O que há de errado com Clark Kent? escrita por Maryusuke
O metrô de Metropolis estava mais de uma hora atrasado e Clark já demostrava impaciência. A plataforma estava lotada devido ao atrasado do transporte. Clark olhava para o relógio de pulso a cada cinco minutos, bufava e olhava para o túnel de onde ele torcia a cada segundo que o metrô sai-se e lhe tirasse daquele local desconfortável.
— Bem feito pra mim. Quem mandou eu vender meu carro? – disse pra si mesmo.
Clark vendeu seu carro que usava quase somente para ir ao Planeta Diário. O motivo foi para não contribuir mais para a poluição do ar e o aumento do aquecimento global.
— É sempre assim. Eu penso primeiro na humanidade e não em eu mesmo. – reclamou. – Agora estou atrasado e no meio de um monte de gente barulhenta e mal educada. Sem contar que estou acordado desde voltei de Gotham.
Clark se sentia um trapo. E ele só se costumava se sentir assim depois de uma boa briga com um monstro interplanetário ou um robô assassino e coisas do tipo. – Isso é mais um sinal de que há algo errado. – pensou.
O metrô finalmente aparece e para na plataforma onde Clark e dezenas de pessoas esperavam. As portas se abrem e a multidão se empurra violentamente para entrar e conseguir um local sentado para descansar da espera. Por sorte Clark se senta. Por azar, pensou ele, uma senhora idosa está na frente dele.
—Ah não. – pensou ele. – Agora vou ter de ceder meu lugar para essa senhora. Como sempre. Mas que droga, eu sempre que pego metrô fico de pé ou dou meu lugar a qualquer um. Será que, pelo menos uma vez, eu não possa ir ao trabalho descansado? Eu estou sem dormir e fadigado.
Clark não se levanta e ola para outra direção para fingir que não viu a velhinha.
— Que cara mal educado. Pensa que nunca vai ficar velho. – disse uma mulher gorda que estava olhando para Clark, que fingiu não escutar. Minutos depois a mulher manda outra.
— Um cara desse tamanho. Deveria ter vergonha!
O metrô estava quase chegando ao seu destino quando a mulher gorda soltou sua quinta indireta, mas desta vez Clark não fingiu não escutar.
— Mas que droga!! – gritou ele ficando em pé. – Será que só tem eu sentado nessa porcaria de metrô? Por que tem que ser sempre eu o bonzinho? Já não basta o que fiz por vocês esses anos todos sem receber nada em troca?
— E o que você fez, bonitão? – perguntou a gorda com as mão na cintura.
— Ora, eu... – Clark se cala e lembra que agora ele não está de Superman. Ele fica abismado. Quase revela a sua identidade num momento de fúria. – O que estou fazendo? – pensou. – Me desculpe senhora... pode se sentar no meu lugar. – disse ele a velhinha.
Vinte minutos depois o metrô chega no destino de Clark. A estação próxima ao Planeta Diário. Clark desembarca recordando o acontecimento recente que quase o fez revelar seu alter-ego. Ele sai da estação e para de súbito e assustado. Olha ao redor e se sente confuso. Um minuto depois é que ele perceber que passou da estação em que ele deveria descer. Era a primeira vez que isso ocorria. Ele pragueja e corre atrás de um taxi.
Depois de quarenta e cinco minutos é que ele finalmente chega ao Planeta Diário. Ao entrar no seu andar encontra Lois de cara.
— Tá atrasado pra caramba, hein Smallvile? O que houve. Você raramente se atrasa, e sempre liga avisando que vai se atrasar.
—Ah, oi Lois. – Eu me distrai e passei da estação daqui. Foi isso. Eu esqueci de ligar pra cá. Na verdade nem lembrava que estava de celular.
— Eu hein o que você tem? – perguntou ela. – E alias, você tá um trapo.
— É que eu não tenho dormido direito esses dias...
—Percebe-se. Alias o Perry quer falar com você urgentemente. Vou logo avisando que ele parece irritado.
— Vou falar com ele agora mesmo. – disse Clark e saiu da frente de Lois sem se despedir.
Ele atravessou a grande sala editorial do Planeta Diário e foi em direção a sala do seu chefe. Deu três batidas na porta. Uma voz de dentro da sala o autorizou a entrar.
—Olá Senhor White, queria falar comigo?
