Honestly? I love you! escrita por Miss Vanderwaal


Capítulo 25
Tudo


Notas iniciais do capítulo

Oi! Há quanto tempo, não? Eu sei. Me desculpem. Eu me sinto horrível por ter passado mais de mês sem postar absolutamente nada, mas eu não morri e tampouco pretendo abandonar minhas fics, só fiquei um tempo fora por causa do estresse de final de ano letivo.

Enfim, espero que esse capítulo deixe vocês tão felizes quanto eu fiquei ao escrevê-lo.



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Era a terceira vez que Hanna negava prontamente assim que a enfermeira lhe sugeria um pouco de café ou alguma revista para se distrair.

— Não quer ao menos se sentar? – a jovem voltou a indagar enquanto ajeitava os lençóis da cama de Mona, que no momento estava um tanto reclinada – Isso pode levar algum tempo.

— Eu não me importo – Hanna respondeu docemente para a moça que carregava um leve sotaque britânico em suas palavras.

Ela realmente não se importava. Devia fazer quase meia hora que ela estava ali, de olhos fixos na figura estática de Mona, acariciando-lhe lentamente os cabelos. O cheiro de desinfetante que perdurava naquele quarto passara oficialmente para a lista de fragrâncias favoritas de Hanna, justamente porque tal envolvia as duas naquele momento.

Ashley passara ali mais cedo para ver como estavam as coisas. Permanecera algum tempo ao lado da filha apenas de olho nas feições tranquilas da morena, assim como Hanna fazia, sem dizer nada. Depois, Hanna pedira à mãe que lhe emprestasse um pente de sobrancelhas e pacientemente começara a ajeitar as sobrancelhas de Mona, apenas para poder deslizar um indicador por elas e voltar a penteá-las em seguida.

Repetira tal processo por pelo menos dez vezes depois que Ashley as deixara. Hanna não tinha a menor vontade de sair de perto de Mona, e não era nem por causa daquela promessa a respeito de a morena querer ver Hanna primeiro, assim que acordasse; era apenas porque Hanna puramente sentia que jamais se cansaria de olhá-la.

Assim que notou o mínimo movimento das pálpebras da morena, por volta de meio-dia e quarenta, Hanna sentiu que não poderia conter o próprio coração dentro do peito; porém, embora a felicidade fosse sem tamanho, ela conseguiu manter-se calma enquanto os olhinhos confusos de Mona tentavam obter foco. A loira abriu um sorriso ao ver que a garota ainda não havia se dado conta de sua presença.

— Boa tarde, senhorita Vanderwaal.

Lentamente, os olhos de Mona fixaram-se em Hanna, que tinha um antebraço apoiado ao colchão acima da cabeça da morena.

— Você está aqui – ela concluiu o óbvio ainda sem muita força na voz, mas era como se estivesse feliz e surpresa ao mesmo tempo.

— É claro que eu estou aqui. – Hanna falava como se estivesse ninando uma criança – Foi o que você me pediu, lembra? Mas quem eu estou tentando enganar? Eu estaria aqui mesmo se você tivesse me dado uma ordem de restrição.

— Eu nunca daria a você uma ordem de restrição – Mona replicou lentamente, como se estivesse com sono.

Hanna deslizou os dedos pelo braço direito parcialmente descoberto de Mona.

— Bem, obrigada por isso.

Mona lançou-a um sorrisinho cansado.

— Não consigo acreditar que já acabou tudo. Passou tão rápido.

— Acho que eu teria que discordar de você na parte do rápido, mas acabou, meu anjo. Você conseguiu. E eu estava com tanta saudade... – Hanna sussurrou as últimas palavras antes de deixar um beijo casto na testa da garota, seguido por um na ponta de seu nariz, mas Mona apertou os lábios quando a loira quis alcançá-los em seguida.

— Não. – protestou, fracamente – Minha boca está tão seca... vai ser como beijar um cadáver.

Hanna riu da ingênua preocupação e pousou sua mão direita delicadamente sobre a cintura de Mona.

— Deixe de frescuras. Aliás, que melhor processo de hidratação lábial há no mundo?

Mona riu também e deixou-se ser beijada. Hanna começou com um curto selinho, mas então, devagar, ainda em meio ao singelo beijo, deslizou a ponta da língua pela superfície dos lábios da morena, com a simples intenção de umidecê-los. Sorriu ao afastar-se e constatar que um leve, porém vívido, tom de cor-de-rosa já dominava os lábios de Mona.

