Cobra

Alguns meses depois...

O julgamento seria ainda esse mês, e apesar de meus esforços o senhor
Edgard ainda não tinha dado o braço a torcer, e aquilo me preocupava.
Jade estava bem, sua barriga já estava bem grandinha e estava em sua
30 semana de gravidez, o que significava que em poucas semanas ela
poderia dar a luz, o que significava que ela não podia em hipótese
alguma passar por situações de stress, mas, quanto mais o julgamento se
aproximava mais Jade ficava ansiosa e nervosa. Apesar de tudo as
coisas iam bem, agora o bebê mexia e as vezes reagia ao som das
nossas vozes, aquilo era incrível! Todas as manhãs, ao acordar, dávamos
bom dia a ela e conversávamos, segundo as pesquisas que Jade fez,
falar com o bebê cria um grande laço entre eles e os pais, e eu queria
muito isso.

Apesar de tudo eu não estava parado simplesmente esperando o julgamento acontecer, eu ainda tinha esperanças de convencer meu querido sogro a desistir da ideia e talvez ele acabasse cedendo quando olhasse para
Jade agora, quando observasse aquela barriga grandona e a felicidade
de sua filha, eu não podia desistir. Por isso mesmo falei com Duca
novamente e pedi que ele fosse a casa dos Gardel, pedi a ele que
dissesse tudo o que vivenciou e que de algum modo, fizesse com que ele
viesse as escondidas para cá e olhasse para a filha, eu precisava lutar
com todas as minhas forças e tentar ficar junto da minha mulher e da
minha filha...

Duca

– Senhor Gardel, mesmo depois de tudo que lhe falei? – eu estava
cansado, atendi ao pedido de Cobra e tentei convencer o sogro dele a
cancelar esse julgamento, mas nada nem mesmo meu depoimento sobre tudo
que vivi com Cobra o convenceu a desistir.

– Não há santo que em faça mudar de ideia, Jade é ingênua e imatura,
ela voltará para casa e viverá conosco novamente, e sem essa criança,
não vou criar filhos de um bandido – suspirei irritado, minha paciência
já estava no limite.

– Por favor, pense na sua filha! Logo o bebê vai nascer, ela quer
ficar com o homem que ela ama, e garanto a você que ele não é esse
bandido sujo que você pensa, ele não quer o dinheiro, ele não quer nada
disso, ele apenas ama a sua filha, pode compreender? – O senhor Gardel
me observou quieto, então antes que ele pudesse questionar prossegui –
Peço que se não fizer por ele ou pelo bebê, faça por sua filha, ela
sente sua falta, ela quer voltar a ter um bom relacionamento com o
senhor, mas, se continuar se recusando a isso perderá seu bem mais
precioso, a sua maior fortuna: Jade. Se me permite, tenho algo a lhe
mostrar, e peço que assista por favor – peguei meu notebook e o coloquei
em cima do balcão da cozinha.

Eu tinha dito a Cobra que levar o senhor Gardel a sua casa não seria
uma boa ideia, ele e Jade poderiam discutir e isso lhe faria mal,
porém, eu instalei uma câmera que filma em tempo real o que está
ocorrendo na casa, para mostrar ao pai de Jade um pouco do que está
ocorrendo lá e para que ele veja como a filha está sendo bem cuidada.
Cobra concordou e disse que faria tudo como sempre faz.

– Senhor, tenho aqui um programa que lhe mostrará em tempo real
a casa de sua filha, peço que por favor assista um pouco e tente
reconsiderar suas decisões – apertei um botão e a transmissão começou.
Na imagem mostrava Jade e Cobra na sala, eles devoravam um pote de
cookies e assistiam Tv, Jade estava deitada com as pernas no colo de
Cobra, que mantinha uma das mãos no barrigão da mulher. Durante um
momento nada aconteceu, e o Senhor Gardel apenas analisava a cena, até
Cobra olhar animado para Jade e rir.

– Sério isso? – ela riu

– Ela está animada – ela riu novamente – Esta chutando seu
pai Julie?! – então ela sorriu.

– É incrível como reage a você, será que gosta de mim? – Jade se
ajeitou e se sentou e acariciou a mão de Cobra.

– Mas é claro que sim! Tente você – ela o encorajou.