—Está atrasado Kent. Isso não é algo que você costuma fazer. – disse Perry, sentado em sua mesa e fumando um charuto.
—Desculpe senhor eu...
—Mas não é disso que quero falar. – interrompeu Perry. – Quero saber sobre aquele artigo que lhe encomendei a respeito da suspeita de venda de armas bélicas ilegais fabricadas na Lex Corp. Ele está pronto?
—Oh droga! – pensou Clark. Ele havia esquecido completamente desse artigo. – Ah, senhor. Eu ainda não terminei...
—Como assim não terminou? Faz meses que botei você a cargo disso e você me garantiu que entregaria no prazo, como sempre.
—Desculpe senhor. Eu simplesmente...esqueci. –respondeu Clark envergonhado e desviando o olhar para o chão.
— Logo você Kent. Um dos meus melhores. Confesso que estou surpreso e um tanto desapontado. – Perry solta uma baforada de fumaça pela boca.
— Desculpe de novo senhor. Vou terminar agora mesmo.
Perry não falou mais nada. Se virou de costas na cadeira e ficou olhando Metropolis pela janela. Depois de um minuto Clark entendeu que era para se retirar. E foi o que fez. No caminho para a sua mesa Clark remoeu as palavras de Perry e o sentimento de raiva voltou.
— Tenho que salvar o mundo, a metade da galáxia e ainda por cima entregar um maldito artigo no prazo. Queria ver se fosse ele.
Ele se sentou em sua mesa, ligou o computador e começou a editar o artigo, ou tentou. Não consegui se concentrar, errava palavras simples e não consegui se lembrar com clareza o que precisava escrever. Isso continuou por uma hora e meia até que, derrotado pelo cansaço mental, Clark desistiu. Colocou os cotovelos na mesa e apoiou o rosto nas mãos.
De repente as pessoas da edição começaram a caminhar na mesma direção e com passos rápidos. Demorou alguns minutos para Clark reparar nesse movimento. E sem entender, se levantou. Percebeu então aonde os seus colegas de trabalho estavam indo. A sala de TV.
Clark os seguiu. Chegando lá todos estavam olhando a gigante TV digital. Na tela aparecia a imagem de uma ancora de telejornal, mas Clark não conseguia ouvir o que ela dizia. Foi então que ele viu Jimmy Olsen e foi na direção dele.
— O que esta acontecendo jimmy?
—Ah, oi Clark, nem te vi hoje. Tá atrasado é?
—O que houve...?
—Ah, parece que o Metalo escapou da prisão. E esta fazendo um estrago na zona Leste. Ele tá gritando pelo Superman. Parece que quer vingança. Coitado. Haha. Vai apanhar de novo.
— Logo agora... – pensou Clark. Ele realmente não estava nem um pouco afim e nem disposto a uma briga agora. Só pensava em ir para casa e dormir o dia todo para recuperar o sono perdido.
— O Super tá demorando. – disse Jimmy, interrompendo os pensamentos de Clark.
— O que disse? – perguntou Clark.
— O Super. Ele já devia estar lá chutando a bunda de lata do Metalo. Será que ele tá ocupado salvando outra parte do mundo?
— Quem sabe...? – disse Clark. - Com licença Jimmy. Tenho um artigo para terminar.
— Falou Clark. Depois te digo como foi.
Clark se retirou da sala de TV, mas não foi para sua mesa. Pegou o elevador e foi direto ao topo do edifício do Planeta Diário. Enquanto ele subia pensamentos incômodos voltavam a sua mente.
—Eu realmente preferia estar em casa dormindo. Não é justo.
A porta no topo do prédio se abre e quem sai dela não é mais Clark Kent, e sim o Superman. Ele anda até a beirada do prédio. Olha para baixo, vê a multidão, depois olha para o horizonte. Enfim se posiciona na direção Leste. Dá um impulso e começa a voar rapidamente. Uma quadra depois Superman sente que algo não esta certo. Ele começa a ficar desequilibrado no seu voo, e perde velocidade. De repente ele começa a cair descontroladamente em direção ao solo. Atinge o meio de uma larga avenida, abrindo uma cratera e assustando pedestres. Ele sai lentamente do buraco, ainda confuso e tonto. Percebe que as pessoas ao redor o observam sem entender. Ele então começa a correr e da um novo impulso. Novamente cai de cara no cão. Ele fica de joelhos e olhando para as mãos, assustado. Superman não podia mais voar.
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