O entregador de balões escrita por dentedeleão


Capítulo 2
2


Notas iniciais do capítulo

pov Edward



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Cap. 2

Havia um bip insistente em minha mente, meu sonho se dissipou pelo calor que emanava de meu corpo, podia sentir a luz passando pela pele de meus olhos fechados e gemi largamente enfiando a cabeça em meu travesseiro tentando regressar a minha paz onírica.

O bip continuava como uma serpente por todos os nódulos de meu cérebro até que não suportei mais abrindo os olhos. O sol forte vinha da janela com cortinas semi-serradas, o calor no quarto era absurdo. Me levantei percebendo que o bip nada mais era do que o vibrador de meu celular, a imagem de minha irmã piscava tão frenética na tela quanto a mesma era na vida real.

“Seu puto, você esqueceu nosso almoço.”

Onde estava o “oi maninho, tudo bem?” Ela simplesmente gritou em minha orelha me levando a afastar o aparelho coçando os olhos preguiçosamente.

“Desculpe se meu corpo e mente resolveram aproveitar o primeiro dia de férias e esqueceram do almoço. Ainda são 11:30, chego ai em 20 min.”

Minha voz estava rouca e a barba coçava levemente, eu gostava de mantê-la rala, me dava um ar relaxado e jovem. Hoje precisaria passar a máquina para mantê-la no nível certo ou logo teria a aparência de um velho desleixado. Não que fosse velho, tinha 26 anos e estava muito bem com minha aparência, mas assim como a barba podia te deixar jovem, em questão de centímetros ela lhe faria um homem velho de aparência desleixada.

“Não terei tempo para sair, traga algo para comermos.”

O telefone ficou mudo e percebi que esta seria uma longa tarde. Me arrumei em minutos e segui para o restaurante na esquina de casa pedindo por dois pratos de filet à-Djon e uma garrafa grande de água para viagem. Quinze minutos depois estava seguindo para a loja de festas Mundo de Alice.

–--

“Por que demorou tanto, estou faminta!”

Alice não me olhou por mais de dois segundos, tempo necessário para ela se aproximar e pegar a sacola de papel de minhas mãos. A segui pela loja, agora “fechada para almoço” me espantando com o número de arranjos feitos com bexigas pretas e pratas no lado esquerdo.

“Teremos um velório?”

Apontei para as bexigas enquanto Alice separava os pratos sobre o balcão dos fundos e servia a nós a água.

“Festa infantil!”

Deu de ombros garfando com vontade sua batata e gemendo conforme saboreava o molho.

Ignorei-a também, ela não me contaria mais enquanto comia. Estava realmente curioso, que tipo de criança gostaria de balões pretos em sua festa, estávamos em abril, o tema Bruxas não se encaixava a época.

“Estes balões realmente estão me dando dor de cabeça.”

Me espantei com seu falatório durante a refeição notando que realmente aquilo a incomodava severamente.

“Esta pessoa, Bella, me ligou no mês passado informando ter visto e amado o meu trabalho pela internet e me contou sua ideia absurda de balões pretos para a festa de sete anos de sua filha.”

Alice gesticulava e aumentava o tom de voz enquanto falava, a comida nunca esquecida, mas ela parecia precisar colocar aquilo para fora.

“Por um longo mês negociamos valores e entrega. Eu dei a ela um desconto absurdo de 40% apenas para ela parar de me ligar.”

Alice gritou antes de tomar um grande gole de sua água. O seu negócio era pequeno e pouco conhecido na cidade. Ela fazia bem o seu trabalho e cobrava o suficiente para um lucro razoável, 40% de desconto realmente a deixava sem margem de lucro.

“Acabei me afeiçoando a esta mãe e olha como sou recompensada. Todo o trabalho criando volume absurdo em minha loja e ninguém veio retirar. Estava marcado para as 11h, trabalhei a manha toda neles por que estes balões não duram mais do que 12h com o hélio e a festa seria no fim da tarde. Eu nem recebi por eles.”

Sua voz ficou chorosa e ela parecia histérica, o corpo agitado sobre a banqueta e as mãos cortando de forma assassina o pedaço de carne já morto a sua frente. Um pouco mais de água e boa parte da minha batata com molho mais tarde e ela se acalma. Eu não saboreei meu pedaço de carne como gostaria e nem sentia fome, sua profusão de sentimentos foi suficiente por um almoço.

“Por que não liga para a moça e verifica o que aconteceu?”

O olhar de Alice seguiu para meu rosto me analisando calmamente e então seu sorriso se alargou e ela quicou feliz para fora da banqueta correndo para sua agenda.

Ela discou os números e esperou até o segundo toque para ser atendida, eu sabia disso porque ela colocou a chamada no viva-vos.

“Isabella.”

A voz do outro lado soou melodiosa e divertida. Antes que Alice pudesse responder gritos divertidos soaram pelo telefone.

“Não suba nesta cadeira ou vou acertar sua bunda com esta raquete, Kath.”

“Me desculpe, alô?”

Alice estava muda por um segundo, acho que atrapalhada pela gritaria e risadas infantis do outro lado da linha. Eu a cutuquei levemente e ela despertou.

“Oh, Alô. É Alice da loja de balões. Sua encomenda não foi retirada.”

O tom profissional de Alice compensou seu leve gaguejar no início da ligação e logo ouvimos alguns palavrões, o som de algo caindo no chão, mais palavrões e então a voz melodiosa voltou.

“Alice, me perdoe. O filho da puta do pai da minha filha deve ter esquecido. O problema é que não tenho como retira-los. Eu estou tão ferrada. Por favor, me diga que ele lhe pagou?”

Eu estava com pena da cliente de Alice, ela realmente parecia perturbada e sua voz intercalava entre fúria e sussurros, acredito que para a filha não a ouvir chamando o pai de filho da puta. Alice respirou fundo percebendo que todo o seu trabalho havia sido perdido. Na agenda além dos dados principais havia o endereço do evento e a puxei um pouco de lado notando que a festa seria a poucos quilômetros.

Gesticulei para Alice informando que eu poderia entrega-los e ela sorriu satisfeita. Suas feições mais leves.

“Não Bella, não ouve pagamento. Mas eu tenho um entregador.”

Ambas acertaram o novo pagamento, notei desespero na voz da cliente quando ela soube do novo valor, Alice retirou o desconto informando ser a taxa de entrega e nada mais poderia ser feito a respeito se ela realmente quisesse a festa da filha com balões pretos e pratas.

Com tudo acertado colocamos os balões em uma rede e então dentro do carro, seria mais seguro transportá-los assim e segui para o local de entrega um pouco mais animado por estar fazendo algo bom para alguém.

...


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Notas finais do capítulo

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