Céu & Mar escrita por Luh Castellan


Capítulo 15
My World Collapsed


Notas iniciais do capítulo

Hey o/ Bom, só avisando que eu não morri gente kkk Eu estava em hiatus do Nyah, e justamente quando eu ia voltar a postar, meu pc quebrou :/ Estou postando pelo computador da escola, então não sei quando postarei de novo :( Minhas sinceras desculpas...
Enfim, a trilha sonora de uma cena desse capítulo está no link com o título da música (Your Window Pain).
Boa leitura :)



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Thalia

O Sr. D ficou uma fera. Principalmente, por cinco motivos: Primeiro, ele precisou levantar no meio da madrugada. Segundo, tinha garotas no chalé masculino. Terceiro, estávamos acordados muito depois do toque de recolher. Quarto, haviam latas de cerveja por toda parte. E por último, ele não gostou nada de saber o que Lee e Katie estavam fazendo no banheiro.

Além do sermão infinito que tivemos que escutar, da humilhação em público no dia seguinte e ficar sem sobremesa, o diretor instalou câmeras de segurança e criou uma nova regra no acampamento: os monitores deveriam checar todos os chalés exatamente às dez da noite, para se certificar que todos estavam na cama. Era um saco.

Eu refletia sobre isso, enquanto caminhava pela floresta, ouvindo as folhas secas estalarem sob meus pés. Já estávamos no início de agosto, ou seja, faltava menos de um mês para o fim das férias. No dia vinte aconteceria a grande festa de despedida, para encerrar com chave de ouro. Esse assunto já corria solto entre os campistas.

Naquela fatídica tarde, Quíron anunciou uma espécie de "caça ao tesouro". Dividiram os adolescentes em duplas e nos largaram na floresta para procurar pequenas caixinhas camufladas, escondidas em lugares estratégicos. No interior de cada uma delas havia um bilhete, alguns com prêmios, outros punições ou simplesmente pegadinhas. Quanto mais difícil fosse o lugar onde a caixinha estava, maior era a pontuação. No final, a dupla que tivesse mais pontos ganharia uma surpresa especial.

Mas não era tão simples assim. Várias armadilhas foram espalhadas pela floresta, desde baldes de água fria que misteriosamente caíam em nossas cabeças, até ficar preso numa rede de pesca.

As duplas foram sorteadas, eu fiquei com Malcolm. Naquele momento, estávamos cansados, suados, com sede e ainda não havíamos achado nenhuma das caixas. O que era surpreendente, já que eu estava com uma das pessoas mais inteligentes e estrategistas do acampamento. Ele era praticamente uma versão masculina de Annabeth.

Por falar na loira, ela foi sorteada com Grover. Ela e Nico não estavam se falando ultimamente. Eu não entendi muito bem o motivo da última confusão, mas desde aquela noite Annie passou a evitar tanto ele quanto Luke. Ela andava meio pensativa ultimamente. Seja o for que havia por trás dessa história, tenho certeza de que mais cedo ou mais tarde ela iria descobrir. Nada passava despercebido por Annabeth Chase.

– Já procuramos em toda a área Norte. - Malcolm falou, analisando o mapa que ele rapidamente rabiscara. E com "rabiscara", eu quero dizer uma obra de arte digna de uma exposição. - Vamos fazer a curva por aqui e descer até o lago. Fique atenta nas árvores, irei procurar no chão. A probabilidade de acharmos uma caixa é bem maior nos locais escondidos.

– Okay - Respondi, tirando uma mecha negra da frente do rosto e colocando-a atrás da orelha.

Meu cabelo havia crescido bastante nesses dois meses. Já estava praticamente da altura dos meus ombros. As finas mechas azuis ficaram quase invisíveis no meio do emaranhado de fios escuros.

O clima naquela tarde estava agradável, nem muito quente nem muito frio. O outono aos poucos já estava se fazendo aparecer, colorindo as folhas em tons de âmbar. Enquanto eu admirava as árvores, notei um pedaço de corda camuflado entre os galhos.

– Hey - Chamei Malcolm, voltando minha atenção para a nova descoberta. - Achei alguma coisa.

– O que é?

Ele ergueu os olhos do chão e percebeu o que eu estava mostrando.

