A CONVERSA - Short fic escrita por Lady Salvatore


Capítulo 2
Capítulo 2 - Finalmente. Part 2 final


Notas iniciais do capítulo

Tá terminando... Esse é o último capítulo e novamente espero que gostem. Não fazem ideia de como amei escrever essa história, amo essa novela de todo o coração, espero que não seja a última vez.



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Sem saber se era por falta de coragem ou simplesmente pela dificuldade em escolher as palavras, Armando e Betty voltaram ao silêncio. Ambos pensativos. Mesmo assim, com tanta coisa passando pelas mentes dos dois, mal sabiam direito o que tanto ponderavam.

Estavam à espera de que eles, talvez, perguntassem algo. Júnior, também tão pensativo quanto os pais, começou, lentamente, a se manifestar.

– Se o senhor pensava... Que a mamãe queria tirar a empresa de você... O senhor quis denunciá-la? – Ele perguntou, parecendo mais como uma conclusão.

Armando riu em fraco.

– Não, meu filho. Nem se eu quisesse. Ninguém podia ficar sabendo sobre o que tava acontecendo. – Explicou calmamente. – E a empresa, legalmente, já era da sua mãe... Se ela me tomasse, não seria algo considerado fora da lei, pelo contrário.

O filho concordou, entendendo. Camila tossiu rapidamente, e secou as lágrimas, voltando a atenção para a conversa.

– Então o que aconteceu? – Disse finalmente, querendo acabar com tudo aquilo.

Outra vez os olhos de Betty e Armando se encontraram. Ele preferiu dizer sozinho, já que essa parte quem havia feito as regras daquele jogo sujo era o próprio. Sentia sua testa suando, suando forte, em pleno inverno Bogotano. Os filhos novamente não pareciam perceber o quanto sua reação estava sobressaltada, embora soubesse que havia algo errado com os pais, principalmente com Armando.

Novamente optou por ser rápido.

– Eu...

– Mamãe. – Uma voz de criança, feminina, o cortou, vindo da escada. Os quatro olharam rapidamente para o local encontrando os gêmeos, Nina e Pedro ali, de pijama, os chamando.

– O que aconteceu? Não conseguem dormir? – Perguntou Betty preocupada, indo até eles.

– A gente tá com fome. – Disse Pedro, coçando a vista de sono. Betty estranhou, afinal já haviam jantado.

Nina bocejou alto.

– Eu não gostei daquela comida. Tem doce?

Armando dirigiu-se até eles, em seguida.

– Nina, doce é só fim de semana. Lembra? Vocês comeram ontem.

– Só um chocolate papai? Um pedacinho? – Choramingou Pedro.

Betty impediu o marido de falar. Armando tinha aquela postura de homem frio e implacável na empresa, mas com as crianças era o mais coruja do que qualquer pai do mundo, sempre manipulado e fazendo a vontade deles. Se o deixasse, sabia que o esposo se renderia a aqueles olhos pidões e daria toda a caixa de chocolate.

– Meninos... Hoje é segunda, vocês comeram ontem. Agora no máximo só um chocolate quente, pra beber. Mas nada de barras, nem nada disso.

Eles concordaram, embora um tanto emburrados. Armando beijou a cabeça das duas crianças.

– Vou pedir pra Dona Lucia fazer. – Diz o pai. – Mas vão pra cama, que ela leva pra vocês lá.

– Vem com a gente, mamãe? – Falou Nina, já puxando a mão de Betty para o andar de cima. Pedro a ajudou.

Sem escolhas, a mãe foi.

– Já estavam acordados há muito tempo? – Inquiriu Betty, já chegando no quarto com as crianças. Acendeu as luzes observando as paredes, divididas em igual entre rosa, na parte de Nina e Azul na Pedro. O chão não estava mais espalhado com os brinquedos de ontem à noite; Esse era um dos lados bons dos dois serem virginianos, a organização. O que agradecia ainda mais por serem gêmeos.

Já que dois de uma vez, na mesma idade, já remete a ideia de muita bagunça, muito trabalho. Esse foi um dos medos que sentiu ao descobrir que eram dois, mas para sua surpresa eram calmos e tranquilos, como a mãe. Muito mais do que os de Camila e Júnior, principalmente Júnior que além de ter o mesmo nome que o pai, acabou arrecadando a personalidade, signo, nascendo dias depois ao aniversário de Armando. Dois escorpianos.

– Eu não. Só a Nina. – Exclamou Pedro, já deitando na cama.

Nina fez o mesmo, já cobrindo-se com o cobertor.

– O que vocês tavam falando lá em baixo?

– Nada de mais, minha filha. Seus irmãos estão com um trabalho de escola pra fazer e estamos ajudando. – De uma maneira ou de outra, não estava mentindo.

– Olha o que eu tenho aqui? – Armando apareceu na porta, falando animadamente para os filhos. Que sorriram assim que o viram.

Carregava dois copos infantis de plásticos, fechados, como em forma de mamadeira. Perante a graça do marido que os balançavam e fingia bebericar, ela também sorriu.

– CHOCOLATE!!! – Os gêmeos gritaram, juntos em felicidade.

Ele entrou ao quarto, ficando próximo a esposa.

– Isso mesmo, chocolate. E vocês vão tomar tudo?

– SIM! – Disseram outra vez.

– Ah, mas o papai também quer. Não sei se eu vou dar.

Nina levantou-se indo até ele.

– Papai, por favor. Tô com fome.

– O meu copo é o verde. – Afirmou Pedro, com o indicador levantado.

– E o seu Nina? Qual seu copo? – Betty adentrou a conversa, alegre.

– Roxo. Que nem o Barney.

Armando fechou a cara.

– Esse Barney... Betty já te falei que não quero mais a menina assistindo isso.

