Silver Knight escrita por Bellye


Capítulo 5
Amuleto


Notas iniciais do capítulo

Vou tentar compensar a demora com um próximo capítulo em breve.
Boa leitura :3



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Dirigi-me à sala de vossa majestade com passos firmes e bem rápidos. Minhas longas unhas afiadas estavam sujas e pingando sangue pelo chão branco, deixando um fino rastro de manchas vermelhas por onde passava.
Eu bufafa e apertava meu braço monstruoso. Ele estava todo de sangue ainda quente até os cotovelos, fazendo-me detestar ainda mais o que fiz.
Eu me sentia um monstro novamente, prestes a matar qualquer coisa que apresentasse uma mínima chama de vida.
Empurrei a porta dupla do grande salão com a mão esquerda e ela se abriu fortemente, anunciando o choque com as paredes num baque ainda mais alto por conta do eco no salão vazio.
Fechei completamente minhas expressões, foquei na imagem sombria próxima a janela e tentei agir normalmente, controlando tamanha frustração.
— Fiz o que queria, não é? Me deixe ir embora agora.
Ouvi um breve riso da rainha ao fundo, ecoando pelo salão.
— Você acha mesmo que conseguiu matá-la?
Ela apreciava sua própria mão pálida, mexendo-a com delicadeza. Provavelmente estava em um de seus melhores dias.
— Bobo... — Balbuciou.
Arqueei levemente as sobrancelhas, procurando o motivo. O corte que causei nas costas da garota era fundo o suficiente para perfurar seus pulmões, e além do mais, ela morreria em minutos por falta de sangue.
Ela endireitou as costas, e passou um ar superior ao estufar o peito. Ela suspirou.
— O cordão, Willian.
Agora ela se virava para mim com um olhar neutro, quase de quem já esperava. Sua voz continuava a aveludada e tentadora de sempre.
— Você esqueceu a pedra no pescoço dela.
Continuei atento a cada palavra e descrição, tentando lembrar de algum possível cordão.
Procurei lembrar de sua roupa, cabelo, seu pescoço talvez.
Foi suficiente.
Recordei de ter visto algo que parecia um borrão preto caindo das laterais de seu pescoço, seguindo direto para dentro da blusa. Não havia dúvidas, era o cordão.
Bufei, apertando as mãos. Eu não tinha visto.
— Sabe o que é aquilo? Aquela pedra amarrada ao cordão, Willian? — continuou ela, fitando-me. Seu olhar e voz agora mudavam, e eu podia enxergar a raiva se mostrando lentamente.
O que quer que fosse, fechei os olhos, procurando guardar os sentimentos negativos para mim.
— Aquele era um amuleto, Willian... A protegeu. — Ela tomou fôlego, e a sua voz ficou mais forte e estranha — É para proteção! Você sabia disso!
— Você também mentiu para mim.— Cortei rapidamente.
Acabei por perceber que minhas palavras foram bem mais frias do que planejara. Ótimo.
Fechei os dentes com força, fazendo-os trincar levemente. Embora eu não tivesse arrancado o tal cordão, eu a havia ferido. Ela podia terminar o trabalho facilmente se quisesse. Mas não que isso valesse agora. Nada valia agora.
— Você só queria que eu a libertasse. Aquele monstro! A morte da garota seria apenas uma distração. Sei que me usou de propósito porque tinha ciência que eu o faria sem muita explicação.
A rainha virou-se de costas, abanando levemente a mão.
— Você se deixou usar, meu querido. De qualquer forma um dos meus planos deu certo. Mas a culpa não foi toda sua. A sua memória foi apagada, certo?
Fiquei em silêncio, não sabia ao certo como encarar aquilo, visto que eu a autorizei a apagá-los. Então ela adicionou, com um sorriso:
— Além do mais, não ter perguntado foi muito inteligente da sua parte. Como sempre.
​De certa forma eu sabia muito bem que ela acabaria com as minhas memórias quando viesse para cá, mas por um instante eu imaginei que apagar aquele sofrimento me faria bem, mas não foi o que aconteceu. Quando o arrependimento fixou-se novamente naquele canto profundo do meu coração e a dor cessou, percebi o como fui idiota. Precisava de todas aquelas dores. Não exatamente para sofrer.
Era uma forma de eu nunca perder a mim mesmo.
​Mas eu não podia contar que estava começando a me lembrar pouco a pouco do passado, e de certa forma, esforçando-se para me perdoar, quase que inutilmente.
— Eu nunca usei nenhum tipo de magia para te obrigar. — Riu ela, aqueles típicos risos baixos e irritantes.
— Sabe — prosseguiu —, você não obteve sucesso no que te pedi. Eu deveria ser tradicional — Suspirou ela, olhando para suas unhas escuras — Maas, eu tenho um destino mais... Interessante para você, porque é especial, sim, embora irritante às vezes.
​Endireitei melhor as costas e arqueei as sobrancelhas novamente. Se algo fosse melhor que a morte em si, eu preferia nem experimentar. Ser especial para a Rainha não era divertido.
— Por que não me mata logo? — Sugeri. — Poupa seu tempo.
— Não, não... Isso já está muito ultrapassado.
O sorriso da Rainha me dava leves calafrios, medo não era a palavra certa para definir o que sentia. Talvez receio com ansiedade, mas sabia que o que quer que fosse aquilo, seria pior que o inferno.
*****

