Os sinos da igreja tocavam pela praça da cidade anunciando o início da missa do funeral de Karina Henriques, a garota mais popular de toda cidade.
Laura estava parada em frente às escadarias brancas da igreja. A torre do sino estava lá no alto, sendo iluminada pela luz clara de um dia nublado. A garota estava esperando seus amigos que demoravam e a mesma estava começando a ficar incomodada.

Pela última vez a menina ligou para o celular de Thomas, que novamente não atendeu. Ela sentiu uma mão em seu ombro e suspirou achando que seus amigos finalmente haviam chegado.

— Achei que não chegariam nunca. — ela se virou sorrindo, mas quando viu quem era, seu rosto se fechou. — você.

Lilian estava sorrindo para ela, mas a garota não sentia nenhuma alegria em ver aquele rosto.

— Lau! Quanto tempo! — a menina a abraçou.

— O que faz aqui Lilian? — a garota perguntou depois de sair do não tão bom abraço.

Lilian abriu a boca para falar, mas os amigos de Laura haviam acabado de chegar e a menina havia conseguido sair daquela conversa horrorosa.

Ela acenou para os amigos e correu em sua direção. Odiava correr, mas principalmente de vestido. Ela odiava vestido, pois era como se algum babaca havia criado o rótulo de que toda garota deveria usá-los.

Camille estava com um vestido que a menina havia visto apenas uma vez, quando o avô da mesma havia morrido. Um vestido não tão longo, com um pano por cima brilhoso.

— Se vocês tivessem demorado mais um minuto eu enforcaria vocês. — ela colocou o braço por debaixo do da garota e sorriu.

— Dá para acreditar? — Jennety disse. — depois de todos esses meses Lilian ainda tem coragem de aparecer aqui.

— É a vida, minha querida. — Thomas riu.

Os quatro entraram na igreja que já estava ficando cheia. Lá na frente, um caixão preto estava fechado e ao seu lado havia uma foto de uma menina de cabelos castanhos avermelhados sorrindo.

A mãe de Karina os conduziu ao primeiro banco, onde estavam Keke e outros dois amigos. A antiga amiga da falecida não parecia muito feliz em estar ali.

Os sinos da catedral soaram novamente, agora mais altos, pois eles estavam dentro do local. Depois de um minuto de silencio e dezessete batidas para os dezessete anos da menina falecida, o padre começou a fazer suas preces.

Todos rezaram e aos poucos iam colocando flores em frente ao caixão da garota. Camille ainda não parecia muito bem, alguma coisa lhe dizia que algo iria acontecer naquele dia, algo ruim.

Com os dedos de Thomas cutucando sua costela, ela o olhou como se o fuzilasse. Ele apontou com a cabeça para que ela olhasse para trás na direção da porta da igreja onde um garoto entrava.

Quando olhou o menino alto e de cabelos loiros assim como os do amigo, que entrava pela porta, ela deu um tapa no braço de Laura que falou algo baixinho. A mesma reação dos outros dois foi à mesma que ela.

— Aquele é.. — Laura olhava para suas mãos em seu colo com as sobrancelhas para cima.

— Sim.. — Camille engoliu em seco.

— Felipe não havia desaparecido? — o garoto perguntou olhando para trás.

Ele nunca poderia esquecer aquele menino. Poderia esquecer qualquer um, mas não ele. Felipe era o primo do qual Karina havia perdido a virgindade, engravidado e perdido o bebê. E além de tudo isso, Thomas sempre teve uma queda por ele.

O primo da garota falecida sentou na última fileira de bancos. Os três não conseguiam respirar direito, o que fez Keke olhar para eles desconfiada.

A mãe de Karina terminou de falar depois de quase vinte minutos e pediu para que Camille subisse para dizer algumas palavras. A menina olhou para os amigos sem entender muito, mas andou até o microfone bem devagar.

Todos olharam para ela como se esperassem um grande discurso para falar de como Karina era uma ótima amiga, ótima filha e uma grande pessoa. Mas a verdade era que ela não era. Não era nada daquilo, mas era o seu funeral. E como melhor amiga da falecida, a menina não poderia simplesmente dizer a verdade na cara de toda a cidade, que provavelmente estava lá.

— Quando conheci K... — mesmo gaguejando, ela conseguiu falar algumas coisas. — bem, eu não tive uma impressão muito boa, mas ela era assim. Depois você se acostumava. Ela era uma grande amiga, uma das melhores que já tive.

— tirando os olhos da multidão, a menina que agora se tremia toda olhava para Thomas e Laura no banco. — Karina Henriques vai deixar saudades, amamos você, K.

Ela sorriu e saiu rapidamente recebendo os aplausos. Seu amigo deu um tapinha em seu ombro e ela suspirou. Viu a ex-amiga da garota que havia morrido fechar o rosto e estampar uma raiva tão profunda quanto qualquer buraco do mundo.

Ao mesmo tempo em que seu celular vibrou, o aparelho de seus dois amigos ao seu lado e o de Keke tocou. Um enorme calafrio subiu pela espinha de Camille. Sentiu suas pernas tremerem e junto dos amigos, pegou o aparelho celular.

Eles abriram a caixa de mensagem e as reações dos quatro foram à mesma. Terror. Medo. Choque. Todos trocaram olhares e depois viram se era a mesma mensagem. E era.

"Como eu queria que ela visse o que está por acontecer nesse fim de manhã. Esperem e verão. Afinal, vocês estão esperando isso a muito tempo, não é?

Se preparem vadias, o dia de hoje ficará marcado não por um funeral, mas sim por um assassinato.

Gritem.

Scream Bitches.”

Todos ficaram de pé enquanto o padre rezava pela última vez pedindo para que a alma de Karina seguisse na luz. O que era tecnicamente impossível no pensamento de Keke.

Todos se cumprimentaram e disseram adeus e assim começaram a sair. Thomas falou com a mãe da falecida e a abraçou. Na saída da igreja, o primo da menina o segurou pelo pulso.

— Thomas.. Eu.. — ele parecia tenso e gaguejava. — sinto muito por ela, era sua amiga. Sei que isso não é certo de falar agora, mas peço que não conte sobre..

— Não contei e não contarei. — o menino o cortou. — fique tranquilo quanto aos segredos, eu os levo para o túmulo.

— Não era sobre aquele segredo... — ele chegou mais perto de Thomas e segurou sua mão. — você sabe qual o outro!

Sem que ninguém visse, ele o beijou na bochecha e saiu. O menino sentiu seu coração bater cada vez mais forte em seu peito e saiu logo atrás. Suas amigas esperavam lá embaixo. Ele desceu os degraus da escada branca da catedral e parou ao lado delas.

— Keke. — Camille chamou a garota que passava na hora ao seu lado. — você também recebeu, não é?

Ela estava prestes a dizer alguma coisa, mas foi impedida pelo som dos sinos da igreja que tocavam mais alto que nunca. Todos olharam para a grande torre dos sinos e não entenderam muita coisa.

Até que de repente, algo começou a cair. Tão rápido que em poucos segundos se chocou contra o chão. Algumas mulheres gritavam e tampavam a boca.

Thomas correu junto com as outras para onde todos faziam uma roda. Algumas pessoas saíam do circulo falando de um corpo. O menino se desesperou quando ouviu aquilo, pois achava que Felipe havia cometido alguma coisa consigo mesmo.

Uma mão segurou sua cintura o tirando da confusão e quando ele olhou, viu que o garoto estava parado atrás dele e suspirou aliviado. Os dois saíram do meio da multidão, mas Camille e Laura ainda entravam na roda.

Quando elas finalmente chegaram ao centro, viram algo totalmente chocante e brutal. Ela estava com o rosto marcado por cortes e com a barriga com marcas de faca.

Então elas se lembraram que nenhuma delas a viram entregar as flores ao caixão. Não a viram falar nenhuma coisa no microfone.

Lá estavam todos eles no funeral da falecida e Lilian estava caída na grama. Morta, depois de cair de uma altura de doze metros. Elas sentiram os seus celulares vibrarem e tocarem.

"Karina adorava brincar com pessoas em seu jogo favorito..... Mágoa-las, mas vocês irão perceber que eu não sou ela...

Em meu jogo, eu brinco com pessoas, e essas pessoas não saem magoadas...
Saem mortas!

Gritem até ninguém mais ouvir, vadias.

Scream Bitches."