Betty rolou os olhos, às vezes achava até graça, Armando com ciúmes do que a filha assistia na televisão. Tinha medo que Nina começasse a gostar mais do desenho do que dele, já que desde pequena, nos raros momentos de choro da menina, ele nunca conseguia acalmá-la, como fazia com Camila, mas para manter Nina serena era só o grande boneco roxo.

– Vai esfriar papai. – Reclamou Pedro, esticando os braços para que ele desse seu copo. Ele entregou e Nina voltou para calma, sorrindo.

Betty levantou-se de onde estava e foi a porta, levando o marido consigo pela mão.

– Terminem de beber e deixem o copo na mesinha. Não quero que desçam mais, já é hora de dormir.

– É, amanhã tem aula. – Completou Armando, apagando as luzes e deixando a porta entreaberta. Não gostava de deixá-los no escuro total.

Saíram finalmente, voltando ao corredor. No fim, não queriam que aquele momento terminasse; Era tão bom poder desfrutar de um momento de paz antes de irem de volta para o que consideravam o martírio. Mas de certa forma fora bom, abastecia as energias, abastecia a coragem. Poder brincar com as crianças por mais cansativo que fosse, também era capaz de levar toda preocupação embora.

Camila foi a primeira a avistar os pais voltando e cutucou Júnior com um dos braços, para que os olhassem. Eles voltaram para o lugar de antes e os filhos sorriram em alívio ao encararem. Acharam que não voltariam.

– Finalmente. – Ironizou Júnior.

– Eles queriam chocolate. – Betty riu rapidamente. – Daqui a pouco dormem.

Camila cruzou os braços.

– Então já podemos falar?

– Claro que sim Camila. – Armando estranhou aquela pergunta. Camila havia perguntado em um tom estranho, como se nunca tivessem voz em casa e aquela era primeira vez que se manifestaram. O que era totalmente contrário a vida deles, que sempre tiveram voz ativa ali dentro. – Me estranha, você falando assim.

– É que a gente já enrolou demais. – Ela diz, parando a fala em seguida. – Quer dizer... Vocês. É estranho, tanta demora, tanta história pra chegar aonde tem que chegar. Sendo que tudo que a gente quer saber é como vocês começaram a namorar... – A expressão de Camila entristece, ela encara o chão por alguns instantes, sentindo seu timbre de voz enfraquecer. – Pela maneira como vocês falam, sei lá... Parece até que tem um segredo tão horrível nisso tudo. E eu não entendo.

Júnior concordou com a irmã.

– Olha, se o que vocês estão tentando dizer é que... Vocês foram amantes, podem falar que a gente vai entender. – Ele os confortou – Nós meio que já desconfiávamos que o senhor não devia ter terminado com a tia Marcela assim que começou com a mamãe. Se for isso, tudo bem. Não é uma coisa tão grave assim; Afinal, vocês se amavam, não é?

Armando diminuiu sua respiração, Júnior havia dado a brecha que precisava para poder falar. Se antes havia a desculpa de não saber por onde começar, ela já não existia mais.

– Bom, vocês têm... – Hesitou, gaguejando um pouco. – Vocês têm razão; Acertaram. Eu e a sua mãe a gente foi amante. E fomos por um bom tempo. – O corpo de Betty enfraqueceu, mas preferiu não interromper o marido. Ele estava indo tão bem. – Mas só que a gente não se amava. – Armando e Betty perceberam o quanto as crianças se agitaram com o que acabara de dizer. Novamente, Armando optou por continuar já que estava dominado pela coragem, já que depois não saberia mais. – Quer dizer, sua mãe me amava... Mas eu não. Apesar de gostar muito dela, como profissional e até como amiga, porque, de uma forma ou de outra mesmo que fosse profissional, éramos amigos.

Eles continuavam incrédulos.

– Então foi só desejo... Da sua parte papai? – Camila questionou.

– Não minha filha. – Ele estava morrendo, transparecendo isso por dentro e por fora. Era como se perecesse em cada palavra. – Eu era um homem muito superficial. Pra mim não bastava uma mulher ser bonita; Pra mim tinha que ser alta, ter classe, berço, uma beleza fenomenal, o melhor corpo. Havia uma lista enorme de fatores cobrindo os meus olhos... E isso me impediam de olhar de outra maneira pra sua mãe, que não fosse profissional. Pensar em ficar com uma mulher como ela era naquela época, pra mim era algo fora de total cogitação.

Novamente sem compreender o que estava sendo dito, eles se entreolharam com a expressão ambígua. Júnior resolveu falar.

– Então...

– Então... – Armando proferiu, novamente vendo a coragem ir embora. Não podia deixar isso acontecer. – Como eu tava desconfiado que sua mãe era apaixonada pelo Nicolas e que ele poderia roubar a empresa, seduzindo sua mãe... Eu vi que a única maneira de impedir isso seria... – Parou. Houve uma curta pausa. – Seria... Que ela se apaixonasse por outro. Fazendo se esquecer dele de vez. – Betty se confundiu. Ele não ia... Pensou ela, sem entender. – Então eu tive essa ideia... De... Que... De que se eu a namorasse, ela ficaria do meu lado e me garantiria a lealdade dela até que a empresa voltasse pra mim de novo.

Não. Pensou Betty, confirmando sua suspeita. Ele não ia mencionar Mário. Ao ouvirem, pro final, cada palavra dita pelo pai, Júnior e Camila encararam Betty no mesmo segundo. Sabendo que isso iria acontecer, Betty manteve-se tranquila cada expressão de seu rosto; Se exibisse raiva, vergonha... Ou pior de tudo, dor. Isso poderia ser transmitido para eles, e não queria isso.

Boquiabertos, Camila colocava em sua face todo o choque que estava sentindo, já Júnior era diferente... Mantinha-se... Duro? Era como se estivesse com ódio. Aquilo era o que eles tanto temiam.

– E isso em quanto tempo? – Camila perguntou, entre lágrimas. Haviam ficado um tempo calados, após Armando finalmente dizer

– Um ano mais ou menos. – Ele falou calmo.

