Take Me Under escrita por Holly


Capítulo 1
Animal I Have Become


Notas iniciais do capítulo

Olá, mores! Eu havia postado essa fanfic algum tempinho atrás com o titulo "Broken Inside", mas acabei tendo um probleminhas com a minha conta e tive que deleta-la. Decidi reposta-la novamente desta vez por aqui... Essa fic é meu amorzinho. Então, espero que gostem!



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"Alguém me ajude a sair desse pesadelo. Eu não consigo me controlar. Alguém me acorde desse pesadelo. Eu não consigo escapar desse inferno." — Three Days Grace  

 

O outono avançava cada vez mais enquanto o frio. Meu corpo inteiro tremia embaixo das roupas molhadas, os ferimentos espalhados ao decorrer da minha pele ardiam como chamas. Meus ossos pareciam de vidro, prontos para que quaisquer movimentos bruscos se quebrassem. Eu estava completamente esgotada em todos os sentidos. Mas, me sentia grata por termos encontrado aquela casa afastada do centro comercial, com poucos sinais de errantes ao redor, significando que teríamos pelo menos uma noite para dormir em segurança em dias.

Estávamos há mais de três meses percorrendo pelas rodovias do Norte do Estado da Geórgia procurando por suprimentos e um lugar para ficarmos, contudo sabíamos que não havia mais nenhum lugar seguro o bastante. Nas cidades existiam apenas os mortos-vivos, sem sinais da espécie humana, além dos destroços do qual algum dia pertenceu à humanidade. Os mercados, postos médicos e outros locais de suprimentos básicos se encontravam igualmente instintos, sempre revirados até o último produto, dificultando ainda mais acharmos munição e alimentos.

E isso alimentava mais a vontade de simplesmente desistir. Era impossível não se lembrasse do nosso antigo acampamento, destruído por uma horda de errantes chegarem à calada da madrugada. Nem todos tiveram a chance para defender. Restando apenas três pessoas. Só assim que comecei a viver de verdade no mundo pós-apocalíptico, sozinha e com uma garotinha de sete anos dependendo de mim para continuar sobrevivendo.

Savannah era a maior prioridade para nós. Ela também havia conseguido escapar com vida do acampamento, mas seus pais tiveram o destino contrário naquela noite fatídica. Embora tivesse perdido seus pais tão cedo, continuava sendo uma criança doce e adorável da mesma forma. Era nela que encontrava motivo para preservar minhas esperanças no meio de tanto sofrimento e devastação.

— Iremos passar a noite aqui, Dan? — ela perguntou num tom baixo enquanto observava meus movimentos. Eu sorri, deixando a mochila no chão sobre o chão de madeira, caminhando até sua direção.

— Sim, pequena. — confirmei enquanto a pegava no colo, sentindo seu corpo pequeno e frágil temendo contra o meu. Suspirei preocupada, passando minha mão nos fios de cabelos negros e lisos da menina, vendo a aparência abatida.

Ela também estava molhada por causa da tempestade a qual tínhamos enfrentado antes de encontrar aquele lugar.

— Você está se sentindo bem? — perguntei, franzindo o cenho. Savannah balançou a cabeça confirmando. — Temos que trocar de roupa e depois você vai dormir combinado?

Ela concordou sem relutar, coloquei-a no chão mais uma vez, subindo as escadas as quais levava até o segundo andar da casa. Entrei no primeiro quarto de casal, onde estava organizado comparado aos outros que havia visto naqueles últimos dias. Deixei minha arma em cima da cama, abri a porta do closet, buscando algumas peças de roupas limpas e toalhas, separei-as, indo ao outro cômodo ao lado, sendo o dormitório infantil feminino, procurei outras vestimentas de frio a Savannah, pois logo estaríamos chegando ao inverno rigoroso.

Retornei ao primeiro andar, encontrando a mesma sentada em uma cadeira, com os braços cruzados em cima da mesa e o rosto escondido entre eles. Aproximei-me, despertando com cuidado, entreguei a toalha empoeirada para que pudesse se secar, assim como eu. Passei a blusa de manga cumprida branca e a calça de moletom azul marinho, ao mesmo tempo em que também me trocava. Caminhei até a sala, colocando as mantas sobre o sofá maior e Savannah deitou no mesmo. Voltei à sala de jantar, vendo Ian olhando pela janela a movimentação do lado de fora.

— Pode ir descansar. — falei, despertando dos seus pensamentos. Meu irmão se virou, sorrindo fraco.

— Reforcei as entradas do fundo e da frente. — ele respondeu ignorando completamente o meu aviso. — Partiremos quando amanhecer. Não queremos encontrar mais problemas porque estamos quase sem munição. — me encarou, crispando o cenho, hesitante. — Kendall está tudo bem?

