Nunca vou me esquecer do dia em que minha mãe me pediu para preencher a ficha da seleção... Se eu não tivesse preenchido teria, provavelmente, me casado com Aspen e não teria conhecido Maxon, mas não teria esses meus filhos que tanto amo...

—Por favor, Ahren- clamou Eadlyn para porta que o irmão havia batido em sua cara- Não lhe custa nada, é só preencher a ficha, hora vamos... Imagine você no palácio... Com o rei, a rainha e a princesa...

—Ead nem continue esse seu discurso ridículo... Eu não vou para a seleção- disse calmamente Ahren de dentro do quarto

—Mas imagine se você for chamado... Com toda a certeza dentro daquele palácio tem as informações que você procura para o seu projeto... - Disse Eadlyn

—Ead, eu não vou usar a princesa para conseguir concluir meu trabalho... Eu já fiz boa parte sem as informações que a família real pode me oferecer... Eu não preciso deles- a porta se abriu e Ahren disse nos olhos da irmã, talvez dois ou três centímetros mais baixa.

—Mas...

—Mas nada Ead- disse cansada da gritaria, essa discuçao estava me preocupando, Ahren não podia mudar de ideia, afinal Eadlyn, Ahren e Angeles são irmãos - Se ele não quer, não há como obriga-lo, e eu também não o quero na seleção...

—Porque mãe? Você sabe como isso o ajudaria...?

—Como passar por cima dos sentimentos de alguém vai me ajudar Ead? E se a princesa Angeles se apaixonar por mim?

—É só não dar motivos... - disse Eadlyn e eu ri daquilo

— Eu sou irresistivel, ela se apaixonaria de qualquer jeito- disse Ahren cheio de si, e com isso a irmã morreu de rir, olhei no relógio que mostrava quinze pras duas, Eadlyn estava prestes a responder quando me intrometi.

—Ead minha filha você não ia dar aula hoje no lugar da professora Clara? Já são uma e quarenta e cinco...

Eadlyn olhou para mãe como se tentasse se lembrar do compromisso, e de repente correu até o quarto e voltou com o violão e toda envolta em cachecóis vermelhos, sua cor favorita desde sempre, pois nevava do lado de fora.

— Você Ahren, não tem de ir ajudar Helena na mudança?- disse Eadlyn maliciosa, ela adorava provocar Ahren em relação às garotas, pois Ahren é muito tímido e atraente, tem o tipo físico de Maxon quando jovem, moreno com os olhos cor de chocolate e sorriso arrebatador.

—Me deixe em paz Ead... Vai cuidar da vida do seu namorado Kile, eu soube que as empregadas do palácio são bem animadinhas- Ahren sorriu vendo a cara emburrada da irmã.

Os dois se encararam e ela fez uma careta, declarando que ele havia ganhado, ela pediu benção para mim e antes de sair para rua envolta de neve despediu-se de nós, mal Ead saiu e Ahren entrou no quarto e voltou arrumado e despediu, com toda a certeza iria a faculdade ver Helena, ele sempre o fazia, e com isso fiquei com Charlie que estava colocando algumas caixas no quarto de Ahren, ele estava prestes a se mudar para um apartamento na França, onde ele e Helena iriam concluir um projeto de restauração do professor da faculdade de historiador, que Ahren cursava.

Sentados no sofá, conversamos por muito tempo, sempre cultivei a amizade por Charlie e mesmo assim éramos felizes, nós tínhamos uma amizade colorida que nunca virou amor.

Próximo das três horas a porta se abre e Eadlyn entra com um brilho nos olhos e segurando uma carta, ela ergue a cabeça e me olha depois retoma atenção ao papel já aberto em suas mãos e solta um grito de animação...

P.O.V. Angeles:

—Mãe porque tantas pessoas... Eu as sequer conheço... Meus aniversários sempre foram eu, a senhora, papai e alguns parentes... E olhe mamãe, eu nunca vi a rainha da França, e todas as vezes que a filha dela Camille veio aqui ela não tinha se quer a mesma opinião que eu, se é que conversamos civilizadamente uma única vez...