Puxei o objeto, fazendo surgir outras cordas atadas àquela numa espécie de escada. Ela conduzia à copa da árvore. Sem hesitar, comecei a escalá-la.

Lá em cima, encontrei algumas madeiras pregadas aos galhos, formando um piso. Parecia uma casa na árvore, daquelas que as crianças brincavam. Tinha espaço suficiente para abrigar duas pessoas. Num canto, repousava uma mochila. Tive que conter a vertigem de olhar para baixo, ali de cima das árvores. A altura era um dos meus pontos fracos.

– Hã... Acho que você gostaria de dar uma olhada aqui, Malk - Chamei-o pelo apelido que inventei, pois achava "Malcolm" um nome muito grande.

Em pouco tempo, o rapaz apareceu escalando as escadas. Correu os olhos pelo local, numa análise crítica. Seu olhar voltou-se para a mochila, que continha suprimentos, provavelmente.

– Isso está muito estranho - Observou. - Fácil demais.

– Estamos com fome, não é? Pode ter comida ali dentro. - Encorajei, ainda com os olhos fixos no objeto.

– Sim, mas...

Ele começou a protestar, mas eu o cortei.

– Ah, foda-se! Vou pegar.

Sem pensar duas vezes, agarrei o objeto laranja. Tinha um pequeno pedaço de barbante amarrado a ele, conectado a algo atrás dos galhos. Não tive tempo de processar a informação. Um atirador de ovos disparou contra nós.

Fui atingida por uns dois, antes de me jogar no piso de madeira. Meu coração batia desesperadamente com a possibilidade de cair daquela altura. Meu companheiro não teve a mesma sorte. Quando a avalanche de ovos cessou, me virei para vê-lo. Não pude conter o riso ao notar sua expressão de nojo e choque, coberto da gosma amarela.

– Eu avisei - Ele suspirou, tirando os óculos melecados e tentando inutilmente limpá-los.

Ainda rindo, abri a mochila laranja e examinei seu conteúdo.

– Dois saquinhos de biscoitos, duas garrafas de água... - Informei, enquanto enfileirava os objetos na madeira.

Além dos alimentos, encontrei uma pequena caixa camuflada com o logotipo do Acampamento na tampa. Dentro havia um bilhete laranja. Li em voz alta o que estava escrito.

Parabéns aventureiros! Vocês quase viraram omelete... Como recompensa, 50 pontos pela ousadia!

– Ótimo, agora vamos nos lavar, por favor! - Ele exclamou, torcendo o nariz.

Ri novamente da sua cara enojada. Coloquei a mochila nas costas e nós partimos rumo ao lago.

Caminhamos por mais alguns minutos. Minhas pernas protestavam com o esforço. Essas férias acabaram com a minha condição de garota sedentária.

— Your Window Pane - Kirsch & Bass —

Eu já estava quase cedendo ao cansaço quando finalmente chegamos ao lago. Estaquei ao perceber que havia duas pessoas lá. Estreitei os olhos e pude distinguir Percy e Calipso sentados num banco próximo à margem. Sim, eu sabia que eles haviam sido unidos pelo sorteio, mas mesmo assim fiquei surpresa. Surpreendi-me ainda mais com o que aconteceu em seguida. Eles se beijaram.

Naquele momento, meu mundo desabou. Dei um passo atrás instintivamente, como se eu estivesse à frente de algo extremamente perigoso, ou nojento, uma doença contagiosa. Meus olhos não acreditavam no que eu estava vendo.

Um bolo enorme formou-se em minha garganta, me impedindo de falar. Aquele desgosto foi aos poucos sendo substituído pela raiva. Eu poderia me aproximar e interromper o casalzinho, ou esfregar a cara de cada um deles nas pedras, como eu estava desejando. Ao invés disso, eu travei.

Cerrei os punhos. Aquela vagabunda estava beijando o Percy. O meu Percy Jackson. Logo às margens do lago, aquele lugar que era tão especial para mim, onde os nossos lábios se encontraram pela primeira vez.

O olhar de Percy dirigiu-se a mim, carregado de surpresa, provavelmente por eu ter atrapalhado o seu lance. Ele soltou-se da garota.