Júnior parecia desatento, como se não estivesse ouvindo mais nada.

– E o que aconteceria com ela depois? – Ele disse seco, mostrando que estava sim atento. Mais ainda sim, parecia com certa raiva.

– Não sei. Sinceramente, fico feliz de não ter chegado nisso. – Ele sorriu olhando-a com ternura, Betty correspondeu.

– Mas provavelmente tinha um plano. Talvez, se livrar dela depois? – Ele continuou. Armando não iria rebater e Betty também, teria que dar tempo para eles.

– Mas o que importa é que... Não aconteceu. – Betty assegurou. – As coisas mudaram e estamos bem, estamos felizes.

Camila já estava mais calma.

– O que aconteceu? Porque as coisas mudaram?

Nisso Armando voltou a sorrir.

– Me apaixonei por ela. – Disse encantado. – Foi aos poucos... Eu não queria aceitar no começo, até demorei pra perceber. Mas... Sua mãe tinha simplesmente tudo de bom que eu achei que não existia em ser humano nenhum.

Júnior ficou mais algum tempo pensativo. Juntando as peças, tentando imaginar o que havia acontecido naquele passado. Tirar conclusões; Provavelmente a grande maioria estava certa, afinal se tinha algo que Betty havia passado para todos seus filhos era o cérebro.

– Mas se... Foi aos poucos que se apaixonou, e já que ela não fazia nenhum pouco seu tipo. – Ele ia falando, cada vez mais desgostoso e enjoado. – Provavelmente... Devia ser um sacrifício pro senhor, não é?

Betty pensou que ele optaria pelo silêncio, que ficaria quieto e sofreria calado por cada palavra de desprezo dita por seus filhos, que para Armando e para ela eram e sempre seriam o mais importante, mas ao invés disso ele sorriu brevemente. Por se parecessem tanto, Armando sabia como lidar com Júnior; Afinal, era como lidar consigo mesmo. Necessitava paciência, mas acima de tudo firmeza e segurança.

– Acredite, meu filho... Por cada, beijo que eu, de certa forma, não queria dar nela... Eu implorei depois. E tive que implorar muito.

Houve uma curta pausa, Júnior encarou o pai sem expressão. Era como se seu super herói tivesse ido embora de sua frente.

– Eu vou beber água. – Levantou-se indo até a cozinha.

Camila continuou sentada, olhando os pais. Preferiram não ir atrás e dar o tempo necessário para o filho. Assim como o pai e até como seu avô Hermes, ele era muito protetor em relação há Betty. Em relação a sua mãe; Por mais que fosse a cópia do pai fisicamente, ela era sua força; E ter que imaginá-la passando pelo que estava descobrindo que passou e ainda pelas mãos de seu próprio pai, não era fácil.

Bebeu sua água. Pensou seriamente em não voltar para sala e não ouvir tudo até o final. Mas se sentiria um covarde se não voltasse e ainda mais, sentia que estaria abandonando sua mãe e não queria que ela pensasse isso.

Voltou a seu lugar de antes, sem olhar para o pai. Pelo que parecia, não haviam falado nada desde que saiu.

– E depois? O que aconteceu? – Camila tentou ao menos reanimar alguma coisa ali dentro.

– Bom... Eu nunca tinha me apaixonado antes na vida. Não sabia como lidar com aquilo e antes que eu pudesse falar sobre... Sobre o que eu sentia pra sua mãe, ela descobriu.

Camila colocou os lábios na boca, segurando o queixo, como se fosse para que caísse.

– Como você descobriu, mamãe?

Betty hesitou em responder. Sabia que por alguma razão, Armando não queria colocar Mário naquilo tudo e nessa parte era inevitável; Falar sobre a carta e não mencionar Mário.

– Ouvi uma conversa dele. – Disse sem muita certeza. – Aquele dia foi bem difícil que eu nem me lembro direito.

Armando suspirou aliviado, como sempre ela havia entendido que não queria pôr Mário nessa história. Querendo ou não, as crianças o adoravam e já bastava ele para sair queimado diante dos olhos de seus filhos, não tinha razão para Mário também ter que passar por isso. Depois de tantos anos... Era inútil.

– Então alguém mais sabia? – Júnior voltou a falar.

– É Júnior, um amigo que eu tinha na época, morava na Espanha... E como tava longe, distante eu acabei contando, nem sua mãe chegou a conhece-lo. Na empresa, ou aqui ninguém sabia.

Pareceu uma mentira tanto quanto convincente. Betty pôde perceber que o filho acreditou, ela olhou para Armando lhe passando mais uma dose de tranquilidade, sabia que ele estava necessitado disso. Suas forças eram nulas quando se tratava das crianças.

Betty resolveu voltar a falar, tinha medo que ele não tivesse mais fôlego.

– Quando eu descobrir. Eu na hora, quis... Enfrentar, tirar satisfações. Mas na hora eu não consegui. – Falava pausadamente. – Depois, eu quis simplesmente fugir da empresa, não aparecer mais e não dá explicação nenhuma. Só que de novo eu pensei melhor e vi que não ia adiantar nada. Contei a verdade pro Nicolas e ele me ajudou.

– Mamãe você nunca namorou com o tio Nicolas, não é? – Camila perguntou.

Betty sorriu.

– Não Camila, nunca. – Ela segurou uma gargalhada. Não era a primeira vez que Camila perguntava aquilo, era bem provável que agora que as coisas estavam sendo postas em pratos limpos, a filha tenha achado que tenha mentido antes. – Mas quando eu acabei sabendo de tudo, e eu sabia que seu pai... Achava que o Nicolas queria empresa, que eu era apaixonada por ele e toda aquela confusão, eu acabei decidindo fazer ciúmes nele com o seu padrinho.