Jack

Uma leve garoa começou a cair na Villa, aquela no qual te resfria em alguns poucos minutos. Ergui rapidamente a touca do meu moletom e enfiei minhas mãos frias na abertura do mesmo.
Enquanto corria o máximo que minhas pernas me permitiam, minha cabeça ultrapassava qualquer velocidade possível. Eu estava me remoendo com o pressentimento ruim que me cercava, eu sabia que algo havia acontecido, eu conseguia sentir.
Cheguei ofegante à farmácia. De frente a ela só se via a parte de dentro pelo vidro: estava toda deserta e com as luzes piscando, como filmes de terror que Kate me obrigava a assistir de vez em quando.
Imediatamente entrei na farmácia, e minha cabeça pesou, atordoando-me por alguns segundos. Tinha um longo rastro de sangue correndo lentamente pelo piso, e um cheiro forte tomava conta.
Não...
Corri pelo corredor onde o sangue se acumulara e a encontrei caída no chão. Estava com um enorme corte, na qual percorria toda suas costas.
Na hora, meus olhos não puderam acreditar no que via.
Cai de joelhos, demorando em digerir tudo. Me arrastei como pude para perto. Com dificuldade, pela falta de força nas mãos, virei seu leve corpo de modo que conseguisse ver seu rosto, colocando delicadamente sua cabeça em meu colo. Mesmo que o rosto de Kate fosse sempre meio sem cor, parecia bem mais pálido e sem vida agora. Tirei algumas mechas levemente ensanguentadas de seu rosto e acariciei delicadamente sua testa, como se fosse uma boneca rachada de porcelana, capaz de quebrar com o mínimo de força. Minhas mãos tremiam de forma absurda, havia muito sangue, e pela quantidade do mesmo, o corte não poderia ter sido mais certeiro e mortal.
Segurei sua mão esquerda e a apertei com força no meio das minhas, perguntando-me por que fui me trancar naquele quarto.
Eu sabia que ela tentaria alguma coisa doida dessa. Da mesma forma que eu sabia muito bem que não deveria ter tirado nem por um instante sequer meus olhos dela, e quando achei que pudesse, foi mortal.
— Você precisa voltar... — Sussurrei, encontrando minha testa na dela.
Meus olhos começaram a marejar depois de um tempo sem a tão desejada resposta. Eu não gostava daquela sensação, não gostava daquilo, não gostava de esperar!
Eu a queria de volta.
Eu me lembraria de nunca mais ser tão egoísta da próxima vez. Eu realmente não estava tendo tanta noção do perigo que corríamos.
Abaixei-me um pouco mais de modo que a abracei forte, sem vontade alguma de largá-la. Eu pude sentir algumas lágrimas sim, não ligava mais para orgulho. O que mais importava agora? Kate havia morrido. Eu falhei em protegê-la.
Limpei algumas lágrimas. Eu não era o tipo dramático, mas doía...
Espera.
Doía fisicamente?
Queimava o lado esquerdo do meu peito, por fora.
Larguei-a lentamente e encontrei o que estava me incomodando: A pedra do cordão de Kate, a que eu havia lhe dado.
Como eu poderia ter me esquecido disso?!
Puxei-a pelo cordão preto que estava escondido dentro da blusa de Kate. A pedra antes branca, agora estava vermelha e tremia levemente. Arregalei os olhos tão rapidamente quanto a esperança que se instalou dentro de mim. A pedra a protegeu!
Ela estava inconsciente, mas não corria risco de vida, a pedra havia tomado a maior parte dos danos e a protegido, embora tenha feito um grande corte, deveria receber apenas alguns pontos, já o sangue... eu descobriria depois.
A pedra era forte o suficiente para aguentar dois ataques do Sr. Eway, quem teria tamanha força para ser capaz de danificá-la além dele? Era isso que eu me perguntava.
Mas agora, o mais importante era Kate. Iria cuidar dela agora. Não deixaria que uma simples pedra me deixasse aliviado.
*****
Kate

