Era um dia de chuva bem frio aquele. Era um daqueles dias em que parece que tudo corre mal. Yellow estava na rua, correndo apressada, pois havia-se esquecido do guarda-chuva em casa.

– Aff! Cabeça a minha! Como me fui esquecer?! – Yellow gritava consigo própria enquanto corria na rua com a mochila do colégio lhe cobrindo a cabeça.

A garota foi correndo e correndo tentar chegar na paragem o mais depressa possível. “Talvez se pegar o ónibus eu não me atrase tanto.” Ela pensou enquanto suas pernas a levavam a alta velocidade até uma paragem que tinha avistado ao longe, mas como já referi, aquele não era o dia de sorte de nossa loirinha preferida, então, ela não só perdeu o ónibus como também levou um banho de quando esse passou por ela.

– Aff! Porquê a mim?! – Yellow choramingou.

Vencida, Yellow se comprometeu a percorrer os quilómetros que faltavam a pé. Ela se sentia a pessoa mais idiota do mundo! O noticiário a aconselhar as pessoas a ficar em suas casas e não sair à rua e ela ali caminhando na rua como uma donzela perdida. Pensou em chamar um táxi, mas deu conta que não tinha dinheiro algum na carteira, apenas o passe para o ónibus. Desanimada continuou a andar, pensando então nos problemas da vida, pois é quando nos sentimos sós e azarados que costumamos refletir sobre o que fazemos. Então Yellow refletiu sobre diversos assuntos, como as notas que tinha no colégio, o tempo que estudava, como ajudava sua mãe em casa, os encontros com seus amigos, em Red… Bem, ao chegar o assunto “Red” sua cara avermelhou. Certo que ela se sentia um pouco estranha acerca do maior, mas o que teria de especial o Red-senpai? Ele não era de falar muito, pois era tímido, mas quando o conheciam sabiam que ele era a pessoa mais doce e simpática que podia haver no mundo. Dai Yellow se sentir um pouco atraída por ele. Um pouco não, quilo já tivera evoluído, com certeza! Mas eles eram tão distantes… Red estava dois anos à frente dela e apenas falavam por causa de Gold que sempre era encarregue de animar o grupo nas saídas. Yellow se sentia um pouco abatida com isso. A certo tempo, sua imaginação a levou mais longe, levando-a a imaginar como seria se Red estivesse ali do seu lado naquele momento…

– Ah, Red… Queria tanto estar com você agora… - Ela levou uma mão ao coração, desejando aquilo com toda a força.

– Yellow? – Uma voz masculina se ouviu do outro lado do passeio.

Yellow reconheceu a voz. Decerto era uma voz inconfundível para a menor, pois era a voz de um ser que ela tanto guardava em seu coração.

– Red?! – Ela se espantou ao ver o amigo tão de repente. – O que você faz na rua? Você devia estar em casa! É perigoso estar por aqui!

– Isso digo eu! O que está fazendo com esses trajes de primavera no meio da rua num dia de tempestade? Quer morrer ou coisa assim?! – Red repreendeu atravessando a rua, indo ter com a menor.

– Oh, Arceus… Eu fui ouvida… - Yellow estava pasma pelo facto de Red estar mesmo ali, como a tal pediu.

– Alô?! Terra chama Yellow! – Red brincou um pouco com a face distante da menor.

– Hum? – Ela meio que acordou do traze.

– O que faz na rua com este tempo? – Red insistiu na pergunta.

– Oh! Eu estava voltando do colégio, mas me esqueci do guarda-chuva e para piorar perdi o ónibus… Então eu tenho de correr para chegar a casa antes que o tempo pior. – Yellow esclareceu envergonhada. – E você? Que faz na rua com este tempo?

– Eu vim buscar pão para o jantar, mas como vê eu lembrei a sombrinha. – Ele riu.

– Eheh, pois foi. – Eu ri também.

– Mas você está tencionando ir até sua casa a pé? – Red questionou preocupado.

– S-sim. Que mais eu posso fazer? – Yellow se atrapalhou.

Red puxou a loira para debaixo do seu guarda-chuva, para que esta não se molhasse mais, sendo que os seus corpos ficaram próximos, demasiado próximos, provocando uma ligeira quebra na respiração de Yellow.

– Acha que eu vou deixar você ir para casa com este temporal? Nem pense, isto está a piorar e você ainda desfalece pelo caminho. Hoje você fica em minha casa. – Red disse puxando a amiga até casa por baixo da sombrinha.

