de descanso, resolveu procurar a próxima casa. Entrou em uma rua onde alguns homens capinavam um terreno baldio. Não percebendo a expressão de poucos amigos que os homens faziam de longe (desde que ele havia virado a esquina), ou interpretando mal o sinal dos homens, que pararam imediatamente de trabalhar para encará-lo de cima a baixo, chegou mais perto e perguntou a um deles:

– Com licença... Você sabe se existe alguma casa noturna por aqui? Alguma em que a dona seja velha... Bem velha?

A resposta foi imediata, mas nada agradável. Um dos homens pulou em cima dele com uma enxada, e só não arrancou sua cabeça porque, apesar de estar machucado em todos os lugares possíveis, Sensei conseguiu de alguma forma desviar o primeiro golpe e perguntar:

– Ei, peraí, quem são vocês? Porque tanta agressividade? São lacaios de bicha velha?

– Aquela... Você que deve ser um lacaio daquela aberração! Não nos junte com aquilo! – respondeu o homem. Continuou: - Nós fazemos parte do MST, com muito orgulho!

– Sei... Vocês aí pegando no cabo da enxada... Orgulho... Sei bem onde isso vai dar. Mas, você falou MST... O que é isso? Movimento dos... Sem teto? ...sem.. trabalho?! Sem toupeiras! – arriscou, sem sucesso, enquanto o homem se preparava para outro golpe.

– Movimento dos sem-transviadagem!!! Sua aberração! Você faz parte daquele grupo nojento, não faz?

– Dá pra sentir o cheiro de vocês de longe – comentou outro.

– Claro que é, olha só essas roupas... – mais um

– Com certeza. – outro.

– Mata essa desgraça logo antes que ela corra e chame aquelas malditas fortonas! – o de antes.

– Ei, ei, ei... eu não sou nada disso que vocês estão pensando... Não é só porque eu visto essas roupas que eu sou igual a elas.

– Mentira!

– Tá, que seja, mas mesmo que eu seja igual a elas ou vocês achem isso... Por que tanto rancor? Por que diabos me matar se eu não fiz nada pra vocês?

– Porque você e aquelas outras são aberrações! Não deveriam existir!

– Ainda bem que eu vou poder fazer a minha boa ação do dia matando pelo menos uma de vocês.

– Lutar contra a viadagem não é crime! Matar uma bicha não é crime! É uma boa-ação para a limpeza do mundo! – Começaram a gritar uns, outros os acompanharam e todos avançaram na direção de Sensei.

E depois de não poder desviar mais golpe nenhum, Sensei apagou.

***

– Se a gente não tivesse aparecido ele ia ter morrido. – Comentou Kruba.

– Não é fácil ser uma de nós. Alguns só nos xingam. Outros olham torto ou vão para o outro lado da rua. Mas você tinha de bater logo com o pior tipo, os que querem nos matar? Muitas morreram pelas mãos deles e de outros como eles. Até mesmo as que se parecem mais com eles, ou as que tentaram se disfarçar. E ninguém além de nós chorou por elas. Quando um deles morre, o mundo se revolta.

E a bicha velha e sábia ainda falou muito mais. Contou casos e mais casos de mortes e de preconceito que elas e outras sofreram, da guerra interna com as pessoas que são, mas não são parecidas com elas. Das guerras externas contra o MST e outras organizações que tentaram destruir a comunidade Divassa. Falou muito de muitas coisas que Sensei simplesmente não teria como realmente entender, porque não estava exatamente na pele delas, mas de alguma forma entendia, porque estava tentando se aproximar o máximo possível daquele mundo e havia quase morrido apenas pelo modo como estava vestido, e nada mais. E depois de muito falatório e mais cuidados com Sensei, que de alguma forma melhorou o suficiente para se movimentar, disse:

– Pelo menos agora você já está pronta. Espero que tenha sido boa pra você a sua estadia na casa da Libratinagem. E não se esqueça. O que aconteceu aqui, fica aqui. A não ser que tenhamos uma amiga pra contar os babados fortíssimos, né?

Sensei não respondeu nada. Apenas foi embora, acenando para trás. Kruba e Kane ficaram olhando de longe, junto com a tal bicha velha, que por fim suspirou e se jogou na sua cadeira de balanço, fumando um cigarro.

– Realmente, quem passa por aqui e sobrevive à casa da Libratinagem nunca mais é a mesma pessoa...


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Notas finais do capítulo

- Madohkona é a junção de Madonna e Dohko de Libra, por motivos óbvios. Mas não gostei. Acho que preciso de um nome melhor, então aceito sugestões URGENTEMENTE.
— Madonna é Leonina, e bem, dispensa apresentações, acredito.
— O MST não tem relação nem crítica nenhuma com o movimento dos sem-terra, apenas aproveitei a sigla por ser famosa e parodiei. Considere que é um universo paralelo e tudo muda radicalmente.

Por que esse capítulo é polêmico? Seguinte: porque mandei esse capítulo pra um colega gay da faculdade. Ele leu e não gostou muito. Simples assim. Disse que eu poderia ser mal interpretado, que era estereotipado e a coisa do MST era um pouco radical demais. Só que não. Pessoas realmente morrem apenas pelo que vestem. Apenas pelo que são. E ninguém parece ligar pra isso. Pra quem não conhece, pesquisem sobre os casos da lâmpada fluorescente. Sim, usavam lâmpadas para espancar homossexuais. Imagina estar andando por aí e uma galera começar a quebrar lâmpadas nas tuas costas? E quantos outros não morreram por aí por causa da homofobia? Então é uma paródia, é engraçado, mas também é denúncia de uma realidade. É denúncia de uma comunidade excluída até mesmo dentro da própria comunidade LGBT, por dizerem "não haver necessidade de querer ser mais mulher que as mulheres" e coisas do tipo. Por essas e outras, mantive o texto integral e adicionei algumas coisas até. Acho que é sim radical e pode até ser estereotipado, mas é necessário. Confesso que foi bastante desanimador a reprovação, ainda mais quando ela não veio acompanhada de nenhuma sugestão para melhorar o texto. Ainda mais quando é algo pertinente a ele, querendo ele ou não. Mas é a vida. Ninguém agrada a todos, por que eu agradaria? Espero que eu tenha agradado a maioria de vocês. Desculpem pelo desabafo, e até segunda!

No próximo capítulo, a bicha mais tagarela de todo o santuário vermelho: Milena Bumsting!



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