Cobra

Acordei realmente nervoso hoje, já se faziam 5 dias do sequestro e isso já estava acabando comigo. O fato é que eu sentia que as coisas estavam dando errado, ou que logo dariam errado. Jade estava agindo estranho comigo, sempre que eu ia levar sua comida ela parecia tentar me prender lá, como se quisesse que eu ficasse mais tempo que o necessário como ela e percebi que seu olhar sobre mim estava mudando de forma significativa. Eu tentava ignorar o máximo possível, mas era difícil. Ela me atraia como um imã e se eu me deixasse levar pelos sentimentos... Isso seria perigoso... Muito perigoso. Jade estaria em perigo maior ficando comigo, eu não podia ser tão egoísta a ponto de iludi-la, eu não podia permitir que ela pensasse se quer na possibilidade de talvez pudéssemos ficar juntos.

Eu havia chegado a conclusão de que estava realmente sentindo algo por ela e que, por mais improvável que possa ser, era correspondido. Não sabia se era pelo fato da convivência, mas algo dentro de mim dizia que aquilo era verdadeiro. Mas eu ainda era o sequestrador e tinha que ser o "bandido malvado", mas de novo Jade estava dificultando as coisas. Pior ainda era não esquecer de quando a carreguei nos braços pela segunda vez, naquele dia se eu não estivesse com o pano no rosto, tenho certeza de que a teria beijado. Esse pano é a única coisa que me impede de fazer isso, por isso ainda uso ele, para não acabar me descontrolando.

Fui ver como ela estava no quarto, eu tinha devolvido o celular dela depois de ter feito algumas modificações, o celular dela só servia para ouvir música e aquilo tinha trazido mais paz para mim, pois ela estava sempre entretida. Entrei no quarto e ela estava sentada na cama de olhos fechados e com os fones no ouvidos, ela parecia tranquila e sentia a música.

– Jade? -chamei, ela não escutou e, em seguida, começou a cantar- Jade? Pode me ouvir um pouco? -ela caminhou lentamente para perto de mim e continuou cantando. Jade...

Então ela se aproximou bastante e colocou os braços em volta do meu pescoço. Jade parou e apenas me observou, ela cantarolava baixinho e não me soltava. Fui facilmente sendo levado por ela, como se ela me hipnotizasse, coloquei minhas mãos em sua cintura na intenção de afastá-la, mas acabei trazendo-a para mais perto. Ela mantinha seu rosto perto do meu e eu fiquei mergulhado em seus olhos. Mas só percebi qual era o plano dela depois que ela o fez. Jade desamarrou o pano do meu rosto com uma leveza incrível que mal pude sentir e só percebi quando vi o pano ir ao chão.

– O que você fez? Eu não acredito nisso! -gritei, ela se afastou abruptamente.

– Você... -Jade me olhava maravilhada e ao mesmo tempo assustada. Eu não sabia o que fazer e nem o que dizer, eu me mantive imóvel enquanto ela se aproximava e tocava meu rosto- Você é lindo!

– O que está fazendo? O que está dizendo? Você ferrou tudo Jade! -Eu não conseguia parar de gritar, estava desesperado.

– Cobra, me desculpa mas eu precisava...

– Assinar a sua sentença de morte? Você não precisava! Poderia ter ficado quietinha, seria entregue logo, mas agora acabou! -Jade me olhava assustada, eu gritava muito, eu não queria matá-la. Eu não teria ter que dizer ao Lobão que ela havia visto meu rosto e que nossa refém não seria devolvida com vida.

– Você não vai me matar. -ela falou com tanta segurança que me impressionou.

– Talvez eu não faça isso, mas outra pessoa fará quando descobrir.

– É só você não dizer nada, eu prometo que não vou falar.

– Jade, você não entende... -ela se aproximou de mim e segurou meu rosto com as mãos, fazendo olhar pra ela.

– Não se preocupe com isso, ele não precisa saber... Além disso, eu prefiro você sem aquela merda daquele pano, posso ver como seu rosto é lindo.

Jade foi se aproximando aos poucos, já estava tão perto que eu podia sentir seu hálito. Com muito esforço afastei-a delicadamente.

– Jade, não podemos. Não entende a gravidade da situação? Eu posso até se bom, mas o cara que planejou isso não é nem de longe. -ela me olhou com a cara triste e ficou de cabeça baixa, eu quase por um segundo pensei em desistir e beijá-la- Eu não planejei nada disso, apenas fiz o que fui designado a fazer, o cara que planejou tudo isso é um assassino, ela é quem manda, quem decide quem vai ou não morrer.

– Me desculpe, mas garanto que ele não vai saber de nada. Ele não pode ler mentes, certo?

– Tudo bem, podemos fazer isso.

Jade se aproximou para um beijo e eu, novamente, tive de afasta-la. Ela mordeu o lábio inferior com uma frustração bem visível. Respirei fundo e me controlei, aquilo foi sexy e tentador e se eu não tivesse um bom auto controle não sei nem o que estaria fazendo agora.

– Escute, se prometer se comportar e não fugir deixo ficar fora do seu quarto de dia e de noite você retorna, o que acha?

– Prometo! -ela sorriu para mim, mas parecia um pouco frustada- Posso te pedir uma coisa?

– O que? -perguntei intrigado

– Me conte a sua história, me conte sobre você. -seus olhos me suplicavam, pensei bem antes de responder.

– Talvez eu conte... Agora vá aproveitar para andar um pouco pela casa, mas sem aprontar!

Jade passou por mim e foi direto para sala assistir televisão, fiquei observando-a. Ela tinha dito que eu sou lindo, ela realmente me achou lindo, eu sentia uma imensa felicidade em saber disso. Eu precisava me controlar perto dela, eu não podia me envolver com ela, agora sem o pano tudo ficaria mais dificil e tentador.