— Claro que sim. Por quê? — arqueei uma sobrancelha, duvidosa, querendo desviar o foco do assunto. — Para onde iremos agora?

— Eu estava analisando o mapa, por hora o lugar mais seguro para seguirmos é Turin.

— Quanto tempo de viagem? — indaguei desconcordando. Passei a mão por minha franja molhada, colocando-a de lado. Enquanto o seguia até a mesa, onde o mapa estava aberto.

— Um dia e meio no máximo. Podemos encontrar algum lugar... — respondeu esperançoso, me encarando.

. — Você acha mesmo que encontraremos um lugar? — debochei. — Estamos perdendo muito tempo e combustível, passando de cidade em cidade, procurando por um lugar que nunca irá existir.

— Kendall... — Ian suspirou impaciente, fechando os olhos. Ele não gostava de acreditar na verdade, mas eu sim. Nós não tínhamos todo tempo do mundo, cada gota de combustível usado era desperdício. — Eu já conversei com você sobre isso, desanimarmos agora não resolverá nada.

— Também ficar criando expectativas falsas não ajudará no fato de estarmos correndo contra o tempo pela vida de uma criança! Qualquer erro pode resultar em todos mortos, Ian! Pare para pensar apenas por um momento. — rebati friamente, sem me importar se estava sendo grosseira. Eu estava cansada de criar esperanças e no final sempre acabarmos no mesmo lugar. — Não irei discutir com você. Temos outras prioridades maiores. E acho melhor ir descansar.

Ele fez menção de dizer alguma coisa para contrariar, porém desistiu, dei de costas voltando à sala. Eu realmente não gostava de estupida com meu próprio irmão daquela forma, mas estava esgotada demais para que continuássemos vagando por aí, sem nenhum rumo principalmente por causa de Savannah, ela ainda estava abatida, era arriscado continuar alimentando esperanças. Nada mais seria o certo. Pelo menos se ficássemos num lugar fixo por alguns dias, havia a chance de pensarmos da forma correta, sem emoções atrapalhando, apenas a razão.

Observei a menina deitada no sofá enrolada no meio das mantas, mas ainda se encontrava acordada. Silenciosamente cheguei perto, me sentando na mesinha de centro e sorrindo para ela. Peguei em sua mão, murmurando boa noite, Savannah sorriu tranquila por fim fechando os olhos, logo adormecendo.

Escutei o barulho no local ao lado, me dirigi de volta, o encontrando sentado numa cadeira próxima à janela, com uma das cortinas entreabertas. Uma iluminaria pequena perto do rosto, sendo a única iluminação presente.

— Savannah dormiu. Você pode ir hoje eu fico. — quebrei o silêncio, pegando minha mochila e guardando as peças de roupas.

— Assim como os últimos três dias. — Ian completou sarcástico, levantando-se da cadeira de modo irritado. Era perceptível o quanto também estava chegando ao limite das suas emoções, igual a mim. — Você deveria descansar pelo menos algumas horas, Dan. Se continuar insistindo nesta besteira vai acabar enlouquecendo ou adoecendo.

— Simplesmente não consigo Ian. Por favor, entenda, eu preciso de um tempo para conseguir processar todos esses acontecimentos, cada um lida com a dor de forma diferente e a minha é esta. — expressei sincera. Mesmo me sentindo cansada, não conseguia pregar meus olhos por nada, era como se dormisse, tudo fosse acontecer e mais uma vez os perderia.  — Apenas vá. — indiquei com a cabeça na direção da sala

Ele respirou derrotado. Por mais que meu irmão tivesse seus vinte e dois anos, Ian mantinha um grande respeito as minhas decisões, exceto quando estava errada. Nós dois raramente discutíamos e quando tudo aconteceu, passamos á ficar ainda mais unidos, partilhando a mesma dor de ter perdido as mesmas pessoas. Ele fora a única coisa que me restara, além de Savannah.

Assumi o antigo posicionamento dele, coloquei a arma em meu colo e encostei minha cabeça no vidro da janela, tomando cuidado para que não me vissem. O silencio era constante, apenas as cigarras no meio da mata faziam barulho. Aos poucos meus pensamentos voaram para outros lugares, ou melhor, outros tempos. E o questionamento surgiu. Por que no final das contas estávamos lutando? Pela vida? Pelo mundo? O que ainda me fazia continuar depois de tanto sofrimento? A saudade de tudo, todos os dias matava parte de mim lentamente. Sentia falta dos meus pais, dos meus amigos e Matthew.

Estávamos felizes, iríamos nos casar em meses, mas bastou apenas uma viagem para o rumo se tornar outro. Por causa do meu estágio, tive que fazer uma viagem voluntária para uma campanha do governo de Atlanta para Smyrna, consequentemente Ian – por ironia – fora comigo. Quando o vírus se espalhou, Matt me ligou desesperado, toda minha família acertou de nos encontrar aos redores da capital, onde fazíamos acampamentos nos verões. Durante quase uma semana eu e Ian os esperamos, todos chegaram aparentemente bem, menos Matt. Eles disseram que tentaram salvá-lo, mas ao chegarem, fora tarde demais. Meu noivo se transformara em um deles. Em um monstro.

