Se passaram várias semanas desde a minha ultima conversa com Maria,ela estava sempre com pressa e nunca tinha tempo para conversa,Matt nunca atendia o celular e não respondia as minhas mensagens.

–Droga agora sim meu mundo vai desabar - Joguei minhas mãos para cima em forma de insatisfação

A minha família estava a cada dia me criticando ,a forma como eu me visto,por ter três meses que eu cheguei em Toronto e nunca saio,nunca faço amizades e sempre jogando na cara que minha irmã era demais(como se eu não soubesse disso).O melhor momento do meu dia era quando eu ia para biblioteca colocava o fone no ouvido bem alto e ia ler algum livro,era poucas horas,mas eram as melhores.Eu cheguei em casa um pouco depois do meio dia,e a unica coisa que eu queria era um descanso,comecei a subir as escadas para o meu quarto e quando chego lá me deparo com a minha irmã revirando as minhas coisas.

–Que direito você acha que tem para entrar no meu quarto sem a minha permissão? -Falei com toda a raiva que eu tinha

–Se você não tivesse pego o meu perfume eu realmente não estaria aqui - Ela falou jogando os meus livros no chão

–Eu não peguei o caralho do seu perfume,e cai fora do meu quarto agora.

–Não saio até encontrar o meu perfume!

–Você acha que eu ligo para as suas futilidades? Eu não me importo com o seu perfume,eu só quero que você saia do meu quarto agora!

Ela se levantou e ficou me encarando

–Você pegou meu perfume sim,você acha mesmo que eu acredito nas suas mentiras?,você sempre teve inveja de mim,das minhas coisas,de eu conseguir amigos e você não,você pode até fingir não ligar para nada,fingir ser inabalável,fingir que não precisa de amigos e não ligar para opiniões alheias,mas eu sei que você tem inveja da minha vida,você é uma pessoa tão estranha que ninguém suporta nem nossa mãe ,os seus amigos? Bem eles estão vivendo as vidas deles la no Brasil que nem lembra que você existe.

Aquelas palavras me doeram mais que tudo na vida,elas eram verdadeiras e só ressaltava o quando eu era solitária e estranha,a unica coisa que eu queria era chorar,chorar de raiva,chorar de dor,mas não poderia me mostrar tão fraca na frente dela.

–Sai do meu quarto agora,você já procurou em todos os lugares,acha mesmo que se estivesse aqui você não encontraria?- Eu apontei para o estrago que ela fez no meu quarto- Agora faz o favor e de o fora daqui

–Você é uma grande perdedora Bianca - Ela falou com todo veneno que pode, saiu fechando a porta e me deixando sozinha no quarto.

Agora eu poderia chorar,agora eu poderia por para fora tudo,eu tranquei a porta do meu quarto e fiquei no escuro junto com a solidão,por mais difícil que a vida possa estar ela sempre da um jeito de piorar mais e cada vez mais,eu só queria que uma vez,só uma vez as coisas desse certo,como poderia uma menina de 15 estar passando por tudo isso?,eu não entendia,só porque eu era diferente?,só porque não tinha as mesmas opiniões que minha irmã?,só porque ela preferiu alisar e eu deixar natural e cacheado?.Eu prometi a Maria que não ia mais me automutilar,que não ia mais fazer isso com o meu corpo,mas a primeira coisa que veio a minha mente foi isso,eu tentei muito ligar para Ma,para o Matt,mas nenhum dos dois me atendia,e com qual outra pessoa nesse mundo eu poderia conversa?Desabafar?,se os meu únicos melhores amigos não me retornavam?,e por mais que atendessem ou retornassem será que eles tão longe poderia me ajudar?.Minha cabeça estava a mil e nenhuma das minhas perguntas poderia ser respondidas.Então eu recorri a minha ultima opção,eu peguei um pedaço de espelho que Beatriz tinha quebrado e fiz meu primeiro corte depois de anos,foi muito doloroso,mas era como se a dor confortasse a dor que eu sentia por dentro,por ninguém me aceitar,por minha família me julgar e por tanto ficar solitária,eu me cortei e me cortei e me cortei o que pareciam horas,mas que foi mero 30 minutos,e então eu chorei,chorei muito mais por ser fraca e por cair nessa de novo.Eu sei que isso é errado,e que na hora eu me sinto muito bem,mas depois eu me sinto um lixo,uma pessoa mais miserável ainda.Naquele momento o que mais eu precisava era aquilo,Mas eu não poderia ter sido fraca.

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Eu acordei muito cansada e cheia de olheiras da noite passada,depois de chorar muito eu fui arrumar o meu quarto e limpa o sangue que havia saído do meu braço.A unica coisa boa era que hoje era meu ultimo dia de aula (da semana) e que eu teria o fim de semana todo para ler,e escutar musica.Eu fui tomar banho e enquanto isso toquei a minha playlist (a musica do Imagine Dragons).

