A Retribuição escrita por BadWolf


Capítulo 4
Nada De Novo Em Baker Street


Notas iniciais do capítulo

E sim, eu trollei vocês.
I'm sorry.

Boa leitura!



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Os Irregulares tinham uma missão.

Procurar e mapear todos os russos que estivessem circulando por Londres. Não, é claro, qualquer russo, mas os russos que tivessem há pouco tempo na cidade. Will, um dos moleques, era o único que sabia escrever, e desenhava os mapas, escrevendo os endereços de onde moravam os russos. Cada um ganharia um guinéu se achassem todos os russos possíveis do submundo de Londres.

Mycroft rapidamente conseguiu para Holmes uma lista, da Embaixada da Rússia, a respeito da situação dos estrangeiros recém-chegados. Holmes bufou, depois de colocar o relatório a respeito do último ano. Nada de suspeito havia ali. Parecia que Londres não era uma cidade muito visitada por eles, o que só lhe causava estranheza. Teriam aqueles russos adentrado ao país de maneira clandestina? Ou a Embaixada estava escondendo alguma coisa?

Mas, apesar do amadorismo dos Irregulares frente à Embaixada, o relatório daqueles meninos analfabetos e desvalidos das ruas londrinas era muito mais promissor do que de qualquer diplomata arrogante poderia lhe preparar.

–Encontramos uma mulher chamada Abigail, perto do porto, e ela trabalha na Fábrica de Parafusos. Há um homem chamado Kara... Kara...

–Karamazov? – incentivou Holmes. O Irregular assentiu que sim, com um sorriso de poucos dentes.

–Karamazov, isso mesmo. Ele está em Londres há sete meses e mora em Soho...

–Hum... – disse Holmes, interessado. – Esse Karamazov... O que achou dele, Wiggins?

–Karamazov parece ser perigoso, senhor. Bebe e não tem um dente da frente.

Todas as crianças, sujas e maltrapilhas, riram da afirmação de Wiggins, que rapidamente deu mais um gole no precioso café, que poderia ser sua única refeição do dia. Holmes também riu, enquanto seu olhar se dirigia rapidamente à Esther, que estava encostada à porta, acompanhando toda aquela confusão.

–E o que mais? Profissão?

–Nada, Mr. Holmes. A vizinha dele disse que ele é um vadio.

Os meninos riram. Holmes rapidamente o repreendeu.

–Cuidado com o vocabulário, Wiggins. Estamos diante de uma senhora. – ele disse, acenando para a presença de Esther.

–Desculpe, madame.

–Não há problema. – disse Esther.

–Mr. Holmes, ela é sua esposa?

–O quê?! – questionou Holmes, com os olhos mais arregalados do que devia.

Quem perguntou foi um dos meninos, chamado Jeremy, um menino recém-chegado aos Irregulares e bastante curioso. Coube a Wiggins repreendê-lo.

–Mr. Holmes não é casado, Jeremy.

–Exatamente, Jeremy. Eu não sou casado. Mrs. Sigerson é minha vizinha. Mas então... – Holmes pôs a mão no bolso, arrancando os olhares curiosos de todos os Irregulares, sedentos por dinheiro. – Tal como o combinado, aqui está sua recompensa. – ele disse, entregando uma moeda a cada um.

–Obrigado, senhor. – disse Wiggins, em nome dos Irregulares, que ao receberem o dinheiro, rapidamente se bandearam dali, retirando toda a comida da mesa que conseguiam carregar, lançando-a em seus bolsos, boinas e tudo o mais que pudesse caber.

Presente o tempo todo naquela reunião, Esther observava aquele grupo de cerca de vinte crianças, de todas as idades, sair de Baker Street. A única coisa que havia ali em comum era a pobreza.

–Você foi bastante paciente com o menino. Ainda me surpreende ver o quão bem você se dá com crianças. – constatou Esther.

–Elas são os meus olhos e ouvidos na cidade. E o que é mais interessante, são praticamente invisíveis. As pessoas costumam não se importar com elas.

–Infelizmente. – disse Esther, sentando-se na poltrona. Holmes suspirou, encerrando o assunto. De repente, ambos foram surpreendidos pela voz de Watson.

–Oh, Holmes, acabei de cruzar com os Irregulares no corredor e logo imaginei que pudesse ser algo haver com o russo ladrão de porcelanas.

–Sim. Estou pondo um ponto final neste pequeno probleminha. Já sei que ele mora em Soho, por isso, devemos estar preparados. Um revólver é primordial, ainda mais porque nosso amigo não se mostrou muito cordial para com o inspetor Lestrade.