Involuntariamente coloquei minha mão sob o anel de ouro a esquerda. As lágrimas quentes e grossas molharam meu rosto sem permissão. Eu estava completamente perdida de mim mesma. A culpa que carregava era sufocante , o peso de que se falhasse mais uma vez poderia custar à vida das últimas duas pessoas que me restavam, parecia ser ainda mais torturante.

XXX

Quando amanheceu partimos para Turin, foram nove horas de estrada. Ian acabou assumindo a direção e acabei sendo acordada por ele, afirmando que chegamos a pequeno vilarejo. A cidade era minúscula. Meu corpo inteiro doía àquelas horas de sono acabou me salvando. Havia apenas duas avenidas principais e ruas paralelas no e um centro, aonde concentrava os principais lugares e principalmente quase não tinha errantes naquela área.

— É estranho. — Ian comentou, observando os lugares com atenção. — Quase não tem errantes nessa região.

— Parece fizeram algum tipo de limpeza humana. — palpitei, também olhando para fora do carro.

— Acha que devemos parar? É arriscado…

— Não iremos perder todo esse combustível por nada, Ian. — o encarei séria, ele bufou alto em resposta, parando o carro em frente ao mercado.

— O que faremos? Temos mais ou menos três horas até o anoitecer e precisamos encontrar um lugar seguro para passar a noite.

— Iremos primeiro no mercado, vamos pegar alguns alimentos e água, não temos quase nada. Também precisamos de munição. No mapa que encontrei naquela casa, indicava uma loja de munições um pouco afastada. — coordenei. — Vamos ser rápidos, todo cuidado é pouco.

— E Savannah? — Meu irmão olhou para ela e depois me encarou sarcástico.

— Ela vem conosco, não vou deixa-la sozinha todo esse tempo. — abri a porta do carro e ele continuou emburrado. — Vamos? — desci, sendo acompanhada por Savannah.

Olhei minunciosamente a entrada, torcendo para que desse certo. Não tinha a mínima noção do que nos esperava lá dentro. Ian olhou para mim, assenti. Savannah ficou atrás de mim. Ele foi o primeiro a entrar com a arma apontada, assim como eu. Por mais impressionante que seja o lugar estava limpo, revirado, mas sem errantes. Passamos por alguns corredores. Nós dois se separamos, enquanto pegava água e alguns alimentos, ele buscava por outros produtos.

Houve um estrondo alto e forte, coloquei Savannah para trás de mim rapidamente. Começamos a andar cautelosamente pelo corredor. Aconteceu em fração de segundos. Minha arma estava no chão do outro lado, os braços fortes segurando meu corpo e a respiração pesada contra minha nuca, impedindo que tivesse qualquer reação. Savannah foi segurada delicadamente por outra mulher, Ian ressurgiu de um corredor com uma arma pressionada contra a cabeça e as mãos na altura da nuca, rendido. Mais duas pessoas apontavam a arma na nossa direção.

— Quem são vocês? — A mulher negra perguntou intimidadora, guardando a espada na bainha.

— Me soltem! — tentei me desvencilhar, mas o aperto envolto do meu corpo aumentou, pressionando os meus ferimentos, escondidos pela jaqueta de couro.

— Quem são vocês? — desta vez o homem branco repetiu a pergunta, andando em circulo, para que a besta ficasse na minha direção. Os olhos azuis frios encontraram os meus. Eles não estavam de brincadeira.

— Kendall! — Savannah gritou assustada, tentando se soltar da mulher que a segurava pelos ombros, chamando atenção também do homem.

— Não queremos nada. — respondi, sentindo a irritação me atingir. — Estamos querendo achar suprimentos como vocês.

Eles se entreolharam brevemente.

— Soltem pelo menos a garota. — pedi cautelosa. — Ela não tem culpa de nada.

Novamente ambos se olharam silenciosamente. O aperto envolto de mim desapareceu lentamente, assim como a arma apontada para Ian foi abaixada e as demais também, Savannah correu até mim, abraçando minhas pernas, porém a besta continuou na mesma posição.

— Não tentem nenhuma gracinha. — Ele avisou arrogante. — Eu pergunto e todos vocês respondem, estamos entendidos?

— Estamos. — Assenti, passando as mãos nos cabelos macios da menina, que ainda abraçava minhas pernas.

Troquei olhares com Ian. Era duas opções mentir e correr o risco de morrer ali naquele momento ou falar a verdade e continuar em perigo.


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Notas finais do capítulo

E aí gostaram? Até o próximo. =*