– Ciúmes? – Júnior repetiu sem entender. – Mas se pensava que... Ele não te amasse porque resolveu fazer ciúmes, mamãe?

– Eu não me expressei bem, Júnior. Quando eu digo ciúmes, eu não digo de mim. Digo da empresa, queria que ele acreditasse que iria ficar com tudo.

Armando os cortou.

– Mas eu estava com ciúmes. Eu já tava apaixonado. – Disse apressadamente. – Mas ela não sabia... Pensava que era pela empresa. Então, ela começou tudo aquilo e eu fiquei louco porque era ciúmes e vocês imaginam como eu devo ter me portado, não é?

Eles concordaram sem necessitar de detalhes, qualquer um, não só naquela casa como na cidade inteira sabiam o quanto seu pai era ciumento e também o que era capaz de fazer caso algum homem sequer cantasse sua mãe.

– Depois disso eu aceitei que a amava, até nos reconciliamos e eu ia terminar meu noivado. Eu tava a poucos dias de me casar. Quando chegou a reunião do conselho, onde eles iam avaliar se eu tinha ou não cumprido as minhas metas.

– Com os balancetes maquiados. – Júnior falou em sarcasmo.

Armando continuou, sem se abalar.

– Só que aí, sua mãe... Ouviu uma conversa pela metade com esse meu amigo, lá da Espanha. No pouco que ela ouviu, ela entendeu que depois da reunião eu ia me livrar dela, mandar pra longe e fazer que ela desaparecesse, quando não era assim... Eu até tinha contado pra ele que a amava.

Camila já havia entendido tudo. Ou ao menos, aquela parte. Ficava só imaginando como havia sido aquele dia.

– Você o entregou, não foi mamãe? – Ela perguntou, embora parecesse mais uma convicta exclamação. – Eu já ouvi o tio Daniel falando algumas vezes sobre essa tal reunião. Pelo que ele conta, foi um dia bem feio.

Armando fechou os punhos. Daniel ainda não era um nome fácil de se engolir; Odiava o fato de seus pais também o terem como filho, o que dificultava toda e qualquer tentativa dele de tentar mantê-lo longe de sua família.

– Naquele dia aconteceu de tudo. Eu fui destituído, a Marcela ficou sabendo de mim e da sua mãe, sua mãe foi embora... Até hoje eu tenho cada segundo dele, cada fala... Tenho tudo decorado na minha cabeça. – Lembrava-se um tanto quanto sôfrego. Ele olhou para Betty e encontrou nela a mesma postura viajante que a sua. – E pelo visto a sua mãe também.

Betty olhou em volta rapidamente, saindo de seus devaneios. Ela sorriu, sem mostrar os dentes, para os filhos, iria continuar quieta mas pelo ponto aonde Armando parou, viu que era sua vez de continuar.

– Eu fui pra Cartagena. Com a sua madrinha, Camila. – Ela estava um pouco nervosa, Armando não gostava do assunto Cartagena e ela sabia muito bem o motivo. – Trabalhei pra ela como assistente, aprendi muito... Mudei meu visual, pra esse que vocês conhecem. – Sorriu, divertida. – E até me diverti... Mas as coisas aqui não estavam nada boas.

– A gente imagina. – Camila comentou.

– A empresa querendo ou não ainda era minha, eles precisavam de mim aqui pra poder passar tudo de volta pra eles, mas eu já não tava. A ECOMODA além de embargada, tinha muitas dívidas. Estava se recuperando, mas faltava muita coisa ainda.

– Ficou quanto tempo lá mamãe? – A menina falou outra vez. Júnior continuava calado, embora parecesse mais atento.

Betty deu os ombros.

– Honestamente nem eu sei direito. Mas foi tempo suficiente... Pra voltar bem, pra voltar preparada. Então eu voltei. – Camila sorriu animada, era como se sentisse dentro daquela história. E de certa forma estava, porque fazia parte daquilo. – E assumi a presidência da ECOMODA.

A filha olhou para o pai, esperando uma ação vinda dele.

– E você papai? O que fez quando ela voltou?

Outra vez Betty e Armando riram, com as lembranças dele e de Freddy indo até o santuário. Algo no qual nem imaginavam que se tornaria corriqueiro ao longo dos anos; Já que sempre que saía com as meninas, os dois acabavam indo atrás.

– Fiz o que eu sempre faço quando ela sai... Fui atrás. – Camila sorriu. Mas a expressão de Armando voltou a abater-se. – Só que ela... Não acreditou em mim. E eu achei melhor não insistir muito, até porque não dava... Tinha a Marcela e... Eu...

Camila franziu as sobrancelhas.

– Espera. – O interrompeu. – Como assim a tia Marcela? Vocês já tinham terminado, não é?

Armando coçou a cabeça, estava voltando a ficar nervoso.

– Sim, Camila... Tínhamos. Mas aí, a gente chegou a voltar.

– O QUE? – Júnior e Camila gritaram juntos, para a surpresa até dos pais. Não imaginavam aquela reação, ainda mais de Júnior que agora estava tão calado.

– Quando a sua mãe foi embora, eu fiquei sem reação. Me entendam, ok. Eu saía pra beber todas as noites, não dormia, não conseguia mais fazer nada. Acabei me embebedando e arrumei uma briga feia com uns homens, muito maiores e fortes... Quase morri. – Os filhos se assustaram. – Nisso, a Marcela me ajudou e acabamos voltando. Foi um erro e eu me arrependo, mas aconteceu.

– Você errava muito não é papai? – Disse Júnior, viu que o filho tentava parecer debochado mas não conseguiu. Estava desapontado, triste.

– Sim, errava muito e ainda erro. – Armando tentou passar toda a sinceridade e segurança que sua esposa tanto tinha. – Papai não é perfeito e nunca vai ser. Só que a diferença é que agora eu aprendo com todos eles pra não ter que prolongar uma escolha errada por muito tempo.

