Já era de conhecimento público que o príncipe Maxon se casaria com a senhorita Kriss de Columbia. Toda e qualquer pessoa em Illéa, onde quer que estivesse, tinha conhecimento de quem seria a sua futura rainha. O deleite de quem estava presente no palácio durante o anuncio da futura Majestade foi filmado e exibido para o resto da população dividida na miséria de suas castas. A suavidade com que as lágrimas graciosamente escorreram pelos amendoados olhos da pura senhorita Ambers comoveu inteiramente as 35 províncias do reino que pouco sabiam reagir a escolha. Apostas foram ganhas e perdidas. Ex-selecionadas surpresas e outras nem tanto. E mesmo que nem todos no palácio estivessem felizes, foi exibido que não havia maior momento de alegria no reinado ainda não iniciado de Maxon.

Os noivos eram cumprimentados lado a lado, outras vezes eram rodeados por outras pessoas e assim separados. Por isso não demorou para que logo Maxon perdesse Kriss de vista. De início ele não ficou intrigado ou preocupado sobre onde ela estaria. A possibilidade de ela estar conversando com alguma amiga ou com os pais que a tempos não via o deixava permitir que ela tivesse espaço com eles.

No salão em festa, todos conversavam e em meio a calmaria não notavam a tormenta se formando. As rodas de conversa, a estranha movimentação dos guardas, o deleite de quem, além de esperar pelo nome da futura rainha, também aguardava o melhor momento para ter em mãos a família real reunida de frente para as câmeras.

Esse momento que, tardou a chegar mas que finalmente veio. Já perto do encerramento do evento, as câmeras aguardavam para filmar e transmitir a bela “família feliz”. Porém, para tal era necessário que Kriss estivesse presente para despedir-se daqueles que iriam embora e por isso a mãe de Maxon tocou o ombro do filho e com penar suavidade nos olhos disse:

— Traga sua noiva para finalizarmos o evento.

Maxon teve de sair do salão para procura-la e perguntando-se onde ela estava, simplesmente seguiu até uma das salas no seguinte andar que fora reservado para o descanso da família da selecionada e onde, mais tarde, as famílias Ambers e Schreave se conheceriam melhor e com mais calma.

Depois de subir as escadas e já estar de frente as grandes portas do cômodo, ele preparou-se para entrar. É claro, se não fosse pelas vozes que, de forma apressada, revelavam os seus pontos de vista sem nem notar o tom elevado de voz.

— É cedo demais - a voz que ele soube ser de Kriss disse exasperada - Muito cedo para dizer qualquer coisa.

—Achei que já tivéssemos encerrado esse assunto Kriss - uma voz masculina que ele não reconhecia respondeu - Não pretendo ir contra as decisões previamente tomadas. Se me foi dito para dizer a verdade, então minha filha, eu o farei.

—Mesmo que isso custe a confiança de Maxon? - A morena perguntou aflita - Só porque ele me escolheu, não significa que nossa relação é solida. Eu fui posta aqui para isso certo? Ter a confiança dele, para que assim ele levasse em consideração o que nós nortistas temos a dizer.

— Seu papel aqui era tornar uma nortista em uma rainha, e você já o fez. Não há volta para a decisão que ele tomou, uma nortista agora tem poder dentro do reino. Maxon é uma peça importante, ainda mais pelo fato de que Algust não quer o trono, mas não é tão essencial agora que uma monarca representa nossa causa.

—Eu ainda não me casei. - Kriss disse derrotada.

—Mas vai, não há revogação para a decisão dele, e também seria um escândalo. Que definitivamente será evitado. Mas por extra precaução diremos depois da cerimônia, se isso a acalma.

—Pois eu digo que ainda é muito cedo - Kriss voltou a protestar - É preferível ter a confiança dele ao invés de traí-lo assim. Creio que em um ano ou dois estaremos em uma posição que me permita contar, mas por agora não detenho tamanho companheirismo dele.

Uma risada rouca e um pouco debochada soou pela sala. O pai da moça parecia estar perdendo a paciência com ela, sentindo que a filha ficava cada vez mais imoderada. Ele se preparou para respondê-la quando sua mulher o olhou e silenciosamente pediu para falar com Kriss.

—Que tipo de confiança espera obter dele vivendo com essa mentira entre vocês? – Uma terceira voz disse - Você não está aqui para ter o amor dele Kriss. Eu entendo que não revelar que você está aqui porque é nortista. Isso manteria o disfarce que te cobre e que te fez ser escolhida dele, mas...

A porta abriu-se como um sopro frio entre arbustos na noite e arrepios correram pela pele branca de Kriss. "Isso só pode de ser um pesadelo" ela pensou ao olhar a face neutra de Maxon enquanto a fala de sua mãe morria entre seus lábios.

O príncipe a olhou e de leve pigarreou:

—Temos de nos despedir dos convidados agora Kriss - a voz de Maxon tornou-se ácida ao pronunciar o nome da jovem - Venha, vamos descer para que assim possa ser a rainha que tanto deseja.

O olhar de Kriss fraquejou e ela teve de desviar-se da dor que sentia ouvindo Maxon dizer-lhe aquilo.

—Maxon, eu...- Ela tentou explicar-se, mas não pôde concluir.

—Seus sogros a aguardam, eles adorariam conversar com a jovem de Columbia que conquistou a coroa - ele disse com escarnio - a jovem Kriss Ambers que tomou a coroa para o grupo nortista - ele sorriu de lado. “Então você era a segunda opção do senhor Algust Illéa...”

Maxon virou-se e deixou a sala e indo em direção ao salão sem nem sequer dirigir uma palavra ou olhar para as outras duas pessoas no cômodo. Ele foi impedido de prosseguir pois Kriss o alcançou e pediu para falar com ele. O loiro virou-se e a olhou por uns instantes, dando-lhe chance de replicar.

—Maxon, ouça-me, eu sei que entrei nessa competição pelo ideal nortista, mas eu te amo - Kriss sorriu com as lágrimas embaçando sua visão - eu realmente passei a te amar e a partir do momento em que notei isso, eu já não lutava mais como “Kriss, a nortista”, mas como “Kriss, a mulher que tanto te ama”. Por favor, compreenda.

Maxon odiava se sentir traído, e olhar para Kriss o lembrava da razão pela qual a escolheu. O lembrava também de que não poderia se afastar dela, pois sua decisão era sem volta, e isso o irritava mais ainda. Ele tinha errado e nenhuma chance de revogar seu erro lhe era ofertado. Ao olhar as lágrimas, que pouco lhe importavam, escorrer pelo rosto da mulher a sua frente, a frustração o tomava e isso destruía qualquer perspectiva de que ele não estava sendo usado. Mas ele sabia o que era, ou melhor, no que havia se tornado. Uma peça no embate entre os nortistas e sulistas, um substituto para o verdadeiro rei. Em cima daquele tabuleiro, ele não se sentia nada além de um peão no jogo de Algust Illéa. Ele bufou.

—Eu não escolhi América porque ela havia escondido um segredo de mim, mas – frustrado ele bagunçou o cabelo -  Kriss você também o fez. E o mais odioso nisso tudo é que eu não posso afasta-la como fiz com América.