Céu & Mar escrita por Luh Castellan


Capítulo 17
Escaladas e Maçãs


Notas iniciais do capítulo

Olá cupcakes! Esse capítulo é meio que uma introdução para a festa de encerramento, que vai ser dividida em dois capítulos, provavelmente. Obrigada a todos que leram e leem Céu & Mar e peço desculpas pela demora para postar os capítulos.
PS: Editei as notas finais do último capítulo e coloquei o dreamcast de Thalia, Calipso e Percy.
Boa leitura :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/596795/chapter/17

Percy

Era uma tarde de quinta-feira. Eu estava na parede de escalada com Nico. Os equipamentos de segurança me protegiam de uma queda de seis metros. O esforço da subida fez meu corpo liberar suor por todos os poros, molhando minha camisa e grudando os cabelos a minha testa.

Nico estava ao meu lado, quase na mesma altura que eu. Depois de encontrar um apoio estável para o pé, virou-se para mim.

– Ei cara, e Thalia?

A menção àquele nome fez um turbilhão de sentimentos revoltar-se dentro de mim. Tentei disfarçar o desconforto.

– O que tem ela?

– Hã... Já conseguiu com que ela lhe dê ouvidos ou ainda está na mesma? - O garoto perguntou, deixando o peso do corpo suspenso pela corda.

Percebi que eu estava apertando a minha própria corda com força demais. As juntas dos dedos estavam brancas. Soltei o objeto e flexionei os dedos, fazendo o sangue voltar.

– Ainda está na mesma - Suspirei. - Só me ignora. Orgulhosa.

Nico balançou a cabeça negativamente.

– Na última vez que tentei conversar ela me jogou um balde de água fria. – Falei cada palavra pausadamente, para evidenciar a minha indignação. - Um. Balde. De. Água. Dá pra acreditar?

– Essa foi foda – Ele concordou.

– Mas quer saber? Cansei - Afirmei, com rancor. - Eu errei em não ter afastado Calipso logo? Sim, errei. As pessoas erram. Mas eu tentei me redimir, ou ao menos explicar, mas Thalia me ignorou completamente. Agora eu jogo a toalha.

– Ei cara... Mulheres são complicadas, cabeças-duras, mas não desiste não. Sei que vocês se gostam muito. Não deixe esse sentimento se perder por causa de uma besteira.

– Não sei não...

Encarei o restante da subida. Ainda faltavam alguns metros para o topo da parede. Fiz impulso com os pés e alcancei o próximo apoio.

– Enfim, mudando de assunto – Ele subiu algumas agarras até me alcançar novamente. – Parece que anteciparam o Luau de Encerramento do acampamento para sábado, dia 17.

Fiz um som de deboche.

– Um dia antes do meu aniversário. E meu presente vai ser sair desse acampamento brigado com Thalia.

A distração me fez errar o lugar de pôr o pé. Escorreguei e quase despenquei. Ainda desci alguns metros antes de agarrar a corda e fazer parar a queda, queimando as mãos no processo.

– Tudo bem aí? – Nico perguntou, olhando-me de cima.

Assenti com a cabeça afirmativamente.

– A vida é irônica – Minha voz saiu entrecortada devido ao esforço. – É como uma escalada: quando você acha que está tudo bem, conseguiu avançar bastante e está quase no topo, BUM! Ela te derruba. Então tem que começar tudo de novo. Eu estava feliz por ter encontrado e conquistado Thalia, uma garota diferente de mim, mas ao mesmo tempo tão igual. Tão... especial. Em seguida a vida me fez despencar. Arrancou o prêmio de mim, me fazendo regressar à base do árduo processo de subida.

Soltei a corda de vez e pousei num colchonete. Nico também desceu, parando de pé ao meu lado.

– Mas você é forte e persistente. Vai conseguir escalar novamente, não importa o quão difícil seja. E mostrar pra vida que quem manda nessa porra é você – Afirmou, decidido. – Olha, esse luau é sua última chance de endireitar as coisas com Thalia. É agora ou nunca.

Ele tinha razão. Eu não ia aguentar voltar para Nova York e ficar convivendo com todos os fantasmas do “e se...”, todas as possibilidades que poderiam ter acontecido, mas não aconteceram, porque desisti.

– Mas ela sequer olha na minha cara, como vai me dar ouvidos?

O garoto fez um gesto de indiferença com a mão.

– Pode deixar que eu preparo o terreno para você. Ela está com raiva de você, mas não de mim – Ele deu um sorriso travesso.

– Boa sorte – Desejei, descrente.

Thalia

Era a hora do jantar, mas não me juntei aos outros campistas no pavilhão do refeitório. Eu estava sentada num dos troncos perto da fogueira, observando o movimento de longe. Mordia uma maçã com voracidade, como se quisesse descontar todas as minhas mágoas na fruta.

Num dado momento, Nico di Angelo deixou a mesa onde estava sentado e caminhou na minha direção. Nós não éramos próximos, não havíamos trocado mais do que poucas palavras, por isso estranhei o ato.

– Hey – Ele me cumprimentou, sentando no tronco.

– Olá.

– Como anda a vida?

