A Retribuição escrita por BadWolf


Capítulo 5
Aquele Pressentimento


Notas iniciais do capítulo

Olá!!!

Sim, eu estou viva!! Rs. Simplesmente ando muito atarefada. Mas não se preocupem, quando eu puder,estarei postando mais caps.

Boa leitura!



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Esther ainda estava acordada. Embora já tivesse passado das duas da manhã, o sono não chegava. Nenhum sinal dos dois. A rua estava silenciosa naquela noite fria, de modo que facilmente ela conseguiria escutar o cabriolé chegando. O coração estava inquieto. Era sempre assim quando os dois estavam fora, especialmente quando Holmes estava fora, envolvido em perigo e toda sorte de maldade que pudesse ocorrer. Ela sentia ser impossível se acostumar à essa rotina. Fazer-se da esposa – secreta, mas ainda assim esposa – e ficar esperando em casa o marido chegar, inerte, sem fazer nada. Ainda mais quando ela sabia que o homem era perigoso, como o russo Karamazov.

De repente, o relinchar dos cavalos perto dali. Só deveria ser eles.

Ela correu para a sala, local onde era mais fácil ouvir a chegada das pessoas. Perto da porta, só o que pôde fazer foi ouvir os dois chegarem, conversando baixo, dado o horário, para justamente não acordar ninguém.

–Você tem certeza de que está bem, meu caro? – era a voz de Watson.

–Estou, Watson. Nada que algumas horas de sono não compensem. Ao menos o caso está encerrado. Ainda assim, meu amigo... Eu não posso deixar de pensar que...

–Chega, Holmes. – pediu seu amigo, com paciência. – Sophie está certa. Você está esgotado, faminto... Vá descansar. Amanhã nos vemos no café da manhã.

Esther sabia que Watson estava partindo para mais uma de suas saídas da noite. Ela jamais imaginou, até morar ali, em Baker Street, que Watson fosse tão boêmio. No dia seguinte, ele sempre agia como se nada estivesse acontecendo, e para completar, Holmes evitava tocar no assunto, fechando aquele velho acordo masculino.

Ela ainda estava preocupada com o “Você tem certeza de que está bem, meu velho?”. Watson não costumava fazer esta pergunta a ele, neste tom. Sua preocupação foi mais forte que o risco de ser pega no quarto de um solteirão, fazendo-a subir as escadas devagar, aproveitando-se da ausência de Watson, para verificar como ele estava.

–Holmes? – ela perguntou, no limiar da porta.

A porta se abriu, revelando Holmes, já sem o terno, o tempo todo de costas para ela, como se evitasse olhá-la.

–Esther? Você deveria estar dormindo...

–O que aconteceu? – ela perguntou, preocupada.

–Nada, você está preocupada e...

Ela correu para acender uma luminária, trazendo luz ao ambiente, e deparou-se com um machucado perto de seu olho.

–Adonai, o que foi que...

Antes fosse o olho o mais grave. Ela notou, à meia-luz, uma mancha vermelha na altura das costelas. Ao ter o seu ferimento tocado pelas mãos de Esther, ele se esquivou, com um grito de dor.

–Adonai... Você está ferido seriamente! – disse, pois sabia que ele não era de exagerar.

–Não é nada, Esther... Eu...

–Sente-se. – ela ordenou. Sensato, Holmes a obedeceu, tentando disfarçar a dor lancinante que lhe atacou, no momento em que se sentou sobre a poltrona. Isso só a deixou mais preocupada, fazendo-a correr em busca de sua caixa de Primeiros Socorros.

–Você não é inquebrável, Holmes, embora goste que os outros pensem assim. Por quê não contou a Watson?

–Porque não foi nada demais.

–Oh não? Uma facada não é nada demais agora?

–Superficial, Esther. Completamente... Urgh, Superficial! Por Deus, tenha piedade, mulher! – ele exclamou, a medida que Esther limpava o ferimento, com certa diversão em ver o Grande Detetive prostrado à um ferimento.