Yellow não teve forças para contradizer, a frase “hoje fica em minha casa” ecoava na cabeça da menor. Aquilo estaria mesmo a acontecer? Red estaria mesmo a levando para sua casa? Aquilo era estranho… Red a guiou então até seu prédio que não ficava muito longe dali, uns vinte passos e tinham chegado. Ambos entraram e se dirigiram ao andar em questão, terceiro direito neste caso. Red seguiu na frente, segurando a mão de Yellow, com o pretexto de a ajudar a subir. Red abriu a porta da divisão e ambos entraram. Yellow se sentia um pouco intimidada com aquilo, estava na casa do senpai… Aquilo a enervava um pouco…

– Bem, Yellow, você está toda encharcada, se você ficar assim vai pegar um resfriado. É melhor tirar essas vestes e ir tomar um banho. – Red aconselhou.

– Quê?! – Yellow avermelhou na hora. Como Red podia pedir para ela tomar banho em sua casa assim tão normalmente?!

– Vamos, não tem de ter vergonha. Nós somos amigos, para além disso, é sua saúde que está em jogo. Vá lá tomar seu banho, eu vou buscar umas roupas para você vestir depois. – Red disse com a maior das naturalidades enquanto se encaminhou para o seu quarto.

Então, muito constrangida, Yellow se dirigiu para o banheiro do amigo que ficava numa divisão numa lateral no corredor. Entrou e fechou a porta, começando a tirar a roupa. Era estranho para ela tomar banho numa casa que não a sua, especialmente porque era a casa do rapaz de que ela estava gostando… Yellow colocou sua roupa ensopada na sesta que estava ali, enchendo a banheira. Ensopou o seu cabelo antes de entrar e por fim entrou no seu banho de espuma. A água estava quente, mas ela estava bem mais por conta da vergonha. Era naquela banheira que o Red senpai costumava tomar duche… O Red já ali tinha estado de uma maneira tão constrangedora… Tão vulnerável… Isso enervava Yellow que ficava cada vez mais nervosa ao se lembrar e ver essa imagem em sua cabeça.

– Yellow? Vou entrar, ok? Tenho que pegar suas roupas e colocar a secar. – Red disse ao bater na porta.

– Ham?! Não, não, não, não! Nem pense em entrar, Red! Eu… Eu estou pelada, aqui! – Yellow se colocou mais por baixo de água envergonhada.

– Ahah, eu sei, sua boba! Por isso bati! Mas você também está coberta de espuma, certo? – Red riu.

– Bem, ah… Sim… - Yellow olhou para o cobertor de espuma que tinha sobre si.

– Então, mesmo que eu quisesse, não conseguiria ver nada, né? Então deixa-te disso e me deixa entrar. – Red voltou a rir simpático.

A loira não respondeu, mas Red compreendeu o silêncio da outra como um sim, abrindo a porta devagar e entrando na divisão, olhando amavelmente para a amiga que se encontrava na banheira completamente coberta, apenas se via a cabeça, seus cabelos loiros encharcados e sua face rubra que olhava atentamente a água. Red sorriu, pegou todas as roupas da menor e saiu de novo fechando a porta.

– Deixo aqui umas roupas minhas para você vestir depois, não tem mal, pois não? – Red questionou.

–N-não. – Yellow respondeu contrariada.

– Ótimo. Depois vai ter comigo na sala. – Red pediu.

Algum tempo depois Yellow saiu. Limpou seu corpo e secou o seu comprido cabelo. Se enrolou na toalha para pegar as roupas que Red deixara à porta e as levou para dentro. Yellow avermelhou quando notou que aquelas roupas eram na sua TOTALIDADE de Red, ou seja, até as roupas íntimas eram do maior… Já não bastava ela ter de estar pelada num local onde Red já o teve primeiro, agora tinha de utilizar as peças íntimas dele?! Yellow já estava para ver que estava num dia de demasiado azar… Então ela lá vestiu toda a roupa que Red lhe deixou, o que lhe ficou um pouco largo, pois os números eram muito grandes para ela, sendo que os jeans sempre lhe caiam.

– Oh, uso o casaco como túnica, mesmo! – Yellow não se quis preocupar muito, deixando as mesmas que caiam na divisão.

Foi então ter com Red à sala, este fazia um zapping na televisão sem muito interesse, via-se que ele não estava minimamente interessado no que passava na TV naquela hora.

– Pegando uma seca? – Yellow disse um pouco envergonhada ao se colocar na porta da sala.

– Oh, a quem o diz, eu estava mesmo… - Red olhou então para a menor.

Yellow estava bastante vermelha, provavelmente muito envergonhada pelo modo em que se apresentava. As vestes vermelhas de Red assentavam muito bem em Yellow, apenas ficavam um pouco largas e o facto de ela ter as pernas nuas… Red ficou um pouco “entusiasmado”.

