A CONVERSA - Short fic escrita por Lady Salvatore


Capítulo 1
Capítulo 1 - Finalmente. Part 1


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem... COMENTEM POR FAVOR.



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CAMILA MENDOZA (16 anos) = MAIA MITCHELL

ARMANDO MENDOZA JÚNIOR. '' JÚNIOR'' (13 anos) = GRAYSON CHANCE

PEDRO MENDOZA ( 6 anos) = MAX CHARLES.

NINA MENDOZA ( 6 anos) = KAITLYN MAHER

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Betty respirou fundo, sentia os pulmões cada vez mais pesados. Uma estranha sensação de que não cabiam mais dentro de seu corpo. Abaixou os olhos e o rosto também apoiando-os em seus braços, que se sustentavam por seus joelhos. Podia ficar sentada naquela cadeira, trancada em seu quarto, para sempre. Simplesmente para não ter que encarar o que sabia que não poderia mais fugir.

Por algum tipo de milagre, ainda tinha atenção o suficiente para conseguir ouvir o barulho de algo indo ao chão no banheiro, há alguns metros. Armando. Pensou ela. Provavelmente derrubou algo ou atacou de propósito, pela raiva que estava sentindo; Dos dois, Betty sabia que ele era quem estava mais nervoso.

Em passos lentos ele voltou ao quarto, se dirigindo direto ao frigobar.

– Quer uma água? – Ele perguntou. Betty percebeu o quão fraca estava sua voz. Ainda mais a dele, sempre tão grave e cheia de força.

– Não. Nem que eu beba mil dessas garrafas, não vai adiantar nada.

Armando respirou fundo, bebendo em seguida, todo o conteúdo do pequeno recipiente em suas mãos.

– A gente sabia que uma hora ia ter que fazer isso, Betty. Calma tá, é só tentar falar com naturalidade.

– Armando, por favor... – Ela elevou a cabeça, o encarando pela primeira vez. – Nesses anos todos... Nem pro meu pai a gente conseguiu contar a história toda; E olha que lá trás a gente até tinha combinado, lembra? Íamos esconder algumas partes e... Passando algum tempinho dizer e o resto. – Disse em deboche. – E então... 16 anos depois e nada. Não conseguimos.

Mesmo não admitindo, ele sabia que ela estava certa. Apanhou mais uma garrafa e bebeu todo seu resto; Fechando o frigobar em seguida.

– Só não quero que compare as crianças com ele; É totalmente diferente e você sabe.

– Eu sei que é diferente... Mas isso não faz que seja mais fácil, Armando. Me entende! – Exclamou já se deixando debulhar por lágrimas.

Fazia muitos anos que não chorava por conta dessa história; E ver isso voltar, ter que derrabar o mesmo choro e pelo mesmo motivo não era simples para nenhum dos dois.

– Eles estão esperando. A gente desce ou não?

Não havia mais escolhas. Esconderam tanto aquele assunto, desviaram tanto cada vez que eles perguntavam que os pequenos, apesar de pequenos, já tinham a desconfiança que algo muito sério estava escondido por trás disso tudo. Não havia tempo para mentir e inventar uma história, porque sabia que no fim, pelo nervosismo, acabariam se atrapalhando e desconfiariam.

O silêncio outra vez se estabeleceu no cômodo. Ninguém dizia uma palavra; No começo o que Betty sentiu fora muito ódio. Fim de férias, voltas as aulas e volta também da rotina e para casa. Tudo parecia normal, como sempre ocorreu ao longo dos anos. Mas foi simplesmente voltarem da escola que o inferno, como um boomerang. que tardou a voltar, regressou mais severo do que nunca.

Logo no primeiro dia de aula, a professora de Júnior pede um projeto: Escrever um livro baseado em como seus pais se conheceram; Para o final do ano valendo mais de 60% da nota e que segundo ouviu, já que depois que o filho chegou com a novidade conseguiu escutar muita pouca coisa por tamanho choque, o melhor poderia até ser apresentado há uma editora e quem sabe, após uns ajustes, poderia vir a ser publicado.

O que claro, animou o filho que, como a mãe, sempre gostou de escrever, tendo até talento para tal feitio.