— E então? – perguntou, um tanto presunçosa.

Ainda de olhos fechados, a morena apertou os lábios mais uma vez.

— É quase tão eficaz quanto um copo d’água. Mas eu ainda estou com sede.

Hanna deu outra leve risada, dando-se por vencida.

— Certo. – ela despejou meia garrafinha de água em um copo de plástico e cuidadosamente levou este aos lábios de Mona. A enfermeira havia deixado tudo sobre a mesinha de cabeceira justamente para o caso de Mona acordar com sede. – Melhor?

Mona murmurou um aham e voltou a relaxar a cabeça no travesseiro.

— Como está Ali? – uma expressão de preocupação agora dominava seu rosto.

— Ali está descansando. Ela está sob mais observação que você, mas o médico disse que vocês duas se comportaram muito bem. Por isso a cirurgia terminou mais cedo.

— Queria poder vê-la.

A loira deixou-se derreter com tal comentário por um segundo. Mona queria tanto quanto Hanna que sua amizade com Alison fosse real.

— E você irá vê-la. Mas vá com calma. Agora, eu provavelmente deveria avisar alguém que você acordou, não acha?

Mona balançou a cabeça em negação, dengosa.

— Seja justa. – Hanna insistiu, achando graça – Seus pais devem estar loucos para ver você.

— Eu sei. – a garota pareceu ceder – Falando nisso, minha mãe esteve aqui?

— Esteve. – Hanna ponderou se contava ou não a Mona sobre o pequeno agrado da Tiffany’s que Leona planejava dar a ela. Decidiu que não, afinal, era lógico que a mulher fosse querer fazer uma surpresa. – Um pouco antes de eu assumir a vigília. Por quê?

Mona desviou o olhar, como se estivesse matutando sobre alguma coisa, mas então sorriu para Hanna novamente.

— Por nada.

Por uma fração de segundo, Hanna não acreditou realmente que aquilo fosse um nada, mas decidiu deixar para lá.

— Vá chamá-los. – instruiu Mona, ainda dengosa – Mas não suma por muito tempo.

Hanna aproximou o rosto do da morena e beijou-lhe a ponta do nariz outra vez, enquanto ela deixava um beijinho igualmente casto em seu queixo.

— Prometo que não vou.

A loira estava a um passo de deixar o quarto quanto ouviu Mona murmurar, ainda num tom sonolento:

— Você é boa em cumprir promessas.

Sentindo o coração derreter, Hanna quis dar algo à morena em resposta, mas não era o momento. Em algum ponto daquela tarde, Mona seria somente dela, por um longo tempo, e tal seria suficiente para matar a saudade causada por aquelas malditas quase quatro horas.

— E o pastor? – Hanna indagou, uma vez que estava novamente ao lado de sua mãe em uma das cadeiras da sala de espera. Fazia já alguns minutos que ela havia deixado Mona na companhia de seus pais. Spencer e Aria estavam por perto também (Aria de mãos dadas com seu namorado, Ezra) enquanto Emily com certeza estava no quarto de Ali com os pais da garota.

— Ele foi embora – Ashley suspirou, e Hanna conseguiu identificar um traço de melancolia em tal suspiro.

— Tipo, para sempre ou...

— Não! – Ashley cortou a filha, com um sorrisinho meio abismado no rosto – Ele só foi para casa.

— Você quer vê-lo de novo, não é? – Hanna insistiu, num tom malicioso.

— Bem, ao que tudo indica, eu vou vê-lo de novo. Amanhã.

Hanna fitou a mãe com uma expressão surpresa.

— O que tem amanhã?

— A igreja onde ele prega vai organizar um bazar de caridade – Ashley respondeu, roçando os dedos uns nos outros, como se estivesse um tanto nervosa – e eu me ofereci para ajudar.

Hanna mascarou sua animação revirando os olhos.

— Por que a maioria dos adultos escolhe os piores lugares para primeiros encontros?

— Quem disse a você que é um encontro?

Por favor, mamãe. – a garota revirou outra vez os olhos – Você só faz doações para caridade quando não tem mais espaço no seu closet. Quer mesmo me convencer de que você abriria mão de um domingo de folga por qualquer ex-colega da faculdade?

