Perto das onze da manhã do dia seguinte, Hanna passou em frente a um sebo, onde uma versão pocket e amarelada de Bonequinha de Luxo, com Audrey Hepburn na capa, chamou-lhe a atenção. Emily havia já falado varias vezes o quanto Ali a lembrava de Holly Golightly no filme, e por oito dólares, Hanna saiu com o pequeno livro na mão.

Ali havia combinado com ela de encontrá-la em frente à mesma sorveteria que estiveram no dia anterior. Aparentemente, Ali queria mostrá-la a surpresa que de fato tinha quatro patas e era coberta com pêlos.

O sol estava quase a pino, mas Hanna decidiu não entrar na pequena lojinha, por nenhuma razão aparente, e sentou-se ao mesmo banco do dia anterior, abrindo o pequeno livro amarelado na primeira página.

Cinco páginas depois, o estômago de Hanna começava a roncar levemente. Ela sentiu olhos sobre si, ainda que um tanto distantes, e ergueu a cabeça. Caleb. O rapaz se dirigia calmamente para onde Hanna estava, com seu tradicional meio-sorriso, que ela sempre adorou.

Hanna deixou que seu lábios se separassem por um segundo, em surpresa, e depois sorriu, encabulada, ao ver que Caleb se sentava ao seu lado.

— Ei, você – disse ele, sem largar o meio-sorriso.

— Oi – rebateu ela, guardando o livro na bolsinha que levava à tiracolo, estranhamente nervosa demais.

Era surreal estar com ele ali, tão perto dela, agindo de forma tão amigável – não que ela duvidasse que ele, em algum momento, fosse abandonar a cordialidade para com ela – , sendo que eles não se falavam desde, bem, desde que Hanna fora honesta com ele sobre tudo o que estava acontecendo dentro dela ultimamente.

— Tudo bem? – perguntou ele, parecendo estar curioso, mas não muito mais do que estaria ao começar uma das chamadas “conversas de elevador”.

— Sim – respondeu ela, quase como num reflexo – , tudo bem. E você, como está?

Assim que Hanna fez a última pergunta, se sentiu estúpida. Parecia que ela e Caleb estavam se falando pelo chat do antigo MSN.

— Sim, bem – ele apoiou os antebraços nos joelhos.

Hanna assentiu, forçando um sorriso, ainda mais nervosa. A voz do garoto soava tranquila, mas não saber o que ele queria ali, falando com ela, a deixava apreensiva. Um silêncio se fez depois disso. Hanna não se sentia capaz de olhar nos olhos dele.

— Hanna, eu sei que isso provavelmente vai soar rude – começou ele – e sei também que sua vida não diz mais respeito a mim, mas...

— Não – Hanna tocou o joelho de Caleb, sentindo o nervosismo ir embora – Por favor, não diga mais isso. Você sempre fará parte da minha vida e sabe disso.

Caleb não respondeu, apenas deu um leve sorriso em agradecimento e pôs sua mão sobre a de Hanna.

— Está tudo bem se quiser perguntar – garantiu ela, docemente – Não quero esconder nada de você.

O garoto pareceu analisar a pergunta que estava prestes a fazer.

— Você e Mona estão juntas agora? Como em um relacionamento?

Hanna finalmente parou para analisar a expressão dele, que continuava tranquila, assim como a voz, sem rancor, mágoa ou algo do tipo. E flashes da noite passada invadiram sua mente.

— Tudo são relacionamentos, Caleb – ela desconversou por um segundo, com uma voz mais descontraída – Mas sim, acho que posso dizer que eu e ela estamos juntas de um jeito que eu nunca pensei que estaríamos.

Caleb assentiu, novamente sem nenhuma mudança em sua expressão.

— Sinto que não vou conseguir dormir se não tirar isso do meu sistema – ele suspirou – Ela trata você bem?

Hanna estranhou um pouco a pergunta, mas sorriu em seguida, concluindo que esse era o exato tipo de curiosidade que esperaria de alguém como ele.

— Sim – respondeu delicadamente -, trata.

— É tudo com o que eu me importo – disse ele antes de beijar Hanna na testa e levantar para ir embora.

— Caleb? – chamou-o Hanna antes que ele tivesse a chance de dar as costas a ela – Obrigada. Não apenas por me entender quando às vezes nem mesmo eu me entendo, mas por não sumir da minha vida. Por não deixar de ser meu príncipe encantado.

Caleb já tinha um sorriso aberto nos lábios quando se sentou novamente a frente de uma Hanna cujos olhos azuis estavam marejados e a abraçou.

— Sabe que eu nunca deixarei de amar você, não é? – perguntou ela, controlando a vontade de chorar.

— Sei – disse ele, ainda enganchado a ela –, e eu amo você de tal forma que a única coisa que eu quero é ver você feliz. Mesmo que não seja eu a pessoa que te proporciona esse tipo de felicidade.