– E se falássemos com a professora? Com a diretora, se for preciso? O que acha? – Sugeriu Armando.

– Eles vão desconfiar... São espertos. Se a gente fizer isso vão saber que tem algo grave escondido nisso tudo. Talvez até investiguem, não sei.

Betty voltou abaixar a cabeça.

– Betty... – Ele a chamou. Após alguns segundos, ela voltou a olha-lo. Armando não estava mais com raiva, ela percebeu. Parecia... Conformado. – A gente vai ter que contar. E eu não sei você, mas... Eu não quero mais alongar isso porque vai ficar mais difícil pra mim.

Ela franziu as sobrancelhas. Não o compreendendo.

– Como assim? Tá querendo dizer que quer fazer isso agora? – Perguntou, enfurecida.

Armando preferiu manter a calma.

– Mais tarde eu não vou conseguir. Se é pra falar... Tem que ser agora. Eles já estão lá em baixo mesmo.

– Mas meu amor...

– Beatriz – Ele a interrompe. – Se tivesse que esperar mais um ano... Não. Um ano é muito. – Dá uma curta pausa.– Se tivesse que esperar mais um dia... Iria conseguir? E se fosse conseguir... Ia dizer a verdade?

Betty fica em silencia. Assimilando aquela pergunta. Os olhos dele a encaram profundamente esperando que diga sua resposta, embora por a conhecer tão bem, ele já saiba qual é.

A verdade é que não conseguiria. De ultima hora acabaria inventando alguma coisa; Não só ela, como ele também. E sabia que se não dissesse agora, nunca mais conseguiriam. No fim, essa adrenalina que estava impregnada nos dois, poderia ser bom porque os obrigaria a colocar um ponto final nisso tudo. A única coisa que temiam não era revirar o passado e ver como se sentiriam revivendo tudo aquilo. Não. Porque já haviam se perdoado e perdoado a si mesmo; O amor dos dois era forte demais para enfraquecer por isso mais uma vez. O que os temiam era como iriam encarar. Se aceitariam, se tomariam as dores de uma das partes. Por isso que Armando foi o que mais sentiu nisso tudo, porque ele era o vilão da história. Ele que seria julgado com o olhar de desprezo justo pelo que mais amava no mundo; E ter que passar por essa experiência outra vez não seria fácil.

Encarou a esposa mais uma vez, esperando que ela dissesse o que resolveu. No fim, acabaria fazendo que ela quisesse. Betty enxugou seu choro e levantou-se, devagar da cadeira, temendo o que encararia quando passasse por aquela porta.

– Você tá certo. Eu pelo menos não conseguiria. – Disse, sentindo uma estranha dor corroer seu peito.

Armando outra vez respirou fundo.

– Então vamos? – Ele perguntou, tentando passar por fora a firmeza na qual ela precisaria para se apoiar. Mas por dentro, ambos sabiam a intensidade de emoções que estavam sentindo.

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– Acho que eles não vem. – Deduziu Júnior, bufando em alto. Já estava entediado de tanta demora.

Camila não parava de encarar as escadas. Eles não poderiam fazer isso; Não outra vez.

– O que me deixa chocada não é se eles não descerem.– Sentou-se ao sofá, ao lado do irmão. – E sim que... Isso significa que essa história toda. É bem mais cabeluda do que a gente imaginava.

Júnior coçou a cabeça, pensativo.

– Tudo que eu sei é que... O papai era presidente da ECOMODA e que a mamãe foi trabalhar lá de secretária pra ele e se conheceram assim. Mais nada.

– E que ele namorava a tia Marcela. – Completou Camila, reunindo as duas poucas informações que tinham.

– Eram noivos ou eram namorados?

– Eram noivos. – Respondeu a irmã.

Júnior bocejou novamente, esticando os braços, mostrando todo seu sono. Não sabia se aguentaria mais esperar.

– Quero dormir. Será que eles vão demorar muito?

– Não. – Interviu uma voz ao fundo, com convicção. Impedindo que Camila respondesse. Não precisaram virar para ver quem era; Reconheceriam aquele timbre. Seu pai. – Não vão precisar esperar porque já estamos aqui. – Se pôs a frente dos dois.