Ashley deu risada, de olho nas unhas.

— Certo. E se eu quiser mesmo vê-lo de novo?

— Eu acho ótimo. – Hanna deu de ombros e sorriu. – Ele me causou uma boa primeira impressão.

Ela recostou a cabeça dengosamente no ombro da mãe e permaneceu ali por mais alguns minutos, então decidiu dar uma checada em Emily. A morena estava sentada em uma cadeira azul parecida com as que haviam na sala de espera. Tinha os cotovelos apoiados nos joelhos e fitava uma Alison completamente imóvel como se sua vida dependesse disso.

Emily não se virou para olhar Hanna até que a loira estivesse suficientemente próxima para tocar seu ombro, então seguiu o olhar de Jessica DiLaurentis – que estava ao lado esquerdo de Ali – e as duas sorriram para ela, sem dizer nada. O pai de Ali não estava mais ali, e Hanna torceu para que ele tivesse apenas saído para pegar café. Seria mesquinharia demais se ele, ao invés disso, tivesse resolvido ir trabalhar.

Também em silêncio, com seu braço esquerdo envolvendo os ombros de Emily, Hanna pregou os olhos em Ali. Doía, pois a garota aparentava estar morta, e Hanna teve que relembrar-se algumas vezes de que estava tudo bem agora, para não se entregar às lágrimas. Mas ainda assim, notar o quão pálido o rosto de Ali estava ou a sonda que, apoiada em suas orelhas, funcionava com uma linha divisória entre seu nariz e seus lábios, fazia o sangue de Hanna esfriar em preocupação. Deus! Ali estivera tão sorridente, tão corada, tão feliz ao voltar da Georgia no meio daquele verão...

Deixando os pensamentos que a aborreciam de lado, Hanna respondeu, alegre, quando ambas, Emily e Jessica, perguntaram-na a respeito de Mona.

— Isso ainda é um pouco estranho para mim. – admitiu Jessica em seguida, com a mão esquerda de Ali entre as suas – Eu nunca soube que Ali e Mona eram amigas.

Hanna e Emily trocaram um olhar um tanto preocupado.

— Não eram, na verdade. – Hanna informou, polidamente – Mas acho que o que aconteceu nos últimos tempos coloca as ideias de qualquer um em perspectiva.

Jessica sorriu para o rosto desacordado de Ali, ainda segurando a mão dela com força e delicadeza ao mesmo tempo. A mulher namorava a figura da filha com cuidado, como se finalmente estivesse aprendendo a amá-la de verdade.

— Você tem toda a razão – ela voltou a olhar para Hanna. Seus olhos azul-esverdeados brilhavam devido às lágrimas.

Spencer adentrou o quarto cautelosamente em seguida, puxando Aria pela mão. As quatro meninas cumprimentaram-se baixinho enquanto Jessica parecia contente em testemunhar a reunião.

— Vou deixar vocês à vontade – disse a mulher, saindo do quarto depois de deixar um beijo na testa de Ali.

Durante algum tempo, silêncio foi a única coisa que as envolveu. Então Aria sentou-se na cama, tomando cuidado para manter certa distância dos pés de Ali, e acariciou os tornozelos dela, por cima do lençol fino.

— Por quanto tempo ela vai ficar assim? – perguntou ela, cautelosamente.

— Ninguém sabe – Emily respondeu, ainda sentada ao lado esquerdo de Hanna, e agora o desânimo era sensível em sua voz.

Hanna observou enquanto as três baixavam suas cabeças e quis logo quebrar a tensão.

— Acham que ela pode nos ouvir?

— É claro que pode. – Spencer respondeu pronta e docemente, passando um braço ao redor da cintura de Hanna – No momento ela está como um computador em espera. Não responde a nenhum estímulo, mas por dentro continua funcionando.

— É sedutor quando você, com sua lábia nerd, une tecnologia e medicina numa mesma explicação.

Hanna saboreou a risada das três depois de concluir e sentiu aquela deliciosa sensação de missão cumprida, mas não queria alongar muito aquela breve visita ao quarto de Ali. Aliás, não queria sumir da vista de Mona por muito tempo, não depois de a morena ter elogiado sua habilidade de cumprir promessas. Ela, então, se despediu de suas amigas por meio de um abraço forte em cada uma seguiu o caminho inverso para o quarto de Mona.