Watson assentiu. – Tem razão. O infeliz quebrou o braço dele com um único golpe. Deixou o inspetor fora de combate por um tempo.

–Mais um motivo para sermos cautelosos. Tenho certeza de que esse Karamazov é o mesmo que atuou no assalto à Mrs. Whitney e na residência dos DeWitt. A prisão deste russo encerra o ciclo de assaltos violentos que vem assolado a nossa cidade.

–Mas antes de irmos, podemos jantar? Tive um dia bastante atribulado no consultório... Somente hoje, fiz dois partos!

Esther e Holmes ergueram sobrancelhas, em pasmo.

–Bem, não me vejo em outra situação senão atender ao seu pedido, Watson.

Mrs. Hudson pôs a mesa aos três, que há mais de cinco anos tinham criado o hábito de jantarem. Isto é, quando Holmes não estava atarefado com algum caso e seus hábitos se tornavam irregulares. Por dentro, Esther o assistia definhar várias vezes, sem poder reagir. Ao menos, não na frente de Watson. Quando juntos, sozinhos, ela costumava chamar-lhe a atenção. Sem muito sucesso.

–Tomem cuidado, esse homem aparenta ser perigoso.

–Não há com o quê se preocupar, minha cara. Estamos acostumados a lidar com gente desse nível. – respondeu Watson, com gentileza. Holmes permanecia quieto, sequer tocando na comida.

–Mr. Holmes? – perguntou Esther.

Holmes apenas ergueu os olhos, como se respondesse, fingindo frieza quando, na verdade, ele se perguntava “O que foi dessa vez, Esther?”

–O senhor não irá comer mais? Sequer tocou na comida... – pedia Esther, tentando disfarçar sua preocupação.

Esther, por favor, não comece...

–Eu vou ficar bem, Mrs. Sigerson, e por favor, pare de estar em vigilância a respeito de minha alimentação. Já basta Watson para isto, creio não precisar agora de uma mulher a também monitorar meus hábitos.

–Holmes! – chamou Watson. – Isso é maneira de tratar Sophie?

–Deixe-o, Watson. Está certo. Fique sem comer, e aposto que um dia, o senhor irá desmaiar na frente de algum inimigo. Espero que lembre-se de mim ou de Watson, quando este dia chegar...

Holmes fingiu-se chocado com a resposta, mas por dentro, ele sabia que não poderia esperar outra coisa da mulher que, secretamente, era sua esposa. Watson ria, intimamente, da ousadia de Esther.

–E quanto ao seu marido? Ele veio vê-la de novo?

O assunto deixava Watson um tanto emburrado, isso era notório. Holmes estava se referindo às duas ocasiões em que ele cometera um erro, em suas escapadas com Esther. Em uma delas, pós-noite de Ano-Novo de 1897, Mrs. Hudson percebera os lençóis da cama de Holmes mais amarrotados do que deveriam quando foi leva-los para lavar. Holmes tinha o costume de arruma-los, mas ele estava com tanta ressaca no dia seguinte que se esqueceu disso. Sua senhoria foi discreta e não comentou o fato, mas Holmes ficou quase todo o mês de Janeiro recebendo olhares questionadores de Mrs. Hudson, e o que é pior, tão questionadores que o deixava ruborizado. O segundo deslize, para Holmes o mais grave que cometera, foi um lenço masculino que Watson encontrou em uma poltrona do apartamento de Esther. Para sua sorte, Watson não era um conhecedor de seus lenços. Desde então, ele e Esther andavam mais cautelosos em não deixar vestígios de seus encontros secretos.

–Er... Não. Há alguns meses que eu não o vejo.

–Pois que fique assim. Ele é um criminoso, procurado pela Justiça. Se eu o encontrar, juro que o levarei até a delegacia mais próxima. – disse Watson, cheio de ciúmes.

–Watson, eu o amo.

–Ele não merece alguém como você, Sophie. Onde ele está agora, hein? – perguntou-se Watson, gesticulando ao redor, enquanto Holmes o observava tomando uma taça de vinho, disfarçando a ironia em seu olhar. – Ele nunca está por perto, Sophie. Parece amar mais as suas viagens, suas pesquisas... Eu sou um homem vivido, Sophie, e sei que o mundo tem muitas tentações... Você faz idéia de que, à uma hora dessas, ele pode estar com outras mulheres, ou mesmo com uma mulher diferente por noite?

–Watson... Pare. – pediu Esther, tentando mostrar-se insegura.

–Er, Watson... Já está tarde, devemos ir.