—Angeles, eu já enviei os convites e os outros aniversários não foram tão importantes como esse, no próximo aniversário você será rainha, e daqui dois meses você terá sua seleção... – Minha mãe disse e eu me senti pouco motivada a tornar-me rainha, mas assenti, eu quero meus pais felizes.

—Tudo bem mãe, já não posso fazer mais nada... - disse e sorri ao ver minha mãe dar pulinhos e bater palmas, ela correu, provavelmente para contar ao meu pai.

Sentei em minha cama e vi Stravos, o conselheiro de meu pai, entrar em meu quarto e me olhar com ternura. Ele sempre fora assim, me cuidou e me ajudou a crescer, estava presente quando meu pai não estava, e por algum motivo minha mãe não gostava disso.

Uma lágrima rolou e eu a enxuguei o mais rápido que pude, ele se sentou ao meu lado e beijou meus cabelos, nunca precisei dizer nada para ele, ele simplesmente me compreendia e me aconselhava.

—Não consigo mais agradar minha mãe, ela faz descaso da minha opinião, e já me cansei da distancia do meu pai... Eu nunca os vejo juntos, eu os quero felizes, mas essa distancia entre nós três só dificulta... Não quero mais viver longe deles- soltei essas palavras entre cortadas pelas lagrimas, e ele só apoiou o queixo em minha cabeça e disse:

—Logo passará, você verá docinho... - ele nunca me chamava por princesa ou majestade, sempre você ou docinho.

Fiquei ali, aconchegada a ele, ele sempre me tratou como filha, e eu me sentia mais filha deste homem do que daquele que carrego o sobrenome e o sangue.

P.O.V. América:

—O que aconteceu Ead?- perguntei sem entender o que acontecia, ela deu pulinhos e jogou a carta para cima, Charlie agarrou o envelope, enquanto dois papéis caíram em cima do sofá e um em minhas mãos.

— É uma carta do palácio- disse Charlie, me mostrando o brasão de Illéa, e assim que ouvi tive vontade de queimar aqueles papéis- Deixe me ver esses... - ele disse pegando aos papéis, e eu permiti, pois ainda estava sem entender, ‘o que eles queriam?’, ele leu e me olhou com o mesmo brilho de Ead, ‘Ah não! O que está escrito nesses papéis?’- eles convidaram todas às ex-selecionadas para um baile, para comemorar os dezessetes anos da princesa, e nós em especial vamos nos apresentar para a família real... escute esses trechos:

“Cara família Barcelos,

“Nesta próxima semana será realizada a festa de dezessete anos da princesa Angeles, e para tal comemoração a família real os convida, junto das famílias das ex- selecionadas, para passar três dias no palácio, para a comemoração dessa grandiosa data...”.

“... todos os convidados deverão ir para o palácio nesta quarta-feira, onde haverá uma reunião para confraternização, e na quinta-feira será o baile, e sexta-feira um dia para se despedirem...”.

““... Em especial a família Barcelos é convidada pela rainha Kriss para apresentar-se diante dos convidados e da presença da família real.

Aguardamos a presença dos senhores

Com muitos agradecimentos, Princesa Angeles”

Na carta não havia assinatura, apenas o selo com o brasão da família real, saindo do transe eu disse:

—Não. Nós não vamos ao palácio- disse e vi Charlie me olhar incrédulo e Eadlyn parar de dançar a dançinha de comemoração

—Mas... Por quê?- disse Charlie sem compreender- Imagine se os reis gostarem de nossa apresentação, isso só trará mais credibilidade para nossa escola...

—Não precisamos da aprovação do rei e da rainha, nós já temos muito prestigio...

—Quer dizer vocês, porque eu sou apenas conhecida pela fama dos dois, meu talento não foi levado a serio até agora, só dou aula porque sou filha dos donos da escola, nada mais... Mãe isso pode me ajudar com minha carreira, eu cansei de me olharem pelo meu sobrenome... Ninguém me vê por Eadlyn, só por Barcelos.- Ela sorriu tristemente- Me ajude a crescer...- Ela me pediu e eu olhei para meus dedos

—Tudo bem, nós vamos... - eu disse, mas então me agarrei a minha única esperança- Mas para isso terá de convencer Ahren- eu disse e sua felicidade murchou, ela sabe que tudo que Ahren quer é ficar longe da realeza, qualquer que seja...

