Zodíaco escrita por Milka


Capítulo 5
Sem vida




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Apesar de viver em uma cidade tranquila, Raíssa sonhava em conhecer o mundo. Ela era curiosa, mas era muito tímida e não queria contrariar seu pai. Tomas Hyori era um pastor dedicado. Sua esposa havia morrido há cinco anos e sozinho criava os seus dois filhos.

Raíssa tinha um segredo. Uma coisa que ela não podia contar para ninguém. Desde que sua mãe tinha morrido ela descobriu que era diferente das outras pessoas. Tudo começou no enterro. Aquele dia chuvoso e triste que marcou muito a vida de Raíssa.

Gripe da cabra é uma doença fatal. Ninguém sabe como se contrai, mas um surto da doença matou várias pessoas naquele ano.

Sua mãe estava linda. Sua pele estava branca como porcelana. Os lábios que ficam sem cor por causa da doença, estavam vermelhos. O cabelo negro e liso estava com um brilho diferente. Raíssa nunca tinha visto a mãe tão elegante. Todos choravam muito. Raíssa estava triste, mas se consolou sabendo que a mãe não estava mais sofrendo.

— Queria que ela ficasse assim para sempre. – Ela pensava.

Cintra tem a tradição de ter enterros deslumbrantes. O cemitério é um museu a céu aberto que afasta algumas pessoas por ter uma beleza mórbida. A lápide era bem feita. Esculpida no melhor mármore.

Depois do enterro, todos foram para casa. Menos ela. A chuva parou e o céu estava muito estrelado. Raíssa amava as estrelas e queria vê-las por uma última vez na presença da mãe.

— Olha mãe! A constelação de peixes está muito brilhante hoje. Eu queria que você visse isso.

Ela acabou adormecendo. E foi acordada por alguns barulhos estranhos

— Ela ainda deve estar quente.

Uma voz masculina desconhecida disse.

Ela viu o brilho de uma lamparina e dois homens se aproximaram. Um era estranho, possuía algumas tatuagens no rosto. O outro Raíssa reconheceu, era o rapaz que trabalhava em um hotel na cidade. Eles estavam com pás e uma picareta.

Seu primeiro instinto foi se esconder, mas os homens estavam vindo em direção ao túmulo da sua mãe.

— Eu juro cara, ela era muito gostosa. A única coisa que me impedia de chegar nela, era aquele marido panaca dela.

— Espero que seja mesmo.

Eles acabaram vendo Raíssa. E sorriram como se alguma coisa muito boa estivesse acontecido.

— Mas que bela surpresa

— Acho que essa garota era a filha dela. Eu te deixo ficar com a mãe ,sozinho, se eu puder ficar com essa ai. – Falou o garoto do Hotel.

— Pode ficar eu não me interesso pelos vivos.

— E quem disse que ela vai estar viva?

O medo que ela sentiu era maior do que ela podia imaginar. Um instinto de proteção a fez ficar na frente do túmulo.

— Vocês não vão tocar na minha mãe !- Ela falou com muita convicção. E agarrou um galho que estava caído ao seu lado.

O de tatuagem riu.

— Acho que você terá mais trabalho que eu.

— Mas ai está a diversão.

Violadores de túmulos, ela tinha ouvido alguma coisa sobre isso. Ela correu para o outro lado chamando a atenção do homem.

Ele agarrou uma pá e correu atrás dela.

Ela correu, e correu, pulando em cima de diversos túmulos e entrou em um grande mausoléu.

— Garotinha? Qual era o seu nome mesmo. Eu me lembro de você! - A voz do homem ficava cada vez mais forte.

Raíssa se encolheu atrás de uma enorme estátua de um anjo com uma lança.

— Rachel? Começava com R não é?

Os passos ficaram mais altos.

Ela ouviu o barulho da porta, ele estava entrando.

— Eu prometo que vou ser rápido. Você não vai sentir nada.

Raíssa olhou para a estátua.

— Você podia ser real e me salvar! – Ela pensou ao tocar os pés da estátua.

Tudo ficou em um profundo silêncio. Raíssa não ouvia nem a sua própria respiração. O chão tremeu levemente e uma luz azul a envolveu. Foi como se até agora os seus olhos estivessem fechados. Todos os objetos do mausoléu emitiam uma luz. Algumas eram vermelhas, outras laranjas e tinha algumas amarelas. A estátua de anjo se mexeu , ela diferente dos outros objetos também estava azul. Era como estar em um dos seus sonhos. A estátua com todo o seu tamanho se curvou a ela. E mesmo não emitindo qualquer palavra ela sabia o que ela iria fazer.

Em um ritmo lento o som voltou. O homem estava olhando para a estátua. Seu rosto era um misto de admiração e desespero.

— Isso não é real. – Ele disse.

Mas Raíssa sabia isso não era um sonho. Essa agora era a realidade.

Apesar de lento o anjo se aproximou do homem que não se mexia. Com a lança ele perfurou seu coração. O homem ficou se debatendo por alguns segundos. E seu corpo ficou com uma luz laranja o rodeando. Ela sabia, ele tinha morrido.

Raíssa tinha que ir atrás do outro homem.

Ele estava batendo no mármore com a picareta, de longe era possível ouvir. Será que ela conseguiria fazer de novo. Ela notou que tudo emitia uma luz parecida, menos o homem , ele não tinha luz nenhuma. Ela foi até uma estátua de guerreiro. E pensou.

— Ele está tirando a paz de quem quer descanso. Proteja o cemitério.

A mágica se repetiu, a estátua também ficou azul. E como o anjo, o guerreiro foi atrás do homem com tatuagens no rosto.

Quando ele viu o que estava acontecendo começou a rir.

— Será que já estou delirando. A morte está vindo ao meu encontro?

O guerreiro era mais rápido que o anjo, porém menos forte. Ele golpeu diversas vezes o dorso do rapaz, até que sua cabeça caísse pendurada e uma luz vermelha o envolvesse.

Raíssa estava exausta. Aquilo havia consumido toda a sua energia. Ela não sabe o que houve mas quando acordou estava na sua cama. Tudo parecia ter sido um sonho.

As noticias chegaram rápido. Duas pessoas haviam sido mortas no cemitério. Era o assunto do momento. Algumas pessoas falaram que os mortos se vingaram. Que aqueles rapazes eram violadores de túmulos e tiveram o que mereceram.

Raíssa se sentia forte e daquele dia em diante ela ia para o cemitério toda noite de lua nova. Assim ela descobriu que podia fazer aquilo com qualquer objeto e até mesmo com os mortos, que diferente dos objetos ,falavam e conversavam com ela. Mas haviam várias condições para que aquilo acontecesse. Primeiro a pessoa não deveria estar morta a mais de um mês. Ela tentou diversas vezes com a própria mãe, mas já era tarde demais. E segundo eles não a obedeciam como acontecia com as estátuas e objetos. E quando ela dormia eles voltavam ao normal.

Ela não achou que invadiriam o cemitério de novo. Faziam cinco anos que ninguém além dela entrava lá a noite.

Ela viu quando um homem assustador pegou Ben , um garotinho que era amigo do seu irmão e que havia morrido de febre da cabra a 2 semanas. Ela gostava de conversar com ele. E aqueles homens haviam destruído o seu frágil corpo. Ela precisava fazer alguma coisa. Por isso com toda a sua força, encantou o maior número de estátuas que ela podia.


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