Watson assentiu. – Tudo bem. Vou pegar meu casaco.

Ainda com o ar enfurecido e enciumado, Watson saiu da mesa. Ao perceber que ele estava longe, Esther aproximou-se de Holmes e cochichou.

–Cuidado. Eu já monitorei Karamazov uma vez para a Agência. Ele é perigoso.

–Eu sei. Tomarei todo o cuidado do mundo, meu amor.

Meu amor. Ultimamente, Holmes estava se permitindo ser mais romântico, embora não fosse do seu feitio. Talvez fosse a frequente convivência no cotidiano e o fato de que os dois estavam se encontrando com mais frequência. Tanto que Esther achava que uma gravidez seria questão de tempo.

–Vamos, Holmes. – disse Watson, já perto da porta.

–Até mais, Mrs. Sigerson.



Fazia um pouco de sereno naquela noite. As ruas de Londres, algumas delas recém-reformadas e com a pavimentação recente, brilhavam com o cair tímido da chuva, que não afastava as pessoas de suas tarefas noturnas. o Teatro estava movimentado, restaurantes e pubs cheios. Holmes estava distante, taciturno. Pensava no caso, mas também em Esther e no que ele detestava chamar de "problemas domésticos". Estava cada vez mais difícil manter segredo. Ambos estavam há mais de cinco anos tentando um bebê, e desde que a identidade de John Sigerson quase foi descoberta naquela tola tentativa de falsear uma visita, Holmes tinha desistido de assim fazê-lo. E se John Sigerson não "cumpria seus deveres matrimoniais", então quem seria o pai de um eventual filho de Esther? Watson poderia ser bondoso, mesmo ingênuo em muitas situações, mas não era tão tolo assim.

–Você não consegue chama-la de Sophie, não é?

A fala de Watson interrompeu suas preocupações. Rapidamente, Holmes voltou seus olhos da janela do cabriolé para seu amigo, claramente desejando adentrar a algum assunto que não envolvesse violência, mistério e crime.

–Da mesma maneira como ela não me chama de Sherlock. - respondeu Holmes, com certo humor.

Watson riu. – Não exija tal coisa da moça. Ninguém além de seu irmão lhe chama assim. Nem mesmo eu o chamo.

De fato. Mas quando fazemos amor Esther sempre me chama de Sherlock.

–Holmes, Holmes... Você precisa trata-la melhor... Ela praticamente é nossa amiga agora.

–Eu não tenho amigas, Watson. – disse Holmes, com desdém e machismo. – Mulheres são distração, e péssimas até mesmo para conduzir uma conversa de valor.

–Mas reconheça que Sophie não é uma moça normal. Ela é capaz de falar de política a ciência. Algo impressionante. E ela gosta de ir ao Museu Nacional, à Biblioteca...

–Ossos do ofício, eu garanto. Não podemos nos esquecer de que ela é professora...

–De um Colégio de Meninas, sim, é verdade. - concluiu Watson. - Portanto, não precisaria adentrar em assuntos tão complexos. Ela é mesmo uma mulher inteligente... – Watson suspirou. – Não posso compreender um sujeito que a deixa sozinha para se embrenhar na selva ou estar em alto-mar. Uma pena que ela ame um homem que não a trate com o mínimo de zelo...

–Isso não é da nossa conta, Watson. Se ela se contenta com tal casamento, o problema é dela. Pronto, estamos em Soho, Watson, tal como os Irregulares tinham nos avisado.

–Espero que tudo acabe bem esta noite e que possamos desmascarar esse patife o quanto antes.

Holmes ergueu uma sobrancelha, surpreso.

–Por quê? Tem outros planos para esta noite?

Watson pigarreou. – Alguns assuntos urgentes.

Holmes sabia que seu amigo estava se relacionando com Rose Willians, a prostituta de Whitechapel. Ou melhor, ex prostituta. Agora, ela tinha um amante fixo, que lhe pagava uma moradia e situação confortável. Mas ele sabia que tudo isso era um divertimento. Watson ainda não tinha se esquecido de Esther.

–Vamos, Watson.


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Notas finais do capítulo

#WatsonSafadinho
#HolmesTambém

Hahahaha Vai chegando a meia-idade e esses dois vão ficando com os hormônios à flor da pele. Vamos torcer para que ninguém se fira. Só torcer, porque duvido que tudo acabe bem.

Um grande bj e até a próxima!
Obs.: ainda estou verificando qual será o melhor dia para postar. Depois que eu decidir, vou avisá-los. Provavelmente será 2 caps por semana. Bjs e deixem reviews!



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