–Eu acho que ele está desconfiado do que aconteceu a ti. Se ele não estivesse tão preocupado com seus encontros amorosos, iria te avaliar, quer você queira ou não... Acho melhor você se deitar. Isso.

–Está com ciúmes, Mrs. Sigerson?

Esther apertou a ferida, propositalmente, arrancando mais um gemido de Holmes. – Óbvio que não, The Great Detective. – disse, com ironia. – Mas não posso deixar de ficar preocupada... Ele pode estar com uma mulher casada, ou mesmo uma prostituta. Me preocupo com as consequências.

Holmes sabia que a preocupação de Esther tinha fundamento.

–Ele não é uma criança, Esther. Sabe o que está fazendo.

–Isso explica também suas dificuldades financeiras, que lhe fizeram voltar para o consultório antigo. Decerto não estava mais suportando pagar um aluguel mais caro. Ele deveria achar uma pessoa decente, casar-se...

–Deixemos de nos preocupar com a vida de Watson. Ele é um adulto. – disse Holmes, enquanto abotoava a camisa.

–Aliás, o que você estava prestes a falar com ele, antes que ele fosse embora? – ela perguntou, enquanto reunia a gaze e álcool na maleta.

Holmes suspirou, antes de começar.

–Você reparou no número de casos envolvendo russos que têm aparecido em minhas mãos nos últimos tempos?

–Sim, eu reparei. Quando não diretamente, indiretamente.

–Pois bem. Todos eles são russos, recém-chegados à Londres. Nenhum deles tem mais de dois anos na cidade. Marginais de toda a sorte, de todos os níveis, desde operários analfabetos com graves propensões ao assassinato e estupro à alguns bens de vida com intenções criminosas. Parece haver algo aqui, nesta cidade, atraindo a presença deste tipo de gente.

–Qual é a sua preocupação? – perguntou Esther.

–Meu instinto me diz que há algo em curso, Esther. Eu não sei o que é, mas algo está para acontecer, e envolve aquele país.

Esther sentou-se sobre o braço da poltrona, beijando o topo da cabeça de Holmes. Ela sabia exatamente o tipo de perigo que ele queria mencionar.

–Passou-se tanto tempo, Holmes. Mais de cinco anos desde a morte de Dmitri e nenhum movimento aconteceu desde então. Esses casos decerto serão mera coincidência.

Ainda intrigado, Holmes ergueu uma sobrancelha em resposta, voltando outra vez ao silêncio. Não valia a pena tocar no assunto. Os dois sempre evitavam qualquer referência a Dmitri ou ao Conde Ivanov, afinal, Esther sofrera grandes abusos quando menina e perdera a família, além de passar metade de sua vida sendo perseguida por toda a Europa. Por que despertar tais lembranças?

–Tens razão. – ele se rendeu, por fim.



Yorkshire, Inglaterra. 10 de Março de 1900.


O velho Siger estava sentado sobre sua cadeira de balanço, a mesma que seu pai sentava quando se reunia ao redor da lareira, em noites frias como aquela. O pobre velho sofria de artrose, mas era resistente em acabar como velhos hábitos, entre eles o fumo depois do jantar. Os pulmões já não eram mais os mesmos de sua juventude, mas o tabaco era irresistível.

Fazia uma noite horrenda lá fora. O vento uivava, as janelas trancadas, não pela força da tempestade, mas por precauções, em especial as que estavam acontecendo na última semana. Por duas vezes, ele vira homens estranhos a rodear a fazenda e estava pensando em abordá-los na terceira vez, caso ocorresse outra vez.

Um homem loiro, já de meia idade, adentrou àquela sala imensa e de único ocupante, repleta de enfeites remetentes à glórias do passado. Ele aproximou-se da rangente cadeira de balançar, onde jazia o home idoso, e tocou-lhe no ombro.

–Acho que já é hora de dormirmos, papai.