Encarei-o por um tempo antes de responder. Não entendi o motivo daquela conversa repentina, nem onde ele queria chegar.

– A mesma bosta de sempre – Respondi, por fim.

– Hm.

Talvez ele esperasse que eu continuasse o diálogo e devolvesse a pergunta, mas eu estava sem saco para isso. Vendo que eu não iria puxar assunto, o garoto resolveu se manifestar.

– Olha, vou direto ao ponto. Estou aqui por causa de Percy.

Soltei um som de deboche com os lábios. Agora tudo fazia sentido.

– Então não gaste sua saliva – Ameacei me levantar, mas Nico segurou meu braço, impedindo-me.

– Espere, Thalia! – Ele encarou-me com seus fundos olhos negros como a escuridão. – Apenas me escute, depois você pode decidir se quer acreditar ou não. Pode apenas ignorar tudo o que eu falar e viver sua vida normalmente, mas por favor, escute.

A forma como ele falava e aquele olhar frio me fizeram acatar seu pedido. Apenas devolvi o olhar, entediada, e fiz um gesto para ele prosseguir.

– Sobre o que aconteceu naquele dia na floresta, ele me contou tudo e, como ele parecia bem desesperado, não acho que esteja mentindo. Tudo não passou de um mal entendido.

Rolei os olhos.

– Você espera que eu acredite nisso?

– Deixe-me terminar – Pediu. – Calipso nutria uma paixão secreta por Percy há algum tempo. No dia da caça ao tesouro, o fato de terem saído juntos no sorteio foi só o estopim. Meu amigo, como você bem sabe que é lerdo, não percebeu isso, até ela aproveitar-se da situação para agarrá-lo no meio do mato. E justamente quando ele tava empurrando ela, você viu tudo.

Mordi o lábio inferior. Pensando bem, eu havia notado alguns olhares enviesados daquele vagabunda para o meu namorado. Ops, ex-namorado. Mas isso não justificava nada. Ele podia muito bem ter inventado essa história toda para se safar.

Nico balançou a cabeça negativamente, e só então percebi que tinha falado essa última frase em voz alta.

– Ele estava desesperado demais, aflito e enfurecido com Calipso por ela ter feito isso. Presenciei uma briga deles, Percy perguntando por que ela havia feito isso e dizendo como isso tinha destruído o relacionamento de vocês. Ela só pedia desculpas insistentemente, com a cabeça baixa, derramando-se em lágrimas.

– E por que ele simplesmente não me disse tudo isso? Que ela o agarrou?

O moreno olhou-me descrente, como se eu tivesse perguntado se humanos podem andar na superfície do sol ou algo do tipo.

– Hm... Não sei... Talvez porque você tenha ignorado, respondido grosseiramente ou humilhado o coitado em todas as ocasiões? Não, acho que isso é mero detalhe – Respondeu com ironia.

Quando os fatos foram jogados na minha cara assim, nus e crus, me dei conta de que era verdade. Dirigi o olhar para o miolo roído da minha maçã, incapaz de olhar nos olhos de Nico novamente. Uma grande parcela de culpa abateu-se sobre mim.

– Mas sabe de uma coisa, Thalia? As pessoas se cansam. Cansam de correr atrás e sofrer humilhações quando alguém que elas amam ignora-as por causa da porra de um mal entendido, quando nem sequer foi culpa delas. E Percy cansou. Queria jogar a toalha e desistir. E daqui a menos de dois dias isso aqui vai acabar – Fez um gesto para abranger tudo em volta – e, provavelmente, vocês nunca mais vão se ver. E ele terá de conviver com seu ódio eterno por causa de algo do qual ele nem foi o culpado. Mas mesmo assim, ele iria se culpar. Ele já se culpa. Todo santo dia tenho que ouvir as lamentações dele por causa disso. Por causa de você.

Nico deixou as palavras flutuarem no ar. Elas caíram sobre mim, como o peso de dez bigornas. Apoiei a cabeça nas mãos, tentando pensar no que fazer.

– E o que você quer que eu faça? – Indaguei, esgotada.

– Percy vai tentar falar contigo amanhã, uma última vez. Está nas suas mãos decidir se quer ouvi-lo ou não, e aceitar o peso das consequências da sua escolha – Ele levantou-se e bateu a poeira dos jeans. Seu olhar estava mais duro, e ele parecia anos mais velho. – Pense no que eu te disse. Não estrague um amor com tanto potencial por causa de um orgulho idiota.

Dito isso, ele virou as costas e foi embora, me deixando sozinha com meu cadáver de maçã, com o crepitar aconchegante da fogueira e com a minha consciência pesada.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Não sejam leitores fantasmas! Se você gostou e não sabe como comentar, aí vai uma dica pra saber o que dizer:
Gostou? Sim? Não?
Gostou do que?
Não gostou do que?
E os personagens? Qual você gosta mais? Qual você está com um ódio mortal?
A escrita? Legal? Tem erros? Se tiver, avisa?
O enredo? Como você se sentiu ao ler o capítulo?
Pronto! Ou você pode fazer do seu jeito, fica ainda mais legal! Só não seja um fantasma hehe'
Beijos e até o próximo



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Céu & Mar" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.