A porta estava entreaberta, mais para mais do que para menos, e Hanna viu – agora parada, espiando – que os pais da garota não estavam mais com ela, mas sim um garoto, cujas costas eram visíveis à ela, apenas. Mike. Ele estava sentado na borda da cama de Mona, encarando-a e fazendo-a sorrir. Demais. Hanna fechou as duas mãos em punhos e bronqueou a si mesma. Droga. Por que ela tinha que sentir aquele incômodo no peito toda vez que via Mona junto de Mike? Quer dizer, contando com esta, havia sido apenas uma vez, no início das aulas, há nem mesmo uma semana atrás. O quão paranoica e egoísta Hanna era, afinal?

Ao respirar fundo, parte dela concentrou-se inconscientemente na conversa que os dois estavam tendo.

— Quantos gols você marcou hoje? – perguntou Mona.

— Nenhum – o garoto replicou simplesmente.

— Então qual foi o placar?

— Eu não sei. – Mike deu de ombros e checou seu relógio de pulso – Quer dizer, acho que deve fazer uns dez minutos desde o início do jogo.

Mesmo à distância, Hanna conseguiu ver Mona arregalar brevemente os olhos.

— Você desistiu do seu jogo... por mim?

— Bem, eu queria saber como você estava. E agora que vi você acordada, sinto que valeu a pena.

— Você não devia ter feito isso – Mona balançou sutilmente a cabeça, em modéstia.

— Ei, você está diante do Dr. J do lacrosse. Haverão outras oportunidades. Para mim, de jogar, e consequentemente para você, de ir me assistir.

Mona deu risada e, sem saber por que, Hanna riu baixinho também. Mike levantou-se e beijou Mona na testa, um gesto doce e quase paternal. De repente, todas as razões de Hanna para sentir ciúme dos dois evaporaram completamente. Mike não estava mais usando as calças skinny de cintura baixa nem o gorro do moletom por cima da cabeça, como se estivesse fazendo um cosplay do Justin Bieber. Ele parecia, agora, um rapaz francamente adorável, que lembrava à ela de Aria mais do que nunca.

— Hanna. – Mike sorriu para ela assim que virou-se para sair dali e a viu. Ele, então, num gesto que pegou a loira completamente de surpresa, abraçou-a. Hanna o abraçou de volta, ainda um tanto sem jeito. – Cuidem-se, vocês duas. – ele lançou um rápido olhar outra vez para Mona e deixou o quarto. Tal conselho fez o coração de Hanna derreter, mas ela não teve tempo de replicar.

— Bisbilhotando muito, senhorita Marin? – Mona indagou numa falsa autoridade. Ela já aparentava estar bem menos cansada.

Hanna conseguiu apenas rir novamente em resposta, sentindo-se envergonhada e com as bochechas vermelhas. Sentou-se onde Mike havia estado e tomou as duas mãos da morena nas suas.

— Eu senti ciúme de novo. – ela precisou confessar, fazendo um biquinho proposital – Me perdoa?

— Ah, meu Deus! – Mona tocou as bochechas da loira como se tivesse acabado de ouvir um bebê falando pela primeira vez – Como eu poderia não te perdoar? – ela pousou os dedos de uma mão no queixo de Hanna e puxou-a para um selinho – Mas admito que é muito bom ouvir isso.

A loira mordeu o lábio.

— Tem certeza? Porque eu odeio sentir isso. A coisa de demarcação de território, eu não quero pensar em você como minha propriedade, e eu sei que você não...

— Shh. – Mona sussurrou, colando dois dedos aos lábios de Hanna por um segundo – Eu tenho uma coisa para você.

Mona de repente adquiriu um olhar calmo e sério, e, por um breve momento, Hanna não soube se seu coração parou ou acelerou dentro do peito, não soube se seu sangue gelou ou começou a ferver em suas veias.

— Tem?

— Está... aqui embaixo – ela se arrastou com dificuldade no colchão e esticou o braço direito, tentando alcançar o que quer que estivesse no chão.

— Ei, eu pego – Hanna delicadamente segurou o braço de Mona e agachou-se.

O que estava ao lado da cama da morena, praticamente camuflada entre esta e a mesinha de cabeceira, era a singela sacolinha da Tiffany’s que Hanna vira nas mãos de Leona mais cedo. Ela franziu as sobrancelhas, minimamente confusa.