– Julie? Eu amo você! – quando seus olhos se arregalaram eles
caíram na gargalhada.

– Viu? Ela gosta de você também seu bobo! É, claro que
vai te amar! – Cobra sorriu e com delicadeza beijou a barriga de Jade,
a cena era de emocionar, e de relance vi que o Senhor Gardel estava se
emocionando também.

– Como posso ter certeza de que isso não é combinado? – sua voz estava estranha, como se estivesse tentando engolir um soluço.

– No canto superior da tela, ali tem a confirmação: data, hora e local,
tudo em tempo real como pode ver – dei de ombros.

– Eles sabem disso? – neguei com a cabeça.

– Não, eles não fazem ideia sobre isso, só fiz para que o senhor pudesse
ver e reavaliar seus conceitos – então ele se calou e continuou a observar.

Parecia uma cena de filme, um romance lindo e perfeito, um casal
apaixonado e pronto para construir uma vida juntos, tudo que eles
fizeram só mostrou ao senhor Gardel o quanto eles realmente se amavam e
provou a ele como se equivocou sobre Cobra. Vimos de tudo, desde a
troca de carinhos, até as conversas sobre o futuro do bebê e sobre um
futuro casamento, vê-los assim em alegrava bastante, porque eu vi o que
eles sofreram, e presenciei várias coisas que tiveram de enfrentar,
então eu os apoiava imensamente.

– Já vi o suficiente, peço que saia daqui imediatamente – levei um susto
ao ver Edgard reagir daquele jeito.

– Mas... – ele me interrompeu.

– Agora mesmo, sem mas, preciso que saia agora – mesmo intrigado peguei meu notebook e me retirei dali rapidamente, aquela reação foi a que eu
menos esperei, mas, mesmo assim decidi esperar, não vou ligar para o
Cobra agora e lhe dizer o que ocorreu ainda, tinha de esperar um pouco,
talvez eu tivesse conseguido tocar no fundo de seu coração...

Cobra

Estávamos assistindo a um filme tranquilamente quando a campainha tocou, eu e Jade trocamos olhares nervosos, não esperávamos ninguém.
Relutante levantei, mais uma vez a campainha tocou, respirei fundo e me
preparei, com Lobão a solta eu estava mais atento e mais cauteloso, eu
não sabia se ele poderia nos encontrar, mas, não podia simplesmente
relaxar. Fui até a porta respirei fundo antes de abrir, esperando
qualquer coisa de quem estivesse do outro lado, e quando abri a porta a
minha surpresa foi grande: parados ali, estavam os pais de Jade, ambos
com os olhos marejados.

– Hãm, olá – falei sem jeito.

– Olá – a mãe dela respondeu, parecia não saber muito o que fazer – É...
Sou Lucrécia, acho que não fomos devidamente apresentados – ela se
aproximou ainda perdida e esticou os braços – Posso...? – assenti e ela
se aproximou e me deu um abraço apertado, depois segurou meu rosto e
sorriu – Você tem cuidado tão bem da minha filha, obrigada – eu assenti
e agradecia ainda um pouco confuso, senhor Edgard pigarreou e me olhou.

– Acho que lhe devo desculpas, tenho sido muito intolerante com
você e nem sequer lhe dei a chance de provar que realmente amava a minha
filha, mas, hoje eu abri meus olhos e vi o que realmente sente por
ela... – ele suspirou – Você tem cuidado dela desde que foi levada, e
acho que eu fiquei tanto tempo longe dela que não queria que ninguém
mais a tirasse de mim. Eu peço seu perdão e uma chance de poder me
aproximar de vocês – eu estava pasmo, não podia acreditar no que estava
vendo, mas, assenti e dei um abraço no cara que até ontem, me queria preso.

– Está perdoado – sorri e os convidei a entrar, Jade ficou surpresa ao
me ver entrando na sala pacificamente com seus pais ao meu lado – Você
tem visita amor – e então a Lucrécia correu para abraçar a filha
e lhe acariciar a barriga juntamente com o marido, a cena era linda.

Suspirei aliviado e fiz um agradecimento silencioso a Deus, parece que
agora finalmente as coisas passariam a dar certo na minha vida, nas
nossas vidas, talvez tudo esteja correndo no ritmo certo, e finalmente
poderíamos ficar felizes juntos...