When you feel my heat

Look into my eyes

It's where my demons hide

It's where my demons hide

Don't get too close

It's dark inside

It's where my demons hide

It's where my demons hide

O dia até que foi estranhamente calmo,eu tive aula de filosofia no primeiro horário e de Biologia nos dois últimos.Hoje minha mãe não pode pegar eu Bea no colégio então aproveitei para ir caminhando sozinha.O ar estava muito fresco e o transito um pouco mais razoável,eu passei a maior parte do caminho pensando na aula de filosofia e no que a professora Nicole disse "Não devemos ser quem não somos para agradar as outras pessoas,temos que nos sentir bem com quem somos,temos que olhar no espelho e gostar de quem somos de nos aceitar,não importa se somos baixo,alto,magro,gordo,de cabelo curto,longo.O importante é esta satisfeito com quem somos,é segui os nossos sonhos é a aceitação,aceitarmos quem somos,quem queremos ser independente do que as pessoas vão dizer e pensar".E na primeira vez eu achei que que ela estava certa, eu concordei com ela,eu sei que tenho problemas comigo mesmo,e também sei que minha auto-estima é muito baixa e as únicas pessoas que eu poderia contar estão muito longe(e pelo que parece nem ai para mim),Mas....

–Eu tenho que enfrentar os meus demônios - Eu disse bem alto e confiante

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Depois da minha decisão de enfrentar os tais demônios,eu cheguei em casa eufórica.Peguei o elevador e a unica coisa que eu queria era ir para o meu banheiro.Quando finalmente chego no meu apartamento,encontro minha mãe ocupada com uns papeis.

–Beatriz é você? - Ela diz levantando a cabeça

–Não mãe é Bianca

–Oi Bia,pensei que estava no seu quarto-Ela falou concentrada nos papeis que estava nas mãos

–Mãe acho que tomei uma decisão

–Hum,e qual foi?

–Vou mudar minha aparecia mãe - Falei indo em direção ao meu quarto

–hum - Ela falou não dando muita importância

Ela não se preocupou muito em me perguntar mais nada,e a unica coisa a qual ela verdadeiramente parecia interessada era os papei dos trabalho (ou conta).Eu subi as escadas e fui direto para o banheiro do meu quarto.Eu fiz uma lavagem geral no meu cabelo,com direito a Hidratação nos meu cachos,dividi ele e cortei na altura dos ombros.Para alguém que tinha os cabelos chegando na cintura corta até os ombros era uma atitude muito radical,mas eu não levei para esse lado,eu estava levando como uma lição,o desapego,eu queria despegar de coisas que me roubavam tempo,que me faziam ficar mais pesadas e triste,eu levei isso como uma nova faze da minha vida,onde não ia mais ligar para nada que me trouxesse dor,não ia ligar para o fato dos meus melhores amigos não ligarem para mim,não ia ligar para solidão,não ia ligar para minha irmã que me achava um fracasso e principalmente não ia ligar para minha mãe e pai que poe tudo em primeiro lugar,menos eu.Quando eu desci para jantar aquela noite todos ( no caso,minha mãe,pai e irmã) me olharam torto,com cara de horrorizados e como se estivessem vendo uma pessoa que não era eu.

–O que você fez com o seu cabelo Bianca?-falou meu Pai(Meu pai se chamava Samuel,ele trabalha com publicidade e quase sempre não esta presente,ou seja,é como se ele não existisse)

–Não esta bem obvio?

–Isso é jeito de falar com seu pai Bianca?-Falou minha mãe um pouco irritada

–Desculpe-me pai,se o senhor tem péssima visão- Eu já estava perdendo a paciência,o que eles queriam de mim? qual o problema de eu mudar o meu cabelo?

–Com quem você falou que ia tomar uma atitude bastante radical ? Você é menor de idade,tem que pedir permissão ou se não avisar

–Mas se esse é o problema pai,eu avisei para mamãe

Beatriz deu uma risada meia espalhafatosa,ela já estava se divertindo com a minha desgraça.

–Não lembro de você ter me avisado Bianca

–O que "mãe eu vou mudar minha aparência" significa para você mãe?

–Não achei que você fosse cortar o cabelo

–Cabelo cresce

–Você só pode estar maluca Bia,isso tudo é só para chamar atenção só pode

–E quem pediu sua opinião Beatriz?Você não tem nada com isso

–Calem vocês duas-Samuel se levantou e ficou encarando bianca muito serio- Bianca se você queria a nossa atenção só era pedir,veja sua irmã ela pede dinheiro,ela conversa e não sai cortando cabelo igual a você,nos já aguentamos muitas besteiras e agora tem que mudar

Eu estava achando isso um absurdo,como ele ousa falar que eu deveria ser igual a Beatriz,como um pai diz para filha que já aguentou muitas besteira?,não se aguenta uma filha,uma filha se ama,e nesse momento eu estava mais frustada do que nunca.

–filha seu cabelo era tão bonito grande,vocês duas pareciam tão iguais,pelo menos na aparência,não precisava disso -Minha mãe me olhou como se eu a tivesse decepcionado ,e então foi o fim da gota,da meada,da paciência de tudo.

–Como vocês se atrevem a me falar isso?,como vocês se atrevem a me comparar a Beatriz e não saberem que eu não tenho nada haver com ela e nunca quis ?-Eu já estava chorando e gritando nesse momento-Vocês deveriam me amar pelo meu jeito,e não ficarem me criticando,se vocês tivesse prestando atenção em mim e não estivessem amando mais uma filha do que a outra saberia que isso aqui é um inferno para mim,que me compara a ela é muito horrível,e que eu não estou nada bem,se vocês tivessem prestando atenção em mim saberia que eu nunca estive bem.

E foi nessa hora que eu sai correndo da minha casa(se é que poderia chamar de casa)esqueci chave,esqueci bolsa,esqueci tudo e a unica coisa que eu queria era sair dali,sair da coisa que deveria esta me fazendo bem,mas que esta me fazendo muito mal.