Percebendo o clima do ambiente, Betty voltou a falar.

– Acho que tá acabando já. Não falta muito pra vocês já saberem o importante.

– Você conseguiu salvar a empresa mamãe? – Camila regressou com as suas perguntas. Cada vez mais sentia sua curiosidade aumentar.

– Consegui, mas isso é mais pra frente. Seu pai foi pra Venezuela, eu fiquei aqui... Ainda estávamos separados. Claro que antes dele viajar, tentou conversar comigo, mas... Não dei chance.

– Como sempre. – Armando riu baixo.

– Depois ele voltou, terminou com a dona Marcela... Na verdade tinha me dito que quando voltasse, ia ser um novo homem e que ia me esquecer pra sempre. – Os olhos de Camila se arregalaram. Betty, ficou alguns segundos escolhendo as palavras, sabia que cedo ou tarde teria que tocar no nome de Michel e não queria que Armando se estrasse. Afinal, já tinha estresse suficiente naquela sala. – Eu tinha recebido uma proposta de emprego... Longe de Bogotá e tava pensando em aceitar, depois que eu acabasse com a minha gestão na ECOMODA.

Armando sorriu, ela não ia mencionar Michel.

– Claro que... A ideia de esquecer sua mãe, não durou muito... Eu logo fui atrás dela e ela com raiva decidiu se demitir da empresa.

– Nossa. – Camila sussurrou em choque.

– E pra piorar as coisas eu... Decidi que não era justo ela sair por minha causa. A empresa precisava muito mais dela do que de mim, então acabei decidindo que quem ia embora era eu.

Camila sorriu.

– Dois teimosos.

– A empresa tava se recuperando e se a gente saísse, não seria bom. Tudo ia por água a baixo e estávamos nos recuperando. Recuperando bem. – Disse Betty e Armando revirou os olhos. Aquilo não era verdade, tudo iria por agua a baixo se ela se fosse... Já ele, ele não faria falta alguma para o bem da ECOMODA. Pelo contrário.

– E com o risco disso acontecer, o Danie...

– Armando. – Betty conteve-se para não gritar, o impedindo de continuar o que iria dizer. Queria fazer Daniel de vilão na frente das crianças dizendo que queria liquidar tudo; Não podia permitir. Por mais que odiasse Daniel tanto quanto o marido, os filhos gostavam dele.

E o que estavam contando era a história dos dois, não tinha porque colocar outros nisso.

Armando parou por breves minutos, e depois voltou a falar. As crianças o olhavam confusas.

– O que eu quero dizer é... Se a gente fosse a empresa podia ser liquidada. Vocês sabem o que é isso, não é?

Eles assentiram.

– Vender tudo e ficar com o que resta, não é isso? – Júnior perguntou.

Betty sorriu para o filho, feliz por ele ter finalmente falado. Não parecia mais com raiva.

– Sim, meu amor. – Era melhor ela mesma continuar dali, era a parte da conversa com Marcela. Na qual, entre todos naquela sala, apenas ela estava presente. Não ia contar em detalhes, mas era algo que gostaria que seus filhos soubessem. Eles gostavam muito de Marcela, mas Betty temia que depois de hoje a vissem como um estorvo para a felicidade dos pais; E Betty de maneira alguma queria que eles pensassem assim. – Por tanto eu, quanto o seu pai... Estarmos indo, a Dona Marcela viu que a empresa se prejudicaria muito nisso e ela resolveu fazer uma coisa, muito legal. De muita bondade. – Vendo a curiosidade no olhar dos pequenos, Betty continuou logo. Estavam quase no fim e queria acabar logo com tudo aquilo. Não fora fácil, embora estivesse mais fácil do que havia imaginado. – Ela me contou a verdade. Me contou... Que seu pai me amava, e me contou o que tinha acontecido no tempo que eu fiquei fora, mas principalmente, me confirmou coisas que ele me disse e que eu não acreditava. – Betty se surpreendeu por seus olhos estarem mareados. Aquela conversa para ela, após tantos anos ainda mexia consigo de uma maneira que nem a própria conseguia explicar.

– Só não entendi uma coisa. – Pronunciou Camila, um tanto quando confusa.

– Fala meu amor. – Pediu Armando.

– Se a tia Marcela contou pra senhora o que tinha acontecido... No tempo que tava fora, era porque ela sabia que o papai te ama.

Betty assentiu, entendo. Só não sabia aonde a filha queria chegar com isso.

– E o que que tem minha filha? Seu pai acabou contando pra ela.

– Exatamente. – Ela exclamou obvia, como se estivesse concluindo uma conta de adição. Mesmo assim os pais não a entendiam. – Se ela sabia antes mesmo do senhor voltar com ela... Porque ela te aceitou de volta, sendo que o senhor amava outra? Não entendo.

Armando encarou os lados, como se procurasse uma resposta. Betty fez o mesmo; Seria complicado demais explicar que as vezes, algumas pessoas quando amam, perdem o amor próprio e até a dignidade no qual Marcela tanto dizia.

Camila continuava a falar.

–... Quer dizer... Eu não ficaria com um homem, que amasse outra. Ou pior, que tivesse me confessado e soubesse que me traiu com ela.

Betty tentou dizer algo, mas preferiu que Armando falasse. De certa forma, ele conhecia mais a Marcela, afinal querendo ou não, mesmo que se dando bem ao longo desses anos, se encontrando com frequência, já que Marcela e seus irmãos eram vistos como filhos para os pais de Armando, portanto era como se fosse família. Mesmo assim, apesar de conversarem e terem aprendido a conviverem bem, não eram melhores amigas e não haviam se tornado intimas.

– Isso vai da personalidade de cada um, minha filha. Isso é uma coisa que pra se entender tem que ter vivido muito. – Ele tentou explicar. – Eu por exemplo, que tenho mais que o dobro da sua idade, ainda não é uma coisa que eu entenda totalmente. Sabe? Isso vai da vida, vai da pessoa, vai do sentimento. Só é fácil na hora de julgar.