– K-kawai… - Ele deixou escapar de sua boca.

– Que disse? – Yellow o encarou.

– Ah, nada, nada! Apenas que você ficou bem fofa… Vem sentar aqui? – Red tentou voltar a um regime natural de novo.

– Ok… - Yellow disse se dirigindo para o lado de Red.

Ambos ficaram olhando o ecrã de televisão que passava um filme qualquer, mas nenhum estava minimamente ligando para isso. Ambos estavam bastante nervosos com a presensa do outro tão próximo de si… Ambos queriam interagir um com o outro, mas como? A chuva continuava a cair lá fora e a tempestade não dava tréguas, ficando até mais forte… Mas nem mesmo os fenómenos climatéricos os preocupavam, naquela momento, ambos tinham o mesmo desejo; que acontecesse algo que os unisse naquele momento… E como se Arceus os ouvisse, um relâmpago se iluminou pela sala nesse preciso momento.

– Que foi isto? – Yellow estranhou um pouco.

– Eu não tenho a certeza, mas eu acho que foi um… - Red não conseguiu acabar a frase, pois logo em seguida um estrondoso relâmpago se fez soar pela sala.

– Ah! Trovoada! – Yellow berrou assustada.

– Tenha calma, Yellow. É só uma trovoadazinha, não te vai fazer mal. – Red sossegou a menor do seu lado.

Então, como se para piorar as coisas, outro relâmpago, seguido de um trovão se manifestaram naquela sala, fazendo com que a luz fosse a baixo, deixando os dois menores completamente às escuras, pois a noite já havia caído.

– Ah! Red, estou com medo! – Yellow berrou se agarrando na cintura de Red.

– Y-Yellow! – Red se espantou com o ato da menor.

Talvez Yellow tivesse exagerado um pouco, ela sabia disso, mas… Era aquela a oportunidade de interação que ambos esperavam! Porquê desperdiça-la? Então, fosse o que Arceus quisesse!

– Red, estou com medo! Eu podia estar na rua agora… - Yellow se lembrou de onde podia estar se Red não a tivesse resgatado.

– Mas você não está… Yellow, não tem de se preocupar com isso, você está a salvo aqui. – Red tentou consola-la.

– Mas… É tão assustador pensar nisso. Eu deveria estar sozinha na rua agora. – Yellow se enroscou mais no corpo do maior.

– Mas não está. Eu te trouxe para casa, não foi? Você não está sozinha, está aqui comigo, não tem de se preocupar. – Red colocou seus braços em volta da menor, numa posição protetora.

Outro trovão se fez ouvir logo após um relâmpago iluminar de novo o espaço. Havia pouco tempo entre os dois, a tempestade estava praticamente sobre os dois amigos. Yellow estremeceu e voltou a apertar Red, começando então a chorar desesperada.

– Calma, Yellow. Está tudo bem, eu estou aqui. Eu vou proteger você. – Red falava com uma voz serena puxando apertando a pequena contra si.

Yellow se viu forçada a olhar a sua face. Era tão calma… Como Red conseguia ser tão passivo e fofo? Então, Red colocou a face da loira em seu pescoço, onde essa se escondeu.

– Eu estou aqui com você. – Red sublinhou enquanto acariciava os cabelos loiros e compridos da menor que repousava em seu ombro.

Yellow sorriu, ficando ali sentido o perfume do maior invadir seu nariz e as suas mãos meigas pentearem seus cabelos longos… Assim ela reforçou o abraço entre os dois, abraçando agora pelos ombros.

– Red, eu adoro você. – Ela deixou escapar.

– Também adoro você, Yellow. – Red respondeu deixando um sorriso na face dos dois.

Lá fora a tempestade não dava tréguas e os trovões podiam sentir-se mais altos, mas não o suficiente para os tirar daquela posição amorosa no sofá da sala. Então, após um tempo, Yellow saiu do seu “esconderijo” e manteve sua face perto da de Red. Red a olhava serenamente e com um olhar meigo. Yellow compartilhava o mesmo olhar, sendo que acariciava o rosto do maior com os dedos. Depois apenas as forças de atração dos corpos atuaram. Ambos estavam sendo atraídos um para o outro e não exerciam forças para se separarem, apenas seguiam seus caminhos até ao outro, até que se juntaram num beijo profundo guiado por Red. Um monte de pensamentos passaram por eles naquele momento, mas tudo agia como se o universo parasse. Tudo fazia sentido, tudo era claro, tudo corria bem. Ao se separarem, uma troca de olhares, não era preciso ser um génio para concluir que eles agora namoravam.

Um dia de azar só é de azar de não mudarmos a sorte, sendo que nossa sorte pode estar por baixo de um guarda-chuva.