— Isso é para mim?

Havia um sorriso igualmente singelo curvando os lábios de Mona agora. Ela assentiu.

— Mas se tem alguém aqui que merece ganhar presentes, esse alguém é você – Hanna protestou, como se falasse com uma criança.

— Bem, tecnicamente, é algo para ser usado por nós duas.

A curiosidade ia aumentando gradualmente a velocidade dos batimentos cardíacos de Hanna, e ela por fim puxou uma caixinha do fundo da pequena sacola, no mesmo tom de azul. Um sorriso curioso ainda repousava sobre seus lábios e ela destampou a embalagem já tão conhecida por ela sem cerimônias. E então parou. Encaixadas na almofada de espuma, estavam duas argolinhas douradas. Por um segundo, Hanna não entendeu. Ela e Mona iram compartilhar brincos? Isto é, em determinado dia o par ficaria com uma delas, e em outro, com a outra? Por mais inusual que fosse, Hanna estava se preparando para agradecer e dizer que eram lindos, quando finalmente percebeu que uma das argolinhas era quase que imperceptivelmente menor do que a outra, como se tivesse vindo com defeito de fabricação ou... como se tais tivessem sido feitas sob medida. Isso!, a mente de Hanna exclamou. Não eram brincos. Eram anéis.

Ela olhou para Mona depois do que pareceu ser um longo tempo, e sabia que não precisava mais perguntar nada. A resposta para o que aquilo era estava nos olhos doces da morena e Hanna sentiu as lágrimas umidecendo seus olhos devagarinho.

— Eu pedi à minha mãe que pegasse as douradas porque, bem, as prateadas simbolizam compromisso, estritamente. E eu repito que, para mim, amar você nunca foi e nem nunca será algo compromissado.

Ouvir tais palavras em voz alta fez o coração de Hanna afundar ainda mais em seu peito, completamente enternecido, derretido. O significado daquilo tudo era cada vez mais evidente e estava fazendo-a sentir um frio gostoso na barriga, semelhante a algo que ela provavelmente sentiria se fosse pular de paraquedas. Ela, então, riu levemente para si mesma e cobriu os lábios com as costas de uma mão por um momento.

— Há quanto tempo você vem planejando isso?

Mona deu de ombros.

— Desde a nossa conversa sobre Harvard e um apartamento conjunto.

— Você é tão maquiavélica! – Hanna deu um tapinha na coxa esquerda de Mona por cima do lençol, uma região que ela sabia com certeza que não havia sido afetada pela cirurgia, e colidiu seus lábios com os dela mais uma vez.

— Se você acha isso agora, leia o que está gravado na parte de dentro das alianças – Mona instruiu com o rosto ainda próximo ao de Hanna e um sorriso presunçoso.

A loira obedeceu, tomando com cuidado entre dois dedos a segunda argolinha, a que ela com certo esforço percebia que era um tanto maior. Apertou os olhos e leu o que, numa letra cursiva e miudinha, havia esculpido no metal. Everything. Por um momento, Hanna achou que não era mais capaz de compreender sua própria língua materna, de tão atordoada que tal palavrinha a havia deixado, isso porque o que Mona dissera a ela naquela segunda-feira voltou à sua mente sem aviso prévio. Porque você é simplesmente tudo.

Hanna tinha um soluço emocionado preso na garganta.

— Assumindo que você aceite – Mona recomeçou, calmamente –, se algum dia você tiver qualquer dúvida sobre o que você significa para mim, eu quero que você leia o que está escrito aí, quantas vezes for preciso antes de você colocar de volta no dedo.

— Aceitar... – Hanna ecoou o verbo numa voz embargada, como se estivesse querendo assimilar a coisa toda – quer dizer que você está... está me pedindo em casamento? De verdade?

A palavra soou forte e requintada, impecável, e ressoou pela mente de Hanna causando-a certa falta de ar. Seu coração saltaria para fora do peito a qualquer momento.