P.O.V. Ahren:

Depois de me encontrar com Helena e ajuda-la com a organização da biblioteca, fomos a uma cafeteria próxima à faculdade, onde eu juntaria coragem para dizer o que sentia. Eu passei dois anos me escondendo e fugindo do que eu sentia, eu estava realmente gostando dela, eu tinha que dizer antes que o relacionamento dela com Josh ficasse mais sério. Ela sentou-se à mesa próxima a porta e então eu fui até o balcão e pedi um capuccino para mim e chocolate quente com uma porção extra de marshmallow, a bebida que ela mais gostava.

Ela sorriu a me ver levando o seu Chocolate quente, eu coloquei o copo na sua frente e vi um brilho triste surgir em seus olhos:

—Você sabe tanto sobre mim, que às vezes desejo que Josh fosse como você... – ela levou o copo até os lábios, eu sorri com a ideia de estar no lugar do namorado dela, ela esperou um comentário meu, mas se eu abrisse minha boca eu iria me declarar, e eu não queria fazer isso agora, talvez em seu apartamento- Sabe, - ela continuou- Quando Josh e eu estávamos prestes a terminar porque eu ia me mudar com você para a França ele ficou muito nervoso, e. - ela estava prestes a chorar, ‘o que aquele babaca fez?’- e você sabe o quanto é importante para mim essa viagem, mas quando ele disse que não podia viver sem mim, e que não me queria tão longe, e quando ele se ajoelhou na minha frente pedindo-me em casamento... Eu... - Ela olhou para os marshmallows boiando em seu copo- Eu o amo. Me desculpe Ahren, mas eu não vou para a França, e eu achei que você deveria ser o primeiro, a saber... - ela sorriu e uma lágrima que pareceu ser de felicidade fez meu coração quebrar, ‘Você vai desistir de ir para França daqui dois meses porque vai se casar com o babaca do Josh?’ e eu?’ tive vontade de perguntar, mas não o fiz, apenas sorri e fingi felicidade. Eu a queria, mas se era Josh que a fazia feliz eu a deixaria ir.

...

Andando nas ruas no horário que seria proibido há uns anos atrás, pois a ameaça sulista era presente, eu me peguei pensando no quanto eu queria me embebedar e morrer num beco qualquer, mas quando cogitei a opção de fazê-lo me vi em frente de casa já abrindo a porta.

As luzes estavam apagadas e eu caminhei até a poltrona onde meu pai sempre se sentava, mas lá já estava ocupado. Eadlyn, minha irmã gêmea me esperava de braços cruzados e com um sorriso malicioso nos lábios:

—A noite foi animada na casa de Helena?- ela disse e eu me joguei no sofá, eu jurava que socaria a cara da minha irmã se ela não calasse a boca, respirei alguns segundos e disse:

—Elavaisecasar!- saiu só um murmúrio sufocado pela almofada

—O que? Ainda não sou adivinha

—ELA VAI SE CASAR!- disse mais alto e claramente- E não vai mais para França- bati a testa com força no acento do sofá

—Ah! Ah Ahren, eu sinto tanto- ela se sentou ao meu lado e acariciaram meus cabelos- eu, eu nem sei o que dizer...

— Eu só queria sumir, sabe... passar alguns dias num lugar diferente, sem ter que olhar para ela nos corredores da facul...

—Ahren e se eu disser que posso te proporcionar isso de alguma forma... Três dias, num lugar lindo, onde você não teria de vê-la, lá teria pessoas interessadas nas mesmas coisas que você... e seria algo único...- Ela disse me interrompendo se animando, eu desconfiei e me ajeitei no sofá, ‘onde seria esse lugar?’- Você vai estar rodeado de pessoas importantes, e nós poderíamos nos tornar muitos famosos- ela às vezes fala como a tia Celeste (nunca deixe ela te escutar a chamando de tia) e isso às vezes me assusta. Eu a interrompi ‘Mas que lugar é esse?’

—Ead onde é? Para onde você quer me levar?- Eu disse e ela me olhou, sua feição se tornou meio sombria, e receosa disse com medo:

—No palácio, três dias no palácio para o aniversário da princesa Angeles.

—Nem a pau, mas nem fudendo Ead... - exclamei me levantando e a assustando...