POV Dominique.

— Não acredito! – Repetiu Megan pela terceira vez. – O mais difícil de crer é que você aceitou.

— Já disse, eu meio que fui obrigada! Estava devendo uma para ele. Pelo amor de Deus, você pode parar de andar de um lado para o outro e me ajudar com isso?

O chão do quarto de Meg estava prestes a abrir uma cratera de tanto que ela ia e voltava, ponderando sobre a proposta de Van der Bilt. Sinceramente, nem eu tinha absorvido completamente toda essa história. É claro que era uma ideia absurda, e, por isso, não me impressiono de ter vindo dele.

— O que você vai vestir? – Depois de alguns instantes em silêncio, ela finalmente pareceu ter digerido o assunto.

— Bom, esse não é o...

— Seu maior problema? – Megan completou, me interrompendo. – Vai por mim, eu conheço os pais do Jude. Esse com certeza é um grande problema.

Deitei em sua cama, com um travesseiro sobre meu rosto. Já me arrependia profundamente de ter aceitado a maldita proposta. Eu podia muito bem ter rido da cara dele, ou ter dito não de uma vez. Mas, como sempre, tive que complicar um pouco as coisas. É, vamos usar o eufemismo nesse caso.

— Você sabe que tem uma grande chance desse plano dar errado, não é?

— A melhor parte é que, caso não funcione, eu saio impune. – Sorri com o canto de meus lábios, ignorando a ínfima parte de mim que não acreditava nisso.

Quero dizer, quem se dará mal no fim disso tudo será o Van der Bilt, certo? Apenas preciso pagar minha dívida e, em poucas horas, toda essa confusão não passará de uma lembrança. Pelo menos eu espero que seja assim. Contudo, se levarmos em consideração minha absurda sorte e a maneira como o Universo conspira a meu favor, toda essa história terminará de uma maneira que não me agradaria.

Tudo isso me levou a uma pergunta: o favor que devo a ele é tão grande assim? Bom, considerando que ele me deu uma mão quando meu pai não largava do meu pé, acho que vale esse sacrifício.

Anthony DiNozzo Sr sempre foi sinônimo de problema. Depois da morte da minha mãe, ele saiu completamente dos eixos. Eu entendo que ficar com duas crianças pequenas para cuidar e criar sozinho é uma situação crítica e exige a cabeça no lugar, mas meu pai nunca foi responsável. Muito pelo contrário, para ser sincera. Junto de meu irmão, passei a infância em acampamentos de verão e internatos, e, na metade do tempo, não sabia onde ele estava ou o que fazia. Sem contar minhas infinitas madrastas. Francamente, não sei se estou na quinta ou na sexta, perdi a conta há muito tempo. A última vez que vi meu pai foi no casamento dele com a quarta (ou terceira, sei lá). Acho que ela se chamava Rachel, ou seria Karen? Enfim, mesmo mantendo distância, ele sempre acha alguma maneira de nos incomodar. Seja por questões financeiras ou monogâmicas, o Senior dá um jeito de acabar com a minha paciência. Atualmente, ele mora em Washington, onde pode desfrutar de seus luxos exagerados e desnecessários. Não sei como meu pai ainda não zerou a fortuna da nossa família, mas, de qualquer maneira, isso é um ponto bom.

— Venha, -- Disse Meg, tirando-me de meus devaneios e me puxando até seu closet. – vamos achar alguma coisa para você vestir. Ou melhor, vamos procurar algo que quebre o queixo dos Van der Bilt. De todos eles. – Ela piscou divertida para mim e, com um sorriso, a segui.

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POV Jude.

Meu relógio já marcava 19h56, e eu me encaminhava para o prédio de Dominique, onde a buscaria e logo em seguida iria junto com ela para a festa de meus pais. Por mais incrível que pareça, não estava nervoso nem preocupado, apenas inquieto. Afinal, as chances de todo esse plano dar errado são ínfimas, correto? Depois que tudo for feito, posso apenas anunciar que terminamos, com a justificativa de que não demos certo.

Não gosto de admitir, mas estou dependendo inteira e completamente da DiNozzo. Digo, se ela quiser (o que não me surpreenderia), poderia acabar com toda essa farsa e me entregar de bandeja para a minha família. Francamente, não duvido que ela possa fazer algo do gênero. Afinal, a pessoa em questão é Dominique DiNozzo.

Bom, deixando de lado meu vão devaneio, estacionei em frente ao edifício e toquei o interfone. Pelo mesmo, pude ouvir a doce voz de Megan, alertando que já estavam descendo. Não tardou para que a porta do elevador se abrisse, revelando DiNozzo, que vinha apoiada no ombro de Meg.

Dominique usava um longo vestido preto e salto alto. Seus cabelos extremamente loiros caíam em redemoinho sobre seus ombros. Ela não estava muito maquiada, o que fazia com que seus olhos azuis quase cinzas se tornassem ainda mais hipnotizantes. Irritantemente atraente. Fiquei ali, incerto, observando-a enquanto se aproximava de mim. Pouco antes de me alcançar, Dominique perdeu o equilíbrio e, para evitar que caísse, ela se apoiou em mim, e eu a segurei firmemente. Por um instante, me esqueci de toda a farsa e somente inspirei o perfume sutil que ela usava. Flor de cerejeira, talvez.

— Obrigada. – Disse ela, um pouco enrubescida, enquanto retomava a postura e parava ao meu lado. – Vamos acabar logo com isso.

— Sim, acho melhor não nos atrasarmos. – Nos despedimos de Megan e entramos em meu carro, a caminho do jantar.

Para quebrar o constrangedor silêncio que pairou dentro do veículo, decidi compartilhar uma informação que ainda me intrigava. O ambiente já estava se tornando desconfortável.

— Então você contou à Megan.

— É óbvio, Van der Bilt. Digo, Jude. Afinal, precisaremos de um álibi. E aposto que você contou para o Mike.

— Você me conhece tão bem, love.—- Um sorriso brincou com os meus lábios, e não pude deixar de perceber o tradicional revirar de olhos da loira. – É bom que você não revire os olhos lá, ok? Não é algo que uma namorada decente faria.

Ela me encarou com um sorriso desafiador. Suas íris cinzentas eram penetrantes, principalmente agora, sem o preto ao redor dos olhos.

— Eu já disse, sei o que fazer.

Foi em meio a provocações e alguns termos (não tão) carinhosos que nos encaminhamos ao palco de nosso teatro. Seria uma noite memorável.