– Thalia! - Chamou, num tom de desespero. - Não é isso que você tá pensando...

Aquilo foi o suficiente para me despertar do estupor. Sem pensar duas vezes, dei as costas para aquela cena deplorável e fugi.

– Mas o que diabos..? - Não parei para ouvir a pergunta de Malcolm. Fugi, o deixando estatelado com cara de paisagem.

Fugi como eu fiz semanas antes, após o nosso primeiro beijo naquele mesmo local, por pura vergonha. Fugi como eu tentei repetidas vezes enquanto aquele sentimento evoluía. E naquele instante eu fugia novamente, para nenhum lugar em especial. Com lágrimas quentes escorrendo pelo meu rosto e um coração despedaçado. Era só isso que eu sabia fazer, afinal.

Minha subconsciência martelava em minha mente: Viu só? O amor não existe, sua otária. Como aconteceu naquela vez, entre seus pais. Lembra o que o "amor" do seu querido pai fez com sua mãe? Pois é. E você insistiu em acreditar nesse sentimento, agarrando-se a um fiasco de esperança de que Percy seria diferente. Mas ele não passa de um babaca, igual a todos os outros. E isso serve de lição, para você acordar. O AMOR NÃO EXISTE!

– O-o amor não existe... - Repeti com a voz embargada, enquanto corria sem direção e sentia aos poucos a realidade esvair-se de mim.

Eu estava desidratada, com fome e cansada. Minhas pernas cambalearam, o mundo girou em câmera lenta. A minha última visão foi um borrão marrom das árvores dançando, antes de apagar.

Percy

Eu e Calipso caminhávamos pela floresta, naquela calma tarde de Agosto. Estávamos com sorte, pois encontramos duas das caixinhas escondidas, somando 60 pontos.

Calipso tagarelava sobre alguma coisa aleatória enquanto eu fingia que prestava atenção, assentindo com a cabeça ocasionalmente. Porém meus pensamentos estavam longe dali, mais especificamente numa certa morena de olhos azuis. Preferia mil vezes estarmos nós dois sozinhos na floresta... Sua simples presença elétrica mexia comigo de uma maneira descomunal. Mas o maldito sorteio nos separou, e agora ela deveria estar com aquele loiro nerd, Malcolm.

– Ai! - A garota gemeu, arrancando-me dos meus devaneios.

Ela havia parado de caminhar, e estava segurando o pé com uma careta de dor.

Interrompi a caminhada e me aproximei dela para examinar o estrago.

– Tropecei naquela raiz - Ela apontou para o chão, com a voz embargada pela dor. - Acho que torci.

Analisei o pé escondido sob o All Star por um instante. Tinha que levá-la para um lugar mais tranquilo, onde pudesse se sentar.

– Vem - Passei um dos braços envolvendo sua cintura pela lateral, e ela apoiou-se em meus ombros. - Temos que imobilizar isso antes que piore.

Calipso possuía um doce cheiro de canela. Conduzi a garota por uma pequena vereda até as margens do lago. Sentei-a num banco e ela imediatamente livrou-se do tênis. Seu tornozelo estava inchado e vermelho.

Notei que ela fazia um enorme esforço para conter o choro, mordendo o lábio inferior. Aquele gesto, em outra situação poderia até ser considerado sexy. A ideia me fez rir.

Ela ergueu os olhos, numa expressão confusa, enfurecida e até um pouco magoada.

– O que é? Tá rindo da minha desgraça? - Perguntou ofendida.

– Não! É só que... Deixa pra lá. - Tentei me defender. - Fique aqui, vou procurar ajuda.

Quando eu comecei a me levantar, Calipso agarrou meu braço.

– Fique comigo, por favor.

Impossível dizer não para aqueles suplicantes olhos de mel. Parecia uma espécie de magia, coisa difícil de entender.

Sentei novamente. A carranca de Calipso aliviou-se.

Com cuidado, toquei a região avermelhada. A menina retraiu-se ao gesto.

– Dói? - Indaguei.

Ela assentiu com a cabeça em resposta. Só então percebi a estupidez da minha pergunta.

– Tch. - Fiz um som de deboche. - É obvio que dói, Percy - Repreendi-me com uma tapa na testa.

