Small History escrita por LuisProd43


Capítulo 5
Historia 5 - Pedidos.




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Um, dois, três. Uma pausa. Karl estava escutando as gotas cair nessa ordem. Um, dois, três. Uma pausa. E assim foi seguindo até Karl ter forças para levantar. Foi em direção ao cano do qual caia os pingos. Não conseguia parar aquilo. Olhou em volta estava numa grande sala, não tinha nada ali apenas uma grade. Seria ali a porta, caminhou até ela. Mas antes que chegasse um homem de terno preto apareceu no outro lado dela. Ele segurava um papel em uma das mãos e usava óculos escuros. A claridade do corredor não era suficiente para mostrar todo seu rosto.

– O que você quer? – Perguntou Karl assustado.

– Saber o que o senhor quer. – O homem então pegou uma caneta de dentro do terno e apontou para o papel.

– Como assim?

– O que o senhor desejar eu vou trazer para seu cômodo.

– Quer dizer cela?

– O que o senhor deseja? – Insistiu o homem de terno.

– Não consigo enxergar e estou fraco.

– Talvez o senhor queira uma iluminação melhor para seu cômodo. Algo para comer o ajudara a restaurar as suas forças. O que deseja?

Karl riu aquilo não poderia estar acontecendo. Então resolveu testar o homem.

– Me traga um banquete. Quero me alimentar bem.

– Como desejar. – O homem então anotou algo no papel.

Quando o homem saiu as luzes da sala se acenderam, era tudo claro agora. E ainda estava lá o cano com o vazamento. O barulho dos pingos ecoava por todo lugar. Karl se sentou, e sem perceber o cochilou um pouco quando abriu os olhos e diante dele estava um grande banquete. No outro lado da grade estava o homem olhando para ele com o papel em suas mãos.

– Alguma coisa mais?

– Como foi...

– Algo mais?

– Nossa.

– Deve estar cansado. Trarei uma cama para o senhor logo mais. E alguns livros. Soube que gosta de ler.

– Sim é verdade, mas... – Karl estava hipnotizado pelo grande banquete a sua frente, sua barriga roncava muito.

Resolveu se entregar a comida. Comeu de todos os pratos que tinha ali, bebeu de vários sucos e refrigerantes que ali estavam. Não aguentava mais comer, estava muito cheio. Quando se virou viu uma cama num canto da sala, e no outro lado da grade o homem de terno estava em pé ali.

– Como você colocou isso aqui?

– Desculpe senhor, mas não irei atende-lo mais hoje. Tenho outros pedidos para atender. Amanhã estarei aqui. Deite-se.

Karl obedeceu. Não demorou muito para adormecer. Começou a sonhar com a vida que tinha, talvez, estava sentada numa escrivaninha. Estava desenhando, gostava muito disso. Se pudesse ter um daquele tipo de novo. Será que poderia pedir para que trouxesse um daqueles. Acordou muito bem, a cama era muito macia, não sentia mais as dores nas costas que antes o perturbava. Ainda estava deitado, quando escutava o eco dos pingos batendo no chão. Olhou em volta da sala, a mesa que antes estava cheia de comidas, agora estava em canto da sala e em cima dela tinha uma garrafa, uma xicara no lado e alguns pães num prato. Foi até lá colocou um pouco do conteúdo da garrafa na xicara e experimentou.

– Nossa esse é o melhor café que tomei em anos.

Comeu uns pães, olhou para grade e caminhou em direção a ela novamente. Quando faltou pouco para chegar nela. O homem de terno apareceu do outro lado. Karl recuou alguns passos por causa do susto.

– Algo que deseja?

– Bom na verdade, achei que pudesse trazer uma escrivaninha e algo para que eu possa desenhar. Sei que pode parecer difícil conseguir isso, mas...

– Em pouco tempo traremos. – E sumiu outra vez.

Karl se virou novamente para dentro e foi em direção ao cano que estava pingando, pegou um pano que estava sobre a cama e tentou amarrar a ponta do cano para que o vazamento parasse. De nada adiantou. Quando se virou para o outro lado lá estava, a escrivaninha que pediu, tinha também alguns papeis e diversos lápis.

– Nossa.

– Algo mais? – O homem de terno estava do outro lado.

– Não, não – Karl se encantou com aquilo e logo começou a fazer traço.

– Vou pedir para que toda vez que o senhor terminar um desenho coloque sobre a mesa onde está a comida.

– Para que?

– Só faça isso. – Disse o homem com um tom feroz. – Logo você saberá.

Karl passou horas ali desenhando. Começou a fazer uma animação. Perdeu a noção de tudo. Parou para comer um pouco, a comida tinha aparecido ali, e era exatamente o que ele estava pensando, mas não lembrava de ter pedido aquele ao homem de terno. Sentiu sono e foi se deitar. Como o homem tinha falado, pegou todos os desenhos e colocou em cima da mesa da comida. Ao se deitar o barulho dos pingos ainda ecoava na sala, mas parecia mais baixo. Teve outros sonhos, estava correndo em um campo e via de longe uma mulher.

Quando acordou algo estava diferente. Havia agora na sala uma televisão no alto da parede, e um armário ao fundo. Achou que o espaço não era suficiente para tudo aquilo, antes, agora parecia que ainda teria muito espaço, seria uma alucinação pensar que o lugar estava aumentando. Caminhou até o armário e tentou abrir, sem sucesso. Nesse momento o homem de terno apareceu novamente.

– Por favor, vou pedir que olhe atentamente para televisão assim que ela ligar. Está claro?

– Sim claro.

