“Filha da puta!” – bati forte a porta do apartamento praguejando ainda mais sem me importar se estava gritando alto o suficiente para algum vizinho ouvir – “Maldita velha dos infernos.”

Joguei a chave sobre a mesinha ao lado da porta, a bolsa foi atirada sobre o sofá enquanto caminhava nervosa ate a cozinha. Tinha apenas algumas horas para replanejar toda a festa e isso incluía local e decoração e ainda teria que olhar a cara de limão azedo da sindica para pedir o cheque do pagamento do aluguel do salão de volta.

“Mamãe?”

Merda, entrei em casa tão nervosa que não percebi que minha filha estava aqui e pior, que me ouviu chamar uma senhora de idade de nomes impróprios e ainda desejar sua ida ao inferno, não que ela não merecesse algo assim.

“Ainda esta cedo, o que faz em casa filha?”

Abracei meu pequeno anjo sentindo o cheirinho bom de seus cabelos, por mais que eu pedisse aos céus que ela crescesse devagar, isso não ocorria. Eu poderia abraça-la facilmente e logo ela me teria em seus braços e eu me veria como a criança. Ter uma estatura mediana não era nenhuma vantagem nestas horas.

De relance vi as horas no relógio da cozinha, realmente era cedo, consegui sair do meu trabalho duas horas mais cedo prometendo pagar as horas na próxima semana. Eu esperava ter tempo para encher alguns balões convencionais e organizar a mesa principal antes de ter minha filha em casa e dar conta de sua roupa e maquiagem.

“Pedi dispensa da aula de educação física e vim para casa. Queria ajudar.”

Era incrível como um sorriso e um simples olhar me cativavam me fazendo esquecer completamente que hoje era sexta feira e não havia ultima aula de educação física. Não poderia me importar menos com uma falta, eu tinha uma dúzia ou mais de outros problemas para resolver agora e ainda trabalharia no turno da tarde. Bom, este problema eu poderia resolver agora.

“Querida, me de apenas um segundo.”

Peguei o telefone sem fio e disquei o numero direto de minha supervisora.

“Vivi? Oi. É a Isabella, Isabella Swan.”

“Preciso faltar hoje, pode descontar do meu salario se quiser, mas realmente não poderei ir.”

O que veio a seguir fez meu sangue ferver, ela não só me negou a dispensa como disse que se eu o fizesse além dos descontos pediria minha dispensa. Esta seria minha terceira falta no mês, mas a primeira sem justificativa medica a única aceita naquela empresa. Minha supervisora realmente me amava, tanto que queria minha cabeça desde que soube de minha indicação para um cargo igual ao seu.

Há seis meses eu lutava pelo cargo por conta do salario, trabalharia oito horas e teria meus sábados intercalados, mas o salario valeria a pena e me permitiria alguns extras dentro de casa. O caminho não foi fácil, passei por treinamento, prova e monitoria e quando tudo parecia certo lá vem o balde de água fria. Eu já deveria esperar por algo assim, era como rotina em minha vida, se começasse a ir bem de mais, algo esfriava.

“Quer saber. Manda embora.”

Desliguei o telefone sem me importar com sua resposta. Se a empresa aceitasse minha dispensa é por que realmente não era para ser e eles que arcassem com a rescisão, não seria um valor alto, mas ajudaria ate encontrar outro emprego.

“Filha! – gritei da cozinha – Tenho novidades, minhas tardes agora serão totalmente dedicadas a você, começando por hoje.”

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Não foi fácil organizar toda a festa dentro do meu apartamento, eu teria os convidados dormindo em minha sala, mas não esperava por toda a bagunça dentro de minha casa ate a noite.

“Filha, me ajude com o sofá. Vamos leva-lo para o meu quarto.”

“Não vai caber!”

Era engraçado ouvir suas lamurias enquanto reorganizávamos tudo. Quando lhe contei que a sindica simplesmente nos negou o salão na ultima hora informando ter esquecido a reunião de condomínio foi que percebi o quanto uma criança pode ter uma mente suja. Seus palavrões foram piores que os meus e ela ate planejou a morte da velha.

Acabei contornando a situação, iriamos apenas pregar uma peça na maldita para ela nunca mais mexer conosco. E olha que nossas mentes planejaram tudo em total sincronismo.

“Tenha fé filha, nem que eu tenha que erguer a cama e dormir neste sofá, mas vamos conseguir coloca-lo no quarto.”

Finalmente conseguimos, o apartamento de 70m² e dois quartos comportaria sete crianças e uma festa para comemorar o sétimo ano de vida de minha filha. Claro que a mesa na escada de incêndio, o sofá e uma poltrona dentro de meu quarto eram simples detalhes.

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