O homem não resistiu. Ergueu-se, ainda que fracamente, e deixou-se ser levado por seu filho. Passava praticamente todo o tempo em uma cadeira de rodas, desde uma queda de cavalo há dois anos, agravada pela artrite, mas ainda era capaz de dar alguns passos e subir e descer as escadas com seu auxílio.

Quando o homem deixou seu idoso pai em seu aposento, ele recolheu-se ao seu, que ficava no final daquele corredor imenso. Aquele era um casarão histórico, de centenas de anos, com algo em torno de quinze quartos e uma infinidade de banheiros e outros cômodos. O homem nunca parou para contar, mas ele sabia que seus dois outros irmãos deveriam saber. Sempre foram mais observadores do que ele.

Ele olhava para aquela infinidade de cômodos vazios e sentia dor. Queria se lembrar dos áureos tempos em que aquela casa tinha mais que dois ocupantes e criados. Sentia falta do som de seus irmãos menores, a correr pela casa, a falarem sobre novidades. O som do piano, sendo tocado por sua mãe. Até mesmo o som de violino que emanava do quarto do mais caçula, mesmo aquele som horrível dos iniciantes. Agora, estava tudo vazio. De cheio, apenas a nostalgia.

Quando se preparava para dormir, ele ouviu um barulho estranho.

Ele era um homem do campo, típico empresário agrário. Detestava violência, mas sabia se defender quando precisasse. Já expulsou por duas vezes invasores à bala, mas há muito tempo algo do tipo ocorria. Tinha chovido pela tarde e o solo estava encharcado, de modo que ele conseguia ouvir os passos no jardim. Mas a noite lá fora era escura, com apenas alguns raios distantes a cortar o silêncio da fazenda. Ele não tinha escolha: defenderia sua fazenda, seu pai, ainda que custasse sua vida. Por isso, retirou o revólver que ficava na gaveta de sua cama.

Os passos vinham claramente da região próxima à biblioteca. Ele se aproximou, com leveza, até o som. Ainda da porta, que estava aberta, viu dois vultos. Por sorte, ele tinha deixado imprudentemente uma vela sobre a mesa, de modo que as sombras de dois homens se projetavam sobre o chão. Eles vasculhavam gavetas e livros, como se estivesse procurando por algo.

Seus olhos cinzentos se arregalaram com a situação. Ele sabia que tinha recebido ali o direito da defesa e que poderia atacar. No entanto, estava em desvantagem, mas sempre fora bom na pontaria e ainda poderia contar com o elemento surpresa. Foi desta forma, perfeitamente calculada, que ele irrompeu na biblioteca, surpreendendo os demais com um tiro que atingiu um deles em cheio no tórax. O outro tentou se defender, mas acabara também alvejado na cabeça, que, estourada, caiu sobre a mesa, manchando alguns documentos com borrão de sangue.

O outro ainda estava vivo, para sua surpresa. Balbuciava um palavreado estranho. Ele, que não era o mais estudado dos irmãos, pois por ser o primogênito já tinha nascido com a responsabilidade de cuidar de sua terra, tinha certeza de que um de seus irmãos saberia ao menos identificar que idioma estranho era aquele. Não um caipira que mal conhecia o mundo ou os livros. Ele suspirou, antes de aplicar no patife uma coronhada, deixando-o desfalecido, mas vivo. Ao menos alguém estava vivo, para explicar o que estavam fazendo ali, procurando papéis na Mansão dos Holmes, nas pastagens de Yorkshire.


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Notas finais do capítulo

Nem preciso dizer quem é o Siger e esse homem loiro que estava chamando-o de "papai", preciso?? HAHAHAHA

E sim, nesta fanfic teremos uma boa participação da família Holmes, melhor dizendo, aquela família escondida dos livros (e que só deve existir na minha imaginação e de alguns que especulam) Preparem-se para uma boa dose de surpresas!

E a confusão só está começando... Isso ainda não é nada.

Um grande bj!



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