– Algo mais?

– Sabe eu queria saber se poderia sair para ver o campo.

– Por favor, não pare de desenhar.

Karl olhou para escrivaninha.

– O senhor desenha muito bem sabia.

– Obrigado.

– Fique atento, seu pedido será atendido.

Karl foi para escrivaninha e começou a desenhar, quando logo após um tempo a televisão ligou. Karl olhou para ela e para sua surpresa viu a sua animação passando. Era exatamente como tinha feito. Após alguns minutos a animação acabou e uma pessoal do telejornal passou elogiando a animação e revelando que ela seria a mais nova atração do canal. A televisão apagou.

– Belo não?

Karl se virou sem acreditar.

– Nossa, foi a minha animação que passou ali, mas como?

– Você deseja reconhecimento do seu trabalho, quando faz cada desenho deseja que outros vejam.

– Sim, quero.

– Então demos o que você deseja. E outra coisa. Abra o armário.

Karl foi em direção ao armário e abriu, agora ele havia conseguido. Dentro dele tinha uma foto e um pedaço de papel.

– Nesse papel está o que queremos que você desenhe a partir de agora.

– Mas eu queria continuar com o que eu já estava.

– São ordens. Desenhe e faça seu melhor. Tem chances de aparecer na televisão novamente.

– E quanto a eu ir até a um campo.

– Eu diria para olhar essa foto atentamente antes de ir se deitar.

O homem de terno então saiu. Karl olhou para a lista, nela tinha o pedido de desenhos que nunca havia pensado em fazer antes. Não saberia como fazer aquilo, mas resolver tentar. Colocou a foto sobre a cama. E foi até a escrivaninha começar a fazer. Conforme foi fazendo os primeiros traços, percebeu que a ideia de cada desenho foi aparecendo em sua mente e passada imediatamente para o papel. Uma mulher morrendo, um grande prédio em chamas, uma casa, meteoros no espaço e pessoas formando um grande círculo. Quando acabou os desenhos, colocou-os em cima da mesa de comida e foi se deitar. Ao se deitar pegou a foto e começou a olhar atentamente para ela. A foto era de um campo, alguns segundos olhando, começou a acontecer algo. Sua mente foi transportada para o local, estava no campo agora, sentia tudo como se tudo fosse real, tudo tocável. Estava gostando de tudo, podia correr. Ao longe via a mulher que estava em seus sonhos naquele mesmo campo. Ia atrás dela, mas ela sempre sumia.

A noite passou, Karl acordou no dia seguinte. Fez sua mesma rotina. Mas dessa vez enquanto estava comendo, foi até a grade, já esperava que o homem de terno aparecesse no outro lado antes que pudesse toca-la, mas foi avançando e nenhum sinal dele, deu mais alguns passos e finalmente pode tocar a grade. Era fria e leve, sentia que poderia se quebrar facilmente. Seria uma oportunidade de sair dali mas para onde iria e o que faria depois. Ali tinha tudo, era só fazer o pedido que lhe traziam e a única coisa que pediam em troca era desenhar. Largou a grade e voltou-se para dentro.

Nesse dia o homem de terno repetiu as ordens, de desenhar o que estava em outra lista que estava no armário. Karl fez pedidos de mais coisas, foi atendido, quando quis ver outros lugares, lhe era dado fotos com esses lugares e ele repetia todo o ato de olhar a foto antes de dormir e viajar a sua mente até esse lugar através da foto. Com o tempo foi se acostumando com tudo aquilo. Sua alegria era ver seu trabalho reconhecido na televisão. Ter tudo que queria e ver tudo que podia. Tinha caído numa ilusão.

Num dia, em todos os seus desenhos estavam desenhando ao fundo de cada folha, chamas, lugares queimando, pessoas gritando. Uma pessoa por cima de todas as outras, como se fosse um líder. Paisagens secas. E no dia seguinte viu-se tudo aquilo na televisão. Quando a televisão desligou naquela noite. O homem de terno apareceu e parecia feliz em vê-lo.

– Que bom que você ficou. – Disse ele sorrindo.

– E para onde eu iria. – Responde Karl.

– Verdade, que bom você é meu prêmio. – E tirou de dentro do terno uma chave dourada, e trancou a grade. Karl agora estava preso.

– O que está acontecendo? – Karl começou a ficar assustado.

– Agora é tarde, você em definitivo é meu, preso aqui.

– Me tira daqui você não pode me prender.

– Mas não fui eu que te prendi aí, foi seus próprios desejos e medo. Agora deixa eu revelar algo para você. Tudo que você desenhou para nós, foi o nosso plano. O plano que foi concretizado de levar a maioria que conseguíssemos. E que maneira melhor de prender uma pessoa com seus próprios desejos e ilusão de que está tudo bem. Antes eu não tinha a chave para te prender completamente, a grade sempre esteve aberta, você sempre teve a possibilidade de sair, sempre tentaram te acordar. Nunca se perguntou porque mesmo com tudo que você tem aí dentro, a goteira nunca parou de pingar, ela era um alerta para você acordar disso, para sair daqui, incomodando sempre para você ir. Agora acabou tudo. Agora você irá nos acompanhar.

O homem de terno sumiu, Karl tentou forçar a grade, mas não conseguia agora realmente estava preso. Recuou alguns passos, agora tudo está fazendo sentido, ele mesmo se prendeu a isso. Nos seus desejos. Nesse momento as coisas começaram a pegar fogo, tudo estava sumindo em chamas, e percebeu que o vazamento não pingava mais. Não tinha mais como sair.


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