O Teorema Hudson. escrita por Ritsu Maru


Capítulo 2
Dois.


Notas iniciais do capítulo

Acho que eu achei a melhor pessoa para ser o "Hassan" huehue



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Doeu desse jeito até pouco antes das dez da noite, quando um cara de moicano e hirsuto de ascendência libanesa entrou de supetão no quarto de Rachel sem bater. Rachel virou a cabeça e olhou para ele, os olhos semicerrados.
— Que diabo é isso? — perguntou Puck, quase gritando.
— Ele terminou comigo — respondeu Rachel.
— É, fiquei sabendo. O negócio é o seguinte, sitzpinkler, eu adoraria consolar você mas, neste exato momento, o conteúdo da minha bexiga seria suficiente para apagar o incêndio de uma casa inteira. — Puck passou rápido pela cama e abriu a porta do banheiro. — Meu
Deus, Berry, o que você comeu? Tem cheiro de… AHHH! VÔMITO! VÔMITO! ECAAAAA!
E enquanto Puck gritava, Rachel pensou: Ah, é. A privada. Eu deveria ter dado descarga.
— Foi mal se eu errei o vaso — Puck disse assim que voltou. Ele se sentou na beira da cama e deu um chute de leve no corpo prostrado de Rachel. — É que eu tive de tapar o nariz com as minhas duas fugging mãos, e aí o Pucksauro aqui ficou balançando livre, leve e solto. Um pêndulo poderoso, aquele fugger. — Rachel não riu. — Brô, você deve estar mal mesmo, porque (a) piadas com meu Pucksauro são o meu forte, e (b) quem é que se esquece de dar descarga no próprio vômito?
— Eu só quero ir rastejando até um buraco, cair nele e morrer. — Rachel falou com a boca encostada no carpete bege sem transmitir qualquer emoção audível.
— Ah, não — disse Puck, expirando lentamente.
— Tudo o que eu sempre quis foi que ele me amasse e que eu pudesse fazer algo significativo nessa vida. E olhe só isso. Sério, olhe só isso — ela falou.
— Estou olhando. E tenho que admitir, kafir, que não gosto do que estou vendo. Aliás, nem do cheiro que estou sentindo.
Puck deitou-se na cama e deixou o sofrimento de Rachel pairar no ar por um instante.
— Eu sou… Eu sou uma fracassada. E se for só isso? E se, daqui a dez anos, eu estiver sentado num fugging cubículo processando milhares de dados numéricos e decorando estatísticas de beisebol para poder arrasar na liga virtual, e não tiver o Finn Hudson do meu lado, e não fizer nada de significativo, e for simplesmente um desperdício completo?
Puck tornou a se sentar, as mãos nos joelhos.
— Viu? É por isso que você precisa acreditar em Deus. Porque eu não tenho a expectativa de ter nem mesmo uma baia e vivo mais feliz que um porco chafurdando num monte de merda.
Rachel suspirou. Mesmo não sendo tão religiosa assim, Puck de vez em quando brincava de tentar converter Rachel.

— Tá. Fé em Deus. Boa ideia. Também quero acreditar que posso voar até o espaço sideral montado nas costas macias de pinguins gigantes e transar com o Hudson XIX em gravidade zero.

— Berry, você precisa acreditar em Deus mais do que qualquer pessoa que eu conheço.

— É, e você precisa ir para a faculdade — Rachel murmurou.

Puck resmungou. Um ano mais adiantado que Rachel na escola, Puck tinha tirado o ano “de folga” mesmo tendo passado para a Universidade Loyola de Chicago. Como não tinha feito matrícula em nenhuma matéria para o semestre seguinte, parecia que um ano de folga logo se transformaria em dois.

— Não venha me botar na berlinda — Puck disse com um sorriso. — Não sou eu quem está fugged demais para levantar do carpete, nem para dar descarga no meu próprio vômito, brô. E você sabe por quê? Porque eu tenho o meu Deus.

— Pare de tentar me converter — Rachel se queixou, sem parecer achar graça naquilo.

Puck deu um pulo, imobilizou Rachel no chão, um joelho de cada lado do corpo dela, contendo os braços da amiga com as mãos, e começou a gritar:

— Não há outro deus além de Alá e Maomé é Seu Profeta! Repita comigo, sitzpinkler! La ilaha illa-llah! — Rachel começou a rir, perdendo o fôlego sob o peso de Puck, que riu também. — Estou tentando salvar seu maldito traseiro de ir para o inferno!

— Ou você sai de cima de mim ou é lá que eu vou parar daqui a pouco — Rachel arquejou.

Puck ficou de pé e, de repente, passou para o modo sério.

— Então, qual é o problema exatamente?

— O problema exatamente é que ele terminou comigo. Que eu estou sozinha. Ai, meu Deus, estou sozinha de novo. E não é só isso. Eu sou uma fracassada total, caso não tenha reparado. Estou em fim de carreira, sou uma ex. Ex-namorada do Hudson XIX. Ex-prodígio. Ex-cheio de potencial. Atualmente cheio de merda.

Como Rachel já explicara várias vezes a Puck, há uma diferença enorme entre as palavras prodígio e gênio.

Prodígios conseguem aprender rapidamente o que outras pessoas inventaram; gênios descobrem o que ninguém descobriu. Prodígios aprendem; gênios realizam. A maioria das crianças prodígio não se torna um gênio na idade adulta. Rachel tinha quase certeza de que fazia parte dessa maioria desafortunada.

Puck se sentou na cama, beliscando a barba por fazer que cobria sua papada.

— Mas o verdadeiro problema aqui é o lance de ser gênio ou o lance do Hudson?

— É só que eu amo tanto o Finn... — Foi a resposta de Rachel.

O fato é que, na cabeça de Rachel, as duas coisas estavam relacionadas. O problema era que a garota mais especial, magnífica e genial do mundo era… bem, não era. O Problema mesmo era que Ela não era importante. Rachel Berry, célebre menina prodígia, célebre veterana de Conflitos Hudsonicos, célebre nerd e sitzpinkler, não era importante para o Hudson XIX, para Finn Hudson, e não era importante para o mundo. De repente, ela não era mais a namorada de ninguém, nem a gênio de ninguém. E isso — utilizando o tipo de expressão complexa que se esperaria ouvir de uma prodígia — era um saco.

— Porque o lance de ser gênio — Puck continuou como se Rachel não tivesse acabado de declarar seu amor — não é nada. Isso só tem a ver com querer ser famoso.

— Não, não é isso. Eu quero ser importante — ela disse.

— Certo. Como eu disse, você quer fama. O famoso é o novo popular. E já que você não vai ser uma fugging America’s Next Top Model, sem a mais puta sombra de dúvida, quer ser o America’s Next Top Genius, e agora está… e não leve isso para o lado pessoal… choramingando porque isso não aconteceu ainda.

— Você não está ajudando — Rachel murmurou com a cara no carpete, e virou o rosto para olhar para Puck.

— Levante daí — Puck disse, estendendo a mão. Rachel segurou-a, tomando impulso para subir, e depois tentou se desvencilhar dela. Mas Puck apertou-a ainda mais. — Princesa Judia, você está com um problema muito complicado que tem uma solução muito simples.


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