Os olhos de Camila brilharam. Tinha uma sensação de que seus pais eram o tipo de pessoas que sabiam exatamente o que dizer, no exato momento, escolhendo sempre as palavras mais certas.

– Eu acho que acabou. – Betty suspirou aliviada. – Depois, eu fui atrás do seu pai, ele estava se despedindo dos funcionários. Conversamos, decidimos que eu continuaria de presidente, ele de meu vice... E ficamos juntos – Ela olhou para o marido, sorrindo.

– Depois se casaram – Camila finalizou.

Armando disse sim a cabeça, esticando um de seus braços para que Betty o alcançasse.

– Vocês entenderam tudo? – Ele perguntou as crianças. Camila estava feliz; Querendo ou não por mais que os meios não fossem dos mais bonitos, Camila era uma romântica e para ela o fim era sempre o mais importante. A preocupação era Júnior. Que ainda estava quieto, embora Betty pudesse ver que ele não estava mais com raiva.

Os pais se levantaram e Camila também, indo os abraçar. Após os corpos dos três se encontrarem, ficaram assim por algum tempo. Desfrutando.

– Você entende porque a gente não contou tudo antes, não é? É uma história muito complicada. – Betty disse, cheirando os cabelos da filha.

Ela os abraçou outra vez.

– Eu acho que eu prefiro assim. Já maior, com mais idade pra entender. Eu tô muito feliz.

Armando buscou Júnior com os olhos, ainda estava sentando. Mas não os olhavam. Parecia concentrado em qualquer móvel da sala, menos neles.

– Só espero que perdoe a gente. – Armando falou esperançoso.

Camila elevou o olhar até o pai, balançando a cabeça negativamente.

– Quem tinha que perdoar, já perdoou. – Afirma entre lágrimas, quase chorando outra vez. – Essa é a história de vocês... E eu tenho que aceitar e sentir muito orgulho dela porque cada coisa que aconteceu, boa ou ruim, talvez se não tivesse acontecido, eu não poderia não tá aqui. E isso seria muito pior.

Sem que perceba, Betty também já chora.

– Isso com certeza. – Garante, enquanto puxa a filha para si, dando um beijo no topo de sua cabeça. – Não imagino mais minha vida sem vocês cinco – Armando abraça as três novamente, dessa vez as apertando mais forte contra si. Não queria que aquele abraço acabasse nunca.

– Eu vou dormir. – Camila enxuga suas lágrimas, mostrando mais uma vez seu sorriso aos pais. – Boa noite. E eu amo vocês – Os beija, dessa vez bem mais calorosa do que nas outras noites e parte escada acima.

Armando e Betty a olham felizes até perde-la de vista, quando parte em direção ao quarto no andar de cima.

Eles voltam os olhos para Júnior e a preocupação de antes regressa.

– Júnior. – Armando o chama, enquanto abaixa o corpo na direção dele. Agachando a frente do menino, que em seguida o olha. – Você quer falar sobre alguma coisa? Quer conversar? Porque a gente pode ficar aqui até a hora que você quiser.

Ele nega com a cabeça, levantando em seguida. Armando faz o mesmo logo depois.

– Como a Camila falou, se isso não tivesse acontecido a gente não taria aqui. – Ele fala baixo, por sorte os pais estão perto o bastante para ouvi-los. – Então eu não vou... Ficar pra sempre assim. Vai ser só por uns dias até... Até me acostumar. Vou ficar bem.

– Não tá com raiva de nós? Do seu pai? – Betty perguntou, embora já soubesse a resposta.

– Não – Diz ele. – Tinha ficado no começo, mas não estou. Eu só queria fazer uma pergunta.

– O que foi? – Armando chega perto, já repousando os braços nos ombros do pequeno.

– O vovô não sabe disso, não é? – Assim como Betty, Júnior também tinha mania de perguntar coisas que já sabiam a resposta. Os pais não responderam.

Júnior abaixou os olhos encarando os próprios pés. Sabia que não demoraria nenhum dia sequer para que aceitasse e ficasse bem de novo com seus pais. Mas seu avô... Assim como Armando e Betty, Júnior sabe que ele não conseguiria jamais.

– Eu já entendi. – O filho volta a falar. – E acho que estão certos. – Beija cada um de seus pais e os abraça; Não é tão caloroso quanto o de Camila, afinal ainda não está tão aceito a história quanto a irmã. Levaria um tempo, mas logo tudo ficaria bem

Decidiu que também iria dormir. Sempre joga um pouco de vídeo game antes de cair na cama, mas dessa vez não. Deitaria encontraria o sono no momento que colocasse a cabeça no travesseiro.

Quando o filho finalmente fora para o quarto, Betty e Armando foram para o seu. Abrir aquela porta de novo e ver que tudo de ruim que imaginaram havia ficado para trás e que de certa forma não havia sido tão pesado como imaginaram que seria, era o maior alivio que sentiam em anos.

Deitaram direto na cama, ambos sem dizer nada, simplesmente pensando no que aconteceu. Betty deitou primeiro e Armando a abraçou por trás ficando de conchinha; Não fecharam os olhos, demoraria para se livrar daquela adrenalina que estavam no corpo.

– Só me promete uma coisa. – Betty sussurrou. Armando fez um som com a boca, como se perguntasse um ‘’ o que’’? Ela demorou para responder. – Só me promete que com a Nina e o Pedro, a gente não vá ter que passar por isso.

– Achou muito difícil?

Ela negou, balançando a cabeça.

– Não... Pelo contrário. É que, isso de... Sentar, com toda aquela tensão e contar uma história, como se fosse contar um crime, me parece tão bizarro. – Ele concordava com ela. – Só quero que com a Nina e o Pedro, a gente... Fale coisas ao longo dos anos, que trate naturalmente e não como se fosse um tabu ou um segredo, que nem a gente fez com a Camila e o Júnior.

Armando a trouxe para mais perto.

– Só sei que eu tive muito medo. – Falou com a voz abafada pelos cabelos dela. – Faço qualquer coisa pra não sentir isso de novo... Acho que você tá certa. Só não sei como vamos fazer pra tratar esse assunto como algo natural.

Betty concordava nessa última parte.

– Eu sei, vai ser complicado. Mas no fim, vai ser melhor. Você vai ver. – Houve uma longa pausa, aonde ficaram contemplando o silêncio. A mente já não estava mais tão pensativa quanto antes. – Só não entendo uma coisa. – Betty diz. – Porque... Não falou do Mário?

Ele sabia que ela perguntaria sobre isso.

– Beatriz, você demorou cinco anos... Pra aceitar que o Mário voltasse a pisar na nossa casa, a participar da nossa vida. Cinco anos por um perdão e só fez isso pelas crianças; Sabem que eles gostam muito dele.

– Eu sei. – Ela anuiu com um pouco de manha em sua voz. – Mas pelo menos ele não fala mais aquelas coisas perto das crianças. Odiava quando ela vinha com aquele papo pra você, com eles ali do lado.

Armando segurou uma gargalhada.

– Nesses anos todos ele foi o único que não mudou. Porque todo mundo tá diferente.

– Todo mundo não, mas a maioria sim. Isso é verdade. – Betty pensou um pouco, para achar um exemplo. – Dona Marcela, não casou... Mas teve uma filha e agora tá namorando.

– Mas a Aurea Maria e o Freddy casaram... Mas não tiveram filhos.

– Mais ou menos, não é. – Betty descordou, virando-se para ele. – Casaram, mas ficaram o que? Quase três anos de casamento em idas e vindas. E ele registrou o filho dela, então tecnicamente ele é o pai. Ele cria.

– Verdade. – Disse Armando, tentando pensar em mais mudanças. – Bertha, normal... Casada até hoje mesmo marido, duas meninas. Do quartel só a Mariana que mudou bastante; Ela casou, já três filhos... É uma baita reviravolta.

– Mas a Sofia chegou a voltar com o cheque. – Betty o relembrou. – Foi uns três meses, depois que a Jenny deixou ele por aquele empresário lá.

– Mas ela teve um namoradinho depois, não foi?

Betty levou a mão até o rosto, abafando um riso. Anos passavam e Armando continuava tão atencioso como uma porta com as pessoas ao redor.

– Namoradinho? Ficaram quase sete anos juntos.

– Me desculpa... É que é muito difícil pra mim prestar a atenção em outras pessoas que não seja você. Perdão. – Pediu ele, fazendo sua melhor cara de cachorro abandonado.

Betty depositou um tapa em seus ombros, e depois ficou séria.

– Mas o que mais me surpreende é a cara de pau da Patrícia e do Daniel. Aqueles sim, ainda me dá ódio.

Armando afirmou positivamente.

– Mas bem feito. Daniel... Casado há o que? Oito anos, um casamento de interesse. Com dois filhos que ele mal olha e Patrícia... Depois que ela e a Marcela voltaram, tentou dá o golpe no Nicolas. Ele graças a deus não caiu.

– Porque eu não deixei. – Betty o interveio.

– E ela tá lá... Com aquele cara que tem idade pra ser avô dela.

– Mas se deu mal, porque depois do casamento descobriu que ele tinha feito ela assinar um pré-nupcial. Nem percebeu. – Betty não sabia se sentia pena ou se achava que ela havia feito por merecer.

– Minha mãe me contou esses dias, que a Marcela disse que ela tá tentando ter um filho do velho. Pra vê se assim fica com alguma coisa.

– Duvido. – A convicção com que Betty falou, até assustou Armando. – Esse marido dela tem muito dinheiro. Já casou outras vezes, já tem filhos adultos. Com certeza quando sabem que essas interesseiras já vêm querendo se aproveitar, eles fazem vasectomia. Não tenho dúvida.

– Nossa, mas... Quanta experiência com homens você tem. – Armando aproximou-se da orelha dela, sussurrando com a melhor voz aveludada que podia fazer.

Ela riu se espreguiçando.

– Disso eu entendo. Esqueceu que eu tô de dando o golpe, tem anos.

– Sim tinha me esquecido. – Alegou a puxando para um beijo já repleto de volúpia. A noite havia sido tensa demais para passar disso e ambos sabiam, mas não havia porque não deliciarem com aquele contato. – Mas sabe qual o melhor disso tudo? – Ele perguntou e ela negou. – É que lá na empresa quase todo mundo ascendeu. – Isso Betty também achava. Dar oportunidade de estudo para empregados de longo tempo de trabalho, mas sem cargos altos havia sido um gol em cheio, uma ideia tão boa que nem sabiam de quem havia sido. – Freddy agora é diretor de operações, Sofia saiu de secretária pra... Gerente da tesouraria, Bertha depois que o Gutierrez se aposentou assumiu o posto dele, Mariana produtora dos casting e Aurea Maria e Sandra hoje já supervisionam as lojas e vendas na internet. – Ele sorri orgulhoso, de certa forma. – Todo mundo que querendo ou não, que é próximo da gente conseguiu. E isso é muito bom.

Betty o olha e sorri da mesma maneira.

– Verdade. – A voz dela está fraca. Está com sono. – E por falar na Sandra... Você já viu a criança que ela adotou?

– Não. Soube que ela tinha adotado, mas não vi.

– É um menininho de uns 4 anos, japonesinho. Uma graça. – Diz encantada ao lembrar-se da criança e de como ela estava feliz por finalmente estar com ele. – Mas ela merece. Descobriu que não podia ter filho, se divorciou... Ficou tão pouco tempo casada, tadinha.

– Quem podia tomar jeito era o Nicolas, não é? – Sugeriu Armando, fazendo Betty bufar alto.

Também achava aquilo, mas estava tão cansada de bancar a mãe de Nicolas que não queria mais.

– Eu falo pra ele... Arruma alguém, uma pessoa séria, uma boa mulher. Mas não. Só quer saber das modelos da empresa, que ficam com ele porque tem dinheiro. E o pior é que ele sabe disso.

– Tá igual o Mário. Anos e anos e não aprende.

– Mas pelo menos o Mário tem uma filha. – Betty retrucou, após um bocejo. Mais um sinal de seu sono.

– Uma filha feita por acidente, numa modelo que mal sabe soletrar o nome... E que ele fez três testes de DNA pra saber se era dele mesmo.

Betty arrepiou-se ao lembrar disso... Só de pensar, que se por um acaso, não tivesse se envolvido com Armando ele poderia estar assim também, a causava muito mal, e o próprio Armando também sabia disso.

– Mas o Mário ama a filha. Querendo ou não; É um bom pai pra Bárbara. E olha que sou eu quem tô falando.

– Mas eu sei que o Nicolas tá apaixonado. – Disse Armando, recebendo um olhar arregalado e até em choque vindo de Betty; Nem ela mesmo sabia disso. – É verdade. – Ele confirmou. – Aquela moça, a Sarah. Parece que ele tá gostando bastante dela...

– Sarah? A organizadora de eventos, amiga da Catalina?

– Ela mesmo. Pelo que o Nicolas disse, não tem risco dela se interessar por ele pelo dinheiro porque é de família rica.

– E como é que você sabe disso e eu não? – Perguntou, surpresa.

– Fui dá um puxão de orelha nele e ele me disse.

– Entendi. – Confirmou Betty pensativa. – E acha que vai acontecer alguma coisa entre eles?

Armando deu os ombros.

– Sinceramente... Por ela ser rica e não se interessar pelo dinheiro dele. É bem provável que não aconteça nada. – Gargalhou em maldade, recebendo mais um tapa bem leve de Betty.

Ela voltou a se calar em seguida.

– Mas acho que eu sei porque ele tá gostando dela.

– Porque? – Inquiri, sem muita curiosidade.

– Eu disse uma vez que ela parecia. Não no jeito, mas fisicamente, falei que parecia com a Patrícia. Não sei, talvez tenha ficado com isso na cabeça. Sei lá.

– É possível. – Concordou Armando, ajeitando-se na cama. – Mas olha o lado bom disso tudo... – Falou com um ar de esperança em sua voz.

Betty não entendeu.

– Lado bom de que? Nicolas e Sarah?

– Não, Beatriz. – Negou, rapidamente – De termos contado pra eles.

Outra vez ela pareceu não compreender. Será que estava falando sobre não haver mais mentiras?

– Não entendi. Qual?

Armando deu um beijo demorado em sua bochecha.

– Nosso filho vai publicar um livro. – Ele afirma em tom de brincadeira, provocando uma risada alta nela. – Porque eu duvido... Que alguém naquele colégio tenha uma história melhor que essa. DU-VI-DO.

Após a sessão de gargalhadas dos dois, Betty ficou séria.

– Também acho. Mas não sei se ele vai colocar tudo; Contar. Querendo ou não, tem meu pai, ele não pode saber assim.

– Se vai escrever ou não, eu não sei. O que ele decidi ele conta.

Ela sorriu e depois ficou em silêncio. Pensando. O que durou um breve tempo. Armando não percebeu de imediato o olhar travesso da esposa o mirando. A encarou, com um sorriso de canto de lábio por alguns segundos, até perguntar.

– O que foi? – Em um tom sapeca.

Por coincidência, sua voz também estava daquela mesma maneira.

– É que eu tava pensando... – Começou, ficando por cima do corpo dele – Você falou sobre todo mundo, que ascendeu na empresa, que mudou de vida. Mas esqueceu uma pessoa.

Armando franziu as sobrancelhas e em seguida a testa. Pelo rosto e pela voz sabia que ela estava brincando, ou fazendo algum tipo de jogo. Mas pensando melhor, não havia esquecido de mencionar ninguém.

– Acho que não. Quem eu esqueci? – A inocência na fala do marido a deixou mais animada.

– Uma antiga assistente sua. – Ele parecia ainda não compreender. – Vou te ajudar a lembrar... Uma que usava uma franja estranha, uns óculos grandes... – Armando a interrompeu, gargalhando. Não deixando que terminasse a descrição.

– Sim, sim. Me lembrei dela. Sinto muita saudade dela

– Ah é? Nossa... – Entoou, fingindo uma voz de ciumenta. – Tem notícias dela?

Armando sorriu, entrando no jogo.

– Sabe que fiquei sabendo por umas pessoas, que ela se casou.

– Ah, é?

– Sim, e com um marido ótimo que a ama feito um louco. – Virou-os de posição, deitando por cima dela. – É uma pena.

– Uma pena porque? – Voltou a simular ciúme.

Ele aproximou a boca, outra vez, na ponta de sua orelha. Passando a língua pela região e descendo até a pescoço, Betty sentiu a respiração falhar por alguns instantes e o corpo já apresentar sinais de fraqueza. Era sempre assim, sempre que Armando começava indo direto a seu ponto fraco, em poucos minutos já estava entregue.

– É que eu tinha... Um tesão muito grande nela. – Murmurou, arrancando da esposa um suspiro alto pela falta de ar.

– Olha... Que.... – Tentou acalmar sua respiração, enquanto ele continuava passeando os lábios em seu pescoço. Após um esforço, conseguiu voltar a falar. – Vai que qualquer dia ela volte, pra te fazer uma surpresa e vem te visitar.

Parece que a ideia de dormir que havia tido no começo, teria que ser adiada.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Perdoe os erros ortográficos. Espero comentários, beijos.