O meu monólogo sobre a minha idiotice a fez esquecer-se momentaneamente da dor. Um vislumbre de sorriso surgiu na sua face delicada. Ela baixou o olhar para tentar escondê-lo.

– Sabe Percy... - A garota começou a falar, meio relutante. - Faz tempo que eu queria te falar algo... Mas tenho medo do que vai acontecer.

– O que quer dizer? - Indaguei, no auge da minha inocência.

Ela brincava com os dedos na madeira do banco, ainda incapaz de me olhar nos olhos.

– Isso é tão embaraçoso... Você é um cara muito legal, Percy. É muito importante para mim.

– Hã... Obrigado, eu acho - Respondi visivelmente confuso.

A menina prosseguiu, escolhendo as palavras com cuidado.

– Como uma pessoa pode se tornar tão importante para alguém, mesmo sem perceber?

– Não sei aonde você quer chegar - Confessei.

Calipso levou as mãos ao rosto e balançou a cabeça negativamente, como se estivesse negando algo para sua subconsciência, numa briga interna.

– Odeio enrolações, odeio sentir isto, pois sei que é errado... Sei que podemos sair os dois magoados, mas me sinto sufocada em guardar isso - Disse, num tom melancólico.

Okay, se antes eu estava confuso, naquele instante a confusão triplicou. Fiquei calado, esperando que ela explicasse.

– Guardar algo que é pra se viver - Continuou, ainda sem me encarar. - Anseio saber o que você sente por mim. Eu quero poder começar a viver esse sentimento, mas se não houver sentimento tudo bem, eu nunca disse que esperava isso de você. Você é legal, ao menos espero que possamos continuar sendo amigos, seria legal ter você ao meu lado.

Desviei minha atenção para suas mãos, delicadas, que ela mantinha ocupadas, ora na barra da camiseta, ora entrelaçando os dedos. Meu déficit de atenção tornava ainda mais complicado entender o que ela estava dizendo.

Como eu não respondi nada, ela sentiu-se encorajada a prosseguir. Ergueu os olhos para mim.

– Você é uma espécie de amorizade, estranha essa palavra, né? Eu sei, isso descreve o sentimento de relação amorosa e a amizade que tenho por você. Desculpe-me estar sendo direta demais, mais não temos muito tempo pra enrolação.

Calipso soltou tudo de uma vez, me deixando em estado de choque. Eu não sabia o que responder, muito menos o que fazer. Por isso fiquei paralisado falando sílabas desconexas, como "Hã... Ér...". Ela não me deixou processar essa enxurrada de informações.

De repente a garota aproximou-se de mim e, com os olhos fechados, me beijou. Aconteceu tão rápido que eu mal tive tempo de pensar. Aquilo não era certo. Eu sabia que não. Mas eu não pude impedir. Quando me dei conta já estávamos lá, nós dois: Num beijo que se qualquer pessoa visse nos classificaria como namorados, o que estávamos longe, bem longe, de ser!

Ela movia os lábios contra os meus com voracidade, e na hora eu percebi o que ela sentia com aquele beijo: paixão. Um sentimento do qual eu definitivamente não compartilhava.

Tentei afastá-la, mas ela, com determinação, insistia. Gemi em reprovação, mas isso de nada adiantava. Ela persistia em mover a língua pela minha boca, com a pressa de quem soubesse que os próximos momentos de sua vida seriam os últimos. Pensei em como eu iria resolver aquilo e no que eu diria para a Thalia caso ela descobrisse - e eu realmente esperava que ela não o fizesse.

Mas eis que, ainda tentando empurrar Calipso, olho para frente para ver justamente o que eu mais temia. Lá estava ela, a minha própria namorada, testemunhando em primeira mão o meu beijo com outra garota. Eu a fitei em desespero, tentando avisá-la que aquilo não era o que parecia ser. Mas em seu rosto, o que eu vi foi um misto de raiva, tristeza e decepção.


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Notas finais do capítulo

Tadinha da Thalia, né? O que vocês fariam se estivessem na situação dela? E na do Percy?
Comentem o que acharam, cupcakes :3
Sobre o dreamcast, continuarei nas notas dos próximos capítulos.
Prometo que assim que der eu trago mais capítulos para vocês...
Beijos



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