Armando continuou de pé, enquanto Betty caminhou até uma poltrona que logo atrás de si, que também ficava em frente ao sofá onde os filhos estavam sentados, sendo separados apenas por uma mesa de centro entre os dois.

– Senta Armando. – Disse ela apontando para a outra poltrona ao lado da sua.

Houve uma curta pausa.

– Meu filho você não vai precisar desse caderno. – Armando quebrou o silêncio ao ver Júnior esticar-se para pegar o material.

O filho não entendeu.

– Mas pai eu preciso... Pra anotar. Eu não vou decorar tudo de uma vez.

Armando não sabia se ria ou se chorava.

– Júnior acredita em mim. Assim que você souber de tudo, não vai esquecer.

Aquilo assustou os dois de inicio, mas preferiram não se manifestar. Qualquer sobressalto que indicassem que não estavam preparados poderia fazer com que seus pais desistissem.

– E os gêmeos? Cadê? – Questionou Betty, sorrindo. Queria tirar a tensão do lugar ao máximo; Se pelo menos aparentasse tranquilidade poderia passar isso para os dois também.

Júnior ia falar, mas Camila o interrompeu antes disso.

– Já dormiram. Ficaram as férias todas acordando tarde e ter que voltar pro horário de antes não é fácil. Estavam cansados.

– Principalmente o Pedro. – Entoou Júnior.

Armando conseguiu ver que eles estavam nervosos. Mesmo assim, não havia como voltar atrás.

– Meninos vocês já sabem que na época que eu conheci a mãe de vocês eu era comprometido, não é?

Eles assentiram, entediados. Já sabiam aquela parte. Betty o encarou confusa.

Apesar de exaltada, manteve o plano de transparecer calma.

– Que isso Armando? Que precipitação é essa? – Não queria que fossem rápido demais.

– Me desculpa. – Ele disse audível para todos; Aproximando-se da esposa logo em seguida para falar em seu ouvido. – É que eu não sei por onde começar.

Betty o encarou com tristeza. No fundo nem ela sabia também.

– Crianças vocês já jantaram?

Júnior boquiaberto encarou a irmã, ambos sem compreender nada do que estava acontecendo ali.

– Mamãe jantamos todos na mesa. Nós, vocês, Pedro, Nina. Como todas as noite.

Realmente é bem mais grave do que eu pensava. Ponderou Camila.

Betty abaixou a cabeça por alguns instantes. Não queria se abalar pelo erro que cometeu ao fazer aquela pergunta; Simplesmente deixou que vissem o quanto estava nervosa.

Era melhor não tentar fingir mais nada, senão acabaria por parecer mais ridícula do que já estava.

Armando vendo o que estava acontecendo, resolveu prosseguir. Não queria que Betty se abatesse mais.

– Crianças... Eu não me orgulho muito do meu passado. – Reiniciou a fala. – Eu não era o melhor dos homens. Era muito mulherengo, muito orgulhoso, sempre pensava só em mim. Eu tinha uma certa... Qual a palavra? – Pensou antes de dizer. – Uma certa... Obsessão por poder entendem? – As crianças assentiram e Betty sorriu. Ele estava indo muito bem. Gaguejava um pouco, mas geral estava conseguindo expressar-se – Eu queria provar pras pessoas, principalmente pro meu pai, pro avô de vocês que... Eu podia ser o filho dos sonhos, que eu podia sim conseguir tudo que eu queria e até mais; Transformar a ECOMODA na maior empresa desse mundo, entende? Eu queria o céu. Dominar tudo, ter poder sobre tudo e sobre todas as coisas. E então eu.... Então eu... – Aos poucos um branco atingiu Armando. Não como se tivesse esquecido da história e sim como se algo o bloqueasse de continuar a falar e ter que mostrar a seus filhos aquele lado seu que eles não conheciam.

Percebendo isso, Betty resolveu continuar por ele.

– Quando seu pai ganhou a presidência... Lá pra 99. Seu avô deixou bem claro que se ele não conseguisse cumprir as metas que tinha prometido, seria destituído do cargo e o Daniel assumiria o lugar dele.

Compreendendo melhor, Camila assentiu. Mas ainda tinha suas dúvidas.

