“–Creio que sou o terceiro membro – disse alguém atrás de mim – Sou Bryan. Filho de Hades. E Vocês não vão a lugar nenhum sem mim.”

Percy e Quíron estavam visivelmente atordoados e, por pouco, não fiquei no mesmo estado que eles. Por que não fiquei? Bom, quando se é filha de Zeus, você aprende que deve impor respeito.

Levantei-me com um falso sorriso debochado até ficar cara a cara com aquele par de olhos negros como ônix.

– E quem você pensa que é para me dar alguma ordem? – perguntei

Byan franziu a testa, com certeza não era acostumado a ser desafiado.

–Então, é como eu disse, sou Bryan. E você, quem é?

Percy se recuperou e num segundo estava de pé, ao meu lado. Não posso mentir, gostei da atitude dele. Por mais que ele seja meio lento na maioria do tempo ele sabia bem como lidar com essas situações.

–Sou Percy Jackson, filho de Poseidon e essa é...

–Ashley Grace, filha de Zeus. – disse eu, o interrompendo.

–Olhe bem, Ash...

–Ashley – grunhi

–Ashley, que seja. Você precisa de mim. Vocês todos precisam de mim. Sem mim, vocês não conseguirão. Simples assim. Agora, eu preciso mesmo falar com o centauro Quíron, então se me der licença...

Aquela foi a gota d’agua. Com quem ele achava que estava falando? Sai da Casa Grande, furiosa. Furiosa com Bryan, furiosa com o Olimpo, furiosa com Zeus, mas, principalmente, furiosa comigo mesma por não lembrar NADA da minha antiga vida.

Percy segurou meu pulso, me forçando a virar de frente para ele.

–Me solta ou eu juro por todos os deuses que acabo com você em menos de um segundo!

–Calma Ash – disse – Só quero conversar, está bem?

–Arg! Que parte de ASHLEY vocês não entendem?! – gritei, recebendo olhares curiosos dos campistas que ali passavam.

Virei-me novamente para ir embora, mas antes que pudesse sair, Percy se colocou na minha frente.

–Me escuta, só um minuto – disse ele, respirando fundo – Eu também não gosto daquele egocêntrico do Bryan. Mas, infelizmente, ele é necessário. Precisamos achar logo o objeto da profecia – seja lá o que ele for, completei mentalmente. – e quem sabe, recuperar nossa memória. Então, o que me diz?

Assenti de leve, tentando esconder minha frustração.

–Percy... Acho que o lugar que devemos procurar o “objeto” é o Alasca –disse eu baixinho - Se for isso mesmo, precisamos tomar cuidado. Lá estaremos por conta própria e tenho o pressentimento que a chegada do filho de Hades pode perturbar, e muito, nossa missão.

E nossa vida - pensei

–É, eu sei. Agora vamos treinar. Ok?

Pela primeira vez no dia, sorri.

–Isso mesmo Cabeça de Alga! Enfim uma ideia boa.

–Engraçadinha...

Corremos em direção à arena sem olhar para trás.

***

Depois de ter vencido o Percy na esgrima no mínimo umas três vezes, fui ao meu chalé descansar um pouco. Joguei-me na cama tirando meu All Star e os chutando para longe.

Nunca fui de pensar na vida (ou pelo menos não que eu me lembre), mas, pela primeira vez em semanas eu pensei. Pensei em tudo que havia, acontecido. Não só hoje, mas desde que eu fugia de tudo quanto é monstros. Pensei em meus medos, medos esses que lutava a todo custo para esconder de todos ao meu redor. Pensei em ser semideusa e no que isso custou á mim, pensei na missão, pensei no Percy... Ah, o Percy. Ele era o meu único amigo, minha família de verdade. Parece loucura dizer, mas eu confiava cegamente nele, sabia que era arriscado, mas, em tão pouco tempo havíamos passado por tanta coisa juntos que era como se fossemos dar a vida um pelo outro. Loucura, eu sei.

Liguei meu Ipod (sabia que era como emitir um sinal para os monstros, mas, o acampamento era seguro. Certo?) e coloquei minha música preferida para tocar, cantarolando baixinho.

– I hold my hands up high

And throw my glass into the sky.

But when the morning comes,

We'll never see the sun. – Cantei num tom mais alto que o áudio.

“And if the walls close in

Then let's just start it all again.

That's when the evening comes

Oh yeah the evening comes.”

“Whoa oh whoa oh ohhh

No we're not going home tonight

Wake up the stars are shining

We'll do it all, we'll do it all

We'll do it again.”

–Wake up in the morning / With the sunlight in my eyes / No, my head don't feel so bright / What the hell happened last night? – Cantei, dessa vez mais alto ainda. Cantei para extravasar e acabar com os problemas, cantei com se não houvesse amanhã.

Já estava pulando em cima da cama quando ouvi batidas na porta.

–Quem será a essa hora? –resmungo

–Oi – disse Percy, sorrindo como um bobo.

Involuntariamente soltei um suspiro sonoro.

– O que você quer?

–Bem... é que ouvi um barulho vindo do seu chalé e pensei em ver o que era. – disse, passando a mão no cabelo.

–Só você mesmo... Eu estou bem, como pode ver. Agora, se o senhor me der licença, tenho uma música para cantar. – digo e bato a porta, não antes de ouvi-lo dizer algo sobre garotas serem complicadas.

–Boa noite Cabeça de Alga – digo para o nada – Sonhe com os deuses. Ou comigo, que é praticamente a mesma coisa.

Coloquei meu pijama e fiquei fitando a cama. Estava com sono, mas, não queria dormir, não queria mesmo.

Fui arrumar minha mochila para a viagem.

Ambrósia – Confere

Cantil com Néctar – Confere

Roupas extras – Mais uma vez, confere.

Senti-me numa poltrona e tentei ler um livro, meu corpo estava no Chalé, mas meus pensamentos estavam longe daqui. Para ser precisa, em Nova York, no Empire State, vulgo Olimpo.

Rendi-me ao cansaço e me deitei, olhando fixamente o teto. Não podia dormir, o sono traz os sonhos e os sonhos não são nada bons.

Soltei um longo suspiro e fechei meus olhos, já me preparando para a chegada dos pesadelos.

É – pensei – Amanhã será um longo e doloroso dia. Adeus paz, olá missão. Alasca, aí vou eu.

Segundo depois desse pensamento (nada) feliz, cai no sono.