— Nee, Nee, Kate-chan! Acorde! Consegue me ver? Está melhor?
Um garoto de cabelos castanhos, olhos azuis marinhos bem claros me olhava ansiosamente, enquanto eu tentava focar melhor o lugar que estava.
Eu estava sentava numa sala totalmente branca, encostada em algo que deveria ser uma parede invisível.
— Ahhhhnnn você acordou!!
O curioso garoto me puxou para cima com tamanha força que achei que fosse desmontar.
— E-Ei...! O que acontec... Pera! Eu estava na farmácia... E... Quem é você ? — Cerrei os olhos
— Hahaha, se não fosse por mim, estaria morta, Queiti! Awwwn Jack-senpai deve estar tão preocupado! — O jovem garoto colocou as pequenas mãozinhas nas fofas bochechas enquanto olhava para cima tristemente. — Ahh... Ele vai me matar...
Observei o olhar inocente do garoto. Ele não parecia ofensivo, e de certa forma algo me dizia que podia confiar, e esse sentimento me fez estranha-lo mais ainda.
Ainda com os olhos cerrados, decidi perguntar:
— De qual Jack falamos?
— Do Jack-senpai! Nee! Vai me dizer que não o conhece? Ah! É claro que conhece! Uhhhh... Adultos são tãão complicados... — ele deu um longo suspiro enquanto limpava a testa com as costas da mão.
— Quem é você ?
— Ai, Ai, Ai, minhas pobres costas doeeem! — Gemeu o garotinho, esticando as costas. Parecia cansado agora, mas de uma hora para outra arregalou os olhos e alinhou as costas, pulando até mim.
— Ah, é! Cadê? Cadê?
— Ah? Cadê o quê?
Quase gritei, me afastando conforme ele se aproximava aos pequenos pulinhos.
— Ahahaha! Aqui! — ele parou na minha frente e apontou para meu busto.
— O quê?! — Afastei mais ainda, abraçando meus seios.
— Pff... — Ele espremeu os lábios para não rir.
O garotinho deu um leve pulo, puxando com força sobre minha cabeça o cordão que Jack me dera.
Continuei fitando-o, levemente assustada. Além de engraçadinho, havia roubado o meu cordão!
— Devolva!
— Shhh! Eu estou arrumando...
A voz do garoto soou mais segura e menos infantil. Ele segurava a pedra com as duas mãos como se fosse vidro de açúcar. Era um cuidado tão grande e gentil, que consegui sentir um pouco de simpatia pelo garoto.
A pedra — agora rachada por algum motivo que desconhecia — começou a brilhar levemente. Seu brilho perolado era confortante aos olhos, quase hipnótico.
— Phoebe, consegue me ouvir? — Sussurrou o garoto a pedra.
Continuei a observar. A pedra tremeu levemente em meio as pequenas mãos do garoto.
Um silêncio correu pelo lugar. Olhei para os lados, para a pedra, para o garoto, e de repente uma enorme luz ofuscou meus olhos.
Quando consegui enxergar novamente, uma mulher adorável estava do lado do garoto. Ela tinha cabelos loiros e perfeitamente enrolados nas pontas. Seu corpo era delicado, coberto por um vestido verde musgo preso por um broche dourado em um só ombro.
Ela abriu os olhos, e o verde dos mesmos destacavam-se ainda mais com sua roupa.
— A senhorita seria Kate, certo? — Sorriu ela, vindo lentamente em minha direção. Nem me movi, estava admirada com tamanha beleza.
Ela ajoelhou em minha frente e olhou em meus olhos. E com um sorriso simpático explicou:
— Jack pediu para que a resgatássemos e a levássemos para um santuário caso algo desse errado com a senhorita. Então agora levaremos você para lá.
O garotinho, aos pulos e palmas, gritou animadamente:
— Green-chan! Mal posso esperar para vê-la novamente!


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Notas finais do capítulo

Desenho no final do cap. /o/ Devia ter desenhado a Phoebe, o garotinho, a Kate.. Mas decidi fazer a mão de Jack, segurando a pedra do cordão já que o cap. girou em torno dele.
Até a próxima!



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