– E como ganhou a presidência, papai?

Armando a encarou, ainda um tanto quanto desnorteado. Piscou algumas vezes para que se estabelecesse melhor e conseguisse falar.

– Foi depois que o vovô se aposentou. Ele tinha que sair e alguém teria que ficar no lugar dele; Eu e o Daniel, nós dois queríamos o cargo e ele propôs que fizesse uma competição.

– Uma competição? – Júnior repetiu as últimas palavras do pai. – Se eu, meus primos ou meus irmãos também quiséssemos a presidência a gente teria que competir.

Betty preferiu interver, não queria fugir do assunto.

– Calma, meu filho. O assunto agora não é esse; Tem tempo pra isso.

O menino suspirou irritado.

– Tá, então como era essa competição?

Camila rolou os olhos.

– Deixa o papai falar, moleque.

– Posso? – Armando perguntou, e eles assentiram. – Respondendo o Júnior. A competição era bem simples. Eu e o Daniel teríamos que fazer, cada um, uma proposta de um ano pra empresa e a que recebesse mais votos pelos acionistas, venceria.

– Legal. – Disse Júnior. – E o senhor... Lógico que venceu né pai.

Ao ver o sorriso orgulho com que o filho exibiu o coração de Armando murchou. Preferiu não contar que a proposta de Daniel era muito melhor que a sua e que apenas conseguiu vencer por ter manipulado Marcela a pedindo em casamento. Parecia errado esconder isso do filho, mas depois que ele soubesse toda a verdade aquela expressão de orgulho sumiria por um bom tempo.

Provavelmente aquela seria uma das últimas vezes que veria seu filho sentindo orgulho do pai em um longo período.

– Continuando... – Betty preferiu prosseguir. – A proposta do seu pai era muito boa. Muito mesmo. – Ela sorriu para o marido, que a olhou com carinho. Claro que estava mentindo, e ele sabia mas ainda sim Armando merecia que as crianças ainda sim o vissem como o herói que era. Esses pequenos detalhes faziam Armando ama-la ainda mais, depois de tudo, ela inda achava que ele merecia ser bem visto por algo – Só que era muito ambiciosa e difícil de cumprir.

– Mas como entra você nessa história, mãe? – Indagou Camila, sentindo-se confusa com tantos rodeios.

– Bom, eu... tinha me formado na faculdade, tava procurando emprego e consegui trabalho de secretária pro seu pai.

– Isso a gente já sabe. – Concluiu Júnior, sem prestar muita atenção nessa parte que já conhecia de cor.

– E vocês também já sabem que eu só fui trabalhar de secretária porque... Não conseguia emprego do meu nível pela aparência que eu tinha na época, não é.

Camila fez sim com a cabeça, já ficando tão cansada como o irmão.

– Vimos as fotos mamãe. Porque contar coisas que a gente já sabe?

– Porque é importante pra vocês entenderem tudo. – Disse Armando intervendo pela esposa.

Júnior cruzou os braços em desconfiança.

– Essa história tá ficando bem esquisita.

– Pois vocês que pediram assim. Queriam saber, não era? Pois então escutem. – Falou o pai em seco. Betty apanhou sua mão para que se acalmasse; Não poderia ficar nervosos agora. Mais tranquilo, ele voltou a falar. – Crianças vocês sabem o que é um embargo?

Betty desviou o olhar ao chão. Armando havia conseguido deixa-lós ainda mais sem entender.

– Pai, pelo amor de deus, do que o senhor tá falando? – Camila pôs as mãos no rosto; Sentia como se essa conversa não fizesse sentido algum.

Olhou para Júnior e ele parecia mais perdido do que a própria.

– Vocês vão entender. – Armando tentou aparta-lós. Os irmãos cochichavam em baixo som sobre do que o pai estava falando.

O que rapidamente transformou-se numa pequena gritaria onde todos tentavam falar um encima do outro.

– Silêncio. – Pediu Betty calma, e eles obedeceram.

Armando novamente esperou os ruídos cessarem para regressar sua fala.

– Voltando a pergunta: Vocês sabem o que é um embargo?

Houve uma longa pausa. Nenhum dos filhos queria responder aquela pergunta, não viam sentindo nela. Começaram a pensar que estavam os enrolado.