— Eu não sei. – Mona deu de ombros e riu. Ela também tinha os olhos úmidos agora. – Estou? Quer dizer, a única coisa que eu sei é que quero falar de você para quem quer que diga para mim na rua “uau, você é tão jovem e já é casada?”; falar de como eu te amo e de como sempre te amei, desde que ainda tínhamos dentes de leite para perder; falar de como, mesmo depois de todas as merdas que já aconteceram em nossas vidas, você continua comigo. Mas principalmente, eu quero acordar todos os dias e, além de ter você abraçada a mim, ter esta coisinha aqui em minha mão esquerda – ela apontou para a aliança que ainda estava presa à almofada de espuma – para simbolizar tudo isso.

Mona fez uma pausa e respirou fundo. Seus olhinhos castanhos estavam turvos e avermelhados devido às lágrimas. Hanna, que sinceramente não sabia como havia sobrevivido à tal justificativa, viu refletido nas feições da morena o medo da rejeição. Largou a aliança que ainda estava entre dois dedos de sua mão direita sobre a caixinha e correu as costas da mão pelo contorno do rosto de Mona – ela parecia tão vulnerável agora! –, beijando-a com um imensurável cuidado em seguida.

— Então me deixe fazer as honras – a loira pediu, decidida. – Casa comigo?

Houve um momento de absoluto silêncio para que as duas pudessem absorver o impacto de tal proposta, que estava longe de ser leve, mas assim que Mona assentiu e, mordendo o lábio, enlaçou o pescoço de Hanna com os dois braços, esta pôde relaxar. Na verdade, ela pôde sentir as doses de endorfina que seu corpo produzia correndo por suas veias e fazendo seu coração bater num ritmo mais tranquilo.

Deram-se um beijinho de esquimó antes de alcançarem propriamente os lábios uma da outra, desta vez com avidez. Mona arqueou um pouco as costas e Hanna correu as mãos por elas, em um primeiro momento sem se dar conta da possibilidade de Mona estar com a região sensível, mas a garota não reclamou, o que Hanna encarou como um bom sinal.

Assim que o beijo se partiu, ainda ofegante, Hanna tomou as duas mãos de Mona entre as suas e intercalou o olhar entre estas e a caixinha azul que ainda repousava sobre o colchão.

— Em qual das duas?

— Na direita, eu acho. – Mona parecia estar levemente aturdida – Na hora de oficializar é só trocar de mão.

Hanna desviou por um segundo o olhar outra vez e fitou a garota novamente com um sorrisinho ansioso, apertando ainda mais as mãos dela entre as suas.

— Oficializar?

— É. – Mona respondeu simplesmente – Não gosta da ideia?

Hanna sentiu seu sorriso se alargar a tal ponto que suas bochechas começaram a doer.

— Está brincando?! Você está diante da garota que desde os cinco anos almeja os vestidos brancos nos catálogos da Saks.

Mona relaxou e sorriu também.

— Você tem mesmo cara de quem sonha com o casamento perfeito desde pequena.

— Como quase toda menina, não é? – ela começou a brincar com os dedos da morena – Mas algo me diz que este vai ser melhor do que qualquer coisa que eu já possa ter sonhado.

Hanna pescou a segunda aliança, a que ainda estava presa à almofada de espuma na caixinha, e segurou com o mesmo cuidado extremo somente a mão direita de Mona, encaixando a argolinha dourada no dedo anelar da garota em seguida. Esta repetiu a ação, porém seus dedos tremiam mais que os de Hanna. A loira percebeu o nervosismo de Mona e riu junto com ela, beijando-a novamente. Ficou de pé sem cortar realmente o contato e passou por cima da morena, para deitar ao lado esquerdo dela na cama. Hanna teve que tomar cuidado para não pisoteá-la com os joelhos, mas respirou em alívio assim que viu que a tarefa se cumprira sem acidentes e agradeceu mentalmente por Mona não estar ligada a nenhum tipo de tubo.

A morena se virou para ela com um olhar parcialmente surpreso no rosto, como quem diz “você não tem jeito mesmo, não é?”. Havia um tipo diferente de intimidade entre elas ali, naquele momento, e Hanna puxou Mona ainda mais para perto, beijando-a avidamente por uma terceira vez. De olhos fechados, Hanna conseguia imaginar que estava com a garota no quarto dela ou em seu próprio; um misto dos dois cômodos, para falar a verdade – Deus, sua mente já funcionava como se ela e Mona fossem de fato casadas.

— Eu te amo – Mona sussurrou em meio aos beijos. O corpo inteiro de Hanna formigou de prazer.

— É impressão minha ou está sendo muito melhor ouvir isso depois do que acabou de acontecer? – a loira indagou, massageando o lado direito da cintura de Mona.

— Acho que está mesmo – a garota sorriu travessamente e Hanna a envolveu em um abraço confortável.

— Ei, eu acabei de pensar em uma coisa – Hanna murmurou depois de um certo tempo acariciando devagarinho as costas de Mona.

— No quê?

— Acho que minha mãe vai começar a namorar um pastor.

Ainda enganchada à loira, Mona ergueu o olhar para ela após alguns segundos de silêncio.

— Isso é estranho em vários sentidos – ela soltou uma risadinha.

— Eu sei, mas é o que parece. O cara veio falar comigo na capela do hospital. Quer dizer, foi tudo armado. Minha mãe quis que eu o conhecesse. São amigos de faculdade.

— Uau. O negócio de “arrumar um namorado para Ashley Marin” funcionou mais rápido do que eu pensava.

Hanna riu também.

— Sim, mas eu não resolvi falar dele só por isso.

— Por que, então?

Ela agora começava lentamente a traçar círculos imaginários pelas costas de Mona.

— Bem, eu não sei direito como funciona isso, mas acho que se eu implorar um pouquinho, pode ser que ele aceite ser nosso “oficializador”.

Hanna sentiu a própria empolgação ao concluir a frase. Aquilo iria mesmo acontecer. Mona também pareceu perceber a diferença de entonação e fitou Hanna com um olhar docemente distante – e talvez ainda um tanto incrédulo. Era exatamente o mesmo olhar que Caleb adquiria toda vez que elogiava Hanna mentalmente. Era um olhar que sorria sem o auxílio dos lábios e a chamava de linda e vários outros sinônimos.

— Você acredita em destino? – Mona perguntou, deslizando os dedos da mão direita pelos cabelos de Hanna, que sorriu ao sentir o peso da aliança (por menor que fosse) naquele carinho.

A loira não questionou a mudança aparentemente repentina de assunto. Apreciou a profundidade da pergunta, aliás.

— Depende. A respeito de nós ou a respeito de todo o resto?

Mona deu de ombros e em seguida completou.

— Você algum dia já imaginou que este seria o nosso destino?

Hanna permitiu-se pensar por dois segundos, embora já soubesse a resposta há basntate tempo.

— Eu sempre soube que você estaria ligada a mim e vice-versa para o resto da minha vida desde o dia em que te acompanhei até em casa pela primeira vez no primeiro ano. Mas ter você desse jeito... – ela deslizou a mão esquerda desde as costas de Mona até a metade de suas coxas parcialmente descobertas – eu nunca pensei que pudesse haver uma surpresa tão deliciosa.

Mona selou seus lábios aos dela outra vez, agora numa tranquilidade inabalável.

— Na alegria e na tristeza... – Hanna recitou, perdida daqueles olhinhos castanhos – na saúde e na doença... até que a morte nos separe. Essa é a ideia, não é?

A morena assentiu e o sorriso de Hanna alargou-se.

Era insano o fato de que, há um ano, tal possibilidade ainda era completamente impensável para ela. Terminar com Caleb? Ter uma amante – no melhor sentido possível da palavra – em sua melhor amiga? No entanto ali estava ela, noiva da garota à sua frente. E ela mesma havia feito o pedido, usando aquelas duas impecáveis palavras – ainda que Mona tenha se encarregado das alianças e, consequentemente, da surpresa inicial.

Agora, tendo os lábios dela nos seus outra vez, era impossível para Hanna não sentir o quão certo aquilo era, ou o quanto elas pareciam fazer parte uma da outra. Ainda assim, ela não acreditava em destino totalmente, mas sim em oportunidades, Mona sendo a dela – uma oportunidade felizmente agarrada em tempo com unhas, dentes, braços e o que mais desse para agarrar. E Hanna sabia que jamais deixaria que ela escapasse.

— Aliás – ela recomeçou, uma vez que haviam cortado o beijo –, eu sei que você já ouviu e com certeza vai seguir ouvindo isso para o resto da vida, mas eu também te amo.


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Notas finais do capítulo

Esse, em teoria, é o último capítulo, mas eu planejo escrever uma espécie de "cena bônus", onde o foco será uma conversa entre a Alison e a Mona. E também está nos meus planos escrever um epílogo, dedicado ao casamento :)



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