–É quando... É difícil de explicar. – Tentou Júnior. – É quando você paralisa algo. Uma obra, uma construção. Como se fosse uma hipoteca não é isso?

– Sim, meu amor mais ou menos. – Sussurrou Betty, voltando ao tom normal em seguida. – Mas pra isso acontecer a gente tem que dá uma espécie de garantia. Como você falou da hipoteca, isso acontece quando você coloca sua casa de garantia e se não pagar tomam a sua garantia. Ou seja, a casa.

– É como quando... Você vai há um bar, não tem o dinheiro da conta... e deixa seu relógio, ou um celular com o garçom dizendo que volta pra pagar e se não paga ele fica com o que você deixou. – Completou Armando, vendo que os filhos pareciam estar entendendo o que falavam.

Betty pediu que eles a olhassem. Já que miravam um canto qualquer da sala sem parecerem presentes ali.

– O que a gente quer é que vocês fiquem com isso na cabeça. Tá bom? Pra gente poder explicar bem o resto.

Ambos assentiram e manterão o olhar em um dos pais como a mãe havia dito.

– Quando eu fui contratada pelo seu pai... Ele nem sabia direito o meu nome. – Disse não podendo evitar de escapar uma risada tímida. Armando a acompanhou e também sorriu. – Minha função era simplesmente esconder as amiguinhas dele pra dona Marcela, que me odiava.

Contagiados os filhos sorriram também.

– E você se apaixonou por ele quando? – Perguntou Camila.

Betty suspirou engradecida pelo encantamento. Lembra-se exatamente de quando, do momento exato que se apaixonou por ele.

– Seu pai era tudo que eu sempre tinha sonhado. Era como se eu tivesse frente a frente com o príncipe que eu imaginava quando dormia, quando pensava no futuro... Foi muito rápido.

Sem que ninguém visse, Armando enxugou uma lágrima solitária que desceu de seu olho esquerdo. Ninguém pareceu ver. Não gostava de pensar nisso; Betty apaixonada, pensando nele, sonhando.... Enquanto pulava de cama em cama com as mesmas de sempre. Era horrível ter que imaginar o que ela pensava, o que sentia , cada vez que o acobertava com uma top model. Perdeu tanto tempo. Poderia ter sido feliz e ter feito-a feliz muito antes e sem fazer ninguém precisar sofrer.

– Mas a senhora deve ter sofrido muito, mamãe. Ele tinha noiva. – A voz de Júnior o tirou de seus pensamentos, voltando a concentrar-se na conversa.

Betty deu os ombros.

– Nem tanto. – Afirmou para surpresa até de Armando. – Assim que eu o vi, assim que eu vi a dona Marcela, tão linda. E fui me deparando com as mulheres no qual ele gostava, ainda mais lindas... Eu fui vendo que não tinha chance alguma. Se eu me apaixonasse ele nunca ia saber, nunca nada ia acontecer. Era como ir assistir um filme e se apaixonar pelo ator, entende? Então eu nem fiz questão de lutar contra o que eu tava sentindo, já que ficaria sempre comigo. – Mais água rondou os olhos de Armando; Tentou disfarçadamente secá-las sem que ninguém visse. Sendo flagrado por Camila dessa vez. Preferiu ficar calada, não iria dizer ao pai que o viu chorar. Conhecia-o suficiente para saber que nesses momentos por mais que fosse o mais fraco, Armando queria que os filhos o vissem como a fonte de fortaleza da casa; Que abastecia a todos. Mesmo todo mundo, e até ele próprio, sabiam que aquele papel era e sempre seria de Betty – Agora se eu fosse uma mulher bonita... Que via que talvez pudesse ter chance com ele, eu lutaria com o que eu sentia. Mas era impossível, então eu não considerei como um erro meu.

– Só que aí... – Júnior tentou completar o resto. –... O papai se apaixonou. Não foi?

Betty e Armando se entreolharam. Havia chegado a parte mais difícil. Pronto. Betty perguntou ao marido mentalmente e ele assentiu; Em um simples olhar, eles conseguiam se entender.

– Depois de um tempo, sua mãe foi promovida há minha assistente. Eu há promovi. E ela era a pessoa que eu mais confiava no mundo; Parecia tudo muito profissional, mas eu sim me importava com ela... Éramos amigos. Tinha total confiança nela.

– Eu até tomava conta das finanças da empresa. – Betty o relembrou.

– É mesmo... O vice presidente financeiro que a gente tinha, foi demitido e eu passei a dar toda área econômica da ECOMODA pra ela.

– Verdade. – Betty sorriu outra vez. Algumas coisas eram boas de lembrar. – Acharam que ele tava louco. Tantas funções pra uma ninguém. Uma pobretona.

– E depois? – Camila perguntou.

Betty preferiu continuar, dar um pouco mais de tempo para Armando pensar no que diria quando fosse sua vez.

–Vocês lembram que eu disse que a proposta do seu pai... Mesmo sendo boa, era muito perigosa?

– Sim. – Eles responderão em coro

– Por conta disso, a ECOMODA começou a se endividar muito. Com os bancos, com os fornecedores... Com todo mundo. E poderíamos perde-la ou seu pai poderia perder a presidência.

– E pra isso não acontecer eu pedi pra sua mãe fazer uma coisa muito errada. – Armando preferiu interferir nessa parte. Sabia que se deixasse Betty falar ela diria que os dois fizeram juntos ou até que ela própria deu a ideia. Quando ele unicamente pediu e ela simplesmente obedeceu suas ordens, mas para protege-lo ele tinha total certeza do que Betty poderia fazer.

– O que você pediu? – Júnior perguntou, mostrando mais curiosidade na história.

– Pedi não. Mandei. – Betty tentou interromper, mas Armando prosseguiu antes que conseguisse. – Mandei que ela maquiasse os balancetes da empresa pra mim.

– Falsificação? – Disse Camila em choque.

Armando preferiu ignorar a vergonha, senão era capaz de não conseguir falar.

– Sim, pela obsessão em poder, pelo orgulho que eu falei antes... Eu fui capaz de preferir perder a empresa do que perder a presidência.

Júnior não entendeu a última frase.

– Como assim perder a empresa? A empresa tá lá com a nossa família... Como assim perder?

– Júnior a gente ficou muito endividado. Por mais que lá dentro, seus avós, os acionistas não soubessem o que estava acontecendo. O banco sabia, os credores sabiam... E a gente sabia. Iriamos perder tudo, quando o seu pai teve uma ideia.

Os olhos dos dois automaticamente se dirigiram ao pai. Ainda não entendiam o que aquilo tudo tinha haver com como se apaixonaram, mas estavam tão interessados no que estava sendo dito que nem lembravam-se mais desse detalhe.

– Como eu confiava muito na sua mãe eu pedi pra ela abrir uma empresa... Uma empresa de papel, entende?

– Uma empresa laranja? – Júnior diz. Betty já consegue perceber aos poucos a expressão triste de Camila; Como se aos poucos já estivesse juntando as peças.

– Mais ou menos. Eu dei um dinheiro pra ela... Começar essa empresa no nome dela, faze-lá funcionar normalmente pra que no futuro, a ECOMODA se endividasse com ela. E se endividando, eu daria como garantia a empresa toda e aí.

– A mãe embargaria e ECOMODA. – Concluiu Camila, quase que aos gritos. Esforçando-se para não chorar.

Seus filhos eram muito inteligentes, sabia que não seria necessário contar a história toda até o fim para entenderem.

– Camila calma. – Betty pediu, olhando-a fixamente. Sem que percebesse, Camila ia chorando aos poucos. Lágrimas finas que só chegando bem perto de seu rosto para que pudessem ser vistas.

Ela não olhava mais o pai, apenas Júnior. A mais velha mantinha o rosto virando para a janela ampla e transparente que tomava toda a parede, ao fundo em sua esquerda. Onde se localizava o enorme e verde jardim e poderia ver o sol, mesmo no frio que fazia lá fora. Aquele frio, para ela, parecia melhor do que o que faria logo logo ali dentro.

Betty pediu para que Armando continuasse, e ele o fez.

– A sua mãe não tinha muito tempo fora da empresa. Ela praticamente... Só faltava dormir lá. Então ela pediu pro Nicolas.

– O que o meu padrinho tem haver com isso? – Camila voltou a falar, dessa vez com uma pitada de ira em sua voz.

– Fica quieta Camila. Eu quero ouvir. – Júnior gritou, também nada pacífico.

Com a agitação deles, Armando viu que precisava manter a calma mais do que nunca.

– Nicolas já era o melhor amigo da sua mãe naquela época e tava desempregado. Então ela pediu que ele administrasse o capital que eu dei pra ela, dessa empresa e investisse em ações. Aumentar o valor... Pra que não fosse só uma empresa de papel.

– Só que eu não contei pro seu pai o que eu fiz. – Afirmou Betty, irritando Armando. Sabia o que estava fazendo; Estava tentando jogar a culpa para ela própria. Odiava quando ela fazia isso, mesmo que fosse para protege-lo. Mas não havia nada que pudesse fazer em relação há isso. Porque ele próprio também era assim. Era capaz de levar a culpa de todos os pecados do mundo por ela, simplesmente para protege-la também. – Na época seu pai tava muito estressado por algumas coisas que estavam acontecendo e eu achei melhor esconder isso dele; E por esse erro eu acabei pagando muito.

Camila olhou a mãe de cima a baixo. O que achava der repente não era mais, estava ainda mais enrolada em suas conclusões.

– O que aconteceu?

Houve uma curta pausa.

– Ele descobriu. – Olhou rapidamente para Armando. Esse já parecia nem estar mais ali de tão aéreo, mas Betty sabia que de todos ele era o que mais estava a escutando. – Não gostou nada. Era uma coisa que devia ficar entre nós. Ele foi falar comigo eu expliquei, falei a verdade. – Os olhos de Betty se fecharam rapidamente. Era complicado lembrar dessa parte pois nem ela se recordava direito; Quem poderia saber eram Armando e Mário, depois que se casaram e ao longo de todos esses anos soube de coisas por alto. Nunca quis saber com precisão. Afinal, o natural a se fazer seria deixar para trás e não ficar cavando mais essa história – Mas ai aconteceram umas coisas, umas coincidências bem infelizes que fizeram seu pai acreditar que... Eu estava apaixonada pelo Nicolás.

– O QUE? – Os filhos gritam ao mesmo tempo.

– Deixa que eu continuo, Betty. – Armando diz após beijar uma das mãos da esposa. – Como sua mãe disse aconteceram umas coisas, umas coincidências. Na época, sua mãe falou pras amigas dela na empresa que era apaixonada pelo Nicolas porque elas estavam desconfiadas que ... Ela tinha sentimentos por alguém e ela não podia falar que era eu.

– E o Nicolas era o único amigo que eu tinha. – Betty completou; E as crianças pareceram entender.

– Eu falei com umas das meninas e acabei chegando a conclusão, por alguma das coisas que elas me contaram que o Nicolas poderia... Enganar sua mãe e – Parou. Engoliu o máximo possível de saliva que tinha em sua boca. Agora tudo iria ficar imprevisível. Não sabia como eles iriam agir naquele momento, a única coisa que sabia é que ficava cada vez mais perto o momento que seus filhos o odiariam – Fazer com que ela me roubasse a empresa. – Falou rápido como um flash, de olhos fechados para que passasse ainda mais rápido.

Quando os abriu de volta, encontrou a expressão de suas crianças reviradas. Atônitos com o que escutavam; Era desafiador até mesmo para ele próprio saber o que eles estavam sentindo. Logo para Armando, que sempre conseguiu desvendar sua família numa simples mirada.

Camila já chorava outra vez, só que mais forte. Betty mantinha-se verdadeiramente firme e Júnior, assim como Armando tentava transparecer força, quando se era visto com facilidade o quanto estava abalado.

– Quer que continuemos? – Betty perguntou, serena e segura como de costume. Júnior disse num sussurro muito baixo. Camila não respondeu. – Minha filha... E você? – Após um longo silêncio ela também disse que sim.

Em questão de minutos o pior viria e nem Betty nem Armando sabiam como poder falar.


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Notas finais do capítulo

Então? O que acharam